sábado, 27 de outubro de 2012

Lu vive emoções que dariam um capítulo de novela daqueles ou Salve Jorge!

Eu estava atrasado para o casamento da Paty, minha amiga do Segundo Grau, quando a Lu me ligou.

Lu: Adal, eu vou me suicidar.

Adalberto: Ai, Lu, não faz drama. Eu sei que você e as outras primas morrem de ciúmes das minhas amigas do Martins, mas eu não posso deixar de ir ao casamento de uma amiga.

Lu: Adal, é sério Elidnelson terminou comigo.

Adalberto: E daí? Ele é feio para caramba.

Lu: Eu sei mas ele tem dinheiro, né?

Adalberto: Lu, que coisa feia!

Lu: Adal, eu nunca tive a sorte de ter um namorado rico.

Adalberto: Já, sim. Você é que não lembra.

Lu: Mas esse é rico e me dá mesada. Tem coisa melhor do que isso? O meu salário fica limpinho só para mim. Com o dinheiro que ele me dava, eu pagava todas as contas. Já estava até pensando em parar de trabalhar.

Adalberto: Você é maluca. E ter que abaixar a cabeça para homem? Que mulher do século XXI é você?

Lu: Caguei pra mulher do século XXI. Eu quero é ganhar dinheiro sem ter que fazer esforço.

Adalberto: E ficar com Elidnelson não é um esforço para você?

Lu: Esforço, não. Caridade.

Adalberto: Então!

Lu: Mas Deus me recompensava por essa caridade. Você tem noção do último cheque que o Elidnelson me deu?

Adalberto: Tenho. Você me ajudou a pagar o conserto do meu carro.

Lu: Então, Adal. Vem aqui agora. Ele está lá embaixo pedindo o cordão que a avozinha deu para ele. Eu disse que vou me jogar junto com o cordão.

Adalberto: Por que isso, Lu?

Lu: Em vez de trazer uma recordação boa da vozinha dele, esse cordão vai fazer ele lembrar do meu suicídio. Vem logo para cá, para você ver eu me jogando.

Adalberto: Sua louca. Está falando sério?

Lu: Adal, eu vou me matar. O meu homem me deixou.

Adalberto: Eu estou indo aí. Me espera, então.

Lu: Está bem.

Eu sei que 95% dessa tentativa de suicídio era um drama da Lu. Mas os 5% de verdade é que fazem ter medo. Fui correndo para encontrar com ela ainda viva.

Não consegui estacionar na porta do prédio dela, porque todos os vizinhos estavam assistindo o escândalo que ela estava fazendo com o Elidnelson. Sabe, eu nunca fui com o cara dele, mas fiquei com pena da vergonha que a Lu estava fazendo o pobre coitado passar. Me meti na discussão.

Adalberto: Ô, Lu. Para de palhaçada. O cara só quer o cordão que a vozinha deu para ele. Ele não tem responsabilidade por nada que diz respeito a você, sua maluca!

Lu: Tem, sim. E você sabe que tem.

Adalberto: Eu? Eu não sei de nada. Bebeu cachaça?

Lu: Adal, eu vou me jogar daqui.

Adalberto: Que se jogar daí, o quê? Vamos nos jogar numa pista de dança, beber a noite toda...

Lu: Com que dinheiro. Eu gastei o meu dinheiro todo desse mês, contando com o ovo no rabo da galinha.

A Lu não disfarça que é interesseira. que coisa mais feia.

Adalberto: Amore, deixa eu te falar uma coisa. Sabe aquele meu amigo, que você cutucou no Facebook?

Lu: Aquele que já casou três vezes, em cinco filhos, mora no Flamengo, tem dois bulldogs franceses, casa em Cabo Frio, jet ski, uma Ferrari e gosta de fazer trilha.

Adalberto: Isso, o Soriolano! Ele disse que gostou de você.

Lu: Legal... Mas eu não gosto de fazer trilha.

Adalberto: E daí? Duvido que você seja completamente compatível com o Elidnelson. Só pela cara dele, eu já vejo que vocês não tem muito a ver.

Lu: Mas você sabe se ele vai se apaixonar por mim, vai querer namorar comigo, vai fazer o que o Elidnelson faz por mim?

Morri de vergonha de destacar ainda mais o lado interesseiro da Lu. Mas se tratava de um casa de lucro ou morte.

Adalberto: Claro que vai. Gata, o Soriolano tem bala. Confia em mim.

Lu: E como eu faço para encontrar com ele?

Adalberto: Ele vai ao casamento da Paty.

Mentira.

Lu: Então, eu vou com você, posso?

Adalberto: Claro.

Lu: Vou me arrumar. Me espera.

Adalberto: Então, joga o cordão do Elidnelson. Deixa ele ir embora.

Lu: Não. Só depois que eu tiver um feedback do Soriolano.

Eu tenho a chave da casa da Lu, então, enquanto ela se arrumava, sorrateiramente, peguei um cordão com com cara de cafona da década de 30, que ela deixou em cima da mesinha da sala, e fui correndo entregar para o Elidnelson. A essa altura, o povo que estava lá embaixo concentrado durante o escândalo, já havia se dispersado.

Quando saímos, a Lu estava tão focada no seu novo "projeto de vida", que nem sentiu falta do cordão do Elidnelson. Ufa!

Chegamos no fim do casamento da minha amiga. Uma pena. Pelo menos, tive a brilhante ideia de dizer que o Soriolano me passou um torpedo, dizendo que já tinha ido embora. A Lu ficou decepcionada, mas quando viu que a minha amiga ia jogar o buquê, foi correndo tentar pegá-lo. Mas não conseguiu.

A menina que buquê, no entanto, fez o favor de ostentar o seu namorado para toda a festa, enchendo-o de beijos, feliz e confiante na superstição de que, por ter conseguido tal feito, seria a próxima a subir ao altar.

Só que ela não imagina que isso fosse acontecer tão rápido. Eu estava cumprimentando os noivos, que não dei conta da Lu se atracando com o namorado da menina que pegou o buquê, atrás da imagem da São Jorge. O cara devia estar se achando o guerreiro, por ter conseguido dar um balão na namorada depois de uma cerimônia de casamento. Coitado, com São Jorge na área, não tem para ninguém

A baixaria ganhou um tom de humor, quando descobri que a tal menina que pegou o buquê era a atriz Nanda Costa, a protagonista da novela "Salve Jorge". Ela ficou em estado de choque, quando viu o seu namorado aos beijos com a Lu, atrás da imagem santa.

As donas-de-casa que estavam na igreja, fãs de Morena, personagem de Nanda, tomaram as dores da atriz e partiram para o ataque.

Até que a Lu não foi tão agredida. O alvo principal da mulherada foi o namorado da Nanda. Enquanto ele era espancado pela mulherada, eu só ouvia os gritos da atriz: Salve o Jorge! Salve o Jorge! Por um momento, achei que aquela era uma grande ação de marketing da novela. Tentei fazer um link da minha amiga Paty com a Glória Perez, mas, depois que o rosto do namorado da atriz começou a sair sangue e ela começou gritar: "Por favor, parem de bater no Jorge! O rosto dele está sangrando!", descobri que Jorge era o nome do cara. Caraca! Que coincidência!

Depois de expulsa do local, a Lu, humilhada, foi embora para casa. Eu fui com ela. Coitada, ela estava arrasada.

Lu: Eu quero apagar esse dia da minha vida. Fiquei sem o Elidnelson, sem o Soriolano e sem o namorado da Nanda Costa.

Adalberto: Sabia que a minha irmã é a nutricionista dela?

Lu: De quem?

Adalberto: Da Nanda Costa.

Lu: Sério? Eu vou falar para a Camila passar veneno para ela tomar.

Adalberto: Está maluca? A minha irmã adora ela. É mais fácil ela passar veneno para você tomar.

Lu: Ela não é doida...

E com a mesma astúcia que um mágico tira um coelho da cartola, a Lu me surpreendeu sacando o buquê do casamento da minha amiga, da sua bolsa.

Adalberto: Esse é o buquê?

Lu: Arram.

Adalberto: Lu, você roubou o buquê da Nanda Costa? Como é que foi isso?

Lu: Ninguém reparou. Foi antes da confusão. Eu tinha roubado o buquê e, depois, o namorado dela. O namorado ela recuperou, mas a sorte de ser a próxima a se casar, não.

Adalberto: Você é doida.

Lu: Eu sei. Por isso que você gosta de mim.

Adalberto: Pior que é mesmo.

Lu: Jura que não conta para a Camila? Ela vai querer que eu devolva para a pacientezinha. Eu não quero perder a minha sorte, primo.

Adalberto: Juro. Mas com uma condição: vamos para um bar encher a cara e esquecer esse dia famigerado. Pode ser?

Lu: Claro que não. vamos encher a cara para comemorar porque, em breve, o homem da minha vida vai aparecer e me pedir em casamento. Eu tenho um buquê de casamento em mãos, Adal!

Adalberto: Fechado!

Saímos, bebemos a noite inteira e, no fim do dia, por mais incrível que isso possa parecer, um mendigo bêbado, com cara de maluco, que estava sentado no chão, na esquina da rua, veio a nossa mesa na maior cara de pau e disse que ficou o tempo todo admirando a beleza da Lu. E, para completar, a pediu em casamento.

A Lu disse não para o mendigo, jogou o buquê no lixo e saiu sem nem pagar a conta. E eu fui atrás...

sábado, 20 de outubro de 2012

No Dia das Crianças é para ser criança

Na última sexta-feira, foi Dia das Crianças e eu ganhei um tablet da minha mãe e do meu pai. Na minha família é assim: os filhos não deixam de ser criança quando casam, quando fazem filhos nem quando passam para a terceira idade. Portanto, não havia nada de errado com o fato de eu ter ganhado presente na data. O problema foi que as minhas primas interromperam a minha diversão. A primeira foi a Sara.

Sara: Você não vai vir aqui ver os seus afilhados, não?

Adalberto: Lindona, eu já fui aí, não tinha ninguém em casa. Deixei os presentes deles na portaria. O porteiro não entregou?

Sara: Entregou. Mas acho que você tem que vir aqui dar um beijinho nos trigêmeos.

Adalberto: Mas eu já fui. Se eles não estavam aí na hora que eu fui, o problema é deles.

Não sei o que acontece, mas no Dia das Crianças, eu geralmente fico meio infantil.

Sara: Que horror, Adal. Um homem de barba como você, falando uma coisa dessas...

Adalberto: Ai, Sara, deixa eu brincar com o meu joguinho!

Sara: Tchau, seu chato!

E voltei a ficar como um pinto no lixo, brincando com a minha mais nova aquisição. E, em poucos minutos depois, fui interrompido pela Ane.

Ane: Vamos fazer alguma coisa?

Adalberto: Não, obrigado.

Ane: Que grosseria.

Adalberto: Não é grosseria. Eu só não quero fazer nada.

Ane: Por quê? O que você está fazendo?

Adalberto: Droga! Acabei de perder um jogo aqui do meu tablet, por causa de você, sua chata!

Ane: Meu Deus! Eu só queria te chamar para fazer alguma coisa legal no feriado, mas tudo bem. Tchau, seu ignorante.

Adalberto: Ah, vai lamber sabão!

E reiniciei o meu joguinho, até que, depois de enfrentar o dragão e passar para a terceira fase, foi a vez da Marjorie.

Marjorie: Adal, eu já estou sabendo de tudo. Larga, agora, esse tablet e vamos lanchar juntos em algum lugar.

Adalberto: É ruim, hein... Não vou, não vou, não vou!

Marjorie: Para de criancice. Você já não tem mais idade para isso!

Adalberto: Me deixa. Eu não quero fazer nada. Eu só quero ficar em casa.

Marjorie: Tudo bem. Já sei o que eu vou fazer.

Adalberto: Parabéns. Tchau!

E, quando eu ia retomar o meu joguinho, a campainha toca. Era a Lu.

Lu: Oi, Adal. Esse aqui é o Cauê, meu mais novo namoradinho.

E o mais novo namoradinho da Lu de fato era bem novo. Eu não dava mais de 16 anos para aquele menino. Mas fiquei sem graça de perguntar. 

Adalberto: Entra, gente.

Lu: A gente vai ficar só um pouquinho. 

Graças a Deus!

Adalberto: Ah, não. Por quê?

Lu: Vamos à casa de uns amigos do Cauê. Como aqui é caminho, resolvi parar para te apresentar a ele.

Péssima ideia!

Adalberto: Ah, legal. 

O pior é que o garoto parecia tão maduro, que eu fiquei sem graça de estar com um tablet, brincando de joguinho na frente dele.

Cauê: Adal, eu dei um tablet igualzinho a esse de presente de Dia das Crianças para o meu irmãozinho.

Será que ele estava me provocando? Será que ele sabia que eu tinha ganhado aquele tablet também pelo Dia das Crianças? Será que a Lu estava por trás daquilo? E as outras primas? Será que era tudo uma armação para mim? 

Adalberto: Quantos anos tem o seu irmão?

Cauê: Cinco.

Queria virar uma ema e afundar a minha cabeça no chão. Eu tenho seis vezes a idade do irmãozinho do Cauê, que é mais de uma década mais novo do que eu.

Lu: Você já tinha isso, Adal?

Adalberto: O quê?

Lu: Esse joguinho.

Adalberto: Isso não é um joguinho. Muita gente adulta tem.

Me defendi.

Cauê: Parece novo a seu.

Adalberto: Não. Comprei há muito tempo.

Lu: E aquela caixa ali em cima da mesa?

Adalberto: Ah, sabe como eu sou, né? Metódico até dizer chega. Chego a ser chato. Depois que uso, guardo na caixa, direitinho, como veio da loja. Dentro do plástico-bolha e tudo.

Lu: Como assim? Mas você nem estourou o plástico-bolha. Acabou aquela compulsão por estourar plástico-bolha? Você não perdoava nem o plástico-bolha de uma bateria de celular, que deve ter só cinco bolhas para estourar. Ah, Adal, eu estou te desconhecendo.

De repente, minha mãe irrompe pela minha casa. Esse negócio da minha família inteira ter a chave do meu apartamento vai acabar.

Neide: Me dá esse tablet agora.

Adalberto: Por que, mãe?

Neide: Você não entregou os presentes dos seus afilhados em mãos, as pessoas te ligam e você não dá nem atenção, trata mal... Olha, da mesma forma que eu te dei esse tablet de Dia das Crianças, eu te tomo, hein...

Meu Deus, que vergonha! Afundar a cabeça no chão já não era mais suficiente. Eu queria me matar.

Adalberto: Mãe.

Neide: Mãe, não. Eu achei que eu tinha te dado um negócio para te ajudar no trabalho. Não para te transformar numa criança. Me dá isso aqui.

E ela tomou o tablet da minha mão e saiu batendo porta. Eu chorei copiosamente, como uma criancinha de cinco anos. Talvez, como o irmãozinho do Cauê faria, se a mãe dele agisse igual a minha.

Cauê: Não fica assim, não, Adal. Vamos fazer o seguinte: eu tenho mesmo que voltar para casa, porque, agora que me dei conta que esqueci minha carteira de motorista...

Então, ele tinha mais de 16 anos... 

Cauê: Então, a gente te leva com a gente e você fica lá jogando com o meu irmão. Ele vai adorar.

Lu: Ah, pelo amor de Deus, gente! Como assim?

Adalberto: Como assim, "como assim", Lu? Eu gostei da proposta. Eu vou, sim!

E passei a tarde inteira jogando com o irmãozinho do Cauê. À vezes, brigávamos, porque ele tentava roubar de mim, mas, apesar disso, eu gostei muito desse Dia das Crianças. Só fui embora, porque e mãe dele não deixou mais.

Combinamos outra disputa para hoje, às duas horas da tarde. Mas, engraçado, não acha mais a menor graça em usar o tablet para ficar brincando de joguinho. Acho que o meu espírito infantil só dura mesmo no Dia das Crianças.

Vou ligar para desmarcar com o irmãozinho do Cauê. Ou convidá-lo para ir comigo à exposição que acabou de entrar em cartaz no CCBB. Boa ideia! Será que a mãe dele deixa?

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Vida saudável de Marjorie acaba com o fim de namoro ou Tudo que é ruim dura pouco

Há um mês, a Marjorie começou a namorar um triatleta. Hoje, ela me ligou para comentar o término do relacionamento.

Marjorie: Eu sei que o Auzeciso é legal. Mas eu sou muito mais.

Adalberto: E por que acabou?

Marjorie: Adal, ele só pensa em correr, nadar e pedalar.

Adalberto: É o que se pode esperar de um triatleta, ué.

Marjorie: Eu achei que ia me acostumar a essa vida. Mas tem várias outras coisas no pacote.

Adalberto: O quê?

Marjorie: Ah, por ser triatleta, ele vive fazendo dieta, dorme cedo, não bebe e não fuma.

Adalberto: O seu oposto.

Marjorie: Total. Se ele ainda dissesse que queria casar comigo, eu até aguentaria. Mas ele parece que está comigo para me fazer de personal acompanhante, sabe?

Adalberto: Jura?

Marjorie: Arram. Era eu que arrumava a mochila dele, eu que colocava água na garrafinha, eu que o acordava de manhã, eu que o ajudava a se alongar, eu que preparava aquelas comidinhas ruins com gordura zero, eu que lavava as roupas esportivas dele e ainda tinha que acompanhá-lo no triatlo. Foi demais para mim.

Adalberto: E como você fez para terminar com ele?

Marjorie: Pedi uma pizza portuguesa para nós dois, ontem, à noite.

Adalberto: E ele?

Marjorie: Ficou irado, me chamou de todos os nomes e saiu da minha casa batendo porta.

Adalberto: Por que isso?

Marjorie: Ele tinha um passeio ciclístico no dia seguinte e não queria comer nada pesado.

Adalberto: Pedisse uma pizza de rúcula com tomate seco.

Marjorie: Só se fosse espacial, sem a massa. 

Adalberto: Mas pizza de rúcula com tomate seco sem massa não é pizza. É salada.

Marjorie: Eu sei. É só isso que ele come na vida dele. Ah, e soja. Muita soja.

Adalberto: Ele já te ligou depois desse episódio?

Marjorie: Não. Eu liguei para ele, disse um monte e falei para ele ir procurar uma preparadora física.

Adalberto: E agora? 

Marjorie: Agora eu quero descansar. Esse relacionamento me deixou com muita preguiça.

Adalberto: Só isso?

Marjorie: Ai, sei lá, Adal. Também quero sair para dançar sem ter hora para ir embora, encher a cara e, depois, dormir. Mas dormir muito. Sem hora para acordar. Me acompanha?

Adalberto: É uma...

Marjorie: Para onde vamos, então?

Adalberto: Jojô, me fala uma coisa: você devolveu o aparelho de DVDokê para o Auzeciso?

Marjorie: Não. Por quê?

Adalberto: Que tal chamarmos as meninas e fazermos uma Night do Karaokê Derrota, como nos velhos tempos?

Marjorie: Ótima ideia, primo. Vou ligar agora para Ane, Lu e Sara. Chamo mais alguém?

Adalberto: Só quero vocês: as protagonistas da minha vida.

Marjorie: Assim que eu gosto.

Adalberto: Enquanto isso, vou à rua comprar uma coisinhas para gente comer.

Marjorie: Traz uma pizza, Adal.

Adalberto: Só se você chamar o Auzeciso.

Marjorie: Você não vale nada, garoto.

Adalberto: Eu sei que não.

Comemos muito, enchemos a cara e cantamos muito. Até a Sara, que não bebia há anos, resolveu ficar de pilequinho e soltou a franga. Acordei agora cheio de ressaca. Mas feliz. Nesse um mês que a Marjorie namorou o Auzeciso, eu senti muito a falta dela nas nossas farras. Ainda bem que tudo que é ruim dura pouco.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Concurso Perna Carioca 2012 acaba em perseguição de filme... Classe B


A Lu me ligou anteontem esbaforida. Fiquei preocupado. Achei que alguma coisa de muito grave tinha acontecido.

Adalberto: Você está bem?

Lu: Mais ou menos. Só você pode me ajudar, primo.

Medo.

Adalberto: Fala, amore.

Lu: O meu relacionamento não vai nada bem.

Adalberto: Ué, você está namorando alguém? Não sabia.

Lu: O Edineido, Adal. Eu te apresentei.

Adalberto: Mas você disse que usava bermuda larga, deixando o cofrinho à mostra, andava gingando e te chamava de “mermão”. Isso não está mais te incomodando?

Lu: Claro que está.

Adalberto: Então! Já vai em boa hora.

Lu: Adal, o Edineido é o que eu tenho para hoje... Para amanhã, para sexta-feira, para sábado... Até eu arrumar alguém melhor.

Adalberto: E o que você quer de mim?

Lu: A Simone vai participar do Concurso Perna Carioca 2012.

Adalberto: Ih, bem lembrado. Ela me falou que ia, sim. É amanhã, né?

Lu: Pois é, Adal. Esse ano o concurso vai premiar a 1º lugar com uma viagem para Porto de Galinhas. Eu tenho certeza que ela não vai. Ela sempre dá para alguém da família.

Adalberto: E esse ano, se ela ganhar, ela vai dar para mim.

Lu: Na, na, ni, na, não! Quer dizer, você vai mesmo querer ir? Eu soube que lá nem está tão legal assim...

Adalberto: Em Porto de Galinhas? Está de sacanagem com a minha cara, né? Porto de Galinhas é incrível o ano todo, meu bem.

Lu: Adal, mas eu preciso salvar o meu relacionamento. Eu deixei a página de um site de relacionamento aberta lá em casa e o Edineido viu.

Adalberto: Esse cara, além de te chamar de “mermão”, está mexendo nas suas coisas sem a sua autorização?

Lu: Não. Eu autorizei. Ele queria ver o e-mail dele e eu deixei. Só me esqueci que o computador estava ligado e com a página do site aberta.

Adalberto: E aí?

Lu: Ele viu tudo. Me chamou de vagabunda para baixo.

Adalberto: Jura?

Lu: Pô! Se eu te contar...

Adalberto: Melhor não.

Lu: Adal, me ajuda. Para salvar a minha relação, eu disse que já tinha comprado uma viagem para nós dois.

Adalberto: O como é que você já conta com o ovo na rabo da galinha? Sabe se a Simone vai ganhar?

Lu: Ela ganha todo ano.

Adalberto: E se ela não me der o prêmio? Desistir, mudar de ideia, hein?

Lu: Até parece. Se ela te prometeu, ela vai te dar. Aliás, ela te deve isso há muito tempo. Você sempre elogiou as pernas dela.

Adalberto: Viu como eu não estava enganado? Ela vive ganhando o 1º lugar do Perna de Carioca.

Lu: Adal, eu preciso ir no teu lugar.

Adalberto: Pô, Lu, eu precisava relaxar.

Lu: Vai para um spa, tira uns dias de folga e fica na casa da tia Neide, medita, sei lá, tem tanta coisa para você fazer...

Adalberto: E você? Não pode arcar com o que você disse?

Lu: Não. Esse mês eu estou dura. Ser madrinha da filha da Sara foi uma das piores coisas que aconteceu na minha vida. Já comecei a pagar a primeira prestação do empréstimo que eu fiz para ajudar na festa.

Adalberto: Eu também peguei empréstimo para ajudar na festa, esqueceu?

Lu: Não. Mas eu estou com o meu relacionamento por um fio, eu fico um saco quando fico sem homem e você é o que mais sofre com isso.

Realmente, a Lu, quando não tem um homem para regar a sua plantinha, fica insuportável. E eu sou um dos que mais sofre com as variações de humor dela. Ela me liga de cinco em cinco minutos para chorar pitangas.

Cedi. Mas fiz uma condição. Nada nessa vida pode ser tão fácil.

Adalberto: Olha, eu vou te dar. Mas, em troca, quero um saco de Serenata de Amor.

Lu: Te entrego amanhã. Você vai no concurso, né?

Adalberto: Claro. Vou prestigiar minha prima.

Lu: Hum, bobalhão! Se eu não tivesse interesse na vitória dela, ia torcer para ela cair no chão e ficar com a perna toda roxa.

Adalberto: Para com esse ciúme bobo! Aliás, você, Ane, Sara e Marjorie têm que entender que eu tenho outras primas também.

Lu: Mas nós somos as favoritas. E, do grupo, eu sou a que tem destaque no teu coração.

Adalberto: Ah, eu não sabia...

Lu: Cachorro!

Cheguei com uma hora de antecedência ao concurso. Não aguentava mais a ansiedade da Lu... A minha prima Simone estava linda. Foi aplaudida de pé. Ela era de longe a dona das pernas mais bonitas do concurso. Os anos passam e ela continua parecendo que está de meia-calça.

Para a minha triste surpresa e ira da Lu, a minha prima ficou em segundo lugar no concurso. E ganhou duas fantasias para desfilar no carnaval do ano que vem pela Beija-Flor. A menina, que ficou em terceiro lugar, ganhou um ursão daqueles que só têm a função de ocupar espaço em cima de uma cama.

Lu: Caraca, e agora?

Adalberto: Como é que pode a minha prima perdeu para aquela garota da perna arcada?

Lu: Adal, me ajuda! O que eu faço com o Edineido?

Adalberto: Diz que você ficou menstruada e não vai poder viajar. E em troca, sugere de desfilar no carnaval.

Lu: Adal, isso não é o samba do crioulo doido, não. É a minha relação que está em jogo. De mais a mais, eu ia agendar a minha viagem para amanhã. E ele sabe que eu não estou mais menstruada. Eu estava na semana passada.

Adalberto: Lu, eu te falei para não contar com o ovo...

Lu: Adalberto, cala a boca!

Adalberto: Com certeza. Porque se eu falar mais alguma coisa, vou te mandar para um lugar que você não vai gostar. Bom, vou ali dar parabéns para a minha prima.

Lu: Parabéns? Ele merece levar um tapa na cara bem dado.

Ignorei esse comentário dela, peguei o meu saco de Serenata de Amor e deixei a Lu sozinha.

Minha prima estava recebendo os cumprimentos de vários amigos, parentes e fãs indignados com o 2º lugar.

Adalberto: Ficou chateada?

Simone: Claro que não. Com a minha idade, esse segundo lugar vale muito. Eu já não sou mais uma menina. Não tenho mais vinte e poucos. Nem trinta e poucos. Eu tenho quarenta e...

Adalberto: Abafa.

 Simone: Só não gostei de você ficar sem a sua viagem.

Sem a viagem eu já iria ficar mesmo...

Adalberto: Mas vou desfilar no carnaval do ano que vem pela Beija-Flor!

Simone: Ah, vai mesmo! São suas as fantasias. Leva quem você quiser.

Adalberto: Obrigado.

Simone: O pessoal está a fim de comer alguma coisa na Cobal do Humaitá. Vamos dar um pulinho lá?

Adalberto: Claro. Só vou pegar o meu carro, que eu deixei a quilômetros daqui para evitar de pagar o estacionamento caro, e encontro e vocês lá.

Simone: Combinado.

Quando eu estava entrando no meu carro, vi que a dona da perna arcada desceu de um táxi na esquina em que eu estava e, logo em seguida, um carro chegou ao local para buscá-la. Era o Gilmar Barreto. O dono do Concurso Perna Carioca!

Fui atrás do filho da mãe. E acho que ele desconfiou de mim. Ou não. De repente, pensou que era tentativa de assalto. Eu sei é que, quando ele percebeu que o meu carro o seguia, ele disparou. E eu fui atrás. Parecia perseguição de filme policial. Eu estava me sentindo o cara. Costurando no trânsito como ninguém, dando altos cavalinhos-de-pau, tirando a maior onda... Até que eu bati num poste e lembrei que o seguro do meu carro estava vencido. Aí foi que eu me enfureci. E incorporei o “tira da pesada”. Fiz sinal para um táxi, dei um soco na cara do motorista, que ficou desacordado, tomei a condução do veículo e voltei a protagonizar o meu filme de ação.

Foram várias as manobras mirabolantes e as cantadas de pneu.Tudo para não ter que aturar a carência insuportável da Lu quando fica solteira.

De repente e sem nenhum por que, o carro do Gilmar parou. Nós estávamos numa pista livre, não tinha ninguém na nossa frente. Concluí que ele estava se rendendo, com medo de mim. E me achei o cara mais incrível do mundo, o pica das galáxias. Fui até ele.

Adalberto: Desistiu de fugir?

Gilmar: Não. A gasolina acabou.

Mesmo assim, continuei me achando o cara.

Adalberto: Agora entendi por que ela ganhou o Perna Carioca 2012...

Gilmar: Cala a boca!

Adalberto: Você sabe que eu posso contar para todo mundo da relação de vocês dois?

Gilmar: O que você quer?

Adalberto: A viagem para Porto de Galinhas e o conserto do meu carro. E eu fico de bico fechado.

Gilmar: Só isso?

Adalberto: Ué, não é muito?

Ele riu e eu fiquei sem graça.

Ele me entregou um envelope, as passagens e a reserva do hotel, que a perna arcada tinha ganhado e me deu um cheque bem gordo para eu consertar o meu carro. Ia sobrar dinheiro para eu ir para Porto de Galinhas com a Lu e o Edineido. Saí no lucro! Yes! Minha história já podia acabar ali.

Gilmar: Se precisar de mais dinheiro, me apresenta a nota fiscal do serviço que eu te reembolso.

Ele falou isso, porque sabia que não ia faltar.

Adalberto: Está bem. Obrigadão, Gilmar.

Por pouco, não mandei um “te amo” para ele.

Voltei para o táxi feliz da vida, me achando o todo poderoso do filme policial que eu criei. Mas, a essa altura, o taxista já tinha acordado e estava furioso. Ele me enfiou a porrada e levou com ele o prêmio da perna arcada, o cheque que o Gilmar me deu e o meu saco de Serenata de Amor.

Eu queria me matar. Mas não passava nenhum carro àquela hora para eu me jogar na frente. Resolvi voltar para casa, depois de quase ficar desidratado de tanto chorar.

Agora, tenho que pagar o conserto do carro e aturar a carência da Lu. Saí no prejuízo.