Eu estava almoçando
na casa da minha mãe no sábado, quando a Sara resolveu incomodar.
Sara: Adal, está
podendo falar?
Adalberto: Não, estou
almoçando.
Sara: É coisa rápida.
Sabe a Dandara, filha da Samira, aqui do sexto andar?
Adalberto: Sei. Aquela
menininha linda?
Sara: Menininha? Ela
já está com 19 anos.
Adalberto: Meu Deus,
como eu estou velho. A gente pegou essa garota no colo, Sara. Parece que foi
ontem. Mas fala.
Sara: Ela veio
conversar comigo ontem.
Adalberto: E aí?
Sara: Disse que está
namorando dois homens casados.
Adalberto: Nossa, essa
aí é a versão hardcore da Maria Flor, em “Aline”.
Sara: Pois é, mas o
pior é que eu disse que ela devia manter esses relacionamentos.
Adalberto: Como assim?
Você disse isso?
Sara: Disse, Adal. Ela
perguntou o que eu achava e eu disse isso, sim.
Adalberto: Você é a
pessoa que mais condena a traição no mundo.
Sara: Lógico. Vou
apoiar pouca vergonha?
Adalberto: E não foi
isso que você fez?
Sara: Para toda regra
tem uma exceção, primo. Imagina se eu digo para ela separar dos namorados,
porque é errado namorar homem casado e, depois, ela muda de ideia e vem ficar
com o Oswaldo?
Adalberto: Será?
Sara: Adal, ela disse
que começou a sair com os caras, só para implicar com as mulheres deles. Eles
são maridos de duas ex-professoras, que pegavam no pé dela.
Adalberto: Ela
vingativa.
Sara: Não é? Por isso
que eu apoiei a bandidagem dela.
Adalberto: Quem apoia
bandidagem também é bandido, hein, Sarita.
Sara: Ai, como eu
estou bandida!
A Sara tentando ser
engraçada não convence nem a uma criança.
Adalberto: Vai
brincando... Vai que, daqui a pouco, ela decide ampliar horizontes? Toma
cuidado com o que você fala!
Sara: Você está
querendo dizer que eu fiz mal em aconselhar a ela a ficar com os homens
casados?
Adalberto: Eu estou
querendo dizer que para tudo na vida existe o outro lado da moeda. E isso pode
ou não se virar contra você.
Sara: Sério, Adal? Então,
o que eu devo fazer? Ligo para ela e digo que eu estava delirando? Que não é
certo sair com homem casado? Que ela deve procurar alguém que seja solteiro
como ela? E se ela se sentir afrontada e querer se vingar de mim? E se ela
roubar o meu Oswaldo? Será que eu vou conseguir viver? O que eu faço primo? Me
tira dessa!
Eu não sabia o que responder.
Mas sabia que, qualquer coisa que eu falasse, ia render mais duas horas de
assunto, e eu não estava mais a fim de conversar com a Sara. Queria voltar a comer.
Adalberto: Amore,
posso te ligar daqui a cinco minutos. É só o tempo de eu acabar de comer.
Sara: Ai, primo,
responde rapidinho.
Adalberto: Sara, não é
assim, rapidinho! Eu preciso pensar, analisar o que você me falou para te dar
uma resposta mais bem fundamentada.
Até parece...
Sara: Está bem. Daqui
a cinco minutos, então, eu te ligo.
Adalberto: Beleza.
Desliguei o meu
celular e jamais voltei a falar com a Sara no fim de semana. Agora, aqui no
trabalho, acabei de ligar o telefone e recebi uma notificação de 387 ligações
dela, enquanto o aparelho estava fora de serviço.
Mais tarde, eu ligo
para ela e digo que ainda não tenho uma opinião formada.