Marjorie: Alô.
Adalberto: Alô? Como assim alô? Você tá rica.
Marjorie: Mentira que a gente ganhou na Mega-Sena da Virada, primo?
Adalberto: Sim, sim, sim! Estamos podres de ricos! Agora, me diz onde a gente vai passar o réveillon? Aqui no Brasil mesmo? Acho caído. Não Japão são doze horas a mais ou a menos que aqui?
Marjorie: A mais.
Adalberto: Droga! Se fosse a menos, dava tempo de ir pra lá.
Marjorie: Que tempo de ir lá, garoto? Não é jogo a gente pegar o bilhete primeiro, trancar num cofre e, no dia 2, no primeiro horário, ir receber essa grana?
Adalberto: O bilhete não tá com você?
Marjorie: Não, eu deixei na bolsa da Ane.
Adalberto: Você é maluca? A Ane é toda destrambelhada! Não duvido nada que ela perdeu o meu bilhete premiado! Vou ligar pra ela agora.
E bati o telefone na cara da Marjorie.
Ane: Alô.
Adalberto: Alô, não! Você não sabe que a gente tá milionário? Cadê o bilhete premiado, Ane?
Ane: A gente ganhou na Mega-Sena?
Adalberto: Ganhamos. Cadê o bilhete?
Ane: Ué, tá na bolsa da Lu.
Adalberto: Mas a Marjorie disse que estava na sua bolsa.
Ane: A bolsa que eu estava usando no dia que nós jogamos é da Lu. Eu devolvi pra ela anteontem e esqueci de tirar o bilhete.
Adalberto: Beleza, tchau.
Liguei imediatamente pra Lu, sem nem dar tempo pra Ane comemorar a riqueza.
Lu: Alô.
Adalberto: É com essa voz de desânimo, que a mais nova milionária da praça atende telefone?
Lu: Primo não acredito? A gente ganhou na Mega-Sena?
Adalberto: Calma! Mais ou menos. O bilhete premiado tá na bolsa, que você emprestou pra Ane. Confirma aí que ele tá intacto, please.
Lu: Ai, Jesus, eu emprestei essa bolsa ontem pra Sara.
Adalberto: Nããããããããããããããããããããããããoooooooooooooooooooooooo!
Lu: O que é isso, garoto?
Adalberto: A Sara tem mania de limpeza. Ela joga tudo fora. Se ela jogou o nosso bilhete premiado fora, eu vou te responsabilizar por isso.
Bati o telefone na cara da Lu e liguei pra Sara.
Sara: Alô.
Adalberto: Sara, vai na bolsa que a Lu te emprestou e vê se tem um bilhete de Mega-Sena.
Sara: Primo, tinha uma papelada lá dentro. Eu joguei tudo fora.
Adalberto: Eu vou matar você!
Minha pressão foi às alturas, e eu fui parar na emergência do Lourenço Jorge.
Quando acordei, as quatro estavam em volta da minha maca, num corredor lotado da unidade.
Marjorie: Primo, eu tenho uma coisa pra te falar.
Adalberto: Não sei se eu quero ouvir, Jojô. Tou com medo de morrer.
Lu: Calma, garoto, não é nada.
Ane: É que eu eu preenchi as suas dezenas erradas.
Adalberto: Como assim?
Ane: Eu entendi errado.
Marjorie: Mesmo se a Sara não tivesse jogado o bilhete fora, a gente não ia ganhar, primo.
Adalberto: Alguém acertou as seis dezenas?
Marjorie: Um senhor de 80 anos, paupérrimo, lá do interior do Piauí.
Menos mau.