terça-feira, 25 de março de 2014

Plano infalível livra as primas de prostituição na Crimeia

Eu estava enchendo a caral, na Lapa, depois de uma sexta-feira de tédio infinito no trabalho, quando uns gringos branquelos vieram na minha direção. Eles falavam inglês. E eu, quando bebo, falo todas as línguas. Eu não sabia exatamente o que eles estavam perguntando. Respondi "yes" pra tudo.

No dia seguinte, apareceram cedo na minha casa para me levar para tirar documentação de viagem. No caminho, descobri que eu estava sendo contratado por três meses pra gerenciar as garotas de programa brasileiras, que foram contratadas para atender aos soldados das tropas russas na Crimeia. No começo, fiquei assustado, mas, quando eles me falaram quanto me pagariam, achei que não custava nada pedir licença no meu trabalho inútil pra ir ali na Ucrânia, ups Rússia, ficar rico.

Dois dias antes de viajar, fiz um chope de despedida com as primas. É óbvio que não contei a verdade para elas. Disse que iria fazer um intercâmbio cultural nos Estados Unidos.

Lu: A gente vai morrer de saudade de você, seu cachorro.

Marjorie: É Adal, três meses é muita coisa.

Adalberto: Vai passar rápido. E outra: eu vou voltar com muito dinheiro pra bancar nossos chopes.

Ane: Como assim dinheiro? Você não tá indo lá pra estudar, garoto?

Quase que eu me entrego!

Adalberto: É, eu estou... Mas sei lá, né? Vai que role algum biquinho de garçom em algum restaurante... Eu não vou dispensar.

Sara: Ai, primo, aproveita o tempo vago pra curtir. Vai nos parques Disney, vai conhecer Nova York, roda tudo por lá, Adal.

Lu: Olha, eu fiz a minha listinha.

Ane: Eu também.

Adalberto: Gente, não dá pra trazer tudo o que vocês querem, não! E eu? Também quero bugiganga americana.

Ane: Mas eu não quero bugiganga. Eu quero roupa, maquiagem, perfume, relógio...

Adalberto: Bugiganga americana, ué.

Lu: Ah, garoto, cala a boca!

No dia seguinte, enquanto eu gastava os tubos, comprando roupas de frio para sobreviver na Crimeia, minha primas estava indo pro batizado do filho do Edemesvaldo, o novo peguete da Lu, que mora em Japeri.

Na Avenida Brasil, o carro da Marjorie, que era a motorista do dia, enguiçou perto de um posto, que parecia funcionar precariamente, onde o quarteto foi pedir ajuda. Elas foram confundidas com umas garotas de programa e foram sequestradas.

Acordaram num quarto sujo, com outra brasileiras... na Crimeia!

Marjorie: Como assim eu tou na Crimeira?

Mulher traficada 1: Tá. Você foi traficada, que nem todo mundo que tá aqui.

Mulher traficada 2: E detalhe: vai ter que trabalhar como garota de programa.

Mulher traficada 3: Que nem todo mundo que tá aqui.

Ane: Gente, eu não tou acreditando. Isso é coisa de novela! Socorro! Alguém me tira daqui!

Lu: Eu vou arrombar aquela porta.

E tomei um chute no rosto da Lu, quando ela foi tentar arrombar a porta.

Adalberto: Ai!

Lu: Adalberto! O que você está fazendo aqui?

Adalberto: Eu?

Marjorie: Primo, você tá metido nisso?

Adalberto: Eu?

Ane: Adal, você acha que a gente não ia descobrir?

Adalberto: Oi?

Sara: Você não tem mesmo vergonha na cara, né?

Adalberto: Hã?

Sara: Não, minha vó! Adal, eu sou casada! O Oswaldo vai te matar. E me matar depois. E aí, eu vou matar você lá no céu.

Adalberto: Então, eu vou pro inferno.

Marjorie: Adal, por que você mentiu pra gente?

Adalberto: Eu não queria falar pra vocês que eu estava vindo gerenciar prostitutas brasileiras na Crimeia.

Só aí eu realizei que havia algo de errado.

Adalberto: Ué, o que vocês estão fazendo aqui? Vocês são...

Lu: Claro que não, garoto! Acha que eu tenho cara de prostituta?

Pior que sim.

Adalberto: Claro que não, Lu.

Marjorie: A gente foi sequestrada, primo.

Sara: Tira a gente daqui, por favor!

Ane: Eu preciso encontrar com o Edemesvaldo. Ele deve estar preocupado comigo.

Adalberto: Eu vou dar um jeito.

Fui contar pro comandante, que estava no bar daquele lugar, que chegaram quatro prostitutas, que fizeram bacanal com o Putin na última visita que ele fez ao Brasil. Ele quis encontrar com elas na hora. Mas na sua casa.

Eu conduzi as quatro num carro separado. No caminho, o plano imbatível. Parecia uma daquelas nossas brincadeiras de infância.

Adalberto: Eu tou adorando essa aventura.

Marjorie: Primo, isso é coisa séria, a gente pode morrer, se não der certo.

Eu não tinha pensado nisso.

Quinze minutos depois, elas já estava no avião do comandante se fingindo de retardadas. Eu já tinha avisado ao piloto, que levaríamos umas prostitutas, com uma doença grave e contagiosa de volta pro Brasil.

No caminho, ele recebeu um chamado e descobriu que era tudo mentira. Mas já era tarde. Com um cortador de una cego, o ameacei de morte. E convenci.

No aeroporto, no Brasil, coincidentemente encontramos com o Oswaldo, que voltava de uma viagem a trabalho de Florianópolis. Ele não entendeu nossas caras de aflitos.

Adalberto: A gente foi passar o fim de semana em São Paulo. Foi ótimo o passeio. Aliás, eu não gostei, não. Não gosto de São Paulo. Essas meninas que adoraram. Não foi, primas?

Sara: Foi legal. Mas eu estava morrendo de saudade de você, amor.

Marjorie: Vamos tomar um chope num barzinho pra desestressar.

Oswaldo: Ué, não foi legal o passeio?

Ane: O passeio foi. Mas a viagem de avião foi bem estressante. Muita criança chorando.

No bar, fomos atendidos por um garçom russo. Ouvi a Lu cochichando com a Sara:

Lu: Será que el não é um espião?

Sara: Meu Deus! Gente, eu tou meio cansada, acho que quero ir pra casa.

Marjorie: Por que a gente não compra cerveja naquele posto de gasolina e bebe lá na sua casa?

Sara: Lá em casa tem cerveja. Não precisa passar no posto de gasolina, não. Pelo menos hoje.

Bebi tanto que, no meio da noite, comecei a fingir que falava russo. Foi quando acabou a cerveja, a graça e a diversão.