quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Sara emplaca amigo-oculto de fim de ano, em meio a brincadeiras e verdades

Ontem, depois que saí do trabalho, fui à casa da Sara visitar os trigêmeos. Eles estão cada dia mais lindos. Parecem com o dindo. Para quem ainda não sabe, eu sou o dindo dos bebês.

A visita foi de médico. Mas o pouco que fiquei por lá, deu para colocar todos os assuntos em dia. Inclusive sobre o mais emblemático tema do fim de ano: AMIGO OCULTO.

Sara: O que você acha disso, Adal?

Adalberto: Eu acho um saco amigo-oculto. Nunca sei o que falar da pessoa que eu tiro. É pior do que entrevista de emprego.

Sara: Eu gosto.

Adalberto: Eu não. Aliás, eu não suporto essa brincadeira. Todo ano, eu participava de uma média de cinco. Ano passado, eu tive a brilhante ideia de comprar meus presentes no camelódromo. Cada coisa mais brega do que a outra. Precisava ver... Aí, esse ano, resolveram esquecer de mim. Graças a Deus!

Sara: Por que isso?

Adalberto: Porque eu não vejo a menor graça em ficar no meio de uma roda, elencando as piores qualidades de uma pessoa. Isso não é coisa que se faça! Já presenciei muita briga, por causa disso.

Sara: A gente pode estipular regras no nosso. Por exemplo, ninguém pode falar mal de ninguém.

Adalberto: Então, isso não é amigo-oculto.

Sara: Como não?

Adalberto: Porque a matéria-prima dessa brincadeira sem graça é falar mal da pessoa que você tirar. Se não tem isso, não tem amigo-oculto.

Sara: Então, tá. A gente não faz. Eu tive essa ideia, porque fiquei com pena de você, que é padrinho de três crianças e ainda tem a tia Neide, o tio Beto, o Diego, a Camila e o Eduardo.

Depois dessa, até eu fiquei com pena de mim. Agora, são mais três no meu orçamento. E eu só poderia tirar o Eduardo da minha listinha obrigatória de presentes de Natal. O chavão que diz que “cunhado não é parente” é indispensável nessas horas.

Mudei de opinião como quem muda de roupa.

Adalberto: Sabe que eu acho uma boa ideia essa do amigo-oculto?

Sara: Ué.

Adalberto: Ué, o quê? Era brincadeira. Eu adoro amigo-oculto.

Sara: Adal, você está brincando comigo...

Adalberto: Não. Eu estava brincando antes. Agora, eu estou falando sério.

Sara: Então, tudo bem. Vou cortar os papéizinhos com os nomes agora e você já tira o seu.

Adalberto: Eu te ajudo.

Cortar e dobrar papel, definitivamente, não é a minha praia.

Quando faltavam os quatro últimos nomes e, a essa altura, eu já estava um expert no trabalho chato de professora de pré-escola, fui interrompido pela Sara.

Sara: Adal, acabou.

Adalberto: Como assim, acabou?

Sara: Acabou, ué. Estão todos os nomes aqui.

Adalberto: O Diego e os trigêmeos não vão participar?

Fiquei com vergonha, depois que concluí a pergunta.

O Diego, filho da minha irmã, tem apenas quatro anos. E os trigêmeos vão fazer três meses no dia 27 desse mês. Ou seja, eu estava contando com uma pessoa que acabou de passar para o Jardim-II e três, que nem sequer sabem falar.

Sara: As crianças não entram, Adal!

Adalberto: Ué, você disse que estava com pena de mim, porque eu ia gastar muito dinheiro com presente.

Sara: Adal, o Diego só tem quatro anos. E os trigêmeos nem sabem falar.

Ouvir isso de uma outra pessoa foi pior do que ouvir isso de mim mesmo.

Sara: De mais a mais o Diego é seu sobrinho e a Lina, a Liana e o Gero são seus afilhados.

Adalberto: Eu ainda não batizei ninguém.

Sara: Ah, é assim? Não tem problema. Eu arrumo outro padrinho para os meus filhos.

Tive o ímpeto de mandar ela fazer isso. Mas, depois, ia me arrepender para o resto da vida.

Adalberto: Não. Eu estava brincando. Você acha que eu ia mesmo colocar o nome do Diego e dos trigêmeos para participar do nosso amigo-oculto.

Sara: Adal, eu nunca sei quando você está falando a verdade ou está brincando.

Adalberto: Sarita, você é uma das pessoas mais engraçadas que eu conheço.

Isso, sim, era brincadeira!

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Marjorie lucra com atitude politicamente incorreta travestida de politicamente correta

Na sexta, à noite, a Marjorie resolveu me ligar para contar uma novidade.

Marjorie: Estou namorando um dos filhos do Bolsonaro.

Adalberto: Bolsonaro é o deputado federal homofóbico?

Marjorie: Isso.

Adalberto: E está legal? Você nem me contou...

Marjorie: Foi falta de tempo, Adal. O cara me dá mole há meses, mas eu não dava a menor bola para ele.

Adalberto: Amor à segunda vista?

Marjorie: Não. Vingança alheia.

Adalberto: Como assim?

Marjorie: Eu vou me vingar do pai dele, em nome de todos os estilistas amigos e clientes.

A Marjorie, para quem ainda não sabe, é designer de bolsas.

Adalberto: Mas por que isso?

Marjorie: Você acha certo as asneiras que o Bolsonaro fala?

Adalberto: Não. Mas eu não sou ninguém para castigar o cara, só porque ele é um idiota.

Marjorie: Ai, Adal, você anda tão politicamente correto. Que coisa chata!

Adalberto: Ué, não era você que me criticava, quando eu roubava bala nas Lojas Americanas?

Marjorie: O que eu quero fazer é mostrar para os meus amigos, que eu estou do lado deles, que eu repudio preconceito. Isso é politicamente correto.

Adalberto: Mas a vingança é politicamente incorreta.

Marjorie: Mas ser politicamente correto em excesso é ser um chato de galocha!

Adalberto: É? Então, vamos beber uma cerveja e falar mal da Dilma? Melhor: vamos beber myuitas cervejas e falar muito mal da Dilma. Estou melhor assim?

Marjorie: Bem melhor. Mas eu não posso. O Flá está vindo me buscar.

Adalberto: Quem é Flá?

Marjorie: O filho do Bolsonaro. Flávio Bolsonaro.

Adalberto: Ah, tá.

A Marjorie armou a maior arapuca para o coitado. Disse que ia a uma festa de uma grife de modas num motel luxuoso do Rio. Até aí, ele não desconfiou de nada. Festa em motel virou coisa tão comum nessa cidade, que já está até perdendo a graça.

Quando chegaram na porta do local, ele inventou uma história triste para não entrar.

Marjorie: Amor, sobe lá e pergunta para a promoter Silvinha se ela convidou a Thaís Sofia.

Flávio: Por quê? Vamos lá comigo.

Marjorie: Não. Eu não falo com essa pessoa. Ela também é designer de bolsas e tem roubado todos os meus clientes. Eu pedi para a Silvinha não convidá-la, mas quero ter certeza. Você faz isso por mim, meu amor?

Flávio: Tá bom.

Coitado.

Quando ele chegou no quarto onde aconteceria a festa, não havia nenhuma Silvinha, mas um monte de homem vestido de mulher. Em poucos segundos, Flávio Bolsonaro era apenas um pontinho aflito entre os montes de cachecóis que o rodeavam.

Mas essa situação não demorou muito. Em poucos minutos, ele passou a ser um pontinho aflito do lado de fora do motel.

Foi aí que a legião de fotógrafos amigos da Marjorie, de revistas e jornais de fofoca, registraram o grande momento.

No sábado, a "fugidinha" de Flávio Bolsonaro foi a notícia do dia.

A Marjorie me ligou feliz da vida.

Marjorie: Viu só, primo.

Adalberto: Você é doida. Sacaneou o filho para atingir o pai...

Marjorie: E consegui o que eu queria. Resgatei um monte de cliente.

Adalberto: Então, essa não foi uma vingança alheia propriamente dita. Foi mais uma isca para atrair seus ex-clientes.

Marjorie: Adal, foi tudo isso e mais um pouco.

Fiquei com medo de perguntar o que significaria a parte “mais um pouco”. Mas não me aguentei.

Adalberto: Como assim mais um pouco?

Marjorie: Eles me pagaram uma viagem para o Tahiti, me deram vários vestidos, camisas, calças, sapatos, perfumes, cordões e pulseiras presente e, ainda, me levaram para jantar num restaurante incrível, primo. Tem coisa melhor.

Não!

Eu faria o mesmo.

Ou pior.

Definitivamente, a Marjorie mandou MUITO bem.

Aliás, ela me fez chegar a uma conclusão: melhor do que ser politicamente correto e ter fama de chato de galocha é ser politicamente incorreto travestido de politicamente correto e se dar bem com isso.

Fica a dica.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Ane leva chamada de Mark Zuckerberg e deixa de ser over no Facebook

Na domingo, depois de atender uma milésima ligação para saber se a Ane estava bem, resolvi dar uma olhada no Facebook dela para ver se a preocupação das pessoas procedia.

Eram milhares de postagens de trechos de textos de Clarice Lispector, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Victor Hugo, Sêneca...

A Ane sabe quem foi Sêneca?!

Liguei para ela na hora.

Ane: Claro que eu não sei quem foi Sêneca! Eu pego essas frases num site de pensamentos.

Adalberto: E você acha isso bonito? Está todo mundo pensando que você está deprimida.

Ane: Deixa pensar. Não dizem que todo psicótico é muito inteligente?

Adalberto: E você acha legal ter fama de psicótica?

Ane: Não. Mas de inteligente, sim.

Esse era um problema dela. Eu, realmente, não fiquei muito preocupado com as postagens filosoficamente nostálgicas dela. Só tinha ficado intrigado com o fato de ela conhecer o tal do Sêneca, que eu sequer ouvi falar nesses meus 31 anos de estrada.

Talvez eu não fosse tão psicótico quanto imaginava... Quero dizer, inteligente!

Só para constar Sêneca foi um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano. Conhecido também como o Moço, o Filósofo, ou ainda, o Jovem, sua obra literária e filosófica, tida como modelo do pensador estoico durante o Renascimento, inspirou o desenvolvimento da tragédia na dramaturgia europeia-renascentista.

Copiei do Wikipedia.

Na segunda, ao ler uma matéria que dizia que o Facebook expulsará um milhão de usuários que imigraram do Orkut, lembrei da Ane.

Ela com certeza entraria nesse bolo. Afinal, essa mania de postar trechos de textos de famosos pensadores a esmo é, no mínimo, uma postura orkutiana.

Postura orkutiana = postura altamente infantil.

Pouco tempo depois de ler a notícia, recebi uma ligação da Ane.

Adalberto: Nossa, estava pensando em você.

Ane: Adal, eu recebi uma mensagem do Mark Zuckerberg.

Depois do Sêneca, esse devia ser outro filósofo que eu desconhecia.

Adalberto: Esse, para mim, é o famoso Quem.

Ane: É o dono do Facebook, garoto. Em que mundo você vive?

Na terra. Não vivo postando minha vida no Facebook. E confesso: não tive a MENOR curiosidade em ver o filme dessa rede social.

Adalberto: E o que foi que ele disse?

Ane: Que vai me deletar, se eu não mudar o meu comportamento. Acho que estou meio over.

Ela precisou levar uma chamada do dono do Facebook para perceber que estava over.

Adalberto: E o que você vai fazer?

Ane: Vou dar uma maneirada.

Adalberto: Melhor assim.

Ontem, soube pela Sara que a Ane foi se inscrever no vestibular para o curso de Filosofia.

Ela achou estranho. Eu achei bem o perfil da Ane. Perfil orkutiano.

Pelo visto, o projeto “Ser inteligente para surpreender” dela iria continuar no mundo real.

Sem a interferência do Mark Zuckerberg.

Mas se bem a conheço, esse projeto não chega ao segundo período da faculdade.

De qualquer maneira, eu CURTI a iniciativa da minha prima.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Lu vai presa a tempo de abocanhar título de miss

Eu e alguns colegas de trabalho fomos, na semana passada, convidados pela gerente de Marketing de uma churrascaria recém-inaugurada para jantar no local, no esquema 0800.

Tive a brilhante ideia de levar a Lu, que, enquanto se deliciava entre um pedaço de carne ou outro, teve a brilhante ideia contar tudo o que eu pensava sobre a gerente de Marketing... Para a gerente de Marketing!

É claro que ela nem imaginava, que estava falando com a própria. Eu sentei longe dela na mesa, porque, quando chegamos, não havia dois lugares próximos. Portanto, só fui saber do teor dos altos papos que ela levava com a gerente de Marketing, quando já era tarde.

Lu: Só uma pessoa com problema de cabeça para arrumar esse jabá para o Adal. Ele não jantou ontem, não tomou café nem almoço hoje, você acredita?

Gerente de Marketing: Mentira!

Lu: Garota, esse menino passa fome para ir a uma churrascaria rodízio. Nunca vi igual.

Gerente de Marketing: Mas por que isso?

Lu: Não sei. Eu achava que era para fazer valer a pena o dinheiro gasto. Esse garoto é pão-duro! Mas aqui ele não vai pagar nada...

A gerente de Marketing deu uma risadinha para mim que, de longe, respondi com um aceno.

Lu: O meu primo é doido. Ele disse que a menina que está oferecendo esse jantar é uma chata.

Gerente de Marketing: É?

Lu: Hum, ele falou que vai pegar todos os cheques promocionais que vai receber do restaurante e distribuir para os amigos dele.

Gerente de Marketing: Como assim? É para ele distribuir no trabalho.

Lu: Mas ele não vai fazer isso. Vai fazer média com os amigos.

Gerente de Marketing: Mas não pode!

Lu: Mas ele está cagando para a Palha de Aço.

Gerente de Marketing: Quem é a Palha de Aço?

Era ela. Mas,naquele dia, ela estava com o cabelo escovado.

Lu: É a gerente de Marketing daqui. Ele odeia ela. Diz que, às vezes, atravessa a rua para não ter que cumprimentá-la. Além de chata, ele acha que ela tem piolho. Eu até concordo com ele, porque a mulher, que hoje em dia, tem cabelo duro e ressecado com tanto tipo de escova definitiva e relaxamento é, no mínimo, uma pessoa que não deve ter o menor cuidado com o cabelo.

A gerente de Marketing levantou impetuosamente, sem proferir uma única palavra. No lugar dela, voltou um segurança muito educado, que me pediu, com muita cortesia, para que me retirasse da mesa com a minha acompanhante.

Eu acatei bem o que me foi dito, sem sequer imaginar o que poderia ter acontecido. Mas quis saber o motivo. Eu incorporei o espírito da galera do “deixa disso”, já que a galera que estava com a gente não tinha esse espírito.

Adalberto: Lu, o segurança me disse que essa é uma ordem da gerente de Marketing. Vamos lá dentro falar com ela, procurar saber o motivo.

Lu: Ela é a Palha de Aço?

MEDO!

Adalberto: Lu.

Lu: Adal.

E assim começou o quebra-pau. Eu queria matar a Lu, que queria matar a gerente de Marketing, que queria me matar. Os seguranças da churrascaria também queriam me matar. E os meus colegas de trabalho queriam matar os seguranças. Mas não para me defender, mas para ver o circo pegar fogo mesmo.

Eu não daria conta de todos aqueles seguranças.

Era o fim da churrascaria recém-inaugurada.

Fomos parar na delegacia. Meu pai e minha mãe se recusaram a pagar fiança para eu e a Lu sermos soltos. Eu fui transferido para o Presídio Bangu I. E ela, para a Penitenciária Talavera Bruce, onde chegou a tempo de participar do concurso de miss do presídio e saiu vencedora.

Três dias depois, já estávamos em liberdade. Foram os meus pais que nos buscaram. O silêncio dentro do carro gritava. Até que foi quebrado.

Lu: Gente, eu preciso comemorar o meu título de Miss Talavera Bruce. Isso não é para qualquer uma.

Neide: Realmente, não. Para isso, você precisou fazer vergonha numa churrascaria.

Lu: Ai, tia! Passou. Esquece isso. Aposto que o tio Beto já esqueceu.

O meu pai tem uma coisa de bom. Ele muda do sentimento de raiva/decepção para carinho/afeto num átimo. Ele nos fez uma proposta que sugeriu que ele, realmente, tinha esquecido o fato ocorrido e nos perdoado.

Adalberto (pai): Vamos comemorar, então, o seu título de miss e a liberdade de vocês numa churrascaria?

Eu, que estava há três dias comendo uma gororoba, que prefiro nem comentar, acatei a sugestão na hora.

Adalberto: Eu topo.

Lu: Eu também.

Minha mãe fez uma cara de que estava achando tudo muito incoerente, mas não fez maiores restrições.

De fato, era incoerente comemorar a nossa liberdade num lugar, que nos remetia ao motivo que pôs fim a nossa liberdade. Isso até me deixava um pouco mal.

Mas era super coerente comemorar o título de miss de presídio da Lu naquele lugar. Afinal, foi graças a uma churrascaria que ela pôde viver a experiência de dar tchauzinho com a mão em concha, em câmera lenta.

Mais coerente seria comemorar na churrascaria que a levou ao título. Mas ela já não existia mais. Uma pena.