sexta-feira, 25 de novembro de 2011

No dia mais importante do ano é proibido pagar mico

Esqueci os meus óculos, ontem, na casa da Marjorie. Depois de vários copos de cerveja, é normal perder a memória. O que eu não podia era vir trabalhar hoje, sem enxergar direito.

A Marjorie não estava. É nessas horas que eu agradeço por ter a chave da casa de todas as minhas primas.

Entrei no apartamento, peguei os meus óculos e, quando ia fechando a porta, resolvi que a sede que estava sentindo não ia poder esperar até eu chegar ao trabalho. Entrei de volta, e para minha surpresa, havia um bilhete na geladeira com o seguinte: NÃO ESQUECER DE LIGAR PARA O CARRO DE SOM PARA PASSAR NO ENDEREÇO DO ADAL.

Como assim? O que ela queria dizer com isso? A dúvida persistiu na minha cabeça num primeiro momento. Mas, depois de poucos segundos, consegui traduzir a mensagem. Ou ela estava armando um mico daqueles para o meu aniversário, no domingo, ou eu estava delirando.

Só podia ser um mico daqueles. E o pior: bem cafona! De onde a Marjorie tirou isso? Aposto que ela armou isso com a Ane, a Lu e a Sara. Minhas primas bandidas. Na hora, eu queria todas elas morressem! Eu vou fazer 31 anos. Isso não é idade para se pagar mico!

Minha vontade foi ligar para ela, perguntar que palhaçada era aquela, gritar. Mas tive sabedoria e fiz diferente. Coloquei os meus óculos no lugar, onde tinha esquecido, fui ao médico, inventei uma doença, peguei um atestado e voltei para casa. Não dava para trabalhar sem enxergar nada.

Mais calmo, resolvi ligar para a ela.

Marjorie: Oi, meu lindo.

Falsa!

Mas eu sei ser igualzinho.

Adalberto: Oi, meu amor, tudo bem?

Marjorie: Tudo. Tenho trabalhado bastante aqui na fábrica, mas ainda bem que hoje é sexta. Vou passar o fim de semana em Arraial do Cabo.

Cínica! Pensa que me engana. Coitadinha. Mas sabe ela que eu descobri que ela está arquitetando um mico daquele para o meu aniversário.

Fui mais esperto.

Adalberto: Eu também vou viajar.

Marjorie: Como assim? É sério?

Adalberto: É.

Marjorie: Adal, você está maluco?

Adalberto: Não.

Marjorie: Você não esqueceu de nada, não?

Adalberto: Não.

Marjorie: Adal, o seu aniversário é no domingo.

Adalberto: Ah, você não esqueceu? Porque se você tivesse esquecido, eu até perdoaria você. Mas, pelo visto, você não se importa mesmo comigo.

Marjorie: Seu bobo, eu ia viajar hoje e voltar no domingo de manhã.

Adalberto: E você me perguntou quando eu vou comemorar o meu aniversário? E se eu fosse fazer alguma coisa no sábado à noite.

Marjorie: O seu aniversário é no domingo!

Adalberto: Sábado, à meia-noite, já é domingo.

Marjorie: Quem tem que me falar quando vai comemorar o seu aniversário é você.

Adalberto: Ah, para de palhaçada, Jojô. Por que você não me perguntou? Eu achava que você era a prima prática e não a dramática.

Marjorie: Pode falar, então, onde e quando você vai comemorar o seu aniversário?

Adalberto: Posso. No domingo, na sua casa.

Marjorie: O quê? Como assim na minha casa?

Adalberto: Na sua casa, ué. Vou comprar umas cervejas e não vou chamar ninguém. Só a gente mesmo, Ane, Lu, Sara, Oswaldo, os trigêmeos, minha irmã, o Eduardo, o Diego, meu pai e minha mãe.

Marjorie: Adal, não chamar ninguém é chamar muita gente. A nossa família está ficando cada vez maior. O meu apartamento não é tão grande assim.

Adalberto: Assim que é bom. Fica todo mundo juntinho.

Marjorie: Está bom, então.

A voz dela estava nitidamente se ânimo algum. E eu já sei o porquê. Ela jamais chamaria o carro de som para o seu próprio endereço, por mais que o mico fosse destinado a mim.

Adalberto: Amore, mais tarde eu vou passar na sua casa para pegar o meu óculos, está bem?

Marjorie: Tudo bem, seu cachorro. Você se livrou de uma...

Adalberto: O quê?

Marjorie: Nada, não. Outro dia, eu te conto.

Não precisava. Eu já sabia o que era.

A minha festa desse ano vai ser no sábado, na casa do Miguel, um amigo meu que faz aniversário hoje. Decidimos comemorar juntos amanhã. Mas isso, as primas não vão ficar sabendo. Não quero correr o risco de pagar mico, recebendo um carro de som no dia mais importante do ano.

Pelo menos, para mim, o dia 27 de Novembro é o mais importante do ano.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Amizade com Lu fica por um fio, mas quem é princesa nunca perde a majestade

Na quinta-feira passada, saí do trabalho cedo. Estava muito calor e eu precisava de um chope bem gelado. Um, não. Vários. Resolvi convidar a Lu para essa missão.

Lu: Alô, seu cachorro vira-lata.

Adalberto: É assim que você atende a ligação do seu primo amado?

Lu: É, sim! Não, quer dizer, não é, não. Agora, eu sou uma princesa. Tenho que ter bons modos.

Adalberto: Princesa do funk.

Lu: Vira essa boca para lá, Adal.

Adalberto: Por quê? Você adora funk.

Lu: Agora, eu odeio.

Adalberto: Por quê?

Lu: Mudei. Estou num momento novo da minha vida.

Adalberto: Que tal, então, comemorarmos esse seu momento tomando muitos chopes?

Lu: Não bebo mais.

Adalberto: Como assim?

Deixar de gostar de funk eu aceitei, mas deixar de beber... Só podia ter alguma coisa errada com a Lu.

Adalberto: Não estou te reconhecendo, Luluzita.

Lu: Eu já te falei. Agora, eu sou uma princesa.

Adalberto: E o que consiste isso?

Lu: Consiste que, todas as quintas-feiras, eu freqüento o Culto das Princesas, da pastora Sarah Sheeva.

Adalberto: Sarah Sheeva não é filha da Baby do Brasil?

Lu: É. Mas ela não gosta de vincular à imagem dela a da mãe.

Adalberto: Ah, não? Então, ela gosta de vincular à imagem dele a de quem?

Lu: A de uma princesa.

Adalberto: Ah, tá. E o grupo de música que ela tinha com as outras irmãs?

Lu: Cruzes, Adal. Vira essa boca para lá. Se você pergunta isso para ela, vai levar um tapa na cara.

E tapa na cara é coisa de princesa? Agora, a Lu acionou o meu instinto selvagem.

Adalberto: Agora, eu quero ir lá. Quero saber que Culto das Princesas é esse que te transformou e ver se ela vai bater na minha cara, porque eu sei que ela é filha da Baby do Brasil ou porque eu me lembro do tempo que ela cantava com as irmãs. Quero ver a princesa descer do salto.

Lu: Adal, você não pode entrar. No Culto das Princesas só entra mulher.

Pelo visto, o Culto das Princesas é um Clube da Luluzinha. E o meu instinto selvagem foi dissipado por uma necessidade mais urgente.

Adalberto: Então, Lu. Seja feliz com a tua nova religião e um dia, quem sabe, a gente volta a ser amigos.

Amizade, para mim, está diretamente relacionada a gostar e/ou poder tomar chope num bar.

Lu: Está bom, então. Pelo visto, o fato de eu não gostar mais de funk nem de tomar chope me impede de ser sua amiga.

Claro que sim.

Adalberto: Claro que não.

Lu: Então, fique à vontade em me ligar a hora que você quiser marcar alguma coisa comigo ou mesmo que seja só para conversar por telefone.

Sem cerveja no meio? NUNCA!

Adalberto: Beleza. Eu te ligo para a gente marcar, então, alguma coisa.

Lu: Está ok. Agora, deixa eu ir para o meu Culto das Princesas.

Adalberto: Beijo.

Lu: Tchau.

Nem beijo a Lu mandava mais por telefone. Vai ver beijo não é coisa de princesa.

Hoje, fui surpreendido por uma ligação dela na hora do almoço. Pensei duas vezes antes de atender. Não estava com paciência de ouvir ladainha de fanático religioso.

Respirei fundo e pensei positivo.

Adalberto: Oi, meu amor.

Lu: Vamos ao Baile das Princesas?

Acho que não tinha ouvido bem. Me fiz de desentendido?

Adalberto: Mas o Culto das Princesas não é só para mulher?

Lu: Ih, garoto, Culto das Princesas é coisa do passado. Eu estou te chamando para o Baile das Princesas. O MC Marcinho vai cantar.

E a religião? Por que ela decidiu largar? Tinha homem no meio? Será que ela brigou com a Sarah Sheeva? Ou tinha alguma coisa a ver com a Baby do Brasil? Mas o quê? Eram tantas perguntas que eu queria fazer...

Resolvi segurar minha ansiedade e deixar para questioná-la outro dia, quando essa história estivesse mais enterrada.

Adalberto: Baile das Princesas? Com o MC Marcinho? Óbvio. É mais certo eu ir do que uma mulher fruta, Lulu! Mas com um detalhe.

Lu: Qual garoto?

Adalberto: Você vai ter que beber todas comigo. Todas, não. Todas e mais três.

A risada da Lu foi a melhor resposta.

A noite promete!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ane leva chute na bunda e, de quebra, se livra de formigas comestíveis

Na segunda-feira passada, saí do trabalho e resolvi ir à casa da Ane convidá-la para jantar.

Ane: Adal, que surpresa boa.

Adalberto: Vim te convidar para jantar.

Ane: Adoro! Só se for agora.

Nisso, o celular dela toca.

Ane: Oi, meu amor. O Adal chegou aqui e eu vou fazer caminhada com ele. Beijo.

Adalberto: Ane, você está maluca?

Ane: Adal, se eu falar que vou comer fora, o Edinelton me mata.

Adalberto: Por quê?

Ane: Porque ele eu prometi para ele que ia ficar um mês só comendo umas formigas vivas, que fazem um bem danado à saúde.

Adalberto: Como assim?

Ane: Ele está fazendo um tratamento e perguntou se eu podia acompanhá-lo. E eu disse que sim.

Adalberto: Mas isso não alimenta. Isso é para tratamento. O meu pai também já comeu formiga viva, se eu não me engano, para emagrecer. Mas ele fazia as refeições normalmente.

Ane: Eu também pensava que fosse assim. Por isso, que eu aceitei. Me ferrei.

Adalberto: Ane, você conheceu esse cara há duas semanas. Como é que pode se sacrificar assim por alguém?

Ane: Olha, eu vou te contar, mas que isso não saia daqui. Eu não estou comendo formiga porra nenhuma. Todo dia, eu jogo a quantidade que eu teria que comer aqui no jardim do prédio.

Essa é o tipo da mentira que eu perdôo.

Adalberto: Você só não pode ficar cedendo para tudo o que esse cara te pede, porque, daqui a pouco, ele vai achar que manda em você.

Ane: Fica tranquilo, primo. Só estou me fazendo de namorada dedicada agora para poder amarrar o homem no cabresto.

Adalberto: Ok. Vem comigo, então, comer muito filet mignon e arrotar formiga?

Ane: Só se for agora.

O jantar foi ótimo e divertido. Hoje, no entanto, o dia começou sem graça alguma.

Adalberto: Alô.

Ane: Primo, aquelas formigas malditas comem tudo!

Adalberto: Como assim?

Ane: Elas se multiplicaram no jardim do meu prédio e já comeram todas as flores e plantas.

Adalberto: E descobriram que é você que joga as formigas no jardim? Vai ser multada por isso?

Ane: Aqui no prédio, ninguém descobriu nada. Mas o Edinelton conhece essa espécie de formiga de longe. Ele me pressionou e eu acabei contando a verdade para ele.

Adalberto: Ok. E aí?

Ane: Aí que ele terminou comigo.

Adalberto: E você está sofrendo?

Ane: Um pouco.

Adalberto: Um pouco? Então, você não gostava dele. Você sempre sofre muito, quando termina com alguém.

Ane: Pelo menos, eu me livrei das formigas.

Adalberto: Está a fim de sair para jantar comigo hoje?

Ane: Ai, Adal, você é um fofo. Só você mesmo para me dar uma força para eu esquecer o Edinelton.

Edinelton? Como eu posso dar essa força para ela, se nem eu me lembrava mais do Edinelton? O que eu quero é comemorar o fim das formigas na vida dela.

Eu, hein!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Revolta travestida de depressão pós-parto de Sara provoca multas de trânsito gravíssimas

Ontem a Sara me ligou com uma informação atrasada.

Sara: Adal, eu estou com depressão pós-parto.

Adalberto: Como assim?

Sara: Depressão pós-parto, ué. Eu sinto vontade de amarrar os bebês no ventilador ligado, ou jogá-los daqui sexto andar, ou afogá-los na banheira de hidromassagem. O que você acha que é isso?

Adalberto: Loucura, sei lá. Qualquer coisa. Menos depressão pós-parto. Você já teve os trigêmeos há um mês e meio.

Sara: E daí?

Adalberto: Daí que a sua depressão pós-parto está há mais de um mês atrasada.

Sara: Você acha?

Adalberto: Não. Eu tenho certeza.

Sara: Então, vem aqui ficar comigo, antes que eu faça uma besteira.

Adalberto: Está bem, eu vou. Mas se você fizer alguma coisa com os meus afilhados, eu te denuncio na Polícia.

Sara: Fica tranqüilo. E dirige com cuidado.

Fui voando. Contei uns sete radares, por onde passei do limite de velocidade. E, por três vezes, quase bati com o carro. Minha mãe recebeu uns 300 xingamentos.

Quando cheguei à casa da minha prima, descobri o real motivo da depressão (nada) pós-parto.

Sara: O Oswaldo não para em casa. E eu não posso ir atrás dele com esses bebês.

Adalberto: Então, o problema é esse?

Sara: Mais ou menos.

Adalberto: Como assim mais ou menos?

Sara: Não poder seguir os passos do meu marido me irrita profundamente.

Adalberto: E onde é que ficar profundamente irritada tem alguma coisa a ver com depressão pós-parto?

Sara: Ai, Adal, não faz pergunta difícil.

Adalberto: Então, não torna as coisas mais difíceis!

Sara: Mas eu não posso evitar um sentimento.

Tive que apelar para uma mentira.

Adalberto: Ah, não? Então, está bem. Eu gravei toda a nossa conversa pelo telefone, você falando que queria jogar as crianças pela janela, amarrar no ventilador, coisa e tal. O que você acha de eu levar esse registro na Polícia e você perder a guarda dos bebês?

Sara: Não, primo. Sem os meus filhos, eu morro.

Era isso que eu precisava ouvir. Ela é louca, mas não rasga dinheiro.

Saí de lá com a certeza de que nada iria acontecer com os meus afilhadinhos. Definitivamente, o que a Sara fala não se escreve.

Agora, o problema vai ser pagar as multas...