terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Milionários por algumas horas

Eu estava me arrumando pra me encontrar com as meninas no último 31, quando descobri que fiquei milionário. O bilhete em que eu Ane, Lu e Marjorie marcamos nossas dezenas, da Mega-Sena da Virada, havia sido premiado. Liguei pra Marjorie cheio de lágrimas nos olhos.

Marjorie: Alô.

Adalberto: Alô? Como assim alô? Você tá rica. 

Marjorie: Mentira que a gente ganhou na Mega-Sena da Virada, primo?

Adalberto: Sim, sim, sim! Estamos podres de ricos! Agora, me diz onde a gente vai passar o réveillon? Aqui no Brasil mesmo? Acho caído. Não Japão são doze horas a mais ou a menos que aqui? 

Marjorie: A mais.

Adalberto: Droga! Se fosse a menos, dava tempo de ir pra lá.

Marjorie: Que tempo de ir lá, garoto? Não é jogo a gente pegar o bilhete primeiro, trancar num cofre e, no dia 2, no primeiro horário, ir receber essa grana?

Adalberto: O bilhete não tá com você?

Marjorie: Não, eu deixei na bolsa da Ane

Adalberto: Você é maluca? A Ane é toda destrambelhada! Não duvido nada que ela perdeu o meu bilhete premiado! Vou ligar pra ela agora.

E bati o telefone na cara da Marjorie.

Ane: Alô.

Adalberto: Alô, não! Você não sabe que a gente tá milionário? Cadê o bilhete premiado, Ane?

Ane: A gente ganhou na Mega-Sena?

Adalberto: Ganhamos. Cadê o bilhete?

Ane: Ué, tá na bolsa da Lu.

Adalberto: Mas a Marjorie disse que estava na sua bolsa.

Ane: A bolsa que eu estava usando no dia que nós jogamos é da Lu. Eu devolvi pra ela anteontem e esqueci de tirar o bilhete.

Adalberto: Beleza, tchau.

Liguei imediatamente pra Lu, sem nem dar tempo pra Ane comemorar a riqueza.

Lu: Alô.

Adalberto: É com essa voz de desânimo, que a mais nova milionária da praça atende telefone?

Lu: Primo não acredito? A gente ganhou na Mega-Sena?

Adalberto: Calma! Mais ou menos. O bilhete premiado tá na bolsa, que você emprestou pra Ane. Confirma aí que ele tá intacto, please.

Lu: Ai, Jesus, eu emprestei essa bolsa ontem pra Sara.

Adalberto: Nããããããããããããããããããããããããoooooooooooooooooooooooo!

Lu: O que é isso, garoto?

Adalberto: A Sara tem mania de limpeza. Ela joga tudo fora. Se ela jogou o nosso bilhete premiado fora, eu vou te responsabilizar por isso.

Bati o telefone na cara da Lu e liguei pra Sara.

Sara: Alô.

Adalberto: Sara, vai na bolsa que a Lu te emprestou e vê se tem um bilhete de Mega-Sena.

Sara: Primo, tinha uma papelada lá dentro. Eu joguei tudo fora.

Adalberto: Eu vou matar você!

Minha pressão foi às alturas, e eu fui parar na emergência do Lourenço Jorge

Quando acordei, as quatro estavam em volta da minha maca, num corredor lotado da unidade.

Marjorie: Primo, eu tenho uma coisa pra te falar.

Adalberto: Não sei se eu quero ouvir, Jojô. Tou com medo de morrer.

Lu: Calma, garoto, não é nada.

Ane: É que eu eu preenchi as suas dezenas erradas.

Adalberto: Como assim? 

Ane: Eu entendi errado.

Marjorie: Mesmo se a Sara não tivesse jogado o bilhete fora, a gente não ia ganhar, primo.

Adalberto: Alguém acertou as seis dezenas?

Marjorie: Um senhor de 80 anos, paupérrimo, lá do interior do Piauí.

Menos mau. 

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Papai Noel safado vai em cana na noite de Natal

Como um bom brasileiro, deixei para fazer as compras de Natal no dia 23 de dezembro. Fui a um shopping e gastei todo o meu salário do mês, o décimo terceiro e ainda botei algumas contas para janeiro, acreditando que seria o ganhador da Mega-Sena da Virada.

Saí de lá e fui direto para a casa da Sara, onde, no dia seguinte, aconteceria a ceia de Natal.

Sara: Oi, primo, tudo ?

Adalberto: Não.

Sara: O que houve?

Adalberto: Um velhinho, que me ajudou a carregar essas bolas até o meu carro, roubou o meu relógio. Acredita nisso?

Sara: Não. Você deixou um velho te roubar, Adal?

Adalberto: Eles estava armado. Disse que me mataria, se eu reagisse.

Sara: Ainda bem que você não fez nada.

Adalberto: Fiz um boletim de ocorrência na delegacia, só por desencargo de consciência. Vai que, né? Poxa, ele roubou o relógio, que eu mais gostava. Aquele que eu ganhei da promoção, do programa da Ana Maria Braga. Era exclusivo. Só existia ele no mundo. Se aquele velho safado não tivesse botado uma arma na minha cabeça...

Sara: Jesus! A velharada tá perdendo a linha. Hoje, mais cedo, quando fui contratar um Papai Noel pra vir aqui hoje, você acredita que ele ficou me paquerando? Me chamou de gostosa. Por pouco, não bati na cara dele. Respeitei a idade.

Adalberto: Como assim? O Papai Noel não vai ser o meu pai esse ano?

Sara: Ah, primo, não quero ficar dando trabalho pro tio Beto.

Adalberto: E contratou um Papai Noel safado? Meu pai vai ficar chateado. Ele adora ser o Papai Noel da nossa ceia.

Sara: O Papai Noel é safado, mas é velho. E barato. Agora, deixa eu te contar os presentes que eu comprei pras crianças. Me diz o que você acha. Pro Gero...

O telefone tocou, e eu agradeci a Deus por isso. Estava morrendo de sono e precisava tirar um cochilo, antes das pessoas chegarem.

Acordei três horas depois com a campainha. Levantei da cama com muito sacrifício.

Adalberto: Quem era, Sarita?

Sara: O Papai Noel. Ele foi se vestir.

Fiz cara de poucos amigos. Não estava gostando dessa ideia.

Adalberto: Meu pai já sabe, que você contratou um Papai Noel?

Sara: Falei pra ele.

Adalberto: Ele ficou triste?

Sara: Acho que não. Não pareceu.

Quando o Papai Noel safado saiu do banheiro, eu não acreditei no que vi: ele estava com o meu relógio exclusivo no pulso. Quis gritar, chamá-lo de ladrão, safado, bandido, cachorro, sem vergonha... Mas, em vez disso, peguei um facão, em cima da mesa da Sara, e apontei para o Papai Noel safado.

Sara: O que é isso, Adal?

Adalberto: Foi esse safado, que roubou o meu relógio. Olha ali no pulso dele. Liga pra polícia, Sara! Anda! Senão, eu te mato também.

Ameacei a Sara, só pra deixar o Papai Noel safado assustado. Queria que ele chegasse à conclusão de que eu não tenho coração, e seria capaz de matar a minha própria prima, caso fosse contrariado.

A Sara ligou pra polícia e eu encostei a faca na cabeça do Papai Noel safado. Ele ficou paradinho, chorando e me pedindo pra eu não mata-lo, porque ele ainda tinha que ver a família. Pura chantagem emocional natalina.

Vinte minutos depois, os policiais chegaram. Fiz questão de mostrar a cópia do meu boletim de ocorrência pra não dar chance de eles se comoverem com o Papai Noel safado.

Eles levaram o Papai Noel safado preso. E eu fui junto. Precisava recuperar o meu relógio.

Cheguei na casa da Sara quatro horas depois, exatamente à meia-noite, feliz por ver meu pai sendo, mais uma vez, o Papai Noel da família.

Feliz Natal para todos!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Lu pega filho de Eike Batista e quase vira a subcelebridade do momento

Ontem, antes de ir pro trabalho, passei na casa da Lu pra pegar o meu laptop, que ela pegou emprestado há duas semanas e nunca me devolveu.

Tinha uma multidão de gente na porta do prédio dela. Achei estranho, mas jamais imaginei que teria alguma coisa a ver com ela.

Quando passei pelas pessoas, que estavam plantadas no portão do prédio, descobri que se tratavam de jornalistas.

Repórter 1: Oi, o senhor vai à casa da menina do 301?

Adalberto: Vou. Como é que você sabe?

Repórter 2: Há quanto tempo ela tá namorando o Olin?

Adalberto: Namorando? Minha prima desencalhou? Tá namorando com quem ela?

Repórter 3: O Olin Batista, filho do Eike Batista.

Adalberto: Não. Só pode ser piada, gente. Dos lugares que a minha prima frequenta, os filhos do Eike Batista passam longe.

Repórter 1: Ela tem interesse na cerreira artística?

Repórter 2: Pretende se tornar uma mulher-fruta?

Repórter 3: Tem histórico como maria-chuteira?

Adalberto: Ah, faça-me o favor! Me dá licença, gente.

Que falta de respeito! Subi pro apartamento da Lu cuspindo fogo.

Lu: Primo, eu tou morta. Cheguei quase agora da night.

Adalberto: Eu sei. a imprensa tá toda lá embaixo, atrás de você.

Lu: Como assim?

Adalberto: Lu, você ficou com o Olin Batista?

Lu: Eu? quem é essa pessoa?

Adalberto: O filho mais novo do Eike Batista com a Luma de Oliveira.

Lu: Por que você tá me perguntando isso?

Adalberto: Porque todos os jornalistas tão aqui no portão do teu prédio querendo saber.

Lu: Meu Deus, mas eu não fiquei com ninguém. Só dei um beijo numa bibinha.

Adalberto: Como assim?

Lu: Eu apostei com as minhas amigas que, quem não pegasse ninguém, beijaria uma bibinha que estava lá se fazendo de homenzinho.

Adalberto: E como era essa bibinha?

Lu: Loirinha, pele bem rosinha, nem baixa nem alta, cabelo liso boi lambeu, camisa e calça juntinha.

Adalberto: Cara, você me descreveu o Olin Batista.

Lu: Eu fiquei com o filho do Eike Batista, então?

Adalberto: Ficou.

Lu: Mas ele é gay?

Adalberto: Não, mas parece.

Lu: E agora?

Adalberto: Não sei. Só vim aqui buscar o meu laptop, antes que você ache que ele é seu.

Lu: Primo, para. Você vai ficar aqui pra me tirar dessa. Lá fora tá muito cheio?

Adalberto: Dá uma olhada ali, da janela.

Lu: Senhor, o que é isso? Adal, o que eu faço?

Adalberto: Não sei. Diz que você só dá entrevista pra Luciana Gimenez

Lu: Comeu banana? Tu acha mesmo que eu vou na Luciana Gimenez, dizer que eu peguei o filho do Eike Batista, achando que era uma bibinha?

Adalberto: Foge pelos fundos, então, e deixa uma carta, dizendo que você é a Eliza Samudio.

Lu: Tu tá maluco mesmo, né? Aí que não vão mais sair da porta da minha casa.

Adalberto: Lu, eu tenho que trabalhar.

Lu: Já sei, vem cá comigo.

A Lu me pegou pelo braço e me arrastou pra fora do prédio. Desci morrendo de medo.

Lu: Gente, chega aqui, por favor.

E todos os jornalistas se concentraram ao nosso redor.

Lu: Olha só, vocês devem ter feito confusão. Eu não fiquei com filho de Eike Batista nenhum. Eu fiquei com ele aqui.

Adalberto: Comigo?

Lu: Fiquei! Só que ele estava com a peruca loira, que ele costuma sair pra não ser reconhecido na noite. Aí, como estava tudo escuro, alguém deve ter achado que ele era o Eike Batista. Mas o nome dele é Adalberto, ele é casado e a mulher dele morre de ciúme.

Adalberto: O quê?

Lu: É isso mesmo! Você é casado há dez anos. Não se faz de louco, não? Agora, graças a vocês jornalistas, a pobre coitada da mulher dele vai descobrir tudo.

O pior de tudo é que todos os jornalistas acreditaram nela. E foram embora desolados, porque a "grande" notícia do dia não era "verdade".

Subi pro apartamento da Lu, querendo enterrar a minha cara no chão.

Adalberto: Você é retardada?

Lu: Desculpa, primo. Se eu contasse pra você, eu sei que você não ia deixar eu fazer isso.

Adalberto: Claro que não. Você bebeu? E agora? E a minha reputação?

Lu: Ha-ha-ha. Reputação? Você? Primo, faz o seguinte: liga pro teu trabalho, inventa mais uma dor de barriga e vamos encher a cara e, depois, você pensa na sua reputação.

O pior é que eu fiz o que ela mandou. E jamais voltei a me preocupar com a minha reputação. Mas com a ressaca, que resolveu me castigar feio...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Sara esconde o jogo sobre maestria no quadradinho de oito

Fui, ontem, pegar o Oswaldo ao aeroporto. Ele estava voltando de uma viagem a trabalho, e eu não sei por qual motivo o moçoilo não pode pegar um táxi. Tive que madrugar para chegar às 7h no Galeão. A Sara, obviamente, estava comigo.

Adalberto: Não sei como eu consegui dirigir até aqui.

Sara: Você é o melhor do mundo, primo!

Adalberto: Ah, sou, claro. Nessas horas, eu sou sempre o melhor do mundo. Queria ver falar isso, quando me visse trocando uma lâmpada.

Sara: Mas você não sabe trocar uma lâmpada.

Adalberto: Sei, sim.

Sara: Ah, Adal, fala sério. Você não sabe fazer nada direito.

Adalberto: Ah, é Dona Sara? Vou voltar pra minha casa agora! Não sei o que eu tou fazendo aqui.

Sara: Tou brincando, garoto! Sabia que você ia fazer ceninha. Adoro quando você faz ceninha. Aliás, você é o melhor do mundo, quando faz ceninha, primo.

Adalberto: Ah, é? E você é a melhor do mundo em me usar como motorista.

Sara: Ah, vai jogar na cara, é?

Ainda bem que um daqueles carinhas chatos, que distribuem revistas no aeroporto, surgiu para acabar com o princípio de troca de farpas entre mim e a Sara.

Carinha chato: A senhora quer ganhar três revistinhas de brinde?

Sara: Ah, quero, sim.

Adalberto: Não, ela não quer, não.

Sara: Quero, sim, Adal.

Adalberto: Sara, você não sabe que, quando você aceita essas revistas, os caras obrigam você a preencher um cadastro, falando tudo da sua vida?

Sara: Ai, Adal, que exagero.

Carinha chato: Então, senhora? Via ficar com as revistinhas?

Sara: Vou, sim, querido. O que eu tenho que fazer. Só pegar da sua mão?

Carinha chato: Não, senhora. Preciso fazer um cadastrinho antes.

Adalberto: Viu...

Sara: Pois, não.

Que ódio!

Carinha chato: Vai demorar só uns cinco minutinhos.

Mentira! O cara começou perguntando nome, identidade, CPF, título de eleitor, carteira de trabalho, endereço, filiação, estado civil, queria saber se tinha filhos, quantos, os sexos, os nomes, onde nasceram, o peso das crianças, com quantos meses nasceu o primeiro dentinho...

Adalberto: É sério que é importante saber com quantos meses os meus afilhados deixaram de usar fralda?

Carinha chato: Senhor, eu sigo ordens.

Depois, ele começou a perguntar as capitais do Brasil, os presidentes que o país teve, após o regime militar, os nomes dos principais rios da região Centro-Oeste, fez umas questões de lógica e, quando ia aplicar um teste psicotécnico na minha prima, eu cheguei ao meu limite.

Adalberto: Sarita, meu bem, eu vou lá na praça de alimentação comer um salgado. Tou morto de fome.

Sara: Tá bom, vai lá, Adal. É o tempo do Oswaldo chegar de viagem. Depois, me encontra aqui.

Adalberto: Não, é melhor você, depois, me encontrar lá, não?

Sara: Tá ok, primo.

Comi cinco salgados: dois por fome mesmo e três por pura ansiedade. Aeroporto me dá ansiedade, não tem jeito. Bebi um guaraná normal, tomei um sorvete, chupei um drops de bala de menta inteiro, conversei com três amigos no WhatsApp, e nada da Sara. Voltei até o stand do carinha chato, com o objetivo de arrancá-la pelos cabelos, caso ela ainda estivesse por lá.

E pra minha surpresa, ela estava deitada no chão, fazendo o quadradinho de oito. Naquele momento, senti uma vergonha alheia absurda e uma vontade louca de virar uma ema e enfiar a minha cabeça no chão pra nunca mais tirar.

Adalberto: Sara, o que é isso? Quadradinho de oito no aeroporto, é isso mesmo?

Assustada com o meu esporro, ela se desequilibrou, e torceu o pescoço.

Sara: Ai! Ai, meu pescoço! Tá doendo muito, primo. Ai!

Adalberto: Vamos prum hospital agora. Menino, me ajuda aqui a pegar a minha, prima.

Carinha chato: Não posso, senhor. Isso é desvio de função.

Adalberto: Ah, é desvio de função? E esse seu teste de sobrevivência pra dar três revistas de brinde pra minha prima é o quê? Eu vou processar você!

Peguei minha prima no colo, aos prantos de dor, e a levei para o meu carro. Antes, tomei três revistas da mão do carinha chato.

Carinha chato: Senhor, o senhor não pode fazer isso! Ela fo reprovada no teste, não pode levar as revistas.

Adalberto: Ah, não? Então, se você quiser mesmo recuperar esse lixo, me ajuda a carregar a minha prima, que eu te entrego lá no estacionamento.

Carinha chato: Eu não posso sair daqui da frente do stand, senhor.

Adalberto: É, então, tchau!

E fui correndo como um louco no meio do aeroporto, segurando a Sara e três revistas, que fomos descobrir no hospital, que eram do ano retrasado.

Sara: Ué, a Deborah Secco casou na igreja de novo com o Roger?

Adalberto: Claro que não! Aquele safado fez você prestar aquele papel de palhaça no aeroporto por causa desse monte de papel velho aí. Agora, por causa do interesse na vida da Deborah Secco, você tá toda quebrada aí. Era só o que faltava...

Sara: E  Oswaldo, Adal?!

Adalberto: Me ligou dizendo o tempo tá muito fechado lá no Sul, e que o voo foi remarcado pra amanhã.

Sara: Ai, que bom. Ele não precisa saber o porquê desse meu problema, hein, Adal. A gente diz que foi um acidente doméstico.

Adalberto: Sem problemas. Eu não vou te expor ao ridículo pro seu próprio marido. Ele nunca mais ia olhar na tua cara, se soubesse o motivo dessa lesão no pescoço.

Sara: Você é o melhor do mundo, primo!

Adalberto: Ah, claro, né? Nessas horas, e sou sempre o melhor do mundo. Agora, me diz uma coisa: onde é que você aprendeu a dançar o quadradinho de oito com tamanha maestria, Sara? Me explica isso.

Sara: Primo, tá na hora de buscar os trigêmeos na creche! Tem que ser agora, primo, senão, eu vou pagar uma multa. Esse mês, já me atrasei tres vezes. Na próxima, não vai ter perdão.

Adalberto: Você não vale nada, hein! Eu vou. Mas depois, a senhora vai responder a minha pergunta, tá? Espertinha!

Ela acha que eu sou bobo...

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Marjorie é nota dez no improviso

Ontem, quando me preparava pra tirar aquele cochilo de depois do almoço, a Marjorie chegou na minha casa.

Marjorie: Adal.

Adalberto: Não tá, não. Volta mais tarde.

Marjorie: Garoto, para de palhaçada, vim aqui pra te contar a última. Tô arrasada.

Adalberto: O que foi agora?

Marjorie: Não tô mais namorando o Alfredézio.

Adalberto: Por quê? Ele é tão legal.

Marjorie: Aí é que tá. Ele não é tão legal. O personagem que ele interpreta é tão legal. Ele é um imbecil.

Adalberto: Jura? Então, ele atua muito bem. Eu votava nele pra presidente do Brasil.

Marjorie: Ele é mentiroso compulsivo, primo.

Adalberto: Como você descobriu isso?

Marjorie: No sábado passado, ele estava doente e não pôde me encontrar, lembra?

Adalberto: Lembro, claro. Você acabou vindo pra cá, ficar comigo.

Marjorie: Pois é, mas, hoje, quando um amigo dele ligou, ele disse que tinha ido viajar e que tinha trazido um presente pra ele.

Adalberto: E aí?

Marjorie: Aí, eu quis entender. Perguntei se isso era verdade.

Adalberto: E ele?

Marjorie: Disse com muita naturalidade, que tinha mentido pro amigo, porque não queria ficar dando satisfação da sua vida.

Adalberto: Ué, que amigo é esse, que ele não confia?

Marjorie: Pois é, não entendi nada. Eu sei que, depois disso, ele foi me levar na Uruguaiana pra comprar uma lembrancinha pra esse amigo. Pra fingir que era do lugar pra onde ele tinha viajado.

Adalberto: Ai, que história confusa.

Marjorie: Calma, que você ainda não sabe da metade. Na hora de tirar o dinheiro, caiu uma identidade com uma foto dele e outro nome.

Adalberto: Mentira!

Marjorie: No nome de Argilelson. Morri de medo, mas não falei nada.

Adalberto: Não falou?

Marjorie: Não ali. Mas no carro, eu perguntei. E ele disse que era de um irmão gêmeo dele. E que eles têm o hábito de um sair com a cópia dos documentos do outro pra provar que existem duas pessoas com o mesmo rosto.

Adalberto: Provar pra quê? Se todos os irmãos gêmeos fizessem isso...

Marjorie: Pois é, mentira, primo! Ele nem irmão tem. Pelo menos, era o que ele tinha me dito, que era filho único.

Adalberto: E aí?

Marjorie: Aí, eu disse que queria ir embora, porque tinha me dado uma dor de barriga repentina muito forte. Só que ele não acreditou e disse que era pra eu cagar no banheiro do restaurante. Assim, com essas palavras mesmo.

Adalberto: E você?

Marjorie: Eu disse que só conseguia fazer cocô na minha casa. Mas ele lembrou que eu já fiz cocô num boteco pé-sujo no dia que a gente se conheceu e ameaçou me bater, porque eu estava mentindo.

Adalberto: Jesus! E como você saiu dessa?

Marjorie: Eu disse que, na verdade, eu era um policial do Core, disfarçado de mulher, tentando descobrir de qual máfia ele faz parte.

Adalberto: Mas vocês não tinham transado? Ele sabe que você é mulher!

Marjorie: Nada. Na hora agá, ele sempre inventava uma desculpa.

Adalberto: Gente! E o que ele fez, depois que você disse que era um policial?

Marjorie: Desligou o carro e saiu correndo.

Adalberto: E ficou por isso mesmo?

Marjorie: Não. Ele foi atingido por uma bala perdida, e uns trombadinhas que passavam pela rua, arrancaram a roupa dele, que era falsificada da Calvin Klein, mas eles, provavelmente, não sabiam.

Adalberto: Meus Deus! Tudo nesse homem é uma farsa! Ele morreu?

Marjorie: Ele, não. Mas ela, sim. No IML, me perguntaram qual o meu parentesco com o defunto. Eu disse que era namorada. Aí, eles disseram que só poderiam me liberar o corpo, depois da autorização de alguém da família da Aracízia Florentina Piedade. E que eu só teria esse poder, se fosse casada com ela.

Adalberto: O Alfredézio era Aracízia?

Marjorie: Sim. Eu estava há quase um mês saindo com uma mulher e não sabia.

Adalberto: Cara, se não fosse você me contando essa história, eu juro que não ia acreditar. Parece coisa inventada, que só passa em filme. Surreal.

Marjorie: Mas é tudo mentira, primo. Terminei como Alfredézio, porque ele não tem nada a ver comigo. Mas tô ótima.

Adalberto: Mentira que era tudo mentira!

Marjorie: Verdade!

Adalberto: Verdade o quê? É verdade essa história, né?

Marjorie: Não, primo. É mentira! O Alfredézio é homem mesmo, careta, fofo até dizer chega, chato, bobo, mimado e, por tudo isso, e terminei com ele.

Adalberto: Sua cachorra! E de onde você tirou essa história louca, de que o cara é mentiroso, não é homem, que fugiu quando você disse que era do Core?

Marjorie: Da minha cabeça. Quis testar o meu poder de improviso. Vamos tomar um chopinho lá fora?

Adalberto: Não, tô com enxaqueca.

Marjorie: Mentira! Você já me falou que enxaqueca é doença de madame e que não tem essas frescuras. Bora logo, levanta!

Pior é que nem era mentira. Eu estava com enxaqueca mesmo. Mas não ia dar o braço a torcer.

Não convenço nem falando a verdade...

domingo, 24 de novembro de 2013

Sara sai de casa mas, por pressão, se arrepende e volta

Ontem, quando eu abri a porta pra sair de casa, dei de cara com a Sara.

Adalberto: Que susto! O que você estava fazendo aí?

Ela estava com uma mala. E eu fiquei com medo, do que aquilo poderia significar.

Sara: Vim morar com você.

Adalberto: Hã? Como assim, morar comigo?

Sara: O Oswaldo disse pela terceira vez, só nesse mês, que eu preciso emagrecer. E eu já tinha falado pra na segunda vez, que ele falou essa besteira, que, da próxima vez, eu sairia de casa. Cumpri  o que disse. Vim morar com você, primo.

De jeito nenhum!

Adalberto: Sara, não tem problema nenhum você vir morar comigo, mas você não pode sair, assim, de casa. E os trigêmeos?

Sara: Eu vou buscá-los amanhã. Eles já estavam dormindo. Meus filhos vão morar comigo. E com o dindo deles.

Três crianças de dois anos, gritando pela minha casa o dia inteiro? Nããããããããããããããooooooooooo!

Adalberto: Sem problemas, mas e a creche deles? Como é que eles vão morar no Recreio e estudar em Niterói?

Sara: Eu boto eles numa creche aqui perto, ué.

Adalberto: Sara, você não pode meter os pés pelas mãos assim. As crianças já estavam acostumadas. Eles podem não se adaptar à mudança e isso pode trazer sérios problemas. Fora o trauma da separação dos pais, que com certeza vai afetar o psicológico deles. Depois, tem pai que não entende, porque o filho entrou pelo caminho das drogas, tá roubando, não quer trabalhar, só pensa em dormir, vive deprimido, chorando por qualquer besteira. É isso que você quer para os seus filhos?

Sara: Mas tem muita criança que não cresce assim.

Adalberto: É mas você tem trigêmeos. A probabilidade de isso acontecer, pra você, é multiplicada por três.

Sara: Ai, Jesus! Eu tô arrependida. O que eu faço, primo, me ajuda!

Adalberto: Volta pra casa agora!

Sara: Jamais!

Adalberto Que jamais o quê, tá maluca? Tô ligando pro Oswaldo pra resolver isso agora. Alô, Oswaldo, que palhaçada é essa de ficar chamando a minha prima de gorda? Olha só, cara, eu não tenho nada a ver com a vida de vocês dois, mas eu não posso receber a Sara na minha casa, porque estou com visitas, que vão ficar aqui um mês. E como você sabe bem, a Sara não trabalha e não tem renda. Ela vai ter que morar na rua, porque as outras primas também estão com visitas em casa e os meus pais idem. Tive que deixar a pobre coitada num abrigo, que recebe cracudo revoltado com a vida. Sabe aquela gente desacreditada, que quer matar o primeiro que aparece na frente? É com esse tipo de gente, que ela tá morando agora. Ah, você quer pedir desculpas pra ela? De joelhos? De joelhos, sim. Tem que ser de joelhos pra ela aceitar voltar pra casa. Então, vem aqui em casa agora. É o tempo de eu buscá-la nesse abrigo. Ah, quando chegar, interfona que ela desce. Aqui em casa tá cheio de gente, não cabe mais ninguém. Até já.

Sara: Primo, você é doido!

Adalberto: Resolvi seu problema. Ele disse que tá arrependido, que nunca mais vai fazer isso e que vai te pedir desculpas de joelhos. Tá bom assim?

Sara: Te amo. Me abraça. Brigada, tá?

Adalberto: De nada, amore. Agora, deixa eu ir lá, que eu tô atrasado pro aniversário de um amigo meu. Beijo, se cuida. E não faça mais isso!

Senão, sou eu que me ferro!

domingo, 17 de novembro de 2013

Ane trabalha, trabalha, trabalha, mas, no final, é demitida por um peguete metido a malandro

A Ane chegou hoje de viagem. Ela tinha ido pra Floripa com um cliente da locadora de carros do pai dela. E a primeira coisa que fez, quando chegou ao Rio, foi vir pra minha casa. Chorar.

Adalberto: O que aconteceu? A viagem não foi boa?

Ane: Não, foi uma merda.

Adalberto: Por quê? Não foi legal lá com o Zulmenildo?

Ane: Foi péssimo. Ele só trabalhou.

Adalberto: Ah, mas isso você já sabia que ia acontecer. Ele foi pra lá pra um congresso de três dias. Você mesma me contou isso.

Ane: Eu sei. O problema é que eu fiquei trabalhando de assessora dele.

Adalberto: Como assim?

Ane: Eu passei a roupa dele, que amarrotou na mala; fazia massagem nas costas dele, quando ele chegava no hotel; cortei os cabelinhos do nariz e da orelha dele; trocava o curativo e botava pomada no joelho dele.

Adalberto: Ele se machucou lá?

Ane: Não. Caiu de moto há umas duas semanas, mas já tá tudo bem.

Adalberto: Ah, tá. Mas me conta. Você disse que estava num resort incrível, que a seleção dos Estados Unidos ou Japão vai ficar lá na época da Copa. O que tinha lá de bom?

Ane: Tudo o que você puder imaginar. Umas 30 piscinas. Piscina de água quente, água fria, com toboágua grande, pequeno, médio, com onda... Ah... Coisa de louco! Praia particular, campo de golfe, um monte de restaurante, sauna seca, a vapor, campo de futebol, quadra disso, daquilo, daquilo outro... Adal, tinha até boate lá dentro.

Adalberto: E você? Aproveitou?

Ane: Não.

Adalberto: Por quê? Onde você estava, enquanto o Zulmenildo estava no congresso?

Ane: Ué, transcrevendo os áudios das palestras, que ele participava. Meu ouvido tá que não aguenta mais aquele fone que entra, sabe? Se você encosta na minha orelha, eu sinto dor. Não consigo nem dormir de lado de tanta dor. Já tomei remédio, mas se não melhorar, tou pensando até em ir ao médico, primo.

Adalberto: Gente, que horror! Que viagem péssima foi essa?

Ane: Nem te conto, primo. Pior que nem sexo a gente fez direito.

Adalberto: Como assim?

Ane: A gente só transou um dia e, mesmo assim, muito mal, porque ele estava cansado.

Adalberto: E foi bom?

Ane: Basicão. Ele estava muito cansado. Nos outros dias, nem aguentou.

Adalberto: Mas e aí? E hoje, amanhã, sei lá... Quando vocês vão se encontrar de novo?

Ane: Nunca mais.

Adalberto: Por quê?

Ane: Ele disse que eu não sou a mulher que ele quer pra ele?

Adalberto: Não. Como assim? Ele te fez de escrava em Floripa e, depois, teve a cara de pau de dizer isso?

Ane: Pois é. Tou arrasada, primo. Me dá colo, ombro pra eu chorar, qualquer coisa.

Adalberto: Nada disso. Vou te dar cerveja. Vamos agora prum bar, afundar essa mágoa. E não vale dizer não.

Coitada da minha prima. Foi usada por um idiota metido a malandro. E, no final, foi demitida.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sonho de consumo decepciona Lu

Ontem, a Lu foi a minha casa pra tentar conter a própria ansiedade.

Adalberto: Lu, são sete horas da manhã. Eu tenho que ir trabalhar.

Lu: Ah, mas você não vai mesmo. Eu não dormi a noite toda. Preciso de uma companhia, primo. Senão, eu não vou aguentar esperar até a noite.

Adalberto: Esse encontro com o Wendelano á tão importante assim?

Lu: Cara, o Wendelano já foi um dos meus sonhos de consumo da minha adolescência. Agora que ele se separou e tá voltando a morar no Rio, essa é a minha grande chance.

Adalberto: Um dos? Foram muitos?

Lu: Não sei. Uns 15, sei lá. Adal, isso não importa mais. Até porque eu não consigo mais ter olhos nem cabeça pra nenhum outro homem, além do Wendelano. Por quê?

Adalberto: Nada. Só curiosidade mesmo. Olha só, eu vou ter que ir pro trabalho mesmo, tá? Tem água na geladeira, miojo na dispensa e a televisão da sala não tá funcionando, porque eu ainda não paguei, mas no quarto você pode assistir TV aberta.

Lu: Adal, você não vai trabalhar.

Adalberto: Vou, sim.

Lu: Se você for, eu vou atrás e faço um escândalo na porta da tua firma.

O pior é que ela é capaz disso mesmo.

Adalberto: Que saco! Que inferno ter primas como vc, Ane, Marjorie e Sara, que acham que mandam em mim!

Lu: Mas a gente manda em você.

Adalberto: Não, vocês me manipulam. É diferente. Eu fico. Mas você vai ter que fazer um almoço bem gostoso pra mim.

Lu: Fechado.

Enquanto a Lu foi ao mercado comprar os ingredientes para o estrogonofe de camarão, eu liguei pro meu trabalho pra dizer que não iria, por causa de mais uma dor de barriga e, depois, voltei a dormir.

À tarde, depois de repetir três vezes a comida, tivemos uma conversa séria sobre a família do Wendelano.

Lu: Por que você tá me perguntando essas coisas?

Adalberto: Não foi você que disse que todo mundo na casa dele é louco?

Lu: Eles não são loucos.

Adalberto: Então, me explica por que a irmã dele se chama Rosemary, mas se apresenta pra todo mundo por Deise?

Lu: Eu já te expliquei que o nome dela sempre foi Deise. Só na hora de registrar, o pai do Wendelano estava bêbado e colocou o nome da amante na filha. Mas a mulher dele sabia da existência dessa amante e nunca deixou que ninguém chamasse a filha de Rosemary. Só de Deise.

Adalberto: E isso justifica ela ter colocado o nome de Maicolino e chamar de Rodrigo?

Lu: Ela é problemática, quis se vingar da vida mirando no próprio filho, coisa de gente que tem crise de identidade. Nunca foi Rosemary nem Deise...

Adalberto: Pra mim, ela é doida.

Lu: Motivos pra ser doido tem a irmã do Wendelano, que foi criada numa jaula. Mas ela deu motivos.

Adalberto: Como assim? Qual motivo?

Lu: Ela perdeu a virgindade com 12 anos. Isso é idade?

Adalberto: Lu, você não pode julgar a menina, mas a criação que ela teve. Você tem certeza que é nessa família que você vai se enfiar?

Lu: Eu nunca tive tanta certeza na minha vida. A gente vem se falando há dias por telefone. Ele quer mesmo uma coisa séria comigo. Tá me cheirando amor pra vida toda, Adal.

Adalberto: É sério isso?

Lu: É. Mas deixa eu me arrumar, porque eu tenho que sair em quatro horas.

Adalberto: Vai lá.

E não é que ela ainda saiu atrasada? Não entendo por que as mulheres demoram tanto pra botar uma roupa, pentear cabelo e passar maquiagem, se elas fazem isso há tanto tempo.

Lu: Tchau, primo.

Adalberto: Beijo.

E duas horas depois, ela me volta decepcionadíssima.

Lu: Quero me matar. Me joga da sua janela, por favor?

Adalberto: Depende. Por quê?

Lu: O Wendelano quis transar comigo vestido de mulher. Foi por isso que a mulher dele não quis mais ficar com ele.

Adalberto: É um fetiche estranho, né?

Lu: Muito. Ele diz que não consegue mais fazer sexo se não for assim. E eu gosto de homem, primo!

Adalberto: E agora?

Lu: Agora? Eu quero me matar, ué. Já te falei. A vida perdeu sentido pra mim.

Adalberto: Ah, Lu, para de show e vamos tomar uma chope lá na rua. Eu já imaginava que não tinha um que prestava nessa família.

Lu: Vamos. E eu vou dar mole pro primeiro garçom que aparecer na minha frente. Tô necessitada, subindo pelas paredes. Quero homem!

A Lu não tem mesmo papas na língua...

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Mãe é tudo. E filho não vale nada

Ontem, à tarde, eu estava em casa deitado no sofá, pegando no sono, quando a minha mãe me ligou.

Adalberto: Alô.

Neide: Oi, meu filho, que voz é essa? Tá tudo bem?


Adalberto: Tá... É que eu tô com sono, aqui no sofá, ouvindo a televisão.

Neide: Ah, meu filho, queria te pedir um favor. Me leva no mercado rapidinho? É que eu tenho que comprar umas frutas pro lanche, que vai ter na igreja amanhã.

Adalberto: Mãe, me desculpe, mas vou ficar te devendo essa.

Neide: Poxa, que maldade! Eu faço tudo por você e pela tua irmã e, quando chega a minha vez, é sempre assim. Tô cansada de vocês.

Adalberto: Mas, mãe, só porque eu tô cansado e não quero te levar no mercado?

Neide: Não. Porque você nunca faz nada por mim!

Minha mãe é muito exagerada. Ela precisa parar de assistir novela mexicana urgentemente!

Adalberto: Eu não faço nada por você?

Neide: Não. Mas deixa estar... Vou ligar pro Edemésio. Ele, com certeza, vai me levar lá.

Adalberto: Se você já tinha certeza disso, por que não ligou pra ele antes, nãe?

Neide: Porque eu tenho filhos. Mas meus filhos não valem nada.

Adalberto: Mãe, é melhor você ir lá. Não quero brigar com você e tô cansado.

Neide: Tchau. E, se precisar de mim, você vai ver só o que eu vou fazer.

Adalberto: Beijo, te amo.

Pior que, depois disso, perdi o sono e senti uma fome de leão. Queria pedir uma pizza, mas, em pleno fim de mês, não tenho dez reais na minha conta.

Até que seria uma boa ir ao mercado com a minha mãe, hein... Mas eu não podia ligar pra ela, depois da nossa pseudobriga.

O telefone tocou, e eu tinha certeza que era ela, ligando pra me pedir desculpas. Atendi na pressa, sem ver que, na verdade, era a Marjorie que estava me ligando.

Adalberto: Fala, mãe linda!

Marjorie: Que mãe, garoto? Sou eu, Marjorie?

Adalberto: Oi, Jojô. Nem vi que era você. É que eu estava falando com a minha mãe, achei que fosse ela.

Marjorie: Ai, nem me fale em tia Neide. Tô fugindo dela.

Adalberto: Ela quer que você a leve no mercado também?

Marjorie: Não. Quem dera se fosse isso.

Adalberto: O que aconteceu?

Marjorie: Garoto, eu fiquei com o Edemésio.

Adalberto: Como assim? O Edemésio é seminarista da igreja dela. Você sabia disso, né?

Marjorie: Então, eu sabia. Mas não sabia que eles não podiam ficar com outras pessoas.

Adalberto: Claro que não. O cara tá estudando pra ser padre! Padres não podem casar, esqueceu?

Marjorie: Não. Mas eu não sabia que, enquanto o cara não virasse padre, não podia curtir a vida.

Adalberto: Mas pode curtir a vida. Contanto que não tenho sexo no meio.

Marjorie: Ai, eu quero me matar. Ele só me contou isso, depois que a parada acabou.

Adalberto: Ele não é bobo, né? Quando foi isso?

Marjorie: Hoje. Encontrei com ela na padaria, aí, ele veio aqui pra casa e só saiu agora. Foi pedir dispensa da igreja

Adalberto: Mentira! Minha mãe ia ligar pra ele agora. Vai ficar passada.

 Marjorie: Vai querer me matar.

Adalberto: Não sei se vai querer te matar, mas ela mistura as coisas, né? Por mais que ele tenha seguido uma vontade dele, ela vai achar que você influenciou. Ih, meu celular tá com chamada em espera. É ela. Vou atender aqui.

Marjorie: Me defende, primo.

Adalberto: Deixa comigo.

Atendi cheio de autoridade.

Adalberto: Fala, mãe.

Neide: Oi, meu filho, o Edemésio não vai poder me levar.

Adalberto: Ah, não. Por quê?

Neide: Então, tô arrasada com Edemésio. Ele não vale nada. Ai, meu filho, quebra um galho pra mim. Me leva no mercado. No caminho eu te conto.

Adalberto: Claro minha linda. Mas eu tenho uma sugestão melhor. A gente vai ao mercado e, depois, a gente conversa em algum lugar. Vamos conversar dignamente, sentados. Eu sinto falta disso.

Neide: Ótima ideia, filho. O que você sugere?

Adalberto: Ah, sei lá. Você que sabe.

Neide: Vamos, então, no churraquinho do Diógenes?

Adalberto: Ah, não, mãe. Vamos comer pizza?

Neide: Tá bom. Em quanto tempo você chega aqui?

Adalberto: Quinze minutos.

Mas, se dependesse da minha fome, eu me teletransportaria.

Minha mãe não conseguiu segurar e começou o desabafo já no carro. Descobri que o Edemésio não citou a Marjorie em momento algum. Até que o cara tem seu valor.

Na pizzaria, eu parecia uma draga. Só tive noção do tanto que comi, quando a conta chegou. Dei o golpe da carteira e minha mãe, a melhor do mundo, pagou sem reclamar. Só me deu um esporrinho, porque concluiu que, se eu esqueci a carteira em casa, provavelmente, teria esquecido a carteira de motorista junto.

Adalberto: Não, tá aqui comigo. Eu já deixo ela em cima da minha cômoda pra nunca esquecer, quando sair de casa.

Neide: Ah, tá...

Não sei se convenci. Mudei logo de assunto.

Adalberto: E agora? O que o Edemésio vai fazer?

Neide: Voltar pra cidade dele lá no Nordeste. Ele me disse que volta amanhã.

Adalberto: Ah, tá.

Tadinha da Marjorie. Perdeu o seminaristazinho.

Neide: Agora vê, né? O menino me enganou. Achei que era boa gente. Ainda bem que eu tenho os meus filhos.


Mãe é tudo. E filho não vale nada.

sábado, 5 de outubro de 2013

Primas celebram os 25 anos da Constituição Federal ou Viva España!

Eu estava tirando aquela soneca gostosa de depois do almoço, no sofá da sala, quando as quatro malucas invadiram a minha casa.

Marjorie: Primo!

Ane: Adal!

Sara: Acorda, Adalzinho.

Até que a Lu teve a brilhante ideia de jogar água em mim.

Adalberto: Ah! Eu vou morrer!

Lu: Calma, garoto! Vaso ruim não quebra assim, não.

Adalberto: O que é que tá acontecendo? Olha, eu tô cansado de tomar susto com vocês, chegando na minha casa sem me avisar. Podem me passando as chaves daqui do meu apartamento. Vou acabar com essa palhaçada.

Sara: Adal, hoje o dia não é pra brigar. É pra festejar.

Adalberto: Eu tô vendo... Por que vocês estão com esses chapéus de festa de criança? Hoje é o meu aniversário?

Ane: Não, calma, o seu é só no mês que vem. Hoje, é o aniversário da Constituição Federal.

Sara: Vinte e cinco anos.

Adalberto: E isso é motivo de festa?

Marjorie: E o que não é motivo de festa pra gente, primo? Com um dia nublado desses, nada pra fazer em casa, liguei pra Ane, pra perguntar se ela não queria me chamar pra fazer alguma coisa. Aí, a doida disse que não sabia de nada, mas que tinha visto no Jornal Hoje, que hoje é aniversário da Constituição Federal.

Ane: Não é um bom motivo pra gente se reunir? Fala a verdade, primo?

Adalberto: Sei lá.Vocês são mó fora da lei.

Lu: Fora da lei é você, que não levantou até agora pra dar um beijo na gente.

Adalberto: Eu estava dormindo. Acabei de almoçar. Estava tirando a minha sesta. Vamos comemorar a existência da sesta?

Sara: Como assim?

Adalberto: a gente finge que tá na Espanha, tira uma sesta agora e, quando a gente acordar, a gente conta um pro outro se sonhou, com o que sonhou, se foi pesadelo, se foi sonho bom, sonho louco. Vamos fazer isso? Viva España!

Lu: Que mané "viva España"?! Levanta daí, anda!

Adalberto: Ai, que saco.

Marjorie: Poxa, primo. Eu me despenquei do Leblon.

Lu: Eu, do Méier.

Ane: Eu, do Humaitá.

Sara: Eu, de Niterói.

Adalberto: Por que vocês não ficaram em casa? Era melhor. Menos trabalho.

Ane: Ai, Adal, você é um chato, hein. Meninas, vamos abrir os trabalhos. Preciso de uma cerveja.

Marjorie: Vamos esperar só mais uns dez minutinhos. Não estava muito gelada. Eu acabei de colocar no congelador. Com esse tempo frio, já, já ela vai ficar no ponto.

Lu: Olha só, eu quero comer o bolo, que a Marjorie comprou antes de tomar cerveja. Vamos cantar parabéns?

Sara: Vamos. Eu adoro cantar parabéns.

Adalberto: Gente, cantar parabéns pra Constituição?

Ane: Ué, só ela, que a gente conheça, tá fazendo aniversário hoje.

Marjorie: Primo, não discute com maluco. Vem cantar parabéns.

Lu: Se não vier, eu vou arremessar um pedaço de bolo na tua cara.

Ane: Lu, para com essas brincadeiras de mal gosto.

Lu: Cala a boca, garota! Não te perguntei nada.

Marjorie: Vem cá, o núcleo "baixo nível" das primas já começou a se manifestar cedo?

Ane: Você se acha a fina, né?

Marjorie: Não. Só não sou baixa como vocês.

Lu: Baixa é a tua avó.

Sara: A avó dela é a mesma que a tua, que é a mesma que a minha, que é a mesma que a da Ane. Sua burra!

Lu: Burra é você, sua imbecil. E a tua avó!

Sara: Imbecil é você. Não fala mal da minha avó.

Ane: Ah, Sara, vai cuidar do teu marido, vai. Porque, se ele é esperto, ele tá te botando um par de chifres agora.

Marjorie: Cala a boca, garota! Não se mete no meio de relação de casal, sua invejosa!

Lu: Invejosa é você, que adora dar lição de moral em todo mundo.

E enquanto o parabéns pelos vinte e cinco anos de um documento, que assegura os direitos dos indivíduos, não começava, eu voltei a dormir. Elas nem repararam em mim. Estavam tão preocupadas em desrespeitar as leis da boa família, que me deixaram em segundo plano.

Quando acordei, as quatro já tinham voltado a ser melhores amigas e estavam abrindo a quinta garrafa de cerveja.

Adalberto: Pô, nem me acordaram pra beber com vocês.

Lu: Pra quê? Pra você vir de ignorância com a gente?

Ane: A gente não gosta de ser mal tratada, não!

Marjorie: Pois é, primo, fiquei chateada com você.

Sara: É, poxa, deixei meu marido em casa pra vir pra cá, pra ser mal recebida.

Ane: Se ainda estiver com mau humor, é melhor voltar a dormir.

Lu: É mesmo. Vai comemorar a Espanha dormindo aí sozinho. Como é que é mesmo, que ele falou naquela hora?

Marjorie: Viva España!

Lu: Isso, viva España!

Ane, Lu, Marjorie e Sara: Viva Espanã.

Viva!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Lu é salva das garras de um imbecil, que não vale o nome bordado na calcinha

A Lu chegou ontem na minha casa no momento mais sagrado do dia.

Lu: Adal!

Adalberto: Ah, não, Lu, o que foi? Já falei pra vocês não me incomodarem na hora da novela das oito. Que saco! Vou acabar tomando essa chave de vocês.

Lu: Duvido você fazer isso com a Marjorie, a sua queridinha.

Adalberto: Para com esse negócio de queridinha. Isso não existe. Eu gosto das quatro por igual.

Lu: Eu não vou te atrapalhar. Só vim buscar aquela minha calcinha vermelha de renda, que eu deixei aqui.

Adalberto: A Ane dormiu aqui de ontem pra hoje, mas não tinha nada de roupa. Pegou umas coisas minhas, que obviamente ficaram largas nela e a sua calcinha.

Lu: Cara, eu vou matar a Ane! Essa garota acha que pode sair mexendo, assim, nas minhas coisas? Que ódio!

Adalberto: Calma. Pra que você precisa tanto daquela calcinha?

Lu: Porque nela está bordado o nome do Ariedson.

Adalberto: Você bordou?

Lu: Não. A Vera. Por isso que eu deixei aqui.

Adalberto: Gente, para de ficar explorando a Vera, com favores pessoais. Já falei com a Dona Ane pra parar com isso também. A mulher é minha diarista!

Lu: Eu deixei dez reais pra ela fazer isso pra mim. Não foi de graça, não.

Adalberto: Não foi. Mas o tempo que ela perdeu bordando Ariedson na sua calcinha, ela podia ter usado pra lavar uma louça.

Lu: E agora, primo? O que eu faço?

Adalberto: Eu que vou saber? Pra onde você tá indo?

Lu: Encontrar com ele no baile charme do Viaduto de Madureira. Mas eu prometi que ia com essa calcinha. Aliás, eu disse que já estava com a calcinha.

Adalberto: Por que você fez isso?

Lu: Porque, no fim de semana passado, ele teve crise de ciúmes lá no Cacique de Ramos, só porque o Astolfo veio falar comigo.

Adalberto: Astolfo filho da tia Benzenita?

Lu: Isso. Expliquei pro Ariedson que o Astolfo foi meu vizinho no Méier, que conheço ele desde molequinho, mas a tromba não baixou.

Adalberto: E onde a calcinha entra?

Lu: Sem graça! Você sabe onde ela entra. E entra cravada pra me deixar bem sexy.

Adalberto: Não, sério Mas o que a calcinha tem a ver com isso?

Lu: O Ariedson queria terminar comigo, por causa do Astolfo. E eu joguei essa caô, de que tinha mandado bordar uma calcinha com o nome dele. Aí, sabe como é que é homem, né? Ficou todo cheio de si e me perdoou.

Adalberto: Mas perdoou de que, se você não fez nada? Ou você estava mesmo dando mole pro Astolfo?

Lu: Claro que não, né? Bebeu?

Adalberto: Então! Você não fez nada de errado.

Lu: Eu sei, mas vai falar isso pro Ariedson. Ele é um poço de ignorância, meu bem.

Adalberto: E por que você tá pagando tanto pau pra esse cara?

Lu: Quer mesmo saber?

Adalberto: Não, brigado.

Lu: Ai, será que se eu ligar pra vaca da Ane ela passa aqui pra devolver a minha calcinha?

Adalberto: Ué, liga.

E foi o que ela fez.

Lu: Ane, sua cachorra, cadê a minha calcinha? O quê? No lixo. Eu vou acabar com a tua raça, sua desgraçada. Quem mandou você meter o nariz onde não foi chamada? Bem feito. Pra você aprender...

Adalberto: O que foi que aconteceu?

Lu: Ela foi encontrar com um carinha, que ela estava saindo, e ele ficou uma arara, quando foi tirar a calcinha dela e viu o nome do Ariedson. Rasgou a minha calcinha e jogou fora. Disse que, por pouco, não bateu na cara dela.

Adalberto: Se ele batesse, ele ia pra delegacia! Eu, hein! Esses homens que você e Ane têm saído ultimamente são muito intolerantes, sabia?

Lu: É mas eu gosto. Homem, pra mim, tem que ser assim mesmo. O ruim é quando a gente dá uma bola fora. E agora, que eu falei pro cara que estava com a calcinha com o nome dele? Se eu for me encontrar com ele com qualquer outra calcinha, ele vai pensar mil coisas. Vai achar que já saí com outro cara e tive que trocar de calcinha. Vai achar que era mentira minha pra segurar a relação... Ai, o que eu faço, primo?

Adalberto: Vai sem calcinha.

Lu: Nossa, ele me mata. Quer que eu morra?

Adalberto: Gente, ele é desse nível?

Lu: Tô te falando que o Ariedson é um bicho escroto, quando tá com raiva. O cara é um espírito de porco. Ai, primo, tô ficando nervosa.

Adalberto: Calma, já sei. A Vera hoje tá trabalhando aqui numa vizinha. Acho que tem uma calcinha da Marjorie aqui, que também é vermelha. Vou interfonar pra ela vir aqui bordar isso rapidinho.

Lu: Jura? Ai, Senhor, brigada! Brigada meu Pai!

Adalberto: Só um segundinho.

Lu ficou na sala me esperando, para variar, batendo seu salto agulha no chão intermitentemente. Só não roeu as unhas porque ela é vaidosa que só. Mas vontade ele teve.

Adalberto: Pronto. Ele vai vir pra cá. Disse que, em cinco minutos, acaba tudo o que tem pra fazer lá e vem.

Lu: Ai, que bom! Nem acredito, primo. te amo.

Adalberto: Viu como para tudo tem um jeito? Agora, bebe esse água aqui. Você estava muito nervosa. Botei um pouco de açúcar.

Lu: Ah, mas açúcar engorda!

Tive que enfiar o copo dentro da boca da Lu.

Adalberto: Bebe!

Lu: Ai, chega! Pronto, foi meio copo. Não posso ingerir mais nenhuma caloria por hoje, primo. O Ariedson não gosta de mulher banhuda, fora de forma.

Adalberto: Esse Ariedson é uma mala, hein...

Lu: Não fala assim do meu bebê. Ele vai ficar todo feliz, quando me vir com a calcinha com o nome dele.

E essas foram as últimas palavras proferidas pela Lu, antes de de apagar completamente. Nada como um bom sonífero para livrar uma prima minha de um idiota.

Ela passou o noite toda morgada no meu sofá, enquanto o Ariedson não parava de ligar. Depois que cancelei a trigésima chamada, ele mandou uma mensagem, chamando a Lu de vagabunda pra baixo e que era pra ela atravessar a rua, se um dia voltasse a cruzar com ele.

Ela acordou hoje, sem lembrar de nada. Ficou arrasada com a mensagem do Ariedson, mas respeitou a decisão do imbecil.

Melhor assim.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Marjorie, às vezes, é uma chata por ser muito legal

Outro dia, eu estava dormindo no sofá da sala da minha casa, com a televisão ligada, sonhando com a morte da bezerra, quando fui acordado por um extraterrestre.

Marjorie: Primo.

Adalberto: Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhh!

Marjorie: Calma, primo, sou eu, Marjorie!

Adalberto: Que susto! Por que você tá assim, toda descabelada?

Marjorie: Acabei de tomar porrada.

Adalberto: Como assim? O que é que aconteceu?

Marjorie: Sabe o Valdicleverson?

Adalberto: Claro. O carinha que a Lu te apresentou.

Marjorie: Ele tem namorada, tá?

Adalberto: Mentira. E como é que você descobriu?

Marjorie: No chopinho de aniversário da Karen, aquela modelo amiga minha, lá na Praça São Salvador.

Adalberto: Mas como é que foi? Ele foi com você, e ela apareceu por coincidência lá?

Marjorie: Não, ele não foi comigo. Ele disse que precisava cuidar da vozinha, que estava doente, aí, eu falei "beleza, eu vou mesmo assim, qualquer coisa, me liga". E você me ligou? Não. Nem ele. Mas esse mundo é uma bolinha de pingue-pongue, e a namorada dele é filha da babá, que cuida da Karen até hoje.

Adalberto: E aí? Você viu ele chegando com a mocreia?

Marjorie: Não. Quando eu o vi, ela não estava por perto. Aí, eu fui falar com ele super na boa, perguntei pela avó dele, ele disse que ela ainda estava mal e que só tinha ido ali, porque soube que eu estava lá e queria ver se eu estava me comportando bem, mas que já estava de saída.

Adalberto: Que cínico.

Marjorie: Pois é, achei ridícula e machista essa atitude dele, mas eu não queria discutir sobre isso ali, no meio da Praça São Salvador. Dei um beijo nele de despedida e, no mesmo segundo, a namorada dele surgiu e quase arrancou todos os meus fios de cabelo. Que força que tinha aquela menina! Precisou de uma três pessoas pra separar.

Adalberto: E ele?

Marjorie: Não fez nada. Ficou parado, olhando a confusão.

Adalberto: Você bateu nela, pelo menos?

Marjorie: Eu, não. Eu não sei bater. Só gritava "socorro". Mesmo assim, teve uma hora que ela tentou me enforcar, que eu fiquei sufocada, sem voz.

Adalberto: Meu Deus, tadinha da minha prima. Quero matar essa garota, que te bateu.

Marjorie: Menino, na hora, eu também só pensava nisso, mas, na boa, quem não vale nada é o Valdicleverson. Ok, ela errou por ter me batido, mas ela ali estava sendo traída, né? Eu até entendo um pouco.

Adalberto: Como assim entende? Você não tem que entender essa agressora. Você deu parte na polícia?

Marjorie: Não, primo, nem precisei. Quando finalmente conseguiram desgrudar ela de mim, ela arremessou uma garrafa de cerveja na minha direção, que acertou em cheio um PM.

Adalberto: Bem feito!

Marjorie: Aí, levaram ela para a delegacia.

Adalberto: Mas você não teve que ir para falar sobre a origem da briga?

Marjorie: Nada. Você acredita que os policiais nem viram a gente brigando? Pra eles, só aconteceu o arremesso de garrafa. E eu não quis colocar mais lenha na fogueira, sabe?

Adalberto: Coitada da minha bebê. Quer tomar um banho?

Marjorie: Não, primo. Só vou prender o cabelo. Eu esqueci que tinha uma reunião agora cedo aqui no Recreio. Por isso que passei aqui. Vim te mostrar o meu estado.

Adalberto: Você vai pra uma reunião virada?

Marjorie: Vou. Mas é com um estilista amigo. Não tem problema se eu chegar com essa cara de derrota. Ele já chegou bêbado.

Adalberto: Vai ter mais gente?

Marjorie: Não, só nós dois mesmo. Vai ser só uma conversa sobre o conceito da coleção nova dele. Eu vou fazer as bolsas.

Adalberto: Tá bom. Qualquer coisa, estou por aqui, tá?

Marjorie: Pois é, primo, queria te pedir um favor.

Adalberto: Você não pede, você manda.

Marjorie: Então, depois da confusão, eu achei um celular no chão. Aí, fui ligar pra pessoa "amor" e o Valdicleverson. Ou seja, esse aparelho é da namorada dele. Como eu não quero arrumar mais confusão, queria te pedir pra entregar pra ela lá na Tijuca. O Valdicleverson me passou o endereço. Quer anotar?

Adalberto: Claro que não! Tá maluca? Marjorie, você é boba assim, é? Eu só vou lá se for pra fazer ela engolir esse aparelho. Você quer que eu faça isso?

Marjorie: Não, deixa pra lá. Eu dou o meu jeito.

Adalberto: Não, eu não vou deixar você se expor dessa maneira. Já que você é boba e quer mesmo entregar essa porcaria pra garota que te agrediu, deixa que eu cuido disso. Eu mando pelos Correios, sei lá.

Marjorie: Pois é, eu ia fazer isso. Mas como você passa pela Tijuca pra ir pro trabalho, pensei que você podia deixar na portaria da menina. Fora que eu queria vir aqui te contar o bafão.

Adalberto: Tudo bem. Eu faço essa caridade.

Marjorie: Faz mesmo?

Nunca!

Adalberto: Claro. Preciso conquistar meu espacinho no céu. Vai lá pra sua reunião, anda.

Marjorie: Tá bom, brigada, meu lindo.

Adalberto: Imagina, prima. Beijo.

Só esperei ela sair pra pegar o meu martelo. Aquele celular ia sentir a dor que a namorada do Valdicleverson merecia.

E quando eu me preparava pra dar a primeira martelada, a porta se abriu. Me atrapalhei e acabei martelando a minha mão.

Adalberto: Aaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiii!

Marjorie: Minha intuição foi certeira. Não posso confiar mesmo em você, hein! Que maldade.

Foi assim que a minha prima falou comigo. Detalhe: tomou o celular da minha mão, sem pedir, e saiu batendo porta.

Que burra! É uma linda de coração. Mas é burra...

sábado, 28 de setembro de 2013

Ane não é uma mulher de palavra

Depois de muita insistência da Ane, eu e a Sara topamos fazer uma trilha. O ponto de encontro, foi na academia que ela malha.

Adalberto: Por que você trouxe a gente aqui para dentro?

Sara: O pessoal vai sair em cinco minutos.

Ane: Vim mostrar para vocês onde eu faço meu treinamento funcional. É aqui. A gente usa esses elásticos, essas bolas.

Sara: E não tem aparelho?

Ane: Não, o seu corpo funciona como um aparelho. E você usa o seu peso a seu favor. É assim que a gente ganha massa muscular.

Sara: Mas eu não tenho como usar o meu peso a meu favor, se eu não peso quase nada. Esse negócio de treinamento funcional não ia dar certo comigo.

Ane: Então, se for assim, eu vou ficar como a Gracyanne. Eu não quero isso para mim!

Sara: Não mesmo?

Ane: Ai, acho que quero, sim. Sei lá, será que vão pensar que eu sou muito fútil, se eu fosse malhadona, como a Gracyanne?

Sara: Não sei, talvez. 

Ane: O que você acha, Adal?

Adalberto: Ane, vamos deixar para pensar sobre essa questão superimportante depois. O pessoal já vai sair.

Ane: Ai, Adal, você vai ficar chateado, se eu não for mais?

Adalberto: Claro que sim! Cara, eu sabia que você não tinha trazido a gente aqui para dentro só para isso.

Ane: Fiquei com medo de dizer que não ia mais, e vocês fazerem um escândalo comigo na frente de todo mundo.

Adalberto: Ane, eu quero matar você. Eu saí do Recreio, fui buscar a Sara em Niterói e vim aqui para a Zona Sul só para isso.

Sara: Ah, Adal, valeu pelo passeio, pensa assim.

Adalberto: Passeio? Eu acordei às cinco horas da manhã para estar aqui a essa hora. Isso não é um passeio. É um castigo.

Ane: O Edilberto me ligou, pedindo para eu levar o café da manhã para a filha dele lá em Niterói. Ele não vai conseguir sair do trabalho a tempo. Vai dobrar, aí já viu, né? Sobrou para mim.

Adalberto: Ah, sim, poxa. Aí, tudo bem. A menina é criança, né?

Ane: É, ela tem nove anos.

Sara: Ela fica em casa sozinha?

Ane: Não. Está com uns amiguinhos na porta de onde vai acontecer o show do Justin Bieber.

Adalberto: Como assim? Eu não ouvi isso.

Ane: Ela é completamente fã do Justin Bieber e quer ser a primeira e entrar, quando abrirem so portões.

Adalberto: Ane, e você compactua com isso?

Ane: Eu, não. O Edilberto compactua com isso. Eu só vou na onda dele. Adal, homem, hoje em dia, está muito difícil. A gente tem que abaixar a cabeça para algumas coisas.

Sara: Gente, eu jamais deixaria filho meu fazer uma coisa dessas. Loucura isso. E como a menina está indo para a escola?

Ane: Ela não está indo. Já estava mal mesmo nos estudos, tudo indicava que ia repetir. Aí, o pai deixou ela abandonar. Mas no ano que vem ela volta. É bom que já volta com uma cabeça melhor.

Adalberto: Que cabeça melhor? Com um pai desses, essa garota tem tudo para ser uma perdida na vida. Quando que é esse show?

Ane: Daqui a dois meses e meio.

Sara: O quê? E essa criança vai ficar morando numa barraca durante esse tempo todo?

Ane: Vai, ué. Eu não vejo problema nenhum nisso. O pai dela deixou. A gente faria o mesmo na idade dela, se fosse o New Kids on the Block.

Sara: É verdade.

Adalberto: Gente, na boa, eu vou embora. Estou ficando com raiva disso. E, principalmente, estou com raiva de mim, que vim até aqui à toa. Você vem comigo, Sara?

Sara: Primo, eu tenho que ficar. Eu falei para o Oswaldo que eu ia fazer a trilha. Se eu for para outro lugar ou chegar em casa mais cedo, ele vai desconfiar de mim.

Adalberto: Mas a essa hora, o pessoal já saiu.

Sara: Eu sei mas eu fico esperando eles voltarem. Aí, eu me molho um pouco para fingir que suei e, depois, volto para casa.

Adalberto: Não acredito nisso.

Sara: Adal, é o que a Ane falou: homem, hoje em dia, está muito difícil. A gente tem que fazer certas coisas, mesmo não concordando com elas.

Adalberto: Tchau, gente.

Deixei as duas loucas sozinhas naquele lugar.

Ane: Prima, eu não vou poder esperar aqui com você. Você vai ficar chateada comigo?

Sara: Claro que não.

Ane: Então, eu vou lá.

Eis que surge o ator Eriberto Leão.

Eriberto: Dá licença. Vocês sabem se o pessoal, que ia fazer a trilha da Carlinha já saiu?

O mundo tinha parado para a Ane naquele momento. 

Ane: É... trilha? Pessoal? Carlinha? Quê? Você também malha aqui? Quer dizer... Ai, muita informação, desculpa. O que é que você falou?

Eriberto: É que eu vim fazer a trilha da Carlinha, a professora. Ela já foi com o pessoal?

Sara: Olha, pela hora, já, sim.

Eriberto: Que pena, acordei meio atrasado, mas achava que dava para chegar a tempo.

Sara: Olha, mas se você correr, acho que você alcança eles.

Eriberto: Boa ideia. Vou fazer isso, então. Obrigado, meninas.

Sara: Ei, moço. Você não é o Eriberto Leão?

Eriberto: Sou eu, sim.

Sara: Você se incomoda de me dar um autógrafo? Na verdade, para mim e para o meu marido. Se você colocar só o meu nome, o meu marido vai pensar besteira, vai achar que eu te pedi um autógrafo, porque estava querendo me oferecer para você. Ele morre de ciúmes de mim.

Nada... A Sara adora acreditar que tem um marido ciumento, coitada.

Eriberto: Qual são os nomes que eu coloco aqui, então?

Sara: Sara e Oswaldo. Mas coloca Oswaldo na frente para não dar problema.

Eriberto: Beleza. Toma o seu autógrafo.

Sara: Obrigada.

Eriberto: Agora, deixa eu ir lá. Vou correr para tentar alcançar o pessoal na trilha. Mas se não der, vou curtir a natureza sozinho mesmo. Tchau, meninas.

E quando ele ia fechar a porta, a Ane, que estava paralisada, resolveu dar sinal de vida.

Ane: Eriberto!

Eriberto: Oi.

Ane: Eu posso ir com você? Qualquer coisa, se a gente não encontrar o pessoal, a gente curte a natureza juntos.

Eriberto: Perfeito. Vamos nessa, então?

Sara: Ué, então, eu vou com vocês.

Ane: Tchau, prima.

Sara: Ane, mas e a filha do Edilberto?

Ane: Edilberto? Quem é Edilberto? Agora, eu só sei quem é Eriberto, meu amor. Beijo!

E bateu com a porta na cara da prima.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Beyoncezinha Sara fica à beira de um ataque de nervos, por causa do Rock in Rio

Ontem, fui para um bar em Nikity me encontrar com a Sara. Ela disse que precisava conversar comigo fora de casa, mas não podia ir para muito longe, por causa dos trigêmeos.

Adalberto: Que saudade de você, minha linda. Tudo bem?

Sara: Não. E com você?

Adalberto: Comigo, sim. Só um pouquinho cansado, porque fui a todos os shows do Rock in Rio.

Sara: Primo, nem me fale nesse negócio de Rock in Rio, que eu estou a ponto de fazer macumba para o Roberto Medina.

Adalberto: Como assim, Sara? Por que isso?

Sara: O meu casamento está acabando, por causa dessa maldição de evento.

Adalberto: O seu casamento está sempre acabando desde a lua-de-mel, quando você me ligou do Marrocos para me dizer que Oswaldo estava paquerando uma mulher de burca, lembra? Você é muito neurótica, amore.

Sara: Tudo bem, eu confesso que eu exagerava muito no começo, mas agora eu estou mais tranquila. Ele é que continua safado. Você acredita que ele ficou babando pela Beyoncé?

Adalberto: Acredito.

Sara: Como assim acredita?

Adalberto: O Brasil inteiro babou pela apresentação dela.

Sara: Mas o Oswaldo é diferente. O Oswaldo é cachorro, Adal. Aquilo não vale nada. Ele fala de um jeito, que parecia que estava desejando a mulher. E a safada ainda fez a coreografia do lelek para deixar o homem louco... Ainda bem que a gente viu tudo pela televisão. Imagina se a gente tivesse ido? Ele ia subir no palco, e eu ia voltar solteira para casa.

Adalberto: Sara, não exagera. Você está tendo a mesma atitude de todos os anos, durante a transmissão do carnaval. Só que, em vez das passistas e madrinhas de bateria, agora você está com ciúme dele com a Beyoncé.

Sara: Claro. Imagina se calha dele cruzar com essa mulher, se apaixonar e ir embora com ela para não sei onde.

Adalberto: Olha como você viaja...

Sara: Os meus filhos iam ficar sem pai. Ele ia querer viajar atrás dela nesses shows, eu conheço o Oswaldo, ele é deslumbrado. Ia adorar ter uma mulher famosa.

Adalberto: Será?

Sara: Lógico que sim. E se bobear, ainda ia levar os meus filhos com ele, alegando, sei lá, que tem condições melhores de criá-los. E, realmente, com a Beyoncé, ele pode dar vida de rei para os nossos trigêmeos.

Adalberto: Sara, acorda, para com ciúme doentio.

Sara: Ai, primo, eu queria que no mundo só existissem as gordas, as feias e as caolhas.

Adalberto: Para com isso! E o que seria do Brasil? A nossa mulher é aclamada pelo mundo todo. Se não fosse pela beleza da Helô Pinheiro, não existiria a linda "Garota de Ipanema", do Tom Jobim. E o cinema sem o charme Marilyn Monroe? Dá para imaginar?

Sara: Com essas, eu não vejo problema. Uma já morreu e a outra já está aposentada, não me mete mais medo. A regra das gordas, feias e caolhas podia passar a valer depois que eu nasci. O meu casamento seria muito mais tranquilo.

E por uma coincidência absurda, vi o Oswaldo vindo na nossa direção com a Helô Pinheiro. Ainda bem que a Sara estava de costas pare eles.

Sara: Você acha que eu estou errada?

Adalberto: Amore, preciso ir ao banheiro. Um segundinho.

Liguei para o Oswaldo.

Oswaldo: Oi, Adal.

Adalberto: Ô cara de pau, dá meia volta agora!

Oswaldo: Por quê?

Adalberto: Eu estou com a Sara num bar, aqui na rua que você está caminhando com a Helô Pinheiro. Se ela vir vocês dois e descobrir, que a Garota de Ipanema ainda não se aposentou, ela vai te matar.

Oswaldo: Mas eu não estou fazendo nada demais. Encontrei por coincidência com a tia Heloísa aqui perto e estava levando ela até um ponto de táxi. Minha avó morou no prédio dela, Adal. Já brinquei muito com a Ticiane.

Adalberto: Não interessa! Eu sei que você é um boboca e não faz nada de errado, mas esqueceu que a tua mulher é neurótica? Inventa alguma coisa para a tia Heloísa e vai embora para casa. Ouviu?

Oswaldo: Está bem, Adal. Pode deixar. Super-obrigado.

Adalberto: Olha só, eu sou legal com você, porque sei que você anda na linha com a minha prima. Mas se um dia...

Oswaldo: Nunca! Eu amo a minha mulher mais que tudo. Ela é a minha Beyoncezinha.

Que lindo.

Adalberto: Oswaldo, esquece esse negócio de Beyoncezinha por ora. Até porque a Sara é branca. Melhor chamar de "meu amor" mesmo. Depois eu te explico.

E assim eu livrei a minha prima de um ataque histérico gratuito.

A Helô Pinheiro não merecia. Mesmo não estando aposentada, ela já é uma senhora.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Mentirinha boba garante a presença da Marjorie no show da Beyoncé

A Marjorie chegou ontem na minha casa meio chorosa.

Adalberto: O que foi, meu amor?

Marjorie: Vim trazer os ingressos do Rock in Rio.

Adalberto: Por que isso? A gente não combinou de se encontrar amanhã e ir direto?

Marjorie: Eu não vou mais?

Adalberto: Como assim? A Lu vai dar na tua cara, se você não for. Ela vai deixar de sair com aquele gringo para ir ver a Bionça com a gente.

Marjorie: Adal, eu estou sem condições psicológicas.

Adalberto: É?

Marjorie: Estou.

Adalberto: Faz o seguinte, então: toma uma cartela de Rivotril, que, na hora, você vai ter condição psicológica! Oh, Marjorie, você não é disso! Está parecendo a Sara, a Ane. Elas são dramáticas. Estou te desconhecendo, hein!

Marjorie: O Sébilo terminou comigo, primo. É sério.

Adalberto: Nada que venha do Sébilo é sério para mim. A não ser que rima. Fora isso, esse cara é um idiota.

Marjorie: Eu investi tanto nessa relação.

Adalberto: Jojô, você conheceu o cara e, uma semana depois, ele foi fazer uma viagem sabática. O cara vai ficar um ano pulando de país para país. Você ia mesmo ficar esperando?

Marjorie: Ia.

Adalberto: Por que isso?

Marjorie: Por amor, a gente faz qualquer coisa.

Mulher é muito burra.

Adalberto: Prima, você não está sendo inteligente. Que amor? Que investimento em relação? Amor precisa de convivência. Qual a convivência que vocês têm?

Marjorie: A gente se falava todo dia por Skype.

Adalberto: Ele te prendia todo dia por Skype. Você parou de sair com a gente para ficar enfurnada em casa, conversando com o Sébilo. Isso era investir na relação? Ficar distante dos primos? Ou era a banda larga vazando mega, de tão veloz, que você deve ter colocado na sua casa.

Marjorie: Para! Eu quero chorar. E vim aqui atrás do ombro amigo do meu primo! Será que você não me entende?

Não. Mas me comovo sempre que minhas primas me procuram para ser consoladas.

Adalberto: Claro que te entendo, amor. Deita aqui no meu colo.

Marjorie: Ainda bem que eu tenho você, primo.

Adalberto: Posso te falar uma coisa?

Marjorie: Claro.

Adalberto: Eu vi bem umas fotos do Sébilo na Austrália beijando uma mulher.

E ela levantou do meu colo num impulso acelerado.

Marjorie: Mentira.

Claro que era mentira.

Adalberto: Eu estou falando sério.

Marjorie: E por que você não me falou isso antes? Eu não vi isso.

Adalberto: Ele te bloqueia em alguns álbuns, prima. Mas esqueceu de fazer isso comigo. Olha, eu não ia te contar, não, mas...

Marjorie: Não, foi ótimo você ter me contado isso, Adal.

Adalberto: E agora? O que você pensa em fazer?

Marjorie: Ir ao show da Beyoncé amanhã e dar mole para geral. Eu não sou palhaça. Não vou ficar em casa, chorando por quem não me merece. Obrigada, primo. Te amo.

Perfeito! Garanti o time completo no Rock in Rio.

Mandei bem na mentirinha boba.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O dia em que as primas ficaram caidinhas pelo Eriberto Leão

Ontem, enquanto eu recebia a visita de um amigo ilustre, as primas resolveram me atazanar. Para variar, né?

A Lu foi a primeira desaforada a me ligar.

Adalberto: Fala, Luluzinha.

Lu: Adal, estou indo aí para a tua casa agora.

Adalberto: Lu, eu estou meio ocupado.

Lu: Como assim? Ocupado para mim? Eu sou sua prima e melhor amiga, esqueceu?

Adalberto: Não fala isso. Eu amo as minhas quatro primas igualmente.

Lu: Mentiroso! Você gosta mais da Marjorie, que eu sei. Não mete essa, não. A mim, você não engana.

Adalberto: Ah, não começa.

Lu: Você que começou. Olha só, eu estou indo para aí, sim. Quer você queira ou não.

Adalberto: Aconteceu alguma coisa?

Lu: Garoto, eu não vou dormir na minha casa hoje, não. Eu vi um fantasma no meu quarto.

Adalberto: Está maluca, Lu? Você não tem medo dessas coisas. Eu tenho!

Lu: Mas eu entrei para o seu clubinho hoje. Lembra da Jocilaine?

Adalberto: Aquela chata que fala errado?

Lu: Ela mesma. Foi lá em casa ontem aos prantos, porque o namorado terminou com ela.

Adalberto: Ai, que coisa mais chata. E você com isso?

Lu: Ah, meu bem. Ele inventou de fazer a brincadeira do copo, que, para mim, não tem nada de brincadeira. Foi perguntar para os espíritos se ela ia voltar para o imbecil. Aí, eles disseram que não...

Adalberto: Eles quem?

Lu: Os espíritos, idiota!

Adalberto: Ah, verdade.

Lu: Aí, sabe o que ela fez? Quebrou o copo na parede do meu quarto. Eu só faltei arrebentar a cara dela. Sabia que aquilo não ia dar em boa coisa. E não deu outra. Quando cheguei em casa, vi um vulto no meu quarto.

Adalberto: Lu, isso é coisa da tua cabeça. Se fosse para aparecer, eles teriam aparecido ontem. Você dormiu bem de ontem para hoje?

Lu: Dormi. Mas dormi na casa de Belisário. Aquele coroa que eu pego quarta, sim; quarta, não.

Adalberto: Está bom, biscate. Vem logo para cá, que eu vou puxar teu pé de noite.

E bateu lindamente o telefone na minha cara para, em seguida, a Ane me incomodar.

Adalberto: Fala, Anita. Me conta uma boa. Mas rápido porque eu estou com visita.

Ane: A Dona Sulamita.

Adalberto: Aquela velha mocoronga, que adorava reclamar do som alto, quando a gente fazia festa no seu apartamento?

Ane: Não fala assim, garoto.

Adalberto: Por quê?

Ane: Sei lá, vai que ela volte.

Adalberto: Para me assombrar? Mais ela tem que vir com duas almas penadas para me fazer cagar nas calças, meu bem. Não tenho medo dela, não. Está pensando o quê? Que, agora, só porque morreu, vai me botar medinho?

Ane: Garoto, me escuta!

Adalberto: Fala.

Ane: Eu vou dormir na sua casa hoje.

Adalberto: Ah, no acredito.

Ane: Pelo menos hoje. Amanhã, o padre Roselbo vai vir cedo benzer o prédio inteiro. Aí, eu vou ficar mais tranquila. Ele vai fazer tudo na moita. Não quero que a família pense besteira, que é para espantar a Dona Sulamina. Tenho que desligar, vou passar por uma blitz. Beijo.

E na chamada em espera estava a Sara.

Adalberto: E aí, periguete.

Sara: Não fala assim comigo. Se o Oswaldo escuta isso, ele te mata.

Adalberto: A mim, não. Ele tem que matar você, por dar confiança para eu te chamar assim.

Sara: Então, para.

Adalberto: Vou pensar. Mas fala.

Sara: Adalzinho, eu estou indo aí para o seu apartamento.

Adalberto: Como assim? Não vai dizer que também está com medo de espíritos, almas penadas e assombrações.

Sara: Como é que você sabe? Foi o Oswaldo que te falou?

Adalberto: Não.

Sara: Fala a verdade.

Adalberto: Não, ué. Só estou achando uma coincidência macabra todo mundo ter tirado o dia para ter medo da mesma coisa.

Sara: Mas é sério. Olha só, a gente inventou de pegar um gatinho na rua. Só que ele fala.

Adalberto: Fala?

Sara: Fala!

Adalberto: O quê, por exemplo?

Sara: Não dá para entender. Mas dá para dar medo. Olha, a gente já levou esse bicho para longe, para outro município, para um lugar deserto, mas ele volta. E o pior: fica encarando a gente. Até o Oswaldo que adora pagar de corajoso está se borrando de medo. Ele vai dormir com os trigêmeos na casa da mãe dele. Só que não tem vaga lá para mim.

Adalberto: Mas até quando?

Sara: Até amanhã. O nosso porteiro está indo de férias para a casa dos pais, em Fortaleza e vai levar o gato maldito bem cedinho amanhã. Não é possível que esse bicho vai voltar de Fortaleza.

Adalberto: É, também acho que não. Beleza, então, amore. Te espero.

Sara: Beijo.

E, para fechar com chave de ouro, a Marjorie e os seus medos.

Adalberto: Fala, Jojô da minha vida.

Marjorie: Primo, vou dormir na sua casa hoje.

Adalberto: Ah, conta uma novidade.

Marjorie: Como assim?

Adalberto: Nada, quando chegar aqui, você vai ver. Mas o que é que aconteceu?

Marjorie: Eu trouxe uma bolsa lá da fábrica para casa, para fazer uns ajustes, e você não sabe da maior.

Adalberto: O quê?

Marjorie: Tem uma vela preta, uma cruz e uma pena de galinha preta amarrados dentro dela.

Adalberto: Jura? Quem fez isso?

Marjorie: Não sei. Pelo que eu saiba, todo mundo me adora lá na fábrica. Acho que ninguém faria uma coisa dessas. Isso é que é o pior. Como é esse negócio foi parar logo na bolsa, que eu trouxe para casa?

Adalberto: Marjorie, alguém colocou. Macumba não brota, assim, do nada. Macumba é feita. E feita para alguém. No caso, você. Toma cuidado.

Marjorie: Cara, amanhã, eu vou mandar um pessoal de uma clínica, que tem lá perto, para fazer shiatsu nos meus funcionários. Também vou comprar brinquedo para os filhos de todo mundo e dar um cesta básica para cada um. Uma, não, duas. Não, três. E vou aumentar em trinta por centro o salário de todo mundo. Será que isso vai deixar eles mais satisfeitos?

Adalberto: Garota, você já paga bem aos seus funcionários. Tanto que todo mundo deixa currículo na tua fábrica. Você não precisa disso. Ok que você seja rica e possa fazer essas graças. Mas isso não tem nada a ver com insatisfação no trabalho. É coisa de gente invejosa. E que vai ficar ainda mais com inveja de ver que você está podendo dar aumento, cesta básica, etcetera e tal.

Marjorie: Jura?

Adalberto: Claro. Faz o seguinte: pega esses trinta por cento, que você ia dar para todo mundo de aumento, e transfere para a minha conta todo mês. Eu estou mais precisado do que eles.

Marjorie: Adal, não brinca com coisa séria.

Adalberto: Desculpa, Jojô. Mas eu não estava brincando. A situação está braba mesmo para o meu lado.

Marjorie: Está bom, primo. Quando eu chegar aí, a gente conversa. Beijo.

Finalmente, eu pude dar atenção ao meu amigo. Já furei muito com ele, por causa das minhas primas.

Ele está em cartaz com uma peça sobre a vida do Jim Morrison, e eu inventei uma doença atrás da outra para justificar a minha ausência nos fins de semana, no teatro em que ele está se apresentando.

Mas o cara é tão meu amigo e fez tanta questão que eu visse o espetáculo dele, que foi até a minha casa dar uma canja de algumas músicas, que ele canta no palco. E foi caracterizado de Jim Morrison. Ele ficou igual ao Jim. Se eu não tivesse visto ele antes de se caracterizar, ia achar que era o Jim ressuscitado. Impressionante.

O chato é que tive que ficar debaixo de um cobertor, me fazendo de doente, porque, no fim de semana passado, eu já tinha inventado uma virose para ficar com as minhas primas e faltar pela milésima vez à apresentação dele no teatro.

Eriberto: Cara, agora eu vou tocar  uma dos nossos tempos de festinha americana lá em casa. Você era um moleque, nem deve lembrar.

Adalberto: Claro que vou. Lembro de tudo daquela época. Lembro até gente não se falava direito, porque você namorava a minha irmã, e eu morria de ciúme disso.

Eriberto: Verdade. Ó, vou começar. Um, dois, três: "You know that it would be untrue You know that I would be a liar // If I was to say to you // Girl, we couldn´t get much higher".

E quando ele começou a cantar "Light my fire", eu não em aguentei. Me acabei, lembrei dos velhos tempos. De quando eu brincava de pique-pega na casa dele, e eu era café com leite. Cara, que saudade. Eu nunca perdia na brincadeira e ainda ficava com raiva. Quem dera que a vida fosse assim. Nunca perder... nada.

Adalberto e Eriberto: "Come on baby, light my fire // Come on baby, light my fire // Try to set the night on fire //".

Mas a bosta da campainha resolveu tocar no momento da nosso maior empolgação. Era o refrão da nossa vida que estava em questão. Droga!

Adalberto: Betão, faz um favor para mim, que eu estou doente, vê quem está tocando, por favor.

E quando ele abriu a porta, era elas. As quatro. Berrando. Assustadas.

Ane, Marjorie e Sara: Jim Morrison!

Sara: Ressuscitou!

E caíram desmaiadas.

Lu: Que Jim Morrison, o caramba! Esse é o gato do Eriberto Leão. Vem, Eri, deixa elas aí.

Eriberto: Mas não tem que chamar uma ambulância, elas precisam ser atendidas.

Lu: Não. Isso é palhaçada delas. Deixa que o Adal resolve isso. Adal, espera elas acordarem e dá uma voltinha com elas lá embaixo. Pode demorar, está bem? Beijo.

Adalberto: Eriberto!

Eriberto: Eu, é...

Lu saiu puxando o pobre coitado pelos braços para dentro do meu quarto. Foi acender o fogo dele.

E eu, fiquei apagando incêndio. Como sempre.