quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Os "Born in the USA" acabam com o noivado da Marjorie, mas é vaquinha de estimação que paga o pato

Eu, Lu, Ane, Sara e Oswaldo fomos lá pra Caixa Prego, passar o último fim de semana na fazenda do ex-noivo da Marjorie, o Elymaciel. A ocasião era de festa, afinal, eles iam ficar noivos:

Marjorie: Tô feia? Tô me achando tão feia.

Adalberto: Ah, para! Feio é o Elymaciel. Você é linda.

Marjorie: Não fala assim do meu bebê.

Adalberto: Marjorie, eu tô te desconhecendo. Se não fosse namorar um cara velho, feio e cheio de filhos, ainda me chama o cara bebê?

Marjorie: Qual o problema?

Adalberto: Isso eu não permito. Jojô, você não acha esse noivado muito precipitado, não? Você se conhecem não tem nem um mês.

Marjorie: Garoto, vai logo se arrumar. Eu já tô, praticamente, pronta.

Adalberto: Ué, eu tô arrumado.

Marjorie: Com essa roupa? De bermuda surrada?

Adalberto: Bonitona, você esqueceu que a gente tá numa fazenda?

Marjorie: Ah, não. Pro meu noivado você não vai assim, não.

Adalberto: Mas tá tudo mundo muito simples. O Oswaldo também tá de bermuda surrada.

Marjorie: Não acredito.

Adalberto: A Sara e a Ane estão bem básicas também. E a Lu, se você vir a roupa dela, você cai pra trás.

Marjorie: Adal, vai lá agora e manda todo mundo trocar de roupa. Quero todo mundo arrumado. Não quero roupa de gala. Quero roupa de festa numa fazenda. É isso que eu quero. Só isso.

Pra ela que é estilista é fácil falar isso. Roupa de festa numa fazenda. Como é que é essa porra? Eu não sei.

E, pelo visto, as meninas também, não. Ninguém acertou. A gente pagaria muito menos mico, se fôssemos com a roupa que estávamos antes, porque TODO MUNDO foi bem basicão. Me senti um peixe fora d'água num cardume sem-noção com as minhas outras primas e o Oswaldo.

Ane: Se eu pudesse, ia embora agora.

Sara: A impressão que eu tenho é que tá todo mundo rindo da nossa cara.

Lu: Eu tô aqui puta da vida.

Adalberto: Eu falei que a gente tinha que vestir o que a gente trouxe. Vocês inventaram de ir em lojnha aqui nesse fim de mundo comprar roupa. Bem feito pra vocês. Bem feito pra mim também, que entrei nessa onda errada.

A Marjorie ficou decepcionado com o nosso look. Mas das duas uma: ou cagávamos solenemente pra ela ou mandávamos ela tomar no cu. Escolhemos por cagar solenemente pra ela.

Quando os filhos do Elymaciel chegaram, com as roupas adequadas pra ocasião, ela veio jogar isso na nossa cara:

Marjorie: Era assim que vocês deviam ter vindo. Isso que é roupa de festa na fazenda.

Respondemos um "ah, tá" sem a menor emoção. Melhor assim. Poupamos ela de um estresse bobo, já que o pior ainda estava por vir.

Sara: Legal que os filhos do Elymaciel vieram dos Estados Unidos, só pro noivado da Marjorie, né primo?

Adalberto: É. Legal também que eles vieram com a roupa certa, né? Já vão ficar bem na fita com a madrasta.

De repente, a confusão. Foi um quebra-quebra de cadeira, um voa-voa de garrafa, um puxa-puxa de cabelos, que dava até pra compor uma letra de foró. Quebra-quebra, voa-voa, puxa-puxa...

Brincadeiras à parte, a íntegra do motivo da farofada, que os filhos do Elymaciel causaram na festa de noivado da Marjorie, eu só fui ter ontem.

O Elymaciel tem oito filhos com mulheres americanas, nascidos e criados nos Estados Unidos. Quando o pai resolveu voltar para o Brasil, eles, com medo de perder contato com ele, passaram a infernizar qualquer relacionamento, em que o coitado se envolve. Eles se despencaram de lá da Pequepê, só pra arruinar o noivado do pai com a Marjorie. Bizarro, né? Mas essa é uma verdade que eu presenciei. Se alguém me contasse, eu não acreditaria. Palhaçada!

Ane: Você pretende fazer alguma coisa com eles, prima?

Marjorie: Não. Eu não sei nem onde eles moram lá nos Estados Unidos. Só tive tempo de aprender o nome deles. E olhe lá.

Lu: Já falei pra tu me passar, que eu peço pra minha vizinha macumbeira fazer um trabalho pra essa gente maldita, com uma galinha preta.

Adalberto: Gente, eu tenho medo dessas coisas. Isso bate e volta. Cuidado.

Sara: Também acho...

Marjorie: Tô cagando. Anota aí, Lu.

Lu: Me passa em ordem decrescente. Do mais velho pro mais novo. Isso é importante. E, se tiver irmão, me fala também.

Marjorie: Tá. É... Renata, os gêmeos Marden e Náira...

Ane: Gêmeos de nomes bizarros. De onde saíram esses nomes?

Adalberto: O da Náira deve ter saído da Nigéria.

Sara: Por quê?

Adalberto: É a moeda de lá.

Ane: Não sabia.

Sara: Nem eu.

Adalberto: Agora, o do Marden deve ser junção de dois nomes, tipo Marcos e Denise. Uma coisa bem cafona de casal que se ama.

Sara: Será?

Adalberto: Eu acho. Existe outro Marden no mundo? Não. Mas eu gostei. Dos dois nomes. Melhor do que Adalberto.

Marjorie: Gente, posso continuar?

Lu: Eu tô aqui esperando, igual a uma retardada. Fala logo.

Marjorie: Ruth, Thiago, Fellipe e as gêmeas Luciana e Luciane.

Ane: Falta de criatividade.

Marjorie: É mas ele chama elas de Latz e Letz. Será que não é melhor botar os apelidos?

Lu: Claro que não. Macumba é coisa séria. Não é palhaçada.

Sara: Poxa, ele tem dois pares de filhos gêmeos.

Marjorie: É. Mas parece que os outros também tinham irmãos gêmeos, mas que morreram por complicações no parto. A Ruth, por exemplo, era irmã da Raquel. O Elymaciel deu esses nomes, por causa da novela Mulheres de Areia. Só lembro, porque amei essa novela.

Ane: Amei essa novela!

Adalberto: Amei essa novela! O remake, claro. Não sou tão velho assim.

Sara: Prima, o Elymaciel perdeu foi filho, hein.

Ane: Tadinho.

Sara: Deve ter sofrido muito.

Lu: Prima, você tinha que ter me falado isso antes.

Marjorie: Muda alguma coisa?

Lu: Claro. Você não sabe que irmãos gêmeos são duas metades, que nasceram separados?

Adalberto: É?

Lu: Lógico, garoto.

Ane: Então, teria que colocar o nome dos bebês que já morreram também, né?

Marjorie: Mas eu não sei o nome de todos. Só o da Raquel mesmo. Mas eu também não quero fazer trabalho pra quem já morreu. Fora que eu não sei se os filhos mortos também iriam querer estragar o meu noivado.

Lu: Claro que sim. Acabei de falar que gêmeos são metades que nascem separados. É tudo igual, da mesma raça. Esses que morreram também não iam valer um centavo de Naira.

Sara: Da gêmea do Marden?

Lu: Não. Da moeda da Nigéria, sua burra.

Adalberto: Sabe o que eu acho?

Marjorie: Fala, primo.

Adalberto: Eu acho que o Elymaciel é que merece um trabalho daqueles. Como é que o cara permite uma confusão daquelas? Vamo aprontar uma com ele. Mas nada de transcendental, não.

Pela cara que a Marjorie fez, ela estava ovulando com o que eu falei. Acho que, o fato do Elymaciel ter tendência biológica a ter filhos gêmeos, pesou muito. A Marjorie nunca gostou de criança, pensava em ter um filho só e olhe lá.

Marjorie: Fala, Adal, qual é a sua sugestão?

Adalberto: Deixa comigo.

Eu gosto de ser bom e prego pela bondade do ser humano. Mas, quando eu sou ruim, eu sou criativo.

Lembrei de uma vaquinha, que o Elymaciel tinha na fazenda, a Meg. Ele costumava dizer que aquela vaquinha tinha um valor especial, que nunca ia matá-la pra comer. Parece que era dela o leite que a vozinha dele tomava. Só dela. Fofo, né?

A vozinha morreu em outubro de 2009. E a vaquinha... Que dia foi ontem mesmo, hein? Não importa. A Meg estava uma delícia. E o Elymaciel, inconsolável.

Mais vale uma vaquinha matando a minha fome, do que uma galinha preta numa encruzilhada.

Pra que desperdiçar uma galinha preta, se a gente pode comer uma vaquinha linda e cheirosa? É, porque, apesar de vaquinha, a Meg era linda e cheirosa. Deu até pena...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Lu é vítima do "Eu sei o que você fez no verão passado"

Há duas semanas, depois de tantas tentativas pra tentar encontrar a Lu, eu, Ane e Marjorie conseguimos marcar um chopinho com ela no bar, a umas três quadras do salão em que ela trabalha:

Ane: Você não é mais nossa amiga.

Marjorie: Nem prima. Porque eu não considero mais.

Lu: Ah, suas putas!

Adalberto: Esse lance de que o Joriael não deixa você fazer nada tá estranho.

Lu: Ai, gente. Pra vocês eu posso falar a verdade. Ele sabe o que eu fiz no verão passado.

Marjorie: Como assim?

Lu: Ele sabe de uma merda que eu fiz.

Ane: Qual?

Lu: Lembra naquela última rave que a gente foi?

A propósito, o Joriael, profissionalmente, atende pela alcunha de DJ Jota Gonzall.

Adalberto: Lembro.

Lu: Eu estava com mó dor de barriga, e aqueles banheiros químicos estava um nojo só. Aí, eu caguei no meio do mato, achando que ninguém estava me vendo. Ele estava por perto, fez uma foto, e, agora, me manipula com isso.

Ane: Que cara ridículo.

Marjorie: E você deixa o cara te manipular, por causa de uma foto?

Lu: Agachada no meio do mata cagando e fazendo cara feia. Deixo, sim. Ele ameaça colar na porta do salão.

Adalberto: Que cara maldito.

Ane: É com essa pessoa que você tá namorando.

Lu: Ele tá se vingando de mim.

Marjorie: Como assim se vingando de você?

Lu: Eu também sei o que ele fez no verão passado. E já manipulei ele por isso.

Adalberto: E por que não manipula mais?

Lu: Porque o que eu fiz no verão passado é mais grave do que o que ele fez no verão passado.

Ane: Desculpa perguntar, mas o que ele fez no verão passado?

Lu: Ai, gente. Não sei se falo...

Marjorie: Fala.

Lu: Se não falo...

Ane: Ah, fala.

Lu: Vou falar!

Adalberto: Ueba!

Lu: Ele foi dançarino de um grupo de lambaeróbica com os primos dele.

Eu não sei se a gente já estava bêbado o suficiente pra achar qualquer coisa mega engraçada ou se a notícia foi mega engraçada mesmo, porque não conseguíamos parar de rir.

Adalberto: Agora, tira uma dúvida: ele tinha algum nome profissional, quando era dançarino de lambaeróbica?

Lu: Claro. Jojô do Swing.

Marjorie: Muito bom.

Ane: Garota, como você descobriu isso?

Lu: Isso tem tempo. Mexendo nas coisas dele, vi uma fita de vídeo do Grupo Swingando e Projetando.

Marjorie: Para! Eu vou morrer de tanto rir.

Adalberto: Eu não tô conseguindo respirar. Vou pegar mais uma cerveja ali, só por causa disso.

Lu: Gente, eu não vou poder ficar. O Jota tá me ligando. Tenho que ir embora.

Adalberto: Ah, não.

Marjorie: Lu, fica!

Lu: Não posso, gente. É sério.

Adalberto: Mas o que você fez no verão passado não é tão mais grave do que o que ele fez.

Lu: Mas eu não quero perder o meu emprego, primo.

Marjorie: Nem ele o dele. Por que você não ameaça ele também? Aí, fica tudo zero a zero.

Lu: Ninguém vai acreditar em mim. A não ser que eu coloque o vídeo dele dançando no telão de alguma festa que ele for tocar. Mas isso é impossível.

Ane: De repente, não. Você ainda tem o vídeo?

Lu: Pois é, nem tenho mais. Ele tem como colar a minha foto cagando na porta do salão e me ferrar, né?

Adalberto: Verdade.

Lu: Preciso ir embora.

Marjorie: Ah, não, prima, fica!

Lu: Não posso. É mais forte que eu. O Jota não para de me ligar.

Adalberto: Jota é o caralho. O nome dele é Joriael.

Marjorie: Amigo de Zé Pequeno.

Lu: Vou nessa.

Marjorie: Não!

Ane: Deixa ela ir.

Lu: Ó, ele vai tocar na semana que vem na Marina do Glória. Só que, agora, eu não consigo mais arrumar entrada vip pra vocês. Ele nunca gostou de vcoês.

Adalberto: Sério?

Marjorie: Mentira. Que escroto.

Ane: A gente vai mesmo assim.

Adalberto: Lógico. Só pra mostrar pra ele, que a gente não precisa de convite vip pra sair.

Lu: Eu vou estar lá. Infelizmente.

Ane: Nós também. Firrmes e fortes.

A Lu nunca gostou de música eletrônica. Nem a Ane. Elas iam pras raves só pra azarar os caras descamisados e loucos. E faziam a festa.

Mas na semana seguinte, na rave que o Jota Gonzall tocou a festa ficou por conta da Ane. Eu não sei como, mas ela conseguiu uma cópia da fita do Grupo Swingando e Projetando e fez uma edição hilária das melhores coreografias, que, na verdade, são as mais bizarras.

Ela só estava esperando o seu momento, quando a Lu surgiu com a oportunidade:

Lu: Oi, primos lindos!

Adalberto: Oi, coisa fofa. Vai aonde?

Lu: Pegar uma cerveja pro Jota.

Ane: Fica aqui, prima. Deixa que eu pego a cerveja do Jojô do Swing.

Eu até senti alguma maldade na Ane, mas jamais imaginava que ela iria colocar alguma coisa na bebida do Jojô, Jota, Joriael...

Ela foi bem estratégica. Mandou um cara que estava extremamento louco e jamais lembraria dela entregar a cerveja pro DJ.

Segundos depois do primeiro gole, o DJ caiu. A Lu, que estava com a gente ficou desesperada, quando ouviu a música parar. Mas foi por pouco tempo.

De repente, começou um hit do Swingando e Projetando sendo projetado no telão, que fica atrás do DJ.

Foi impagável. Geral ficou olhando aquelas imagens e rindo do DJ, ainda magro e com luzes louras. Muito bom!

O segurança que armou tudo com a Ane foi descoberto pelo organizador. Mas ela, que é esperta, fez vários vídeos da galera tomando umas coisas e ficando louca e nada aconteceu com eles.

No dia seguinte, num bar perto lá de casa:

Ane: Imagina, eu sabia o que todo mundo tinha feito no verão passado. Não podiam fazer nada com a gente.

Lu: Garota, mas tu é muito maluca.

Ane: Maluca nada. Sou tua amiga, sua cretina.

Marjorie: Como é que você conseguiu o vídeo do Grupo Swingando e Projetando.

Ane: Fácil. Adicionei um ex-integrante do grupo no Facebook. Dei mole pra ele e, no dia em que fomos transar na casa dele, cuidei de levar esse presentinho pra casa.

Lu: Sua maluca.

Marjorie: Agora, todo mundo sabe o que ele fez no verão passado.

Adalberto: E a foto da Lu? Assim que ele tiver uma oportunidade, vai colar uma cópia na porta do salão.

Ane: Como, se o celular dele tá comigo? O segurança pegou, quando ele foi levado pro serviço de enfermaria. Tá aqui, quer ver?

Lu: Deleta isso!

Adalberto: Não. Antes, deixa eu ver.

Marjorie: Por favor. Eu preciso ver essa foto.

Ane: Olha, gente.

Dessa vez, a gente até que tinha tomado bastante cerveja, mas as nossas risadas histéricas eram justificáveis. A foto da Lu cagando estava muito engraçada.

Lu: Agora, deleta isso.

Ane: Não. Agora, eu sei o que você fez no verão passado. Vou manipular você.

Lu: Ah, sua galinha, eu vou arrebentar a tua cara!

Pronto. As duas começaram a brigar no meio do bar. Foi um quebra-quebra de garrafa de cerveja, que só acabou quando fomos levados pra delegacia. Eu e Marjorie tivemos que pagar pras duas loucas não ficarem presas. E, alguns minutos depois, quando já estávamos sóbrios, tudo voltou ao normal. Lu e Ane já eram melhores amigas de infância. Não é incrível?

Quanto ao celular? No meio da confusão, a Ane nem sentiu que ele caiu. Só estranhamos o fato de a Lu ter virado escravinha de um velho bêbado que estava por lá o tempo todo, prestando atenção na nossa conversa.

Será que, agora, é ele que sabe o que ela fez no verão passado?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Roubo, seguido de mentira providencial, desencoraja Sara do Projeto "Ser feliz em Santo Antônio do Pinhal"

Hoje cedo, eu estava no sinal parado com o vidro aberto (eu sou um idiota mesmo por andar com vidro aberto no Rio de Janeiro), quando a Sara teve a brilhante ideia de me ligar:

Adalberto: Fala, Sarita.

Sara: Adal, você viu a matéria do Bom Dia Brasil?

Adalberto: Não, lindona, eu trabalho, né?

Sara: Eu sei, primo, mas você tem faltado tanto o trabalho.

Adalberto: Eu?

Sara: Você não foi na segunda nem na quarta. Achei que não fosse trabalhar nos dias pares.

Adalberto: Na segunda, eu estava de ressaca e, na quarta, estava passando mal de tanto que eu comi no aniversário do meu pai.

Sara: Então, já vi que, se você ficar sem comer e beber, seu chefe vai lucrar.

Adalberto: Engraçada você, né? Peraí... Pronto.

Sara: O que você estava fazendo?

Adalberto: Parando com o carro.

Sara: Você estava dirigindo, falando ao telefone, é?

Adalberto: Não. Estava parado num sinal. Ele abriu, aí eu parei aqui no acostamento. Mas fala por que você tá me ligando a essa hora, minha coisa preciosa.

Sara: Então, deu no Bom Dia Brasil uma, que Santo Antônio do Pinhal, em São Paulo, tem baixíssimos índices de criminalidade.

Adalberto: E daí?

Sara: O último assassinato que aconteceu lá foi há nove anos, primo.

Adalberto: Mas por que você tá me falando isso?

Sara: Eu vou mudar pra lá. Não quero criar os meus filhos aqui nessa cidade, que a gente vive com medo.

Adalberto: Eu não vivo com medo, amo o Rio de Janeiro e o perigo, graças a Deus, passa longe de mim.

Ladrão: Sai do carro, filho da puta. Perdeu, perdeu.

Caralho, que boca maldita essa minha! Pra que é que eu fui dar conversa pra Sara, parado no acostamento de uma via expressa? Eu pedi, né?

Fiquei estatelado. O ladrão abriu a porta do carro, eu saí, ele tomou o meu celular e levou tudo. Tudo! Minha mochila, com carteira e documentos, papéis do trabalho, o livro que eu estava lendo, que é de um amigo meu e alguns montes de santinhos, dos quais a minha mãe me entope. Os santinhos, que Deus me perdoe, não fazem a menor falta. Na minha casa, com certeza, tem muito mais.

Antes mesmo de chamar a Polícia, liguei pra Sara. Apesar da energia ruim que essa filha da puta atraiu ter sido responsável por essa merda toda, ela tá grávida de três bebês. E, a propósito, os três vão ser meus afilhados:

Sara: Adal, eu tô uma pilha de nervos aqui.

Se tem uma frase que a Sara aprendeu a usar e não parou mais, depois que engravidou, é essa: "estou uma pilha de nervos". Será que a gravidez inteira eu vou ter que ouvir isso:

Adalberto: Calma, meu amorzinho, tá tudo bem.

Sara: Como assim tá tudo bem, Adal? Você podia ter morrido. Meus filhos não iam conhecer o padrinho.

Nossa, que drama. Mas essa Síndrome de Scarlett O´Hara já não é novidade. A Sara sempre foi exagerada.

Adalberto: Graças a Deus nada aconteceu. Você tá bem.

Sara: Tô. Mas você vai comigo pra Santo Antônio do Pinhal. Não dá mais pra ficar nessa cidade.

Adalberto: Sara...

Sara: Você vai, não vai, primo?

Adalberto: Sara, agora, eu preciso ir a uma delegacia. Vamo deixar Santo Antônio do Pinhal pra depois.

Sara: Eu vou pegar um táxi e te encontro.

Adalberto: Tá. Mas traz dinheiro, porque o ladrão levou tudo e me deixou zerado.

O tempo que a Sara demorou pra chegar, eu cancelei meus cartões, o celular e registrei queixa no delegacia. Mas, supreendentemente, quando ela chegou, ao seu lado vinha o safado que me roubou, acompanhado de dois policiais.

Resumindo: a Sara, que tinha me dado azar pela manhã, me trouxe sorte agora, à tarde. Ela não é filha da puta mais, não. Mudei de ideia. É uma linda.

Fui correndo dar um abraço nela, que não entendeu nada:

Adalberto: Brigado, prima, brigado, brigado, brigado. Eu te amo.

Sara: Imagina se eu não ia vir aqui... Você é meu primo e amigo, esqueceu. E eu me senti meio culpada por tudo. Você só foi roubado, porque parou o carro pra falar comigo.

Adalberto: Imagina, você não tem culpa de nada, coisa fofa. O que você tem é uma energia muito da positiva. Tanto que, você chegou junto com o bandido.

Pra que é que eu fui falar isso? Ela ficou tão apavorada e histérica, que quase pariu ali mesmo. A delegacia inteira foi pouco pra ajudar ela se recuperar do pavor.

Quando a tranquilidade se restabeleceu e eu consegui recuperar TODAS as minhas coisas -- inacreditável isso; coisa de bandido inexperiente -- fui contar pra Sara a novidade:

Adalberto: Sabe o carinha que roubou meu carro?

Sara: O que é que tem essa praga?

Adalberto: É de Santo Antônio do Pinhal.

Sara: Mentira.

Adalberto: Viu? Deve ser por isso que o índice de criminalidade é baixo lá. Eles se despencam de lá da caixa prego pra roubar aqui na Cidade Maravilhosa.

Mentira. O cara é de Belford Roxo. Inventei essa história pra Sara só pra tirar o Projeto "Ser feliz em Santo Antônio do Pinhal" da cabeça dela.

Sara: Vamo ficar por aqui mesmo. Aqui, mal ou bem, a gente já sabe onde é mais perigoso, onde é mais tranquilo, onde a gente pode passar, onde não pode... Né, primo?

Adalberto: Claro. Você tá certíssima.

Certíssima!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sara encarna Mulher Maravilha num dia de coincidência e medo

Comi tanto, ontem, na festinha de aniversário do meu pai, que hoje não consegui levantar da cama pra ir pro trabalho. Mas, como alegria de pobre dura pouco, fui forçado a sair da cama por outras circunstâncias:

Adalberto: Alô.

Sara: Adal, tô aqui na delegacia do Méier.

Adalberto: Ai, meu Deus...

Sara: Vem pra cá, que eu tô uma pilha de nervos.

Não é brincadeira, não. Eu conheço quase todas as delegacias do Rio, graças as minhas primas.

Cheguei lá e vi que a Sara estava realmente uma pilha de nervos:

Adalberto: O que aconteceu?

Sara: Aquele safado ali me chaou de gostosa no meio da rua, na frente de um monte de gente. Bati nele com a minha bolsa. A polícia foi ver o que era. Eu falei que ele me desacatou e tentou me assaltar.

Adalberto: Como assim?

Ela entendeu o que estava por trás do meu simples "como assim?".

Sara: Adal, é... Isso é falta de respeito, né?

Adalberto: Mas o cara não tentou te assaltar.

Sara: Mas, se eu não falasse isso, eles não iam trazer ele pra cá.

Adalberto: E você acha mesmo que ele te desacatou?

Sara: Acho.

Adalberto: E daquela vez que a gente passou em frente a uma obra e você reclamou, que nenhum operário te chamou de gostosa, Sarita? Tá com perda de memória recente, é?

Sara: Primo, é diferente. Aquele safado ali não é operário.

Adalberto: E daí? Quem trabalha de terno e gravata não pode chamar uma mulher de gostosa?

Sara: Não uma mulher grávida de três filhos.

Adalberto: Então escreve na sua testa que você tá grávida de três filhos, porque, com dois meses de gestação, não dá pra ver. Eu só acredito, porque você é minha prima. Não ia mentir com uma coisa tão séria.

Sara: Sério?

Adalberto: Claro, Sara. Você não engordou nada. Pelo menos, aparentemente.

Sara: E agora?

Adalberto: Eu vou retirar a queixa.

Sara: Não. Isso vai me desmoralizar.

Caguei solenemente pra moral de uma grávida de trigêmeos com dois meses de gestação.

Adalberto: Delegado, por favor, eu retira a queixa dela.

Delegado: Quem é você pra retirar a queixa dela?

Adalberto: Primo dela.

Sara: Moço, não retira nada, não. Quero ver aquele safado atrás das grades.

Adalberto: Retira, sim.

Sara: Não retira.

Adalberto: Retira.

Delegacia: Olha aqui, meu amigo, eu vou te dar uma resposta educada, mas a minha vontade era te falar outra coisa: você não tem autoridade pra isso.

Adalberto: Sara, se você não retirar essa queixa agora, eu vou ligar pro Oswaldo e contar tudo. Ele vai comer você viva, por ficar expondo os bebês ao risco.

Sara: Moço, retira a queixa.

Fomos direto prum hospital, ver se estava tudo ok com os trigêmeos. Aguentar nove meses na barriga da Sara é uma missão quase impossível pra esses bebês. Só Jesus na causa.

A médica que nos atendeu era uma senhorinha muito da simpática:

Médica: Não faz mais isso. Na gravidez, é preciso repouso.

Sara: Tá bom.

Adalberto: Doutora, a senhora pode repetir esse aviso pra ela mais duas vezes. É que, como são três filhos, uma advertência merece um negrito.

Médica: Claro. São três bebês disputando um espaço que, geralmente, um só ocupa. Se a gente parar pra pensar assim, isso é coisa de louco, né? Três bebês...

Adalberto: Coisa de louco é essa maluca sair agredindo as pessoas na rua. Se achando a Mulher Maravilha...

Sara: Adal!

Médica: Olha, o meu filho tá vindo me buscar. Ele é representante comercial de uma empresa de produtos de gestantes. Sempre tem uma coisinha ou outra na carro dele. Vou pedir pra ele uma lembrancinha pra te dar.

Sara: Ah, brigada.

Médica: Imagina. Mas você vai me prometer que vai se comportar até o fim desse sua gravidez.

Sara: Pometo.

Adalberto: Olha, eu gravei isso, hein. Tá aqui no meu celular.

Mentira. Meu celular mal faz ligação.

Médica: É ele ali.

Mas não era apenas um "ele ali". Era O ele ali. O cara que foi agredido pela Sara. Essa situação, que vai entrar pra minha lista de coinidências fantásticas, só me fez constatar pela enésima vez uma coisa: esse mundo é uma Roda da Skol.

Sara: Preciso ir ao banheiro. Não dá pra segurar.

Médica: Tá, minha filha, vai lá.

Adalberto: Olha, eu vou com ela. A senhora agradece o presente ao seu filho, mas deixa pruma outra hora. Ou então, entrega na recepção que a gente pega.

Médica: Mas, ele já tá chegando.

Adalberto: A dor de barriga tá muito forte. A comida não bateu bem. Eu sabia que ia dar... Merda. Desculpa. Dá licença.

Ficamos escondidos, pelo menos, uma meia-hora na lixeira do hospital.

Sara: Adal, se eu ficar aqui mais um segundo, vou botar os bofes pra fora. Esse cheiro tá em enjoando.

Adalberto: Acho que já dá pra gente ir embora.

Sara: Então, vamo, por favor.

Saímos do hospital, cheirando a estrume. Pro nosso desespero, ouvimos passos rápidos de uma pessoa atrás de nós. Caralho, só pode ser o filho da médica, querendo se vingar da Sara. Fudeu.

Recepcionista: Senhores, senhores.

Sara: Oi.

Adalberto: Que bom que é você.

Recepcionista: Por quê?

Adalberto: Nada. Pode falar.

Recepcionista: A doutora Diléia deixou esse embrulho aqui. Pediu pra entregar pra vocês.

Caramba, a médica fofa deixou mesmo o presente da Sara na recepção. Quero dar um abraço nela agora.

Sara: Brigada.

Adalberto: Quero virar melhor amigo de infância da doutora Diléia. Quero comer macarrão com galinha todo domingo na casa dela.

Sara: Você não come galinha.

Adalberto: É modo de falar.

Sara: Uma linda essa doutora, né?

Linda até a página dois. Quando chegamos na casa da Sara, ainda há pouco, abrimos o embrulho deixado pela doutora na recepção: eram tês mamadeiras. Pelo material, pareciam ser de qualidade.

Tinha um cartão anexado ao embrulho.

Sara: Caramba, ela ainda se deu ao trabalho de escrever um cartão. Que gracinha.

A gracinha estava com a seguinte inscrição: "Que os seus filhos nasçam com saúde e nunca sejam agredidos por malucas no meio da rua. Gostosa".

Medo.

Ane termina namoro pra se livrar de velha marombeira

Anteontem, acordei me sentindo mal, com o corpo todo doído. Nem fui trabalhar. Foi bom pra adiantar as coisas, que ficam acumuladas em casa. E melhor ainda, porque eu não precisei aturar a Dona Cotinha. Quando a Ane me ligou, à noite, ficou passada:

Ane: Vai doente mesmo.

Adalberto: Ah, mas não vou mesmo. E outra: eu não aguento mais malhar com a Dona Cotinha. Ela pega muito pesado comigo.

Ane: Já ligou pra ela pra avisar que não vai?

Adalberto: Ainda não tive coragem.

Ane: Garoto, liga logo pra ela.

Adalberto: Tô com medo. Ainda tem isso, a gente fica apavorado em falar certas coisas pra ela. Tudo ela recrimina.

Ane: Ai, Adal, eu não vou conseguir aturar aquela mulher sozinha hoje.

Adalberto: Vai se acostumando. Eu nõa vou ficar fazendo um tour pelo Rio de Janeiro todo dia pra ser humilhado pela sua sogra.

Ane: Nem pense nisso.

Adalberto: Já pensei. Agora, só falta eu ter coragem pra voltar pra academia daqui de perto.

Ane: Ela vai ficar puta. Vai humilhar você.

Adalberto: Não vai, não, porque ela nunca mais vai me ver. Anita, você me desculpe, mas eu vou dar um sumiço. Gosto do Breman, torço por vocês, mas a Dona Cotinha não dá mais.

Ane: Primo, pelamordedeus!

Adalberto: Ela é pior do que Hitler.

Ane: Eu vou terminar com o Breman.

Adalberto: Como assim? Você ama o cara. Tá louca?

Ane: Também não aguento mais fazer Leg Press 45 com 200 quilos.

Adalberto: Nem me fala. Esse exercício me dá enjoo.

Ane: Outro dia, eu fui vomitar no banheiro escondida.

Adalberto: Sério?

Ane: Foi minha empadinha de frango inteira. Agora, se eu conto pra ela que comi uma empadinha de frango, antes de malhar...

Adaberto: Ela te mata. Ela controla a minha alimentação. Mal chego em casa e já recebo um torpedo dela, perguntando se eu já tomei o meu Whey Protein.

Ane: Eu odeio Whey Protein!

Adalberto: O pior é que eu tomo. Fico com medo dela perceber alguma coisa no meu corpo, que denuncie que eu não tô tomando essa merda.

Ane: Eu também.

Adalberto: Outra coisa: eu não vou correr a Meia Maratona do Rio.

Ane: Adal, eu tô desesperada com isso.

Adalberto: Sem condições. Daquela vez, que ela chamou a gente pruma corridinha, eu achava que, porque ela é velha, não fosse aguentar correr nem duzentos metros.

Ane: A gente correu sete quilômetros, não foi?

Adalberto: Ai, vamo mudar de assunto?

Ane: Vamo.


Adalberto: Não, náo vamo, não. Ane, já que você cogitou a hipótese, preciso te falar: eu dou a maior força pra você terminar o seu namoro com o Breman.

Ane: É o único jeito de eu me livrar da velha marombeira.

Adalberto: Não sei você, mas eu não pretendo me inscrever no próximo Mister Rio.

Ane: E eu não quero virar a Gracyanne Barbosa.

Adalberto: No fundo, no fundo, o que a Dona Cotinha faz com a gente é o que ela gostaria de fazer com o filho dela. Pode ver que o sedentarismo do Breman irrita ela profundamente.

Ane: E ela desconta tudo na gente.

Adalberto: Pois é. E eu entrei numa de te fazer companhia, acabei pagando o pato. Eu não sou nada dessa velha, mas morro de medo dela.

Ane: Me dá uma ideia?

Adalberto: Pra quê?

Ane: Pra termina com o Breman.

Adalberto: Ah, Ane, diz que não dá mais, que acabou, inventa alguma coisa. Eu só sei que amanhã é o aniversário do meu pai e eu quero poder comer bolo, salgadinho, docinho e todas aquelas guloseimas, que só a minha mãe sabe fazer.

Ane: Ai, nem fala. Já tô com água na boca. Vou ligar pra ele agora e já te ligo.

Adalberto: Já sabe o que vai falar? Ane? Ane?

A maluca desligou na minha cara. Foi por uma boa causa. Tá perdoada.

Surpreendentemente, em menos de cinco mnutos, ela me retornou:

Adalberto: Náo acredito. Já?

Ane: Já.

Adalberto: Só pode estar de sacanagem, Ane. Você não terminou com o Breman assim, tão rápido.

Ane: Eu falei pra ele que eu queria que ele fizesse academia comigo. Ele me chamou de filha da puta. Eu disse que puta é a mãe dele. Ele falou que ia contar pra ela. E eu falei que ele estava me fazendo um favor. Matei dois coelhos com uma cajadada só.

Adalberto: Eu sou seu maior fã.

Ane: Vamos lá na casa da tia Neide, ficar lambendo as panelas?

Adalberto: Minha mãe fica puta com isso. Ela odeia quando a gente fica comendo as coisas, enquanto ela tá preparando.

Ane: Ela nao fica nada puta, primo. No fundo, no fundo ela gosta da nossa farra. Puta é a mãe do Breman. Não esquece.

Verdade...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ser burro ou ser incrível, eis a questão

Ontem, saí do trabalho, fui pra academia e, quando achava que ia descansar na minha caminha, descobri que a maratona ainda não tinha nem começado:

Adalberto: Alô.

Ane: Tô passando aí pra te pegar.

Adalberto: E pra onde eu vou? Posso saber?

Ane: Descobri onde o Nando mora.

Adalberto: Quem?

Ane: O carinha pediu pra eu rachar a conta do motel com ele.

Adalberto: O nome dele é Sizennando e a gente já tratou que chamaria ele de Size.

Ane: Os amigos dele todos chamam ele de Nando.

Adalberto: Anita, Size é o máximo que eu posso fazer por ele. Eu sei que ele não tem culpa. Eu também não pedi pra nascer Adalberto.

Ane: Ó, tem uma blitz aqui. Vou desligar. Vai se arrumando.

Em cinco minutos ela chegou lá em casa. Tinha acabado de fazer um despretensioso número dois. Abri a porta enrolado numa toalha:

Ane: Caralho, garoto, vôce ainda não se vestiu?

Adalberto: Não. Eu ainda nem tomei banho.

Ane: Como assim? E essa toalha?

Adalberto: Eu estava cagando, babe.

Ane: Já se limpou.

Adalberto: Mais ou menos.

Ane: Então, bota uma roupa e vambora. Parece que ele sai todo dia por volta das seis e meia e não volta mais.

Às vezes, eu me pergunto se sou muito subserviente as minhas primas... E, nessas horas, sempre me lembro a resposta.

No trajeto para a nossa missão, resolvi tirar umas dúvidas importantes:

Ane: Não. Você tá confundindo as pessoas, Adal.

Adalberto: Ué, não foi o Size que disse que gostou da sua casa, porque ela é grande e tem ar-condicionado.

Ane: Isso.

Adalberto: Que rachou a conta do motel com você e disse não podia viajar com você pra Angra, porque tinha que cuidar ada avó.

Ane: É.

Adalberto: Não foi ele que te pediu pra tirar um Nike doze molas, em vinte e quatro vezes, no cartão?

Ane: Não, garoto. Esse é o Danderneu. Que sustenta a família com auxílio do Bolsa Escola.

Adalberto: Verdade. É tanta mesquinharia e nome estranho, que eu me confundo.

Ane: Como que ele mora num casarão?

Adalberto: Deve ser um filhinho de papai, que não trabalha.

Ane: Filhinho de papai racha a conta de motel.

Adalberto: O pai dele deve ter acabado com a mamata.

Ane: É mesmo. Nem tinha pensado nisso. Você é incrível, primo.

A minha convicção foi por terra, quando paramos em frente ao casarão do Size e o vimos cortando a grama do jardim, bem atrás do carro que saía da garagem.

Ane: Olha lá que fofo. Ele tá trabalhando.

Adalberto: Também acho legal trabalhar. Só não acho legal mentir.

Ane: Adal, como você é burro. Junta uma coisa com a outra garoto. Ele deve ter começado a trabalhar em casa outro dia. Por isso que ele não me ligou mais.

O legal é que há menos de um minuto eu era incrível.

Adalberto: Vamobora.

Ane: Não. Vamo ver se ele vai sair às seis e meia e pra onde ele vai.

Duas horas depois, quando o carro da Ane entrou na reserva, não sei, não... Mas acho que voltei a ser incrível:

Ane: Adal, me empresta cinquenta reais pra eu botar álcool?

Adalberto: Claro. Ane, você não acha melhor a gente parar de seguir esse ônibus. Ele tá indo pra Nova Iguaçu.

Ane: Primo, é uma questão de vida ou morte. Eu preciso descobrir pra onde ele tá indo.

Eu tinha certeza que era pra casa dele. Mas falei diferente:

Adalberto: Ele deve estar cumprindo a rotina de serviço, que o pai passou. Tenho certeza disso.

Ane: Adal, você é mais que incrível.

Porra, então eu sou foda.

Adalberto: Olha ali, ele tá saltando do ônibus.

Ane: Fica aqui. Já volto.

Adalberto: Tá.

Nos vinte minutos até ela ver o Size entrar em casa, a Ane viu ele cumprimentando uns bêbados de um boteco com a maior intimidade. Até aí, nada.

Viu ele parando pra brincar com uns meninos que estavam brincando de embaixadinho no meio da rua. Até aí, nada.

Viu ele pegando uma criança no colo e rodando com ela no ar, assim como os nossos pais faziam com a gente. Mas até aí, nada.

E, quando ele colocou a criança no chão, e tascou um beijo na boca de uma mulher, acho que a Ane constatou que, quando ele me chamou de incrível, eu, na verdade, estava sendo burro. E vice-versa.

Na trajeto pra casa, o silêncio foi absoluto. Eu não arrisquei fazer qualquer comentário. Não estava com paciência pra ser chamado de burro. Nem de incrível.

Só quando a Ane me deixou em casa, voltamos a esse tipo de comentário:

Ane: Pode dizer que eu sou uma burra.

Adalberto: Você é incrível.

Mentira. Ela é uma burra.

Ane: Te amo, tá?

Tadinha. Ela é incrível, sim.

Adalberto: Também te amo, minha coisa preciosa.

Ane: Dorme com os anjos.

Adalberto: Pode deixar.

Saí do carro e me dei conta que estava desde a hora da academia sem tomar banho. Nesse ínterim, rolou um número dois com direito a más condições de assepsia e tudo.

É nessas horas que a gente quer que os elevadores tenham dispositivos de volocidade. Eu queria muito me teletransportar pro meu chuveiro. Mas o elevador lá de casa anda na velocidade cinco... Do créu. Foi só eu entrar nele que... Créu! Deu tempo de faltar luz no trajeto até o oitavo andar.

Três horas depois, consigo pisar dentro de casa. Tomo o meu banho e vou dormir... me achando incrível.