quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ane recebe reparos da Net

A Ane me ligou ontem cedinho. Eu tinha acabado de sair da academia:

Ane: Primo, você tá fogante.

Adalberto: Eu estava fazendo esteira.

Ane: Ah, bom. Já estava pensando besteira.

Adalberto: Menina, falando em besteira, sabe aquela recepcionista do condomínio do tio Vavá, que tinha morrido?

Ane: Sei. Aquela fofa. Eu fiquei três noite sem dormir, com medo do espírito dela.

Adalberto: Então, ela tá viva.

Ane: Como assim, se ela morreu?

Adalberto: Ela não morreu. Quem morreu foi uma outra.

Ane: Quem?

Adalberto: Nem quis saber.

Ane: Melhor. Você vai fazer o que agora?

Adalberto: Nada. Tô atrás de um programa de índio. Detesto ficar em casa sem fazer nada. Alguma sugestão?

Ane: Me faz companhia pra esperar o carinha da Net?

Putz, esperar o carinha da Net faz parte da minha listinha de exceções. É o tipo de programa de índio que ninguém merece.

Ane: Você vem?

Adalberto: Vou.

Quando cheguei lá, tinha um saco de Serenata do Amor me esperando. Que covardia!

Ane: Pra você.

Adalberto: Ah, não. Eu não vou jogar minha meia-hora de esteira no lixo.

Ane: É pra te agradecer. Pela sua companhia.

Adalberto: Então, me dá um inibidor de apetite. Depois do Natal, é tudo o que eu mais preciso.

Ane: Cala a boca. Será que o carinha da Net vai demorar muito?

Adalberto: Todas as vezes que eu precisei de algum técnico da Net fui atendido no fim do dia. A única vez que eles chegaram cedo foi quando eu precisei sair.

Ane: Jura?

Adalberto: Juro. Mas, normalmente, eles deixam a gente esperando o dia inteiro.

Ane: Pelo menos, eu tenho companhia.

Adalberto: É.

Que saco. Passei o dia inteiro na casa da Ane. Almoçamos, dormimos, acordamos e nada do carinha da Net. Depois de muita resistência, ataquei o saco de Serenata do Amor, que eu tanto reneguei.

Enquanto me deliciava com o último bombom, uma gritaria no prédio.

Ane: Que barulho é esse?

Adalberto: Sei lá, os vizinhos são seus.

Alguém gritava que ia se jogar. Era uma voz de mulher.

Ane: Quem é a louca que vai se matar a dois dias do Ano Novo?

Adalberto: Sei lá, mas eu acho que eu quero ver esse suicídio. Vamos lá fora?

Ane: Seu maluco.

Adalberto: Não aguento mais ficar trancado nesse apartamento sem fazer nada, esperando o carinha da Net. Preciso de fortes emoções.

Ane: Vamos oferecer ajuda, então. Se eu presenciar essa morte, vou ficar a vida inteira sem dormir.

Adalberto: Deixa de bobeira. Vamos logo.

Quando chegamos ao apartamento da suicida, a nossa surpresa: era a recepcionista do prédio do tio Vavá. A que a gente achou que tinha morrido.

Recepcionista: Gente, eu quero me matar. O meu namorado chegou aqui com uma marca de batom na camisa.

Ane: Ué, você mora aqui?

Adalberto: Garota, não lembra da gente, não? Lá do prédio do tio Vavá. Você desapareceu de lá...

Recepcionista: Oi. Claro que lembro. Eu fui expulsa da casa dos meus pais no mês passado. aí, tentei me matar cortando os pulsos, mas acabei sobrevivendo. Voltei a trabalhar só ontem.

Adalberto: O tio Vavá já tinha dado você como morta.

Ane: Eu também. Aliás, fiquei três dias sem dormir por sua causa. Para com essa palhaçada de querer se matar por qualquer besteira e desce dessa janela. Vem cá, anda!

Levamos a recepcionista pro apartamento da Ane. Ela contou a história da vida dela toda, enquanto saboreava uma garrafa inteira de Absolut de pera.

Ane: Impressionante, né?

Recepcionista: É. Absolut de pera é realmente incrível.

Ane: Eu estou falando da sua vida.

Recepcionista: Ah, é? Você acha a minha vida impressionante?

Ane: Acho.

Adalberto: Eu também acho. Dá um livro.

Recepcionista: Sério?

Adalberto: Arrã.

Recepcionista: Que bom ouvir isso. Tô até me sentindo melhor.

Adalberto: Bom mesmo.

Recepcionista: Agora, deixa eu te fazer uma pergunta?

Adalberto: Qual seria um bom final pra esse livro?

Adalberto: Qualquer coisa, contanto que a mocinha não se mate no final.

Ane: Um final bom para esse livro é a mocinha enfiando a porrada no cara de pau do namorado, que apareceu com a mancha de batom.

Recepcionista: Sério?

Ane: Sério. Liga agora pra ele, pede desculpas, diz que você está arrependida e que quer vê-lo. Vamos armar uma cilada pra esse cachorro.

Nisso, a nossa campainha toca. Era o carinha da Net.

Ane: Ai, finalmente, Adal. É o carinha da Net que está subindo.

Adalberto: Ufa! Já tinha até mês esquecido disso.

Quando ele entrou no apartamento da Ane, deve ter se arrependido por não ter demorado mais para chegar.

Recepcionista: Seu cretino!

A recepcionista foi com tudo para cima do carinha da Net. Primeiro, eu achei que ela estava descontando a raiva que tem pela empresa que ele trabalha. É o que todos querem fazer. Mas, depois que ela disse que não queria mais saber de um cara, que não sentia vontade de transar todo dia, percebi que a relação entre eles era menos burocrática.

Consegui segurá-la a tempo de evitar que ela enfiasse um canivete no rosto do pobre coitado, mas não a tempo de impedir que ela quebrasse o aparelho da Net novinho, que o carinha ia trocar pelo que não estava funcionando da Ane. Não acreditei naquilo. Senti uma vontade imensa de tomar o canivete da mão dela e rasgá-la dos pés à cabeça.

Perdi a minha tarde inteira ali, devo ter engordado uns dez quilos, depois de ter comido sozinho um saco inteiro de Serenata de Amor para nada...

Ane: Eu vou matar você, sua vagabunda. Você não presta. Por isso que ele te trai!

A Ane terminou de quebrar o aparelho da Net na cabeça da recepcionista. Fomos parar na delegacia. Para variar. Depois de duas horas lá e muita baixaria, fomos liberados. A Ane disse que não se importava em voltar de táxi para casa. Ainda bem. Eu ia me importar muito se tivesse que levá-la. Fui direto para a minha casa tomar um banho bem gelado e esquecer aquela baixaria toda.

Hoje, quando acordei, liguei para saber como ela estava.

Ane: Estou ótima. O carinha da Net deu um jeito na minha carência.

Adalberto: Como assim? Cadê ele agora?

Ane: Foi ao trabalho buscar o aparelho para trocar e já está voltando. Ele vai atrasar os outros reparos que tem para fazer hoje, só para passar o dia comigo. Lindo, né? Acho que estou apaixonada, Adal.

Agora eu já sei o que eles fazem, enquanto a gente espera...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Sara dá empurrãozinho de Natal

Natal na casa da Sara implica em ter que aturar a família mala do Oswaldo. E isso era tudo o que eu menos queria para esse ano. Aliás, para todos os anos em que eu existir.

A gente sempre passa a data na casa dos meus pais e, dessa vez, não foi diferente. Aliás, foi diferente, sim. A Sara não foi. O Oswaldo quis fazer a ceia na casa deles, que teve como ilustres convidados os seus pais, todos os seus primos e primas em primeiro, além de mim e das outras primas. Eu pulei fora dessa. E a Ane, a Lu e a Marjorie embarcaram na minha.

Marjorie: Ai, nada a ver, né, Adal?

Adalberto: Eu fico meio assim em dizer não, por causa Sara.

Ane: Acho que ela entendeu. Ela sabe que a gente não suporta a família do Oswaldo.

Adalberto: Eu até suporto.

Lu: Mas não no dia do Natal, né?

Adalberto: Não.

Marjorie: Será que ela ficou chateada?

Lu: Não. Ela sabe que, todo ano, o Natal da gente é na casa do tio Beto.

Adalberto: É. Eu não sei se meu pai também ia gostar da ideia de ir pra outro lugar.

Ane: Por isso, que eu nem cogitei de ir para a casa da Sara.

Adalberto: Se bem que ela disse que esse ano será especial, por alguma razão que ela só vai contar para quem for lá.

Marjorie: Então, nós vamos ficar na curiosidade.

Adalberto: Ou seja, vamos ficar no lucro.

Lu: Que horas são, hein?

Ane: Onze e quarenta e cinco.

Adalberto: Ih, está na hora do meu pai descer para colocar a fantasia de Papai Noel.

Marjorie: O Diego vai ficar louco, né?

Adalberto: Vai. Ele adora Papai Noel.

Marjorie: Tio!

Adalberto (pai): Oi, meu amor.

Marjorie: Tá na hora.

Adalberto (pai): Neide, vamos lá me ajudar.

Enquanto minha mãe ajudava meu pai a se trocar, nós ficamos distraindo o Diego. E foi difícil, porque ele não queria deixar os avós.

Lu: Calma, Dieguinho. A vovó foi limpar o vovô, que foi fazer cocô.

Adalberto: Ai, Lu. Não tinha uma desculpa antisséptica pra dar, não?

Ane: Na cabeça dela só tem merda.

Marjorie: Gente a Sara tá me ligando. Atendo ou não?

Ane: Não.

Lu: Não.

Tive a certeza de que o Natal é uma data que mexe com a gente, quando acabei com a brincadeira de dizer não.

Adalberto: Sim.

E a minha ordem foi atendida.

Marjorie: Alô.

Sara: Poxa, fiquei tão triste que vocês não vieram me ver. Disse que esse ia ser um Natal especial, que era importante reunir a minha família e a do Oswaldo. Nem assim vocês vieram.

Marjorie: Mas a gente avisou que não ia dar, prima. O tio Beto podia ficar chateado. Ele faz todo ano a festa aqui.

Sara: Ele falou que não viria, mas que não se importava se vocês não viessem pra cá.

Marjorie: É... Deve ter sido pra não te magoar. No fundo, ele prefere ficar aqui.

Sara: Tudo bem. Deseja feliz Natal a todos aí, dá um beijo na Camila, no Eduardo, na tia Neide, e no tio Beto por mim.

Adalberto: Está bom.

E para você, para o Adal, para a Ane e para a Lu eu desejo muito amor para vocês possam dar para os afilhados de vocês... Vou desligar porque a gravidez me deixou mais chorona do que eu já sou. Essa era a surpresa.


Marjorie: Gente!

Adalberto: O quê?

Marjorie: A Sara tá grávida. Vamos pra casa dela agora.

Ane: Como assim?

Marjorie: Ela tá grávida e nós somos os padrinhos.

Adalberto: Pô, mas quantos filhos ela tá esperando? Um pra cada?

Marjorie: Não sei. Deve ser. Ela fazia tratamento. Vamos!

Adalberto: Cara, eu não tenho condições de dirigir. Bebi pra caramba.

Lu: Eu também.

Ane: Eu também.

Adalberto: Todo mundo bebeu pra caramba.

Foi quando o meu pai apareceu vestido de Papai Noel.

Marjorie: O tio Beto não bebeu. Esqueceu que a tua mãe fez promessa pra ele não beber, se o carro dele fosse achado?

O carro do meu pai tem seguro, mas a promessa da minha mãe é infalível. Traz qualquer coisa de volta em até três dias úteis. Ainda bem, porque só o carro dele tem espaço de sobra para levar a família inteira.

Fomos todos pra casa da Sara levados pelo Papai Noel. O Diego adorou isso.

Chegamos quando todos os parentes sem noção do Oswaldo já tinham ido embora. Melhor impossível.

Adalberto: Amoreca!

Sara: Adal, me abraça!

Ane: Que bom que você está grávida, prima.

Sara: É, consegui.

Lu: Sarita, eu tinha esquecido que você estava fazendo tratamento. Você, uma vez, comentou que ia parar...

Sara: Falei mas não parei. Ter filho era um sonho.

Marjorie: Estou tão feliz por você.

Sara: Obrigada.

Adalberto: Cadê o Oswaldo?

Sara: Bebeu todas e foi dormir. Cadê o tio Beto, a tia Neide, a Camila, o Eduardo e o Diego?! Eu tô com o presentinho dele aqui.

Adalberto: Garota, meu pai veio vestido de Papai Noel pra cá. Foi tudo tão às pressas, que não deu nem tempo dele se trocar. E aí você imagina como é que o povo da tua rua ficou, quando viu Papai Noel chegar... Ele mal saltou do carro e as crianças não o deixam andar. Ele adora.

Sara: E o resto do pessoal?

Adalberto: Minha mãe ficou fazendo companhia ao meu pai. a minha irmã, o Eduardo e o Diego também.


Na verdade, a minha irmã e o meu cunhado não subiram, porque estava evitando a família do Oswaldo.

Sara: Ai, meu Deus...

Marjorie: Mas fala da gravidez.

Ane: Pois é, tô morrendo de curiosidade.

Lu: Tem quantos bacuri aí nessa barriga?

Sara: Então, tem três lindos bebês.

Adalberto: Gente!

Sara: É só isso que eu sei por enquanto sobre eles. Mas... Eu falei com o Oswaldo e ele não se incomodou, porque sabe que a família dele é um pouco ausente, interesseira e sem noção. Então, escolhemos três primos dele pra consagrar as crianças...

Padrinho de consagração, apesar da minha mãe negar veementemente, é mó prêmio consolo, né?

Sara: E vocês quatro vão ser os padrinhos de batismo.

Marjorie: Ai, que lindo, prima. Vou chorar.

A Lu e a Ane já estavam chorando. A Marjorie começou logo em seguida. Eu, apesar de bastante feliz com a notícia, ainda precisava de empurrãzinho. Fiquei até um pouco constrangido por ser o único a não chorar com a notícia. Mas, pra despistar essa minha falha e quebrar o silêncio, inventei alguma coisa para falar.

Adalberto: Mas vai faltar padrinho de batismo. Se são três crianças, elas vão precisar de três madrinhas e três padrinhos. Ainda tem vaga pra mais dois.

Lu: Vaga, seu insensível? Você está falando mesmo de batizado ou de emprego?

Adalberto: Desculpa. Me expressei mal.

Sara: Olha, pro seu governo, as meninas vão ocupar as vagas de madrinha. E você, seu cachorrinho, vai ocupar as três vagas de padrinho.

Recebi o empurrãozinho que faltava.

Abri o berreiro automaticamente depois da notícia. Chorei copiosamente. Sem parar.

E valeu muito a pena cada lágrima.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Viagem sem sal ao Uruguai rende bons frutos curriculares

Acabei de voltar do shopping. Fiz minhas compras de Natal, com o dinheiro que recebi de uma companhia aérea, por ter extraviado as minhas malas. Aliás, mesmo tendo passado apenas uma semana de que voltei do Uruguai, ainda estou cansado. E olha que o horário de lá é como o daqui. Ou seja, não tenho nem como dar a desculpa do fuso. Se bem que passar seis dias com a Ane, a Lu e a Marjorie já é o suficiente. Se a Sara não tivesse perdido o vôo, talvez a viagem tivesse sido mais regrada:

Adalberto: Não acredito.

Sara: Pois é. O Oswaldo esqueceu que o Rio de Janeiro virou um canteiro de obras. Chegamos com cinco minutos de atraso.

Adalberto: Putz.

Sara: Onde você ta agora?

Adalberto: No Punta Shopping. Aqui em Punta.

Sara: É legal?

Adalberto: Legal é. Mas não um puta shopping.

Sara: Cadê as meninas?

Adalberto: A Lu ta usando o quarto com o Pablito, por isso que eu to aqui fazendo hora; a Ane ta dormindo, porque saiu ontem e deve ter chegado tarde; e a Marjorie tá numa lan house trabalhando. Deu alguma merda lá na fábrica.

Sara: Poxa, Adal, que pena que não deu pra eu ir. Eu seria sua companhia.

Adalberto: É... Pelo menos, aqui em Punta, se não fosse a chuva, teria mais coisas pra se fazer do que em Montevideu, que é, praticamente, um Campos dos Goytacazes.

Sara: Jura? Ainda bem que eu não fui.

Adalberto: É... Eu já te falei que a comida daqui é completamente sem sal?

Sara: Não.

Adalberto: A comida daqui é completamente sem sal.

Sara: Primo, que furada.

Adalberto: Furada é pouco, babe.

Naquela tarde, eu iria visitar a Casapueblo, do artista plástico Vilaró sem a vitalidade. Mal sabia que esse programa ia valer a minha viagem semifrustrante. Antes, além da triste notícia de que tinha perdido a Marjorie para uma lan house, fui surpreendido por mais dois problemas, quando cheguei ao hotel:

Lu: O Pablito veio aqui pra me contar, que tá namorando. Nem quis me comer. Tô arrasada.

Adalberto: Ou seja, o motivo da sua viagem te trocou por outra.

Lu: Desculpa, primo.

Adalberto: Por quê?

Lu: Eu inventei essa droga de viagem só por causa dele.

Adalberto: Ah, relaxa, Lu. Eu vim porque quis. Até que tá legal.

Mentira. Estava um saco. Nem praia a gente pôde aproveitar, porque só chovia.

Lu: Vai fazer o que hoje?

Adalberto: Não sei. Estava pensando em dar um pula na Casapueblo. Vamo?

Lu: Vamo.

Adalberto: Ih, a Ane tá me ligando. Alô... Mentira! Você é muito ingênua. Como é que você leva um cara, que você nem conhece?

Ane: Ele disse que era jogador de futebol, rico, famoso, que ia jogar na Libertadores.

Adalberto: Imagina. Se ele fosse isso tudo ele não estaria passando férias aqui.

Ane: Mas ele é daqui, Adal.

Adalberto: Mais um motivo. Já não chega ter nascido nesse lugar ermo?

Ane: Eu preciso ir a um shopping comprar um Iphone pra Marjorie urgente.

Adalberto: Ele roubou o celular da Marjorie?

Ane: Arrã.

Adalberto: Vamo na delegacia dar parte desse cara agora!

Ane: Não!

Adalberto: Por que não?

Ane: Porque eles vão pedir as imagens do hotel e a multa que eu vou pagar, por ter trazido gente pro meu quarto todos os dias, vai ser bem maior do que o valor do Iphone da Marjorie.

Caramba!
E caramba foi a única coisa que veio a minha mente.

Adalberto: Tá. Te encontro na porta do seu hotel em 15 minutos. A Lu também vai.

Quando saímos do shopping, fomos direto à lan house, onde a Marjorie estava internada a trabalho.

Ane: Seu presente de Natal antecipado.

Isso ela falou com a cara mais lavada desse mundo.

Marjorie: Como assim?

Ane: Abre.

Marjorie: Um Iphone? Eu já tenho o meu.

Ane: Prima, o seu não tá mais entre nós.

A explicação do celular roubado rendeu duas telas de LCD quebradas e um mouse, que serviu como chicote, destruído. Essa foi uma das poucas vezes, que eu vi a Marjorie perdendo a cabeça. Ainda bem que o prejuízo foi um Pesos Urugaios. Tanto da lan house, como da fiança que ela teve que pagar pra ser liberada da cadeia.

No dia seguinte, era o dia de voltarmos para o Brasil. E de eu realizar um dos maiores sonhos da minha vida: ir embora do Uruguai. Mesmo com o horário apertado, fui à Casapueblo. Precisava ir a algum lugar turístico pra fazer foto. Até então, nada naquele lugar valera um registro. O meu Facebook não podia passar incólume por essa viagem. Deixei de tomar café no hotel, que não era lá essas coisas, pra poder dar tempo. Lá, fui recebido por um senhor, que foi tão solícito comigo, que chegava a irritar:

Carlos: É brasileiro? Eu também falo português. Tenho uma neta que mora em São Paulo.

Adalberto: Eu sou do Rio.

Falei isso porque queria, de alguma forma, deixá-lo constrangido. Mas não consegui. Vai ver ele não sabe da rivalidade entre Rio e São Paulo. A neta dele não devia ser tão próxima assim. Talvez isso explicasse a carência dele.

Carlos: Vem cá que eu vou te apresentar a minha filha.

Agora entendi... Ele me achou um bom partido e, vai ver, quer desencalhar a filha solteirona. Que saco. Não conseguia me desvencilhar dele. O pior é que todo mundo ficava olhando para ele e sorrindo. Vai ver sabiam da furada que ele estava aprontando pra mim.

Carlos: Essa aqui é minha filha. Aqueles quadros foram todos pintados por ela.

Como assim? Eu to louco ou ela é a filha do Carlos Paez Vilaró? Eu to mais louco ainda ou esse cara, que, até pouco tempo era o mala do século, é o Carlos Paez Vilaró?

Agó: Muito prazer.

Adalberto: Prazer.

Eu estava tão constrangido, que o que eu disse pareceu um pedido de desculpas. Mas, depois de 15 minutos, e uma cachaça maravilhosa, que eu tomei com os Vilaró, já parecia um deles. Tirando a minha falta de habilidade pras artes plásticas, claro.

Falamos da guerra da polícia do Rio contra os bandidos da Vila Cruzeiro, do governo do Lula, do Pelé, do Oscar Niemeyer, das praias do Rio de Janeiro, das nossas famílias, das nossas vidas. Menos de São Paulo. E não foi por falta de tentativa deles.

Esse encontro valeu a viagem. Suplantou todos os problemas que aconteceram e os que ainda vieram a acontecer – a perda das minhas malas – na viagem.

Agora, tenho dois amigos pra botar no currículo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ida ao Engenhão faz mal à audição

No domingo, fui com a Ane de ônibus para a porta do Engenhão. Ela marcou de encontrar um carinha, que ela estava pegando no fim do jogo. Eu aproveitei pra visitar uma amiga, que mora ali perto:

Ane: Nada a ver ter medo de vir de carro pra cá.

Adalberto: Não é medo exatamente.

Ane: É o que, então?

Adalberto: Sei lá, receio.

Ane: Na torcido do Fluminense só tem playboyzinho, Adal. Ninguém ali ia querer o seu carro popular.

Adalberto: Acho que isso é um pouco de lenda. De mais a mais, eu não conheço a índole da torcida do Guarani.

Ane: Imagina. Povo do interior de São Paulo não é capaz de fazer mal a uma mosca.

Adalberto: Ane, você devia ter consertado o seu carro, em vez de ficar aí falando.

Ane: Não tive tempo pra isso.

Adalberto: O quê?

Ane: Não tive tempo pra isso.

Adalberto: Não entendi.

Ane: Garoto, tu tá surdo?

Adalberto: Não. Se bem que, segundo o teste de audiometria lá da empresa, se eu perder mais um pentelésimo da minha audição do ouvido direito, eu já posso ser considerado deficiente auditivo.

Ane: Mentira.

Adalberto: Sério.

De repente, uma música de louvor começou a tocar dentro do coletivo. Engraçado que esse é o tipo de coisa que, em vez de me trazer paz, só me causa aflição.

Ane: Não acredito que a gente vai ter que ouvir isso daqui até lá.

Adalberto: Nem eu.

Ane: Acho que vou incorporar a Lu e fazer um escândalo com ele. Isso é falta de respeito.

Adalberto: Não ouvi.

Mentira. Ouvi, sim. Mais me prevaleci da minha quase deficiência auditiva pra não dar o empurrãozinho, que a motivação da Ane precisava pra jogar o celular do cara pela janela.

Ane: Tem horas?

A Ane, agora, falava comigo fazendo gestos.

Adalberto: Não.

Ane: Porra, tu não ouve, não tem horas, não quis vir de carro... Hoje, você tá uma negação.

Adalberto: Não. Não acho.

O celular de um homem, nitidamente, bêbado tocou. Ele falava tão alto quanto o louvor. Parecia uma disputa. De quem me irritava mais.

Bêbado: Eu falei pra ela não beber a Coca-Cola toda. Era pra deixar pro irmão dela. Não. Eu já vendi um carro pra fazer festa pra essas crianças, Doroth, não vou ficar fazendo a vontade de Eliandra e Cristóvano, não. Manda tudo pra puta que pariu, porra! Não, quando eu falo com você que não é pra ficar mimando essas criança, tu acha que eu tô de sacanagem. Sabe qual é o problema? Ivoneth se mete, Daysianny se mete, Edilenny se mete Doriaanny se mete, Silmarianny se mete. Todo mundo acha que cria os nossos filhos.

A ladainha parecia que nunca ia acabar. Nem os nomes mais esquisitos, que eu ouvi na minha vida. As caras da Ane eram as melhores.

E quando a gente acha, que nada mais pode acontecer pra piorar, eis que entra no ônibus um menino com a camisa do Fluminense, vendendo quase que se pode imaginar dentro de um saquinho. Pelo visto, são não tinha a mãe dele, em porção de cinco unidades, pelo preço de um real.

Menino: Boa tarde senhoras e senhores. Desculpe incomodar o vossa viagem.

Acho incrível que, quando eles querem agradar, prezam por uma Língua Portuguesa melhor.

Ane: Vossa viagem...

Adalberto: Viu? Nem a gente fala assim.

Ane: É porque ele é Fluminense. Deve ser um desgarrado de uma família rica.

Menino: Eu podia estar matando, eu podia estar roubando, mas eu eestou aqui, meus senhores, vendendo esta bala, este chiclete, esta bananada, este chocolate, este chup-chup, este confete, esta jujuba, este delicado, este pirulito, este...

Bêbado: Porra, dá pra calar a boca, caralho?! Tô resolvendo uma parada séria com a minha mulher aqui e tud fica aí de palhaçada?

Não, ele não estava de palhaçada. Estava trabalhando. Estava me irritando também, mas, sobretudo, estava fazendo algo de mais útil do que ficar ouvindo louvor nas alturas e berrando no celular.

O menino cagou solenemente pras grosserias do bêbado. Jamais parou de entoar o seu mantra sensacionalista-comercial.

Menino: Meninha mãe amputou uma perna, meu pai está internado numa UTI.

Foi fofo o jeitinho que ele falou UTI.

Menino: Meu irmão mais velho é excepcional, minha irmã mias nova tem síndrome do pânico, por já ter sido estuprada.

Ele falou estuprada corretamente. Só mesmo um vendedor de balas tricolor pra conseguir essa proeza.

Menino: Então, senhoras e senhores, eu ficaria muito grato se vocês pudessem me ajudar.

E a minha quase deficiência auditiva ficaria muito grata se o carinha do louvor, deligasse o celular, se o bêbado também desligasse o celular e se o menino da bala se desligasse. Só por quinze minutos. Até eu chegar ao Engenhão.

A poucos metros do estádio, fomos parados numa blitz. Me assustei com o bolsa, que o menino jogou na minha direção. Na minha cabeça, pensei: os policiais devem cobrar uma certa propina desses de quem pratica o comércio ilegal. Segurei a bolsa, como se fosse minha. O menino desceu do ônibus. E eu achava que aquilo era parte de uma encenação. De fato era. Mas não da maneira, que a minha mente cinematográfica, era capaz de imaginar.

Nisso, um policial que estava revistando os passageiros, pergunta se a bolsa é minha, eu respondo que sim e, meia-hora depois, estava eu sendo preso numa delegacia. A bolsa tinha cocaína, maconha e uma 38. O bêbado e o carinha que estava ouvindo o louvor no celular fizeram questão de ir até a delegacia pra depor a meu favor. Depois de duas horas, consegui me livrar da prisão. Prometi ao carinha do louvor, que iria com ele ao templo, que ele frequentava pra agradecer a Deus, por ter me livardo dessa enrascada. E segui com o bêbado pro primeiro barzinho de esquina, que pudemos avistar.

Ane: Perdi meu peguete, por causa de você.

Adalberto: Tá maluca? Eu não tenho culpa de nada.

Ane: Tem, sim. Você ficou de miserê. Não quis vir de carro.

Adalberto: Que miserê? Fiquei com medo dessa torcida do Fluminense fazer alguma coisa com o meu carro.

Ane: Até parece.

Bêbado: Para de brigar vocês dois. O importante é que a gente tá com saúde.

Pior que é verdade.

E com toda a falta de vergonha na cara do mundo, que eu e a Ane temos, brindamos à vida.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Festa de aniversário surpresa acaba na delegacia

Como já tinha combinado previamente com as minhas primas, no sábado, eu iria ajudá-las o organizar a minha festinha surpresa de aniversário. Isso mesmo, eu seria um dos organizadores de um evento pelo qual eu não poderia ter ciência. Mas, depois de tudo organizado, fui surpreendido por alguns fatos.

Adalberto: Alô.

Sara: Oi, primo, antes que você me chame de ingrata, já vou logo te dizendo, que não vou poder ir a sua festa surpresa. Esses ataques à Vila Cruzeiro deixaram a cidade um perigo só.

Calado eu estava. Calado, fiquei.

Sara: Adal. Adal, você estava dormindo?

Adalberto: Não, Sara, meu pai já me ligou às 7h e me acordou com o Parabéns do Carequinha.

Sara: Ai, que desagradável o tio Beto, hein...

Adalberto: Essa é maneira de ele me dar parabéns há 30 anos. Coisa que você não fez até agora, porque está mais preocupada com a violência no Rio.

Sara: Ai, Adal, desculpa. Eu ando tão nervosa com essa onda de violência, que até me esqueci de te dar parabéns. Que vergonha. Parabéns, meu primo, que Deus te ilumine e te traga muita felicidade nessa vida, tá?

Adalberto: Tá.

Sara: O Oswaldo tá mandando um abraço.

Adalberto: Outro.

Mais tarde, durante o meu momento faxina em casa, a Ane me ligou.

Ane: Primo, queimaram o meu carro.

Adalberto: Mentira.

Ane: Sério. Tô muito puta.

Adalberto: Quer uma ajuda?

Ane: Quero. Vem aqui em casa me buscar pra eu fazer registro na delegacia?

Adalberto: Só se você me der parabéns.

Ane: Parabéns, meu lindo, tudo de bom pra você, muita sorte, muita luz, muita paz, muito sucesso. Eu te amo muito, tá? Agora, vem aqui em casa me pegar voando.

Adalberto: Está bem. Em meia-hora, eu chego aí.

Levar a Ane à delegacia tinha sido uma ótima oportunidade pra eu adiar a limpeza do banheiro.

Sou capaz de comer qualquer coisa que cai no chão da rua, com o álibi de que "o que não mata engorda", sem a menor frescura. Mas não consigo ter paz de espírito se não limpar a mão com álcool, pelo menos, umas 500 vezes, depois de limpar a privada da minha própria casa.

Cheguei a casa de Ane uma hora depois do que havia dito.

Ane: Até que enfim, hein.

Adalberto: Passei por várias blitzes.

Ane: Primo, antes de mais nada, eu tenho que te contar uma coisa: parte do que eu te contei era mentira. Ninguém queimou o meu carro, sem a minha autorização. Estou dando o golpe do seguro. Fiquei com medo de te falar isso quando te liguei. Vai que quebram o meu sigilo telefônico...

Adalberto: Mentira. E eu tô fazendo parte dessa ação criminosa?

Ane: Vai. E não ri de mim, quando eu chorar na delegacia. Eu treinei, ontem, a tarde toda.

Eu ainda estava meio sem saber o que falar, quando recebi uma chamada da Marjorie.

Marjorie: Parabéns pra você // Nessa data querida // Muitas felicidades // Muitos anos de vida// Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeh!

Adalberto: Brigado, lindona.

Marjorie: Ó, já tô chegando, tá?

Adalberto: Tá. Eu só vou deixar a Ane aqui na delegacia e já vou pra casa.

Marjorie: O que aconteceu? Tá tudo bem?

Eu não podia falar do golpe do seguro ao telefone. Imagina se essa porra pegasse pro meu lado? Era só o que me faltava.

Adalberto: Nada. Depois, eu te falo.

Marjorie: Adal, eu conheço você. Se não fosse nada, você me falaria.

Adalberto: Mas não é nada. A gente vai, na verdade, ao hortifruti, que fica ao lado da delegacia.

Marjorie: Mentira. Pra qual DP vocês estão indo?

Eu não consigo mentir para a Marjorie, por mais que eu me esforce.

Adalberto: Na 10ª, aqui em Botafogo.

Marjorie: Tô indo praí agora.

Putz. Mas uma pra ser cúmplice. Pior foi que eu tive que entrar no teatro da Ane e fingir estar nervoso. A Marjorie nem podia sonhar com a armação. Senão, ela iria querer ter o prazer de algemar a própria prima.

Enquanto eu deixava a minha técnica da sementinha desabrochar, foi a vez da Lu me telefonar.

Lu: Primo, atearam fogo dentro de um ônibus aqui perto de casa.

Adalberto: E daí?

Lu: Daí que eu não vou poder ir pra tua festa surpresa. Tô com medo de sair de casa.

Não senti verdade na voz dela, mas, no fim do dia, ela me disse que um coletivo realmente foi, realmente, incendiado perto de sua casa. Mas o medo por ela não querer sair outro motivo. Aliás, tinha nome próprio, apesar de ela não saber. A Lu ia ser generosa com o trocador do ônibus, do qual ele nem sequer sabia como se chamava. Isso ela só me contou depois de muita cerveja.

Adalberto: Falando em festa surpresa, você jamais vai me dar parabéns?

Lu: Ah, seu puto. Eu aqui desesperada e você querendo parabéns...

Adalberto: Claro. A violência é uma coisa e eu sou outra. Se bem que, às vezes, a gente meio que se confunde. Tanto que vim parar na 10ª DP, aqui em Botafogo. Ane e Marjorie também estão aqui. Elas já prestaram depoimento e tudo.

Lu: Tô indo praí agora.

Quando já estávamos todos saindo da delegacia, chega ao local Sara, Oswaldo e, logo atrás deles, um casal, que era vizinho de porta deles.

A essa altura, eu já tinha tido o trabalho prévio de contar para a Lu o que tinha acontecido de fato. Levando-se em consideração que, o que tinha acontecido de fato era o fato que a Ane inventou. E não o fato de fato.


Sara: Gente, o que vocês estão fazendo aqui?

Adalberto: Sara, isso é o que menos importa agora. O nosso problema já foi resolvido. O que você veio fazer aqui?

Sara: O Oswaldo ligou pra polícia, pra reclamar da guitarra do filho desses dois. Foi a maior confusão. Olha ali, como ele tá com o olho roxo.

Adalberto: E por que eles vieram atrás de vocês?

Sara: Eles vieram fazer queixa, porque o Oswaldo quebrou a guitarra do garoto.

Marjorie: Gente, precisou chegar a esse ponto?

Ane: Absurdo. Ter que vir resolver um problema desse na delegacia, definitivamente, é um absurdo.

Tive o ímpeto de falar ao pé do ouvido da Ane, que dar o golpe do seguro, aproveitando a onda de violência no Rio também é um absurdo. Mas me contive. Aliás, uma ligação da minha mãe me conteve.

Adalberto: Alô.

Neide: Meu filho, cadê você? A gente já tá há horas te esperando. Eu já até contei pro pessoal, que você sabia da festa surpresa e até ajudou na organização. Tá todo mundo querendo te matar. E tua tia Léa tá querendo ir embora. A cidade tá muito perigosa.

Depois dessa bola fora da minha mãe, ficar no meio da rua, em pleno Rio de Janeiro, foi mais seguro do que ir para casa. Como ela bem disse, todo mundo estava querendo me matar.

Adalberto: Mãe, canta parabéns para mim in memorian. Está tudo bem comigo, mas eu acho que vou ficar aqui pela Zona Sul mesmo. É muito arriscado ficar circulando pelo Rio nesse momento de invasão de favela pela Polícia.

Foi melhor assim.

Resolvi que, depois de ter perdido a minha festa surpresa, a Ane estava mais do que perdoada pela sua mentira. Eu também tinha mentido para os meus amigos e queria muito o perdão deles.

Acabei comemorando os meus 30 anos num pé sujo na esquina da delegacia, ouvindo músicas de uma jukebox, que não era lá essas coisas, mas que fez a minha comemoração ser, no mínimo, uma das melhores da minha vida. Os bêbados, que lá estavam, fizeram o meu dia encerrar em grande estilo.

As minhas primas também se divertiram muito. Elas tiveram seus fetiches por homem de farda contemplados. A exceção da Sara, que ficou a noite toda monitorando os olhares do Oswaldo a cada rabo de saia que passava, as outras três foram felizes para sempre com os seus policiais.

E viva eu!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Crise dos 30 é lenda ou Os tiros que saíram pelas culatras

Ontem, quando cheguei em casa, foi surpreendido pelas quatro:

Adalberto: O que é que vocês estão fazendo aqui, em plena segunda-feira?

Lu: A gente tem a chave desse barraco. A gente vem a hora e o dia que a gente quiser.

Adalberto: Eu sei. Mas vocês não costumam fazer isso.

Marjorie: Adal, a gente quer saber o que você vai fazer de aniversário.

Sara: Até agora, você não se falou nada. A gente já estava preocupada.

Adalberto: Eu não tô a fim de comemorar.

Ane: Por quê?

Adalberto: Ah, sei lá. Trinta anos não se comemora, né?

Sara: Ai, que bobagem.

Marjorie: Isso não exite.

Ane: Que besteira.

Lu: Palhaçada!

Adalberto: É a crise dos 30. Uma colega de trabalho disse que ela é inevitável e acaba com a gente.

Lu: Você contou. Renata o nome dela, né?

Adalberto: É.

Sara: E você acreditou?

Adalberto: Acreditei e já comecei a sofrer, mesmo ainda sem sequer sentir um sinal de crise.

Lu: Essa mulher me paga!

Ane: Com certeza!

Adalberto: Gente, pelamordedeus!, vamos voltar à crise dos 30.

Marjorie: Eu não tive crise dos 30. A minha scary age era 18. Indicava que os 20 estavam batendo na porta, e eu tinha um pavor absurdo de chegar aos 20.

Adalberto: E aí?

Marjorie: Mais de dez anos já se passaram e eu esqueci de sofrer.

Ane: A minha scary age é 40. Outro dia, uma senhora na fila do mercado disse que, quando a gente entra nos enta nunca mais sai. Eu nunca tinha pensado nisso. Vou sentir angústia.

Lu: Vai porque quer. Você acha que a Madonna pensa nisso?

Marjorie: Óbvio que não.

Lu: Ela quer mais é curtir com os garotinhos que ainda não chegaram nos enta.

Sara: Não vale a pena sofrer por antecipação?

Adalberto: Você dizendo isso?

Sara: Não nesse caso.

Marjorie: Ah, tá.

Adalberto: Então, decidi.

Ane: O quê?

Adalberto: Quero uma festa surpresa.

Lu: Tá maluco?

Adalberto: Não.

Sara: Se você já sabe que vai ter, não tem como ser surpresa.

Adalberto: Mas a minha irmã já organizou uma festa surpresa pra ela, com a minha mãe, e disse que foi mais emocionante do que se ela não soubesse de nada.

Marjorie: Como assim? Em que ano?

Adalberto: Naquele que você levou ela pra sair. Dezoito anos. Pronto, falei.

Marjorie: Que puta. A Camila sabia de tudo?

Adalberto: Nos mínimos detalhes. Foi dela a ideia daquele mural com fotos dos amigos.

Sara: Gente, ela conseguiu me enganar direitinho.

Ane: Gente, eu tô passada.

Lu: Gente, vou dar na cara da Camila.

Adalberto: Depois. Agora, eu vou passar pra vocês a lista de convidados e as coisas que eu quero que vocês façam, mandem fazer, comprem, sei lá.

Sara: Mas já tinha tudo preparado?

Adalberto: Já.

Marjorie: Mas e a crise dos 30?

Adalberto: Puro drama. Só pra ficar ouvindo as pessoas dizerem que eu pareço mais novo.

Sara: Danado.

Marjorie: Cachorro.

Ane: Safado.

Lu: Filho da puta.

Verdade. Só sendo isso tudo pra ter a coragem de falar pra essas loucas, que eu estava sofrendo da crise dos 30, influenciado por uma colegade trabalho. Eu, pelo menos, não deveria ter falado o nome da colega de trabalho. Hoje, quando cheguei ao escritório:

Renata: Isso aqui é coisa sua?

Era um buquê de flores. Eu tive o ímpeto de dizer que sim, porque, se ela perguntou, é porque não sabia. O remetente devia ser anônimo e eu bem que podia levar o crédito por aquilo. Um dia, podia precisar dela, e aquelas flores contariam ponto a meu favor. Mas tive a brilhante ideia de falar a verdade:

Adalberto: Não.

Renata: Olha aqui o que o babaca escreveu no bilhete.

Crise dos 30 de cu é rola. E embaixo as letras ALSM. As iniciais das minhas primas. Ane, Lu, Sara, Marjorie.

Adalberto: Caralho, eu vou matar aquelas galinhas.

Renata: O quê?

Adalberto: Eu vou matar quem fez isso! Se eu descobrir, eu mato!

Renata: Calma. Eu só vim te mostrar. Aquilo que eu falei outro dia, lá no refeitório sobre crise dos 30, foi só pra te botar pilha. Estava de sacanagem. Nada a ver. Isso não existe.

Adalberto: Não, né?

Renata: Nada. Eu nunca tive isso. Crise dos 30 é lenda. Já cheguei nos enta, de onde acho que nunca mais vou sair, e tô bem à beça. Tô fazendo como a Madonna: curtindo um garotinho aqui, outro ali e nem lembro quantos anos eu tenho.

É... Nessa onda de um tentar sacanear o outro, os esforços foram todos em vão ou, adaptando o provérbio, os tiros saíram pelas culatras.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ane retira vírgula entre sujeito e predicado com a força do útero

A Ane foi lá pra casa, ontem, passar o domingo comigo:

Ane: Isso é normal?

Adalberto: É normal, mas não é bom.

Ane: Eu odeio sentir inveja.

Adalberto: Eu também.

Ane: Mas ele falava dela com tanta admiração, sabe, Adal?

Adalberto: O Steban é meio sem noção, né? Te leva pra um jantar, pra ficar falando da ex.

Ane: O tempo todo. Me ajuda, primo?

Adalberto: Claro. Quer que eu ligue pra esse babaca e mande ele ir à merda com a ex-namorada?

Ane: Não. Corrige essa carta que eu escrevi pra ele. E troca algumas palavras por outras mais difíceis. Dessas que você costuma falar e eu não sei o que significa.

Adalberto: Deixa eu ver isso aqui.

Nem tinha tanto erro. Só estava meio cafona. Mas eu jamais falaria isso pra Ane. Ela ia me fazer escrever uma carta inteira pro cara, e eu não estava com paciência.

Adalberto: Só tira essa vírgula daqui.

Ane: De onde?

Adalberto: Você é tudo na minha vida. Direto. Sem vírgula depois do você. Não se separa sujeito de predicado.

Ane: Ai, que tudo isso, Adal. Vou escrever que eu sou o predicado da vida dele aqui embaixo. Ele vai me achar mais inteligente que a outra lambisgoia.

Claro que não!

Ane: Você não acha, primo?

Adalberto: Acho.

Ane: Mas eu queria deixar essa vírgula, depois do você, pra dar uma pausa mesmo, criar um suspense.

Adalberto: É mas esse suspense vai gerar um erro gramatical.

Ane: Que saco! Eu acho errado essa coisa de que a vírgula só pode ser usada, depois de períodos longos, pra gente respirar.

Adalberto: Mas isso não existe. O que existe são regras pra aplicação da vírgula. Não tem nada a ver com respiração, não.

Ane: Tem, sim. Eu lembro que a minha professora falava isso.

Adalberto: Ela estava errada.

Ane: Não estava.

Adalberto: Estava, sim.

Ane: Ah, tá bom, Adal. É você que tá certo, né?

Adalberto: Ane, que tal se você colsultar a gramática?

Ane: Tá bom. Vou fazer isso. Tchau.

Adalberto: Tchau.

Claro que ela não consultou gramática nenhuma. Foi entregar a cartinha pro Steban sem sequer corrigir o que eu tinha falado. Duas horas depois, a campainha tocou. Era ela:

Ane: Ai, primo, tô péssima.

Adalberto: Por quê?

Ane: Tem uma vírgula entre o sejeito e o predicado.

Adalberto: Ane, eu já te falei que não tem, que não aplica vírgula pra se respirar. Você consultou a gramática?

Ane: O Sebastian voltou pra ela.

Adalberto: Pra ex?

Ane: É.

Só então que entendi que a vírgula entre o sujeito e o predicado era a ex do Sebastian.

Adalberto: E aí?

Ane: A vagabunda estava lá. Veio pra cima de mim cheia de autoridade. Mas antes que essa lambisgoia abrisse a boca, eu dei um soco, com uma força que veio do útero, na cara dela.

Adalberto: E aí?

Ane: Ela caiu dura no chão.

Meu Deus!

Ane: Que cara é essa, Adal?

Estava estarrecido com essa agressão da Ane. Ela nunca foi disso. Pelo menos, acho que ela entendeu a minha explicação: vírgula entre sujeito e predicado é um erro.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sara entra pra auto-escola ou Pimenta (macaco e baliza) no cu dos outros é refresco

Na segunda-feira, quando botei os meus pés no trabalho, a Sara me ligou:

Sara: Conhece algum nome próprio masculino, com alguma semelhança a qualquer coisa relacionado a carro?

Adalberto: Hã?

Sara: Nome de homem que lembre alguma coisa de carro.

Adalberto: Sara, eu entendi o que você falou. Só não tô conseguindo fazer link disso com algum propósito.

Sara: Eu parei de treinar direção com o Oswaldo.

Adalberto: Eu te falei que aprender a dirigir com parente não dá certo. Antes de eu entrar pra auto-escola, eu treinei um dia com o meu pai e a gente quase se matou.

Sara: A gente quase terminou, por causa da baliza.

Adalberto: Mas é difícil mesmo. Até hoje, eu aplico as regrinhas que aprendi na auto-escola pra estacionar. Minha irmã já vai na intuição mesmo. E sempre acerta.

Sara: O problema não é a baliza, mas a Beliza.

Adalberto: Quem é Beliza?

Sara: Uma ex do Oswaldo. Você acredita que ele teve a coragem de me falar que sempre que alguém fala de baliza, ele lembra da Beliza?

Adalberto: Acredito.

Sara: Adal, você tá sabendo de alguma coisa?

Adalberto: Ah, Sara, não começa. Já te falei 300 mil vezes, que eu não tomo conta da vida do teu marido.

Sara: Então, primo, me fala o nome de alguma peça de carro, uma manobra, sei lá, qualquer coisa que lembre um nome masculino.

Adalberto: Babe, eu acabei de chegar no trabalho, tô cheio de sono.

Sara: Qual o problema?

Adalberto: A essa hora do dia, eu não sei nem quem eu sou.

Sara: Me ajuda, Adal. Eu começo na auto-escola hoje e preciso inventar um nome pro meu instrutor, e ficar falando dele toda hora, quando estiver no carro com o Oswaldo. Só pra ele ver como é bom...

Adalberto: Sarita, não faz guerra. Faça amor. Faça amor dentro do carro, pronto!

Sara: Com o instrutor da auto-escola?!

Adalberto: Não! Com o Oswaldo.

Sara: Ele não tá merecendo.

Adalberto: Garanto que essa recordação vai ser muito mais marcante pra ele do que a da baliza.

Sara: Ai, sei lá. Não tenho coragem.

Não tinha. Hoje, ela me ligou no mesmo horário:

Sara: Brigamos.

Adalberto: Por quê?

Sara: Nós transamos, ontem, dentro do carro na Praia da Reserva.

Adalberto: Peraí, vocês brigaram ou transaram.

Sara: As duas coisas.

Adalberto: Não foi bom?

Sara: Ai, Adal, isso não é coisa que se pergunte.

Adalberto: Então qual foi o motivo da briga?

Sara: Quando a gente estava indo embora pra casa o pneu furou. O Oswaldo foi pegar o estepe na mala, e, quando ele estava levantando o carro, eu tive a infelicidade de falar que o macaco é fundamental.

Adalberto: Mas é mesmo. Sem ele, não se consegue trocar o pneu.

Sara: Mas "Macaco" é como o meu instrutor da auto-escola é conhecido.

Adalberto: E o Oswaldo sabe disso?

Sara: Claro. Eu só falo do micos que eu pago no trânsito com ele, e que o Macaco merece ir pro céu por me aturar, que o Macaco isso, que o Macaco é aquilo...

Adalberto: Amore, antes ele se irritar com o Macaco, do que você se estressar com a baliza.

Ou em outras palavras: Pimenta no cu dos outros é refresco.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Diabinhas do Halloween viram santas no Dia de Finados

Há umas duas semanas, tentei marcar um jantar com as minhas primas. Ao telefone com a Marjorie, descobri que, com exceção da Sara, as outras não estava se falando:

Adalberto: Por quê?

Marjorie: Sabe a festa do Halloween?

Adalberto: Não.

Marjorie: Eu fui com a Lu e a Ane numa festa de Halloween.

Adalberto: E daí?

Marjorie: A gente estava numa onda de pegar geral. Fomos com fantasias iguais pra confundir, mas isso acabou sendo o motivo da nossa briga.

Adalberto: Por quê?

Marjorie: Lembra do Ezequiel, de Del Castilho?

Adalberto: Aquele que a Lu namorou?

Marjorie: Isso. Ela só faltou me matar, quando me viu beijando o irmão gêmeo dele.

Adalberto: Por quê?

Marjorie: Porque ela achou que fosse ele. Ela falou no começo da festa pra gente não ficar com o Ezequiel.

Adalberto: Eu jamais em toda a vida soube que o Ezequiel tinha um irmão gêmeo.

Marjorie: É porque ele era padre.

Adalberto: E você sabia disso?

Marjorie: Descobri lendo jornal. A matéria falava da gravidez de uma freira. O pai do bebê era o irmão dele. Mas quando eu vi a foto, achei que fosse o Ezequiel. Só quando li o texto, vi que se tratava de um irmão gêmeo.

Adalberto: Que loucura.

Marjorie: Loucura foi a Lu tentando me bater.

Adalberto: E cadê a Ane nessa história?

Marjorie: Ela estava ficando com o Ezequiel.

Adalberto: Meu Deus. E aí?

Marjorie: Aí que, depois que a festa toda estava tentando conter a fúria da Lu, ele resolveu aparecer. Foi homem suficiente pra dizer que aquele não era ele. Mas não foi homem suficiente pra dizer que estava ficando com o outra prima.

Adalberto: E ela descobriu?

Marjorie: Descobriu.

Adalberto: E quem foi homem suficiente pra contar pra ela?

Marjorie: A irmã do Ezequiel. Ela odeia a gente até hoje.

Adalberto: A família inteira do Ezequiel resolveu ir a festa?

Marjorie: Pois é. Quando a Lu foi tentar bater na Ane, eu peguei a irmã do Ezequiel de jeito. Aí, eles meio que se meteram, uns caras vieram me defender a pista de dança virou um campo de batalha.

Adalberto: Jesus!

Marjorie: Eu sei que até a mãe do Ezequiel apareceu por lá. Foi buscar os filhos.

Adalberto: Esse povo com 30 anos na cara pede pra mão buscar na festa.

Marjorie: Adal, eles não tinham condições de andar.

Adalberto: E por causa desses idiotas vocês não estão se falando?

Marjorie: Eu não quero mais saber da Lu. Ela me agrediu. E a Ane foi uma omissa. Só apareceu, quando não tinha mais como escapar.

Adalberto: Só uma curiosidade: vocês foram fantasiadas de quê?

Marjorie: Diabinhas.

Adalberto: Ah, tá.

Nesse caso, eu não sei se foi a fantasia que influenciou a pessoa ou se foi a pessoa que influenciou a fantasia.

No Dia de Finados, estávamos eu, Sara e as diabinhas, acendendo vela pro vô Jerônimo. Elas choravam e se abraçavam em frente ao túmulo do vô, como nada tivesse acontecido dois dias atrás. Pareciam uma santas.

domingo, 31 de outubro de 2010

Garçom incompetente recebe mais do que 10% da Lu

Acordei bem hoje, depois de uma discussão feia com um garçom, ontem, num jantar com a Lu. O cara atendeu a gente mal pacas, demorava e ainda trazia coisa errada. Eu, que não sou de ficar reclamando, puni o cara na hora da conta. Não paguei os dez por cento! O cara ficou fulo da vida e só faltou me matar. Enfim, não sei por que me prolonguie tanto, falando desse idiota. Isso já é passado, e eu vou à praia agora com a Lu:

Lu: Alô.

Adalberto: E aí, bonitona, tá pronta?

Lu: Oi?

Adalberto: Vamos a la playa?

Lu: Ah, a gente combinou isso ontem, né?

Adalberto: Foi. Já sei que acabou de acordar. Mas não tem problema. Eu tô saindo de casa agora. Passo aí em 40 minutos.

Lu: Tá.

Adalberto: Beijo!

Lu: Adal!

Adalberto: Fala, baby.

Lu: Eu tinha combinado com o zelador daqui do prédio pra me ajudar a enfeitar a casa pro Natal.

Adalberto: Ah, não. Eu já fiz um pacto com vocês. Ninguém pode começar a viver o clima de Natal antes do meu aniversário.

Lu: Ai, garoto, para com essa bobeira.

Adalberto: Não é bobeira. É que dá impressão de que o ano tá acabando, meu aniversário passou e eu só fiquei mais velho. Se é pra ser assim, não vou ficar mais velho, pronto. É bom que eu paro no tempo com 29 anos. Pra vida toda.

Lu: Ai, garoto bobo. Passa a comemorar o teu aniversário em março. Tá resolvido?

Adalberto: Não. Eu gosto de novembro.

Lu: Tá bom. Mas eu tenho que cortar o cabelo igual ao da Mayana Moura, então, antes de ir à praia.

Adalberto: Hã?

Lu: É que, depois, o salão fica cheio.

Adalberto: Eu não vou compactuar com isso. Você também quer ficar com a cara da Playmobil?

Lu: Não fala assim dela.

Adalberto: Quando ela mudar o corte de cabelo, eu e o Brasil inteiro paramos de falar assim dela.

Lu: Mas eu quero cortar o cabelo daquele jeito.

Adalberto: Não quer nada. Eu não vou deixar. Vou praí agora te amarrar no pé da mesa.

Lu: Não!

Adalberto: Então, se arruma logo e vamo à praia, porra.

Lu: Adal, eu posso chamar a Heidinha?

Adalberto: Ah, não, Lu. Essa garota é muita chata. Só fala de coisa triste. Eu sempre vou pra casa chorando, quando converso com ela, com pena de alguma derrota que ela contou. Depois da discussão feia de ontem, à noite, quero um pouco de paz. Tô indo aí. Beijo.

E deliguei o telefone, sem esperar ela inventar mais um empecilho pra não ir à praia. Mas meu celular tocou em menos de um segundo:

Adalberto: Fala, cachorrinha.

Lu: Adal, não vem.

Adalberto: Por quê?

Lu: Porque não.

Adalberto: Porque não, não é resposta.

Lu: É, sim.

Adalberto: Não é resposta pra alguém da sua idade.

Lu: Mas eu passei a ter 15 anos agora.

Adalberto: Não pode.

Lu: Você não disse que vai ficar com 29 anos a vida toda?

Adalberto: Bobagem. Coisa de criança.

Lu: Eu tô menstruada.

Adalberto: Mentira. Você falou ontem que só ia menstruar daqui a duas semanas.

Lu: Eu trouxe o garçom pra casa.

Adalberto: Hã?!

Lu: Eu trouxe o garçom pra casa, Adal.

Adalberto: Mas eu te deixei em casa.

Lu: E eu peguei meu carro, busquei ele e dormimos juntos.

Adalberto: Lu, não tô acreditando nisso. O cara atendeu a gente mal, quis me matar, porque eu não paguei os dez por cento e você ainda leva o cara pra casa.

Lu: Bobagem. Coisa de adolescente. Ah, ele é um gatinho, vai.

Bati com o telefone na cara dela. Só pra fazer um charme. Não fiquei com raiva dela. Nem um pouco. Das minhas primas, eu espero tudo. Tudo. Mesmo assim, elas conseguem me surpreender. Por essa, eu não imaginava. A Lu acabou dando muito mais do que os dez por cento pro garçom.

Vou à praia sozinho. Fui!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Marjorie sofre sequestro de não dar inveja

Meu cunhado foi trabalhar na Citroen. Isso faz eu me lembrar do dia que eu e a Marjorie fomos fazer um test drive no C3. Ela estava cismada com esse carro. Durante o trajeto, que inicialmente, seria em volta do quarteirão, fortes emoções nos eperavam:

Marjorie: Ele é muito gostoso de dirigir, Adal.

Adalberto: É mesmo?

Mattos: É muito bom esse carro.

Marjorie: Me fala mais, então, dele, Mattos.

Mattos: Meu amor, esse carro dispensa palavras. Olha que maravilha. Vamo voltar agora lá pra loja pra preencher a documentação e, no mais tardar em dois dias, ele vai ser completamente seu.

Marjorie: Oba! Quer dirigir um pouquinho, Adal?

Adalberto: Ai, não, obrigado.

Marjorie: Por que "ai, não, obrigado" e não apenas "não, obrigado"? Não gostou?

Adalberto: Não. Quer dizer, não isso. Gostei. Gostei muito.

Marjorie: Então, eu vou parar aqui no acostamento e você vai levar o carro, sim.

Adalberto: Ai, meu Deus...

Mattos: É bom que se você gostar, já leva um também.

Não sei por quê, mas eu estava com mau pressentimento. Tanto que mal consegui passar a marcha:

Marjorie: Isso é câmbio automático, garoto. Já quer destruir o carro, que eu ainda nem comprei?

Adalberto: Prima, na boa, você sabe que eu não curto muito dirigir. Toma aqui a chave...

Nisso, um cara mega mal encarado se materializa do meu lado:

Ladrão: É um assalto. Me dá isso aqui.

Mattos: Moço, por favor, faz qualquer coisa com a gente, mas não destrói esse carro. Ele ainda nem foi vendido.

Aí, acabou toda a simpatia da Jojô com o vendedor.

Marjorie: Como assim faz qualquer coisa com a gente? Destrói essa porra desse carro, mas me deixa viva. Eu e o meu primo. Com esse aí, você faz o que quiser.

Ladrão: E eu quero saber de homem? Sai todo mundo do carro. Você fica, gatinha.

Adalberto: Moço, por favor, deixa a minha prima...

Ladrão: Quer morrer? Sai!

Adalberto: Ah, tá.

Fui à delegacia com o Mattos, fazer denúncia do roubo e do sequestro. Estávamos desesperados.

No caminho, lembrei que durante um tempo na minha vida, eu eu queria muito ser sequestrado. Tive um amigo do catecismo, da Igreja Católica, o Yanny, que foi sequestrado e, quando a família pagopu o resgate e ele voltou pra casa, parecia que ele era uma celebridade. Na igreja, fizeram até festa pra ele. Eu queria aquilo pra mim também. E pedia muito a Deus pra que também fosse sequestrado. Da mesma maneira que o Yanny. Igualzinho. Mas isso jamais me aconteceu.

No dia seguinte, estávamos eu, Ane, Lu e Sara, entre uma Ave-Maria ou Pai-Nosso -- não lembro exatamente -- quando recebemos a tão esperado ligação do bandido da Marjorie. Ele ligou pro celular da Lu. Medo!

Lu: Quanto? 50 mil? E o cu? Vai querer raspado?

Nisso, a Lu teve um acesso de riso, que deixou a gente meio que nervoso. Eu, particularmente, não sabia se aquilo era muito bom ou muito ruim. Não tinha como existir meio termo.

Depois de horas rindo -- não chegou nem a um minutos, mas meu nervosismo interpretou como horas --, descobrimos que quem tem uma Lu na família não morre pagão:

Lu: Tu é um viadinho mesmo, hein. Tinha que roubar logo a carro com os meus primos dentro?

A Lu é amiga do bandido!

Lu: Passa o telefone pra essa cagona. Vai continuar dizendo que eu tenho que rever as minhas amizades? Te livrei de uma, sua cachorra. Vem aqui pra casa da Ane. Tá todo mundo aqui. Não. O tio Beto foi levar a tia Neide no hospital. A pressão dela foi a mil, quando soube que você foi sequestrada. Hã? Ai, vem logo pra cá, garota. Pega o dinheiro do táxi com o Suvaco. Eu estudei com ele. Ai, vem pra cá, que eu te conto tudo. Beijo.

Adalberto: Eu não estou acreditando nisso.

Sara: Nem eu.

Ane: Muita sorte, né?

Adalberto: É? É... Até que é, sim.

Lu: Claro que é. O Suvaco é apaixonado por mim. Se eu contar pra você o que esse homem já fez por mim, vocês caem pra trás. Eu estudei no prezinho, a tia Neide conhece a mãe dele, Adal. Já teve até Linha Direta com ele. Ele casou com uma piranha lá de Engenho de Dentro, mas me ama até hoje. Aquele cordão bonito que eu tenho de ouro com uma pedrinha vermelha foi ele que me deu. Sabe no dia da festa do Dia das Bruxas do ano passado, quando faltou luz? Aquilo foi tudo coisa dele. Vocês acreditam que ele foi capaz de...

A Lu não parou mais de falar. A minha mãe chegou do hospital com o meu pai, o Oswaldo chegou do trabalho, minha irmã, o Eduardo e o Diego também foram pra lá ver a Marjorie, mas a falação da Lu, sobre as suas aventuras com o Suvaco, foi tanta que conseguiu ofuscar o retorno da Marjorie. A gente estava tão entretido nas histórias, que mal cumprimentamos ela. Esse sequestro não foi tão legal como o do Yanny. Assim, eu não quero.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sara celebra o seu Dia da Mentira em pleno outubro

A Sara me ligou ontem pra me dar uma semi ótima notícia:

Sara: Arrumei um emprego.

Adalberto: Que legal, Sarita. Onde?

Sara: Numa empresa de engenharia.

Adalberto: Na sua área?

Sara: Não. A vaga é pra recepcionista, mas eu tenho possibilidade de entrar no Meio Ambiente.

Adalberto: Ah, bacana. Quando você começa?

Sara: Nunca.

Adalberto: Como assim?

Sara: Eu não vou entrar nesse trabalhio.

Adalberto: Por que? Não achou legal ficar como recepcionista?

Sara: Achei. E nem ia fazer questão de entrar no Meio Ambiente. Prefeiro ficar o dia todo sem fazer nada.

Adalberto: Então, porque não aceitou?

Sara: Porque eu falei que o meu nome é Mara.

Adalberto: O quê?

Sara: Quando liguei pra me informar sobre a vaga, descobri que as três recepcionistas que trabalham lá se chamam Mônica, Márcia e Michele, e que a vaga que surgiu era porque a Mirela tinha sido promovida.

Adalberto: E aí você chegou a conclusão louca de que eles só contratam pra recepção mulheres que têm o nome com a letra M?

Sara: É.

Adalberto: E agora?

Sara: Agora, eu perdi o emprego, porque uma das coisas que o meu ex-futuro chefe falou que ela abomina é a mentira. Que ele não perdoa. Por mais boba que ela seja.

Adalberto: Ele tá certo. Mas é uma pena, né? Fiquei triste agora?

Sara: Triste por que, Adal? Eu não te liguei pra lamentar. Eu tô feliz. Consegui um emprego. Fazia anos que não ia a uma entrevista, e vi que eu não tô enferrujada. Se um dia eu precisar, eu tenho condição de conseguir um trabalho. É pra ficar feliz.

Adalberto: Ah, então, tá. Tô morrendo de felicidade agora.

Sara: Que bom. Eu sei que você torce por mim.

Adalberto: Aliás, eu não tô cabendo em mim mesmo de tanta felicidade. Vamo sair comemorar o seu quase futuro novo emprego?

Sara: E você acha que eu tô teligando pra quê, garoto? A Lu tá vindo me buscar pra gente ir pra casa da Ane. Elas fizeram uma festinha pra mim.

Adalberto: Sério?

Sara: Pra que é que eu ia mentir?

Pra conseguir um emprego, ora.

Adalberto: Sei lá. Vou tomar um banho e já saio de casa. Dez minutinhos.

Sara: Beijo.

E viva o Dia da Mentira! Que assim como o Dia do Amigo, Dia das Mães, Dias dos Pais, Dia Internacional da Mulher, Dia das Crianças têm uma data específica, mas nada impede que eles sejam celebrados em durante todo o ano.

sábado, 9 de outubro de 2010

Filha de ex-namorado da Ane deixa aprendizado para a vida

Eu cheguei meio atrasado pra almoçar com a Ane no shopping, mas ela estava tão compenetrada numa conversa com uma menina de, no máximo 13 anos, que fiz o máximo para não incomodar:

Adalberto: Licença.

Ane: Peraí, Adal, não atrapalha.

Apesar disso, me sentei à mesa com elas, porque eu não sou palhaço e não saí de casa à toa.

Lia: Tipo assim, cara, você tem que se valorizar mais.

Ane: Eu sei, mas como?

Lia: Eu não fico ligando pro Andrei toda hora. E, quando eu quero falar com ele, eu dou um toque no celular dele e ele me retorna. Eu não vou ficar gastando cartão do meu celular pré-pago pra falar com homem.

Ane: Mas o meu celular é de conta.

Lia: Amiga, com homem a gente tem que se impor. Não importa se o celular é de conta ou de cartão.

Eu fiquei tão embasbacado com o que estava ouvindo, que até esqueci de pedir a comida.

Adalberto: Vou pedir uma saladinha.

Ane: Adal. Um segundo.

Adalberto: Tá. Um segundo. Passou. Garçom!

Fiquei comendo, enquanto ouvia os conselhos da mais nova amiga de infância da Ane:

Lia: Eu acho que ele gosta de você, sim, mas a partir do momento que você impede ele de ser ele mesmo, você impede que ele goste de você.

Ane: Como assim?

Lia: O meu pai gosta de você de verdade, mas é do jeito dele. Ele não vai abrir a porta do carro pra você, não vai te dar flores, não vai pagar a conta do motel sozinho, não vai lavar a louça da tua casa, não vai te ajudar a fazer compras de mês, não vai te levar pra jantar em restaurante legal, não vai querer ter filhos com você, não vai querer morar na tua casa...

A cara de decepção da Ane era nítida.

Ane: Mas eu tenho como inverter essa situação? Não dizem por aí que o amor transforma?

Lia: Cara, Ane, o teu problema é que você já tem muito definido pra você o que é o amor. O amor é "eu tô contigo, gosto de você e tamo junto pro que der e vier". É claro que o meu pai tem como virar um paga-pau teu. Tem. Mas isso é com o tempo, cara. Vocês só estão há duas semanas juntos.

Ane: Mas você acredita nisso?

Lia: Cara, o meu pai já é homem calejado. Mas, assim, você tem que ser a água mole na pedra dura.

Ane: Ai, Liazinha, eu quero mais objetividade. Por exemplo, ele não fala comigo desde ontem. E, ontem, só falou, porque eu liguei. Eu ligo pra ele?

Lia: De jeito nenhum. O Andrei ficou um dia sem me ligar e sabe o que eu fiz?

Ane: O quê?

Lia: Fiquei o recreio inteiro, conversando com os meninos da minha turma. Ele ficou pra morrer. E eu caguei solenemente pra ele.

Ane: Mas eu não estudo com o seu pai. Não tem como eu fazer isso.

Lia: Amiga, vai pro bar da esquina lá de casa, fica conversando com os bêbados. Quando o meu pai passar, ele vai morrer de ciúme. Aprende com quem sabe.

E a Ane fez isso. Fomo eu e ela prum bar lá no Irajá, na esquina de onde o Ediuéliton mora. Estava rolando um pagode e ela era a mais rebolativa de todas. A Lia se encarregou de subir e botar o plano em prática: contar pro pai que viu a Ane, se acabando no samba na esquina do prédio deles.

Quinze minutos, meia-hora, uma hora, uma hora emeia. Duas horas e nada.

Ane: Adal, não aguento mais sambar. O meu salto já tá gasto, o meu tornozelo foi prosaco e cadê esse homem?

Adalberto: Eu tô achando engraçado. Por tudo o que eu tô vendo aqui, pra mim, já valeu o programa.

As calças com tarracha prata, os apliques de cabelo, as unhas com o esmalte descascando, os blusões abertos na metade, os sapatos brancos, os cordões de ouro, os os cordões de prata, os dentes de ouro, as obturações de dente prata... era tudo muito bom!

Ane: Eu preciso ir embora. Aquele coroa barrigudo.

Adalberto: Qual? O que estava dançando com você?

Ane: Isso. Ele acabou de dizer que só vai embora daqui, quando me comer.

Adalberto: Um bom motivo pra você ligar pro Ediuéliton. Ele pode te tirar dessa.

Ane: Você acha?

Adalberto: Claro. Liga pra ele.

Ane: Meu celular tá descarregado. Me empresta o teu?

Adalberto: O meu tá sem área aqui. Nextel é uma bosta.

Ane: Vamo lá na casa dele?

Adalberto: Acho que, aí, já é demais.

Ane: Vamo comigo, Adal. Eu preciso dizer pra esse homem que eu o amo.

Adalberto: Bora, então.

Lá, demos de cara com a Lia.

Ane: Amiga, não aguento mais esperar. Preciso dizer pro teu pai que eu o amo. Você falou com ele?

Lia: Falei.

Ane: E ele?

Lia: Ele quer matar você. Ligou pra favela e parece que tem um cara armado indo lá pro bar dar tiro em geral.

Ane: Como assim? E você não me avisa?

Lia: Eu dei um toque no teu celular, mas deu desligado.

Adalberto: Vambora daqui!

A Ane ficou sem palavras, a Lia ficou com a cara de idiota que ela já tem e, que fiquei morrendo de medo de morrer, puxei minha prima pelo braço e descemos pela escada do sexto ao térreo. Até agora me pergunto por que não fomos de elevador. Seria bem mais rápido.

Nunca mais tivemos notícias do Ediuéliton. Chegamos a comprar um jornal popular no dia seguinte, pra ver se tinha alguma notícia de assassinato em massa num bar de Irajá. E nada.

Outro dia, estávamos conversando sobre isso:

Ane: O Ediuéliton não acrescentou nada na minha vida, né, Adal?

Adalberto: Ele, não. Mas, graças à filha dele, você aprendeu que, com homem, é preciso se impor. Não importa se o celular é de conta ou de cartão.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Marjorie namora com o presente falsificado do meu colega de trabalho

No dia do desfile de uma grife, que ter modelos usando as bolsas da Marjorie, a Lu me ligou:

Lu: Ai, sei lá, não tô a fim.

Adalberto: Mas de ontem você falou que estava louca pra ir.

Lu: Pois é. Dois loucos não se bicam.

Adalberto: De quem você tá falando?

Lu: Do Loco Abreu.

Adalberto: Como assim?

Lu: O namorado da Marjorie, garoto.

Adalberto: Caramba, Lu, me dá, então, o seu convite?

Era aniversário de um colega de trabalho uruguaiano, o Javier, que é fanático pelo Loco Abreu. Ele ia amar conhecer o jogador. Um presentaço pra ele.

Ele se atrasou um pouco pra se arrumar, e nós chegamos ao fim do desfile. No começo do coquetel. Foi difícil encontrar a Marjorie, em meio a tanta gente. Mas conseguimos.

Marjorie: Achei que você ia embora sem falar comigo.

Adalberto: Tá maluca?

Marjorie: Você é doido.

Adalberto: Pois é, falando em doido, cadê o Loco?

A Marjorie deu um sorriso, que, na hora, eu não entendi o que significava.

Adalberto: Ele veio só pra falar com ele. Trabalha lá comigo. Javier.

Marjorie: Oi, Javier, tudo bem?

Javier: Todo bem.

Marjorie: Gostou do desfile?

Javier: Muito. Muy lindo!

Que mentiroso.

Adalberto: O Javier também é do Uruguai.

A Marjorie fez uma cara de que "no comprendo", mas dissimulou:

Marjorie: Ah, é? Legal.

Nisso, chega um maluco completamente irritado, empurrando o Javier, que, na hora, estava com a mão na cintura da Marjorie.

Marjorie: Oi, Gui.

Aguinaldo: Vambora agora.

Marjorie: Mas, Gui. Tem um monte de gente querendo.

Aguinaldo: Agora.

Marjorie: Adal, depois eu te ligo.

Adalberto: Tá bom.

Javier: Que aconteceu?

Adalberto: Sei lá. O cara é maluco. Deve ser algum cliente irritado da Marjorie.

Javier: E o Loco Abreu? No veio?

Adalberto: Pois é, ele deveria estar aqui com a Marjorie.

Javier: Vamos procurar.

Adalberto: Vamo. Vamo, sim.

Depois de uma hora rodando o salão, decidi ligar pra Marjorie:

Adalberto: Amore, eu sei que você disse que me ligaria, mas é que eu já tô há mais de uma hora com o Javier, procurando o Loco. Ele veio?

Marjorie: Que Loco, Adal. De que Loco que você tá falando?

Adalberto: Do seu namorado, ué.

Marjorie: Ai, vai se catar.

E desligou o telefone.

Javier: Que aconteceu?

Adalberto: Caiu. Deve ter acabado a bateria.

Javier: Que pena! E ahora?

Adalberto: Ai, Javier, você me desculpa, mas...

Javier: No, no. Todo bem. Sem problema, sem problema.

Adalberto: Vou só ligar pra Lu, minha outra prima. Ela me garantiu que o Loco viria.

Javier: Sem problema, sem problema.

Adalberto: Alô, Lu. Então, amoreca, você não disse que o Loco viria? Como é que você tem certeza disso? Estilista? O Loco é estil...

Fiquei ouvindo a Lu me explicar que o Loco Abreu não era bem quem eu imaginava. O Loco Abreu, na verdade, se chama Aguinaldo Abreu e é estilista da grife que desfilou com as roupas bolsas da Marjorie. Loco Abreu foi o apelido maldoso, que a Lu deu pra ele.

Devia ser o cara maluco, que veio cheio de grosseria, arrastando a Marjorie embora. Eu lembro dela ter chamado o cara de Gui.

Lu: Ela chama ele de Gui, sim.

Putz, então, esse é o Loco da Uruguaiana. O Loco pirata.

Adalberto: Tá bom, então, babe. Beijo.

E agora? Como falar pro Javier, que deixou comemorar o aniversário com a família, pra conhecer o Loco Abreu? Mentir pro bem não é pecado. Alguém, que eu não lembro quem, me disse isso.

Adalberto: Javier, o Loco teve que ir pro Uruguai às pressas. A vozinha dele tá mal.

Javier: Oh, que pena! Que pena!

Adalberto: Desculpa.

Javier: No, no. Sem problema, sem problema.

Adalberto: Vamo tomar um chopinho lá fora, então? Hoje eu não tô pra essas comidas chiques, que não enchem barriga.

Javier: Vamos, claro.

Eu já não sabia mais quantos chopes nós tínhamos bebida, mas ainda não estava louco o suficiente pra não saber que era o Loco Abreu, que acabava de entrar no bar em que estávamos, acompanhado de uma louraça:

Javier: Mira, se yo não soubesse que Loco foi pra Uruguai, ia hablar com aquele hombre, pensado ser Loco.

Eu ri de nervoso pra não chorar.

Adalberto: Vamo embora? A gente já tá muito louco. Tamo até tendo visão. Isso não é bom.

Javier: No, no. A música ao vivo vai começar agora. E yo vou cantar pra ti, meu amigo.

Ai, não acredito. O Javier estava tão bêbado, que, quando o cantor agradeceu a presença ilustreo do Loco Abreu, ele achou que o cara também tinha bebido.

Javier: Mira, que louco! Bebeu mais que nós!

Adalberto: É.

Javier: Voy cantar o Hino de Uruguai. Conoces?

Claro que não!

Adalberto: Acho que não.

E ele foi lá. A pro meu desespero, o Loco foi cantar com ele. Até que foi engraçado ver o Javier abraçado ao Loco Abreu sem ter a menor noção de que estava ao lado do seu maior ídolo.

Mas, no dia seguinte, no trabalho, o esporro que eu ia tomar do Javier não ia ter a menor graça. Cheguei a pensar em inventar uma doença. Mas eu sou caxias; detesto faltar trabalho. Fui assim mesmo.

E fui recebido com festa pelo Javier.

Javier: Amigo, cheguei a ficar com raiva de ti, mas passou, passou. Estoy famoso. Obrigado pot tudo.

Isso, ele falou na frente de umas 300 pessoas. Eu estava completamente sem graça.

Adalberto: De nada.

Esse mundo é muito louco...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ane revive experiêcia simplória

Outro dia, fui com a Ane à casa de uma amiga nossa de infância, a Marcela. Ela estava meio tristinha pelo término de um namoro relâmpago e precisava desabafar com a amiga. Na visita, sem querer, pegamos duas ladras pelo pau, com a licença para o trocadilho:

Marcela: Ela vende tudo o que vocês podem imaginar. Ela tá precisando tanto. Coitada. Fico com pena.

Adalberto: O lance é que eu tô duro. Bati com o carro e morri numa grana com a franquia do seguro, que não estava no meu orçamento.

Marcela: Mas ela deixa parcelar.

Ane: Vamo ver, Adal. Você não é obrigado a comprar nada.

Adalberto: Eu sei. Mas eu detesto frustrar a expectativa de uma pessoa.

Marcela: Mas quem trabalha com vendas tá acostumado com isso.

Ane: Também acho.

Adalberto: O lance é que ela não trabalha com vendas. Ela trabalha com faxina.

Ane: Mamá, chama logo a moça aqui, antes que eu dê na cara desse garoto? Tá me irritando já.

A empregada da Marcela, a Carmen, tinha tralha pra vender que não acabava mais. O pior é o que eu já imaginava: nada me agradou. Ainda bem que a Ane gostou de um celular. Parece que ira igual ao do... Esqueci o nome do carinha:

Ane: Simplório.

Adalberto: Isso! Posso mexer?

Carmen: Pode sim, senhor.

Fiquei fuçando tudo. Tenho essa mania. Quando tenho nas mãos um brinquedinho novo, fico igual a um pinto no lixo. Isso, às vezes, não é bom:

Marcela: Que cara é essa, Adal?

Adalberto: Esse celular é novo?

Carmen: É, sim senhor.

Adalberto: Mas novo de zero bala ou novo de segunda mão com pouco uso?

Carmen: O que é zero bala, senhor?

Ane: Novo. Zero bala é o que nunca foi usado.

Carmen: Então, é isso aí, sim, senhora.

Ane: Me dá isso, aqui, senhor Adalberto.

Quando ela olhou a imagem na tela do aparelho, tomou um susto.

Ane: Gente, esse aqui é o pau do Simplório.

Marcela: Como assim? Deixa eu ver.

A maior surpresa veio com o comentário da Marcela:

Marcela: É dele mesmo.

Ane: Como é que você sabe disso? Marcela, você já ficou com o Simplório?

Pela cara que ela fez, sim.

Marcela: Amiga...

Ane: Eu não tô acreditando nisso. A minha amiga de anos ficou com o cara que eu sonhava em casar. Ladra de homem! E você, sua ladra de celular? Não fala nada? Como é que esse celular chegou até você, sua safada?

Carmen: Eu não sei, não, senhora.

Ane: Não sabe, não, senhora, mas o seu caso eu posso levar pra polícia descobrir. Já a sua vingança, dona Marcela, vira à cavalo. Vou mandar um e-mail hoje mesmo pro Glauco, contando tudo. Vambora, Adal.

O Glauco era o marido da Marcela, que, definitivamente, não devia ter mexido com um homem que já foi da Ane.

Da casa da Marcela, fomos a uma delegacia registrar queixa contra a faxineira. Descobrimos, mais tarde, que a Carmen também era diarista do Simplório. Que mundo pequeno esse!

Adalberto: Tão pequeno que chega a ser simplório.

Ane: Para de bobeira, garoto. Anda logo.

De lá, fomos ao apartamento da Ane, enviar o e-mail pro Glauco, o que, obviamente, acabou com o casamento dele. E, por fim, deixei minha prima na casa do Simplório, onde ela foi entregar o celular e matar a saudade do simplório do Simplório.

No fim das contas, isso tudo foi até bom pra minha prima, que estava sofrendo com o fim de um relacionamento com um carinha, que só queria usá-la. Como os muitos que ela já arrumou nessa vida, né?

Ane: E nada melhor do que curar uma ferida de amor...

Adalberto: Com outro amor que já causou uma ferida, que já cicatrizou.

Ane: Bobo. Eu acho que o Simplório mudou, sabia?

Adalberto: Eu não sei de nada.

Ane: Tá bom, seu chato. Quando eu casar com o Simplório, eu te convido, tá?

Adalberto: E eu vou estar lá no altar, como seu padrinho.

Ane: Acho bom. Agora, deixa eu desligar, que o interfone tá tocando. É ele. A gente vai comemorar um mês de namoro. Beijo.

Esse namoro durou um mês e dois dias.

Ane: O estranho é que anteontem a gente saiu pra jantar, pra comemorar o nosso primeiro mês. E, agora, do nada, ele me ligou dizendo que precisava de um tempo. Estranho, né, Adal?

Estranho, não. Simplório!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os presidenciáveis dos corações das minhas primas

No sábado passado, marquei um chope com minhas primas, mas cheguei atrasadaço, porque estava num churrasco do Rodrigo Procaci e do Bruno Forever, dois amigos da época do colégio. Quando cheguei, elas já estavam na mão do palhaço de tanto beber. Com exceção da Sara, claro:

Lu: Isso são horas?

Marjorie: Achei que fosse furar com a gente.

Ane: Quando ele tá com os amiguinhos do Martins é sempre assim.

Adalberto: Ninguém tá bebendo?

Marjorie: Eu acabei de pedir mais uma rodada.

Adalberto: Pediu pra mim?

Lu: Claro que não, seu tratante.

Ane: Garçom!

Com os copos devidamente a postos e a consciência perdida, elas revelaram o critério de escolha para votar no candidato a presidente do Brasil. Ah, fui eu quem começou com esse assunto. É que, até o momento, eu não sabia em quem votar:

Marjorie: A gente acabou de decidir isso, Adal.

Adalberto: Mas aqui? Num bar?

Ane: E daí?

Adalberto: Não, ok.

Sara: Adal, mas pelamordedeus, não comenta nada com o Oswaldo, hein.

Na hora, eu não entendi o porquê.

Adalberto: Tá. Então, vocês chegaram a um consenso?

Marjorie: Mais ou menos.

Adalberto: Por que mais ou menos?

Lu: Eu vou votar no Plínio.

Adalberto: Sério?

Lu: Tô falando...

Adalberto: O cara não tem nem um por cento das intenções de voto. Por que isso?

Lu: Por causa do Philipe de Souza Oliveira Lemos.

Adalberto: Como assim?

Lu: Philipe de Souza Oliveira Lemos. PSOL. O partido do Plínio.

Adalberto: Mas quem é esse Felipe?

Lu: O meu primeiro amor.

Adalberto: Mas Felipe não é com éfe?

Lu: Não. O dele é com pê agá.

Adalberto: Você vai fazer uma homenagem pra lee na hora de votar pra presidente?

Lu: É.

Que loucura!

Adalberto: Que criatividade!

Ane: O meu voto é pro... Como é que é o nome do cara mesmo, hein?

Marjorie: Serra.

Adalberto: Você esqueceu o nome do cara que tá bombando nas pesquisas?

Ane: Ah, tô nem aí. Tô bêbada. Cala a boca. Deixa eu falar. Vou votar no Serra, por causa do... Como é que é o nome do safado?

Sara: Pedro Sandro Dantas Braga.

Adalberto: Mas não foi você que namorou com o Pedro Sandro.

Sara: Eu sei. Mas aquele safado não merece homenagem minha.

Ane: Merece minha. Quando a Sara terminou com ele, eu bem tirei umas casquinhas. Nossa, inesquecível, Adal.

Adalberto: É... Tô vendo.

Marjorie: Eu vou votar na Dilma.

Adalberto: Você? Você odeia a Dilma. Outro dia, estava fazendo campanha no Facebook contra ela. Tá louca?

Marjorie: Tô. Vou fazer essa merda pelo Paulo Tavares. Lembra dele?

Adalberto: Não.

Marjorie: Aquele chinês que eu namorei, Adal.

Adalberto: O único chinês que você namorou se chamava Yang Jun Zhu? E não Paulo Tavares.

Marjorie: Você não lembra que, quando veio aquela chinesada toda, cada um deles tinha um nome de um dos apóstolos e o sobrenome do gerente de área lá da empresa deles? O do Yang ficou Paulo Tavares.

Adalberto: Nossa, faz tanto tempo. Eu não lembro nem o que eu comi lá no churrasco do Procaci agora...

Lu: Carne! Você não come ave.

Eu estava tão chocado. Até a Marjorie entrou nessa da Lu e da Ane. Até esqueci que, quando vou a um churrasco, só como carne.

Adalberto: É. Comi carne mesmo. Só carne.

Ane: Que cara de bobo é essa, garoto?

Adalberto: Nada. É a minha cara.

Mal sabia eu que ela ainda ia ficar pior.

Sara: Seguindo essa linha, o meu voto vai pra Marina.

Adalberto: Como assim seguindo essa linha? Que linha? Não tem linha nenhuma aqui. O que tem é gente perdendo a linha.

Lu: Lógico. Cu de bêbado não tem dono.

Ane: Nem linha.

Elas estavam morrendo de rir. Mas a minha ansiedade em ouvir a Sara me fez não achar graça nenhuma.

Sara: Adal, eu vou votar na Marina, por causa do Pablo Vasconcellos. Se esse cara me liga agora, eu largo tudo e vou morar em Londres com ele.

Meu Deus! Ela nem bêbada estava. E o Oswaldo? Agora, entendi, porque ela falou pra eu não contar nada. Ela nunca tinha falado sobre isso comigo. Que momento mais desapropriado!

Lu: Olha a cara desse garoto, gente. Eu vou bater uma foto disso.

Ane: Bate. Eu vou fazer um quadro dela pra espantar os mosquitos lá em casa.

Marjorie: Vai ser mais eficiente do que essas raquetes malditas, que vendem nos sinais.

Realmente. Com a cara que eu estava, o mosquito, de longe, ia se estribuchar no chão de susto.
Ainda bem que vieram outras rodadas de cerveja e, dali a uma meia-horinha mais ou menos, eu já estava rindo de tudo. Com uma cara bem melhor. Cheguei até a pensar em quem eu votaria pra presidente, segundo os critérios de escolha das minhas primas. Mas não deu em nada. E eu saí dali com a firme certeza de que votaria nulo.