terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sara dá empurrãozinho de Natal

Natal na casa da Sara implica em ter que aturar a família mala do Oswaldo. E isso era tudo o que eu menos queria para esse ano. Aliás, para todos os anos em que eu existir.

A gente sempre passa a data na casa dos meus pais e, dessa vez, não foi diferente. Aliás, foi diferente, sim. A Sara não foi. O Oswaldo quis fazer a ceia na casa deles, que teve como ilustres convidados os seus pais, todos os seus primos e primas em primeiro, além de mim e das outras primas. Eu pulei fora dessa. E a Ane, a Lu e a Marjorie embarcaram na minha.

Marjorie: Ai, nada a ver, né, Adal?

Adalberto: Eu fico meio assim em dizer não, por causa Sara.

Ane: Acho que ela entendeu. Ela sabe que a gente não suporta a família do Oswaldo.

Adalberto: Eu até suporto.

Lu: Mas não no dia do Natal, né?

Adalberto: Não.

Marjorie: Será que ela ficou chateada?

Lu: Não. Ela sabe que, todo ano, o Natal da gente é na casa do tio Beto.

Adalberto: É. Eu não sei se meu pai também ia gostar da ideia de ir pra outro lugar.

Ane: Por isso, que eu nem cogitei de ir para a casa da Sara.

Adalberto: Se bem que ela disse que esse ano será especial, por alguma razão que ela só vai contar para quem for lá.

Marjorie: Então, nós vamos ficar na curiosidade.

Adalberto: Ou seja, vamos ficar no lucro.

Lu: Que horas são, hein?

Ane: Onze e quarenta e cinco.

Adalberto: Ih, está na hora do meu pai descer para colocar a fantasia de Papai Noel.

Marjorie: O Diego vai ficar louco, né?

Adalberto: Vai. Ele adora Papai Noel.

Marjorie: Tio!

Adalberto (pai): Oi, meu amor.

Marjorie: Tá na hora.

Adalberto (pai): Neide, vamos lá me ajudar.

Enquanto minha mãe ajudava meu pai a se trocar, nós ficamos distraindo o Diego. E foi difícil, porque ele não queria deixar os avós.

Lu: Calma, Dieguinho. A vovó foi limpar o vovô, que foi fazer cocô.

Adalberto: Ai, Lu. Não tinha uma desculpa antisséptica pra dar, não?

Ane: Na cabeça dela só tem merda.

Marjorie: Gente a Sara tá me ligando. Atendo ou não?

Ane: Não.

Lu: Não.

Tive a certeza de que o Natal é uma data que mexe com a gente, quando acabei com a brincadeira de dizer não.

Adalberto: Sim.

E a minha ordem foi atendida.

Marjorie: Alô.

Sara: Poxa, fiquei tão triste que vocês não vieram me ver. Disse que esse ia ser um Natal especial, que era importante reunir a minha família e a do Oswaldo. Nem assim vocês vieram.

Marjorie: Mas a gente avisou que não ia dar, prima. O tio Beto podia ficar chateado. Ele faz todo ano a festa aqui.

Sara: Ele falou que não viria, mas que não se importava se vocês não viessem pra cá.

Marjorie: É... Deve ter sido pra não te magoar. No fundo, ele prefere ficar aqui.

Sara: Tudo bem. Deseja feliz Natal a todos aí, dá um beijo na Camila, no Eduardo, na tia Neide, e no tio Beto por mim.

Adalberto: Está bom.

E para você, para o Adal, para a Ane e para a Lu eu desejo muito amor para vocês possam dar para os afilhados de vocês... Vou desligar porque a gravidez me deixou mais chorona do que eu já sou. Essa era a surpresa.


Marjorie: Gente!

Adalberto: O quê?

Marjorie: A Sara tá grávida. Vamos pra casa dela agora.

Ane: Como assim?

Marjorie: Ela tá grávida e nós somos os padrinhos.

Adalberto: Pô, mas quantos filhos ela tá esperando? Um pra cada?

Marjorie: Não sei. Deve ser. Ela fazia tratamento. Vamos!

Adalberto: Cara, eu não tenho condições de dirigir. Bebi pra caramba.

Lu: Eu também.

Ane: Eu também.

Adalberto: Todo mundo bebeu pra caramba.

Foi quando o meu pai apareceu vestido de Papai Noel.

Marjorie: O tio Beto não bebeu. Esqueceu que a tua mãe fez promessa pra ele não beber, se o carro dele fosse achado?

O carro do meu pai tem seguro, mas a promessa da minha mãe é infalível. Traz qualquer coisa de volta em até três dias úteis. Ainda bem, porque só o carro dele tem espaço de sobra para levar a família inteira.

Fomos todos pra casa da Sara levados pelo Papai Noel. O Diego adorou isso.

Chegamos quando todos os parentes sem noção do Oswaldo já tinham ido embora. Melhor impossível.

Adalberto: Amoreca!

Sara: Adal, me abraça!

Ane: Que bom que você está grávida, prima.

Sara: É, consegui.

Lu: Sarita, eu tinha esquecido que você estava fazendo tratamento. Você, uma vez, comentou que ia parar...

Sara: Falei mas não parei. Ter filho era um sonho.

Marjorie: Estou tão feliz por você.

Sara: Obrigada.

Adalberto: Cadê o Oswaldo?

Sara: Bebeu todas e foi dormir. Cadê o tio Beto, a tia Neide, a Camila, o Eduardo e o Diego?! Eu tô com o presentinho dele aqui.

Adalberto: Garota, meu pai veio vestido de Papai Noel pra cá. Foi tudo tão às pressas, que não deu nem tempo dele se trocar. E aí você imagina como é que o povo da tua rua ficou, quando viu Papai Noel chegar... Ele mal saltou do carro e as crianças não o deixam andar. Ele adora.

Sara: E o resto do pessoal?

Adalberto: Minha mãe ficou fazendo companhia ao meu pai. a minha irmã, o Eduardo e o Diego também.


Na verdade, a minha irmã e o meu cunhado não subiram, porque estava evitando a família do Oswaldo.

Sara: Ai, meu Deus...

Marjorie: Mas fala da gravidez.

Ane: Pois é, tô morrendo de curiosidade.

Lu: Tem quantos bacuri aí nessa barriga?

Sara: Então, tem três lindos bebês.

Adalberto: Gente!

Sara: É só isso que eu sei por enquanto sobre eles. Mas... Eu falei com o Oswaldo e ele não se incomodou, porque sabe que a família dele é um pouco ausente, interesseira e sem noção. Então, escolhemos três primos dele pra consagrar as crianças...

Padrinho de consagração, apesar da minha mãe negar veementemente, é mó prêmio consolo, né?

Sara: E vocês quatro vão ser os padrinhos de batismo.

Marjorie: Ai, que lindo, prima. Vou chorar.

A Lu e a Ane já estavam chorando. A Marjorie começou logo em seguida. Eu, apesar de bastante feliz com a notícia, ainda precisava de empurrãzinho. Fiquei até um pouco constrangido por ser o único a não chorar com a notícia. Mas, pra despistar essa minha falha e quebrar o silêncio, inventei alguma coisa para falar.

Adalberto: Mas vai faltar padrinho de batismo. Se são três crianças, elas vão precisar de três madrinhas e três padrinhos. Ainda tem vaga pra mais dois.

Lu: Vaga, seu insensível? Você está falando mesmo de batizado ou de emprego?

Adalberto: Desculpa. Me expressei mal.

Sara: Olha, pro seu governo, as meninas vão ocupar as vagas de madrinha. E você, seu cachorrinho, vai ocupar as três vagas de padrinho.

Recebi o empurrãozinho que faltava.

Abri o berreiro automaticamente depois da notícia. Chorei copiosamente. Sem parar.

E valeu muito a pena cada lágrima.

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