Natal na casa da Sara implica em ter que aturar a família mala do Oswaldo. E isso era tudo o que eu menos queria para esse ano. Aliás, para todos os anos em que eu existir.
A gente sempre passa a data na casa dos meus pais e, dessa vez, não foi diferente. Aliás, foi diferente, sim. A Sara não foi. O Oswaldo quis fazer a ceia na casa deles, que teve como ilustres convidados os seus pais, todos os seus primos e primas em primeiro, além de mim e das outras primas. Eu pulei fora dessa. E a Ane, a Lu e a Marjorie embarcaram na minha.
Marjorie: Ai, nada a ver, né, Adal?
Adalberto: Eu fico meio assim em dizer não, por causa Sara.
Ane: Acho que ela entendeu. Ela sabe que a gente não suporta a família do Oswaldo.
Adalberto: Eu até suporto.
Lu: Mas não no dia do Natal, né?
Adalberto: Não.
Marjorie: Será que ela ficou chateada?
Lu: Não. Ela sabe que, todo ano, o Natal da gente é na casa do tio Beto.
Adalberto: É. Eu não sei se meu pai também ia gostar da ideia de ir pra outro lugar.
Ane: Por isso, que eu nem cogitei de ir para a casa da Sara.
Adalberto: Se bem que ela disse que esse ano será especial, por alguma razão que ela só vai contar para quem for lá.
Marjorie: Então, nós vamos ficar na curiosidade.
Adalberto: Ou seja, vamos ficar no lucro.
Lu: Que horas são, hein?
Ane: Onze e quarenta e cinco.
Adalberto: Ih, está na hora do meu pai descer para colocar a fantasia de Papai Noel.
Marjorie: O Diego vai ficar louco, né?
Adalberto: Vai. Ele adora Papai Noel.
Marjorie: Tio!
Adalberto (pai): Oi, meu amor.
Marjorie: Tá na hora.
Adalberto (pai): Neide, vamos lá me ajudar.
Enquanto minha mãe ajudava meu pai a se trocar, nós ficamos distraindo o Diego. E foi difícil, porque ele não queria deixar os avós.
Lu: Calma, Dieguinho. A vovó foi limpar o vovô, que foi fazer cocô.
Adalberto: Ai, Lu. Não tinha uma desculpa antisséptica pra dar, não?
Ane: Na cabeça dela só tem merda.
Marjorie: Gente a Sara tá me ligando. Atendo ou não?
Ane: Não.
Lu: Não.
Tive a certeza de que o Natal é uma data que mexe com a gente, quando acabei com a brincadeira de dizer não.
Adalberto: Sim.
E a minha ordem foi atendida.
Marjorie: Alô.
Sara: Poxa, fiquei tão triste que vocês não vieram me ver. Disse que esse ia ser um Natal especial, que era importante reunir a minha família e a do Oswaldo. Nem assim vocês vieram.
Marjorie: Mas a gente avisou que não ia dar, prima. O tio Beto podia ficar chateado. Ele faz todo ano a festa aqui.
Sara: Ele falou que não viria, mas que não se importava se vocês não viessem pra cá.
Marjorie: É... Deve ter sido pra não te magoar. No fundo, ele prefere ficar aqui.
Sara: Tudo bem. Deseja feliz Natal a todos aí, dá um beijo na Camila, no Eduardo, na tia Neide, e no tio Beto por mim.
Adalberto: Está bom.
E para você, para o Adal, para a Ane e para a Lu eu desejo muito amor para vocês possam dar para os afilhados de vocês... Vou desligar porque a gravidez me deixou mais chorona do que eu já sou. Essa era a surpresa.
Marjorie: Gente!
Adalberto: O quê?
Marjorie: A Sara tá grávida. Vamos pra casa dela agora.
Ane: Como assim?
Marjorie: Ela tá grávida e nós somos os padrinhos.
Adalberto: Pô, mas quantos filhos ela tá esperando? Um pra cada?
Marjorie: Não sei. Deve ser. Ela fazia tratamento. Vamos!
Adalberto: Cara, eu não tenho condições de dirigir. Bebi pra caramba.
Lu: Eu também.
Ane: Eu também.
Adalberto: Todo mundo bebeu pra caramba.
Foi quando o meu pai apareceu vestido de Papai Noel.
Marjorie: O tio Beto não bebeu. Esqueceu que a tua mãe fez promessa pra ele não beber, se o carro dele fosse achado?
O carro do meu pai tem seguro, mas a promessa da minha mãe é infalível. Traz qualquer coisa de volta em até três dias úteis. Ainda bem, porque só o carro dele tem espaço de sobra para levar a família inteira.
Fomos todos pra casa da Sara levados pelo Papai Noel. O Diego adorou isso.
Chegamos quando todos os parentes sem noção do Oswaldo já tinham ido embora. Melhor impossível.
Adalberto: Amoreca!
Sara: Adal, me abraça!
Ane: Que bom que você está grávida, prima.
Sara: É, consegui.
Lu: Sarita, eu tinha esquecido que você estava fazendo tratamento. Você, uma vez, comentou que ia parar...
Sara: Falei mas não parei. Ter filho era um sonho.
Marjorie: Estou tão feliz por você.
Sara: Obrigada.
Adalberto: Cadê o Oswaldo?
Sara: Bebeu todas e foi dormir. Cadê o tio Beto, a tia Neide, a Camila, o Eduardo e o Diego?! Eu tô com o presentinho dele aqui.
Adalberto: Garota, meu pai veio vestido de Papai Noel pra cá. Foi tudo tão às pressas, que não deu nem tempo dele se trocar. E aí você imagina como é que o povo da tua rua ficou, quando viu Papai Noel chegar... Ele mal saltou do carro e as crianças não o deixam andar. Ele adora.
Sara: E o resto do pessoal?
Adalberto: Minha mãe ficou fazendo companhia ao meu pai. a minha irmã, o Eduardo e o Diego também.
Na verdade, a minha irmã e o meu cunhado não subiram, porque estava evitando a família do Oswaldo.
Sara: Ai, meu Deus...
Marjorie: Mas fala da gravidez.
Ane: Pois é, tô morrendo de curiosidade.
Lu: Tem quantos bacuri aí nessa barriga?
Sara: Então, tem três lindos bebês.
Adalberto: Gente!
Sara: É só isso que eu sei por enquanto sobre eles. Mas... Eu falei com o Oswaldo e ele não se incomodou, porque sabe que a família dele é um pouco ausente, interesseira e sem noção. Então, escolhemos três primos dele pra consagrar as crianças...
Padrinho de consagração, apesar da minha mãe negar veementemente, é mó prêmio consolo, né?
Sara: E vocês quatro vão ser os padrinhos de batismo.
Marjorie: Ai, que lindo, prima. Vou chorar.
A Lu e a Ane já estavam chorando. A Marjorie começou logo em seguida. Eu, apesar de bastante feliz com a notícia, ainda precisava de empurrãzinho. Fiquei até um pouco constrangido por ser o único a não chorar com a notícia. Mas, pra despistar essa minha falha e quebrar o silêncio, inventei alguma coisa para falar.
Adalberto: Mas vai faltar padrinho de batismo. Se são três crianças, elas vão precisar de três madrinhas e três padrinhos. Ainda tem vaga pra mais dois.
Lu: Vaga, seu insensível? Você está falando mesmo de batizado ou de emprego?
Adalberto: Desculpa. Me expressei mal.
Sara: Olha, pro seu governo, as meninas vão ocupar as vagas de madrinha. E você, seu cachorrinho, vai ocupar as três vagas de padrinho.
Recebi o empurrãozinho que faltava.
Abri o berreiro automaticamente depois da notícia. Chorei copiosamente. Sem parar.
E valeu muito a pena cada lágrima.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
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