sábado, 29 de setembro de 2012

Festa de aniversário dos trigêmeos da Sara acaba num lugar bem escondidinho

Há mais ou menos um mês atrás, a Sara se deu conta de que faltava muito pouco para o aniversário dos trigêmeos e de que nada havia sido feito até então. Ela veio até a minha casa me cobrar atitude, como se eu fosse o pai das crianças.

Sara: Em caso da falta de um pai, é o padrinho que assume a responsabilidade.

Adalberto: Mas os seus filhos têm um pai, que, por sinal, dorme todo dia ao seu lado, na cama. Por que você não cobra atitude do Oswaldo?

Sara: Esquece o Oswaldo, Adal. O pai para essas coisas é você.

Adalberto: E o que você quer que eu faça?

Sara: Que você me ajude com os preparativos da festa das crianças, ué. Falta um mês.

Adalberto: Lindona, vamos fazer o seguinte: a Ane trabalha para o pai e tem mais flexibilidade em tirar dias de folga. Vai agilizando as coisas com ela que, daqui a dez dias, vencem as minhas férias e eu vou ter todo o tempo do mundo para te ajudar. Está bom assim?

Sara: Perfeito.

Perfeito nada. Essa foi a maior merda que eu fiz na minha vida. A Ane, viajandona do jeito que é, daquelas que acredita em qualquer coisa que falam para ela, fez a cabeça da Sara para fazer uma superprodução para os trigêmeos, porque já que o mundo vai acabar no dia 21 de dezembro de 2012, conforme o calendário maia, essa seria a única festa de aniversário que eles vão ter.

Dez dias depois, fui me encontrar com elas para ajudar nos preparativos.

Adalberto: E aí, meninas?

Ane: Tudo certo, Adal.

Medo.

Ane: Não precisamos de você mais para nada.

Sara: Como não? E a conta?

Ane: Ah, verdade. Só para pagara  conta.

Adalberto: Mas eu vou pagar tudo sozinho?

Ane: Claro! Padrinho é para isso.

Sara: Mentira, Adal. Ela está querendo te assustar. Você só precisa me dar um milhão.

Eu ri porque, sinceramente, achei que ela estava de brincadeira. Um milhão é algo completamente fora da minha realidade, e que, mesmo trabalhando a vida toda, eu jamais conseguiria juntar isso. E ela sabia muito bem disso.

Ane: Está rindo de quê? É sério, Adal.

Adalberto: Como assim sério? Um milhão eu só conseguiria entrando para o Big Brother Brasil.

Ane: Ah, mais não ia mesmo. Insuportável do jeito que você é? Iam te tirar na primeira semana.

Adalberto: Então, pronto. Nem entrando para a casa do Big Brother Brasil eu conseguiria um milhão. Sara, isso é brincadeira, né?

Sara: Não, Adal. É sério. A conta ficou em dez milhões. Dividimos entre mim, você, Ane, Oswaldo, Marjorie, Lu, tia Neide, tio Beto, Camila e Dudu.

Adalberto: Como assim? As pessoas já sabem disso?

Sara: No caso... Não.

Adalberto: Sara, que loucura é essa? Por que você fez isso? Você está usando droga?

Sara: Adal, o mundo vai acabar no dia 21 de dezembro. Essa vai ser a única festa que eu vou poder fazer para os meus filhos.

Adalberto: Quem falou isso?

Ane: A Ane.

Adalberto: Ane, que loucura é essa?!

Ane: Alto lá! loucura, não! Isso é calendário maia. Filme "2012". Você não viu, não?

Adalberto: Não! Eu prefiro nem ver essas baboseiras. Não acredito nessas coisas. O homem não é Deus para dizer quando o mundo vai acabar. Sara, me admira você, que é tão temente a Deus, acreditar numa loucura dessas?

Sara: Ah, Adal, desculpa.

Adalberto: Desculpa, não. Você tem um milhão de reais na conta? Responde!

Sara: Não.

Adalberto: E você, Ane? Tem?

Ane: Não. Mas o meu pai tem. E ele pode me emprestar.

Adalberto: Ah, legal isso. O meu pai não tem. E mesmo se ele tivesse, ele não ia poder me emprestar, porque ele também vai ter que pagar um milhão para esse capricho de vocês duas. Olha, a pior coisa que eu fiz na minha vida foi pedir para a Sara resolver os preparativos dessa festa contigo. Você é doida! Aliás, vocês duas são doidas!

Sara: O pior é que não tem nem como voltar atrás, Adal. Já fechei com todo mundo.

Adalberto: Todo mundo quem? Com quem você fechou essa palhaçada?

Ane: Com a Xuxa, a Angélica, o Luciano Huck, o Faustão, o Serginho Groissman, a Ana Maria Braga, a Mara Maravilha, a Eliana, a Mariane, a Paty Beijo, a Maísa, o Rodrigo Faro, o Datena, o Ratinho, o Leão, o Leão Lobo, a Sônia Abrão, a Hebe, a Fátima Bernardes, o William Bonner, a Patrícia Poeta, a Ana Paula Padrão, o Didi, aliás, a turma inteira do Didi, o Bozo, o Topetão... Ai, é tanta gente... Cansei. Fala para ele o resto, Sara.

Adalberto: Não, não precisa! Não precisa falar o resto. Eu já vi que vocês, realmente, são duas loucas. Eu vou ligar para um hospício agora e pedir para virem buscar vocês agora! Vocês têm que ser amarradas com camisa de força! Como é que você faz uma coisa dessas, Sara?

Sara: Adal, você sabe que eu nunca gostei de nenhuma apresentadora infantil. Eu fui a todos os programas e nenhuma nunca me chamou para brincar.

Adalberto: Então, pronto! Você chamou um monte delas por quê?

Sara: Porque só pagando que elas não vão me desprezar. Só assim elas vão olhar para mim, falar comigo.

Caramba, fiquei com uma pena da Sara. A loucura dela não estava embasada no calendário maia. Mas num trauma de infância.

Adalberto: Ô, Sarita, vem cá.

Dei um abraço apertado nela e não consegui falar mais nada. E com base no calendário maia, no trauma da Sara e outros tipos de chantagem emocional, ajudei-as a contar para o resto da família sobre essa bomba.

E não adiantou nada. Todos quiseram matar a Sara. Até a Ane já estava meio arrependida da merda que tinha feito. Mas, agora, eu é que estava empenhado nessa causa. Eu sei o que é um trauma de infância. Eu não como ave, porque, quando era bem novinho, vi minha tia matando uma galinha para comer. Todo mundo me sacaneia por causa disso, insistem para eu experimentar comer, mas eu não consigo. É mais forte do que eu. Nem se me pagassem dez milhões eu comeria uma coxinha de galinha.

Todos pedimos empréstimos na esperança de que o mundo de fato acabasse no dia 21 de dezembro para não ter que passar a vida inteira pagando prestação. E, uma semana antes, eu, Ane, Lu e Marjorie fomo à casa da Sara para saber o que ela precisava falar com a gente, que era tão urgente.

Sara: Eu mandei fazer essas roupas aqui e nós vamos resgatar o Adalboy e as insuperáveis.

Adalboy e as insuperáveis era o nosso grupo musical. Coisa de criança, mas a gente até que levava a sério. Eu tinha certeza que íamos ficar famosos e viver da música. E as meninas também. A Sandy e o Júnior, que eram mais ou menos da nossa idade, cantavam pior e tinham um repertório bem mais fraco do que o nosso. Não era possível que a gente não ia fazer sucesso. Eu compus mais de 50 músicas. Tudo bem... Tinham umas que só tinham dois versos e vários lá, lá, lá, lá, lá. Mas eram músicas de qualidade. Se fosse hoje em dia, na era do lê, lê, lê, oi, oi, oi, tchu, tchá e todas as outras músicas monossilábicas que fazem o maior sucesso, a gente estaria bombando.

Adalberto: Claro! Nada melhor do que resgatar o Adalboy e as insuperáveis nesse momento! Um monte de gente bacana ia para festa dos trigêmeos.

Lu: Vai que o o Faustão chame a gente para se apresentar no programa dele?

Ane: E a gente explodindo com os nossos hits monossilábicos para todo o Brasil!

Marjorie: Bom, pelo menos, a gente vai ficar ficar rico e ter condições de pagar esses dez milhões.

Adalberto: Lógico! E o mundo não ia nem precisar acabar mais. Nunca mais! Sara, eu adorei essa ideia. Aliás, adorei tudo. Você a a Ane mandaram muito bem em organizar essa festa. Eu amo vocês!

O dia 27 de setembro caiu numa quinta-feira. E a Sara fez questão de comemorar na data.

A Angélica foi me buscar de táxi em casa, e eu achei que isso fizesse parte de alguma apresentação. Quem sabe o Adalboy e as insuperáveis não iam dar uma palinha com o Vou de táxi? Várias coisas se passaram pela minha cabeça, mas eu estava tão nervoso, ansioso e temeroso que não perguntei nada.

Só uma observação: a pinta da Angélica parece maior e mais feia. Prefiro pela televisão.

Cheguei na mesma hora que as meninas. Ane, Marjorie e Lu chegaram em táxis dirigidos, respectivamente, por Mara Maravilha, Eliana e Xuxa. Paty Beijo e Mariane eram as hostess. Achei estranho mas chegar à porta da HSBC Arena me embrulhou o estômago. Eu tinha ensaiado tudo com as meninas, mas ainda assim estava inseguro. Não é a Ivete Sangalo que diz que é normal sentir um friozinho na barriga antes de se apresentar? Artista que é artista sente isso.

Quando entramos, uma coisa me saltou aos olhos: os convidados eram xexelentas, mal vestidos e o pior: fediam mais do que gambá. E o curioso foi ver os outros apresentadores e artistas, servindo a eles.

Adalberto: Sara, o que é que Luciano Huck está fazendo com aquela bandeja cheia de croquete?

Sara: Servindo, ué. Eu contratei ele para isso. Não só ele como todas as outras celebridades. Celebridade hoje aqui somos nós.

Adalberto: E quem são essas pessoas imundas:

Sara: O povo que passa fome e fica zanzando pelas ruas, atrás de saquinho de Come e Damião. Eu quero essa gente de barriga cheia. Hoje, eles vão comer muito. E pelas mãos de quem tem muito. Olha lá que lindo o Faustão servindo quibe naquela mesa! Adoro!

Adalberto: Meus Deus. Como você é cruel.

Sara: Cruel nada, primo. Isso é inversão de valores.

Adalberto: É...

Minha mãe ficou inconformada ao ver o rei Roberto Carlos, recolhendo as latinhas que aquela gente sem educação jogava no chão. E tomou um baita esporro da Sara, porque estava ajudando o pobre coitado no serviço.

Sara: Tia Neide. Para agora de recolher latinha. O Roberto Carlos, o Fábio Júnior e o Chico Buarque estão aqui para isso. O seu lugar é lá em cima! Sentada no camarote. Vai para lá, anda! A nossa apresentação já vai começar.

A minha camareira foi a Marina Lima. Confesso que fiquei meio sem graça por ela. Eu sinto vergonha alheia, não tem jeito.

Era muito artista trabalhando naquela festa. Eu estava assutado. O povo da Tropicália cuidando do som, os Novos Baianos, da luz. Essa gente toda iria me ver cantando! Senti uma responsabilidade e uma dor de barriga fortíssimas.

E na hora do show, quando eu vinha descendo de uma corda, tipo uma tirolesa, que me levava ao centro do palco, me caguei lá do alto e sujei as primas, que estavam embaixo, fazendo a coreografia da primeira música. Todos riram copiosamente. Principalmente, os artistas. O Jô Soares quase morreu de tanto que achou graça da nossa cara. O cara ficou sem ar!

A Sara disse que não era para parar. E continuamos assim mesmo. Todos sujos de merda. O cheiro nem incomodou muito. No lugar já imperava uma fedentina anterior a minha cagada.

O curioso é que parecia que a gente estava agrandando aos xexelentos. Até que acabou a comida. A Sara se preocupou tanto em convidar a nata da classe artística, que não pensou na quantidade certa de comida. Essa gente come...

O Roberto Carlos parou de ter trabalho. Os xexelentos pegavam as latinhas jogadas no chão e tacavam na gente. isso, claro, acompanhado por muitas vaias. A Sara queria continuar. Eu continuei com o show até que fui atingido na altura do supercílio, que sangrava incessantemente. Saí do palco chorando de dor e as meninas vieram atrás de mim. Minha mãe, meu pai, minha irmã, o Dudu, o Oswaldo e os trigêmeos estavam nos esperando no nosso camarim.

Neide: O pessoal está lá fora querendo bater em vocês. Eles querem mais comida.

Sara: Manda a Xuxa ir lá fora agora e trazer todas as barraquinhas de cachorro-quente que ela vir pela cidade. vamos encher essa gente de cachorro-quente!

Neide: A Xuxa quer matar você, Sara. Ela e todas as outras apresentadoras infantis que te desprezaram na infância. Foi maldade o que você fez com o Roberto Carlos. Ele também está furioso! Aliás, todos os artistas estão querendo pegar você. E essa confusão vai espirrar em todos nós aqui. As crianças estão correndo risco e nós também. Eu não quero morrer agora. Até o dia 21 de dezembro, a gente ainda tem, praticamente, três meses.

Adalberto: Olha, arrombaram a porta do camarim. Vamos fugir!

Saímos pelos fundos e entramos no helicóptero alugado em que a Sara. O piloto se negou e levantar voo. Não nos restou outra alternativa, além de dar um soco na cara dele e deixá-lo caído no chão. Por sorte, o meu pai sabia conduzir um helicóptero. Pena que o senso espacial dele não é nada bom. Viemos parar no interior do Espírito Santo, no meio do mato, onde estamos até agora. Depois de dois dias sem comer nada e de andar mais de 30 quilômetros, chegamos a um vilarejo, que tem internet discada. Que glória! Eu não preciso de mais do que isso para escrever para os meus amigos.

Quem puder nos ajudar, o lugar se chama Escondidinho do Jaluru. É bem escondido mesmo. Mas dá para achar. A gente chegou até aqui...

sábado, 22 de setembro de 2012

Consolo para amiga da Sara vale por um tênis caro

Ontem, quando ia buscar meu carro no estacionamento da Cobal do Humaitá, vi minha prima Sara com uma amiga, que estava aos prantos, numa pizzaria. Fui até elas.

Adalberto: Está tudo bem?

Sara: Oi, primo. Essa aqui é a Danusa. Ela está mal, porque perdeu o companheiro dela.

Acho cafona chamar marido/namorado de companheiro, mas isso nem chegou a me incomodar, tamanho era o sofrimento da pobre da Danusa.

Adalberto: Olha, a gente nunca sabe o que falar nessas horas. O que eu te desejo é muita paz para seguir em frente o teu caminho, agora, sem a presença física dele. Mas pode ter certeza que ele vai estar sempre ao seu lado, em espírito.

Danusa: Obrigada. Ele é o amor da minha vida.

Adalberto: Que bom que você encontrou o amor da sua vida. Muita gente passa a vida toda atrás de um e não encontra. E você ainda o tem. Ele não está aqui, mas continua sendo seu.

Sara: Eu falei isso para ela.

Danusa: Sabe aquele parceirão? Ele acordava comigo todos os dias, me acompanhava até o ponto do ônibus e, quando eu voltava do trabalho, ele estava lá me esperando.

Adalberto: Que bacana.
Danusa: Ele ficava em casa o dia todo, mas não fazia bagunça.

O cara devia ser um gigolô, pelo visto, mas aquele não era o momento de fazer juízo de valor.

Sara: Nem agora, no finalzinho da vida, ele deu trabalho, né?

Danusa: Nada, nada.

Adalberto: Ele morreu de quê?

Danusa: Falência múltipla dos órgãos. Mas era por causa da idade mesmo. Ele durou até mais do que deveria.

Caramba, então, o cara não trabalhava, porque já devia ser aposentado. E eu achando que o cara era gigolô. Ô, mente podre a minha.

Adalberto: Olha, então, eu vou te falar uma coisa. Você tem mais é que agradecer a Deus, que deixou ele ficar aqui no mundo mais tempo com você. A gente nunca está preparado para a morte, claro, mas se você mesma está dizendo que ele durou mais do que deveria, você é uma pessoa de sorte.

Sara: O Adal está certo, amiga.

Danusa: Eu sei. Mas é muito difícil.
Adalberto: Eu imagino que seja. Aliás, eu tenho certeza que é. Mas o negócio é transformar essa tristeza em saudade e conformação. E, com o tempo, tudo isso se dilui e só vai ficar o amor. Mas, agora, o que você tem que fazer mesmo é chorar. Chora para deixar ir embora todo esse aperto que você sente dentro.
E a coitada da Danusa soluçava de tanto chorar.

Sara: Adal, você pode levar a gente em casa? O Oswaldo ainda está no trabalho. Vai demorar para chegar aqui. Acho melhor ela ir para casa descansar um pouco. Já estamos há muito tempo na rua.

Adalberto: Claro que levo.

Danusa: Eu tenho que pagar a conta.
Adalberto: De jeito nenhum. Deixa comigo.

Se eu soubesse que a conta daria o valor do tênis, que eu não tive coragem de comprar porque achei caro, eu jamais faria essa gentileza para a viúva chorona. Minha compaixão se transformou em ódio mortal.

Danusa: Obrigada, Adalberto.

Não falei nada, porque, se eu abrisse a boca, ia mandá-la à merda. Que viúva é essa que sente tanta fome, assim, gente? Eu, hein...

Sara: Adal, para aqui no sinal. Minha casa é aqui.

Adalberto: Eu sei. Você não vai deixar Danusa comigo? Eu te deixo aqui depois.

Sara: Não, primo. Os trigêmeos ainda não devem ter dormido e a babá já deve estar morta. Vou ficar aqui mesmo.

Adalberto: Beleza.

Deixei o viúva na porta de casa. Apesar do ódio, fui educado com ela.
Adalberto: Vai lá, querida. Força.

Sara: O pior é chegar aqui é não ouvi-lo latindo.

Como assim latindo?!

Adalberto: A gente estava falando de um cachorro?

Danusa: Sim. Você não sabia? O Tchuco era um cocker spaniel.

Para que eu fui perguntar isso?! Eu sei que muita gente trata bicho como gente e chora copiosamente quando o seu animalzinho de estimação morre. Mas, para mim, bicho é bicho. Eu fiquei triste quando a Charlotte, a minha basset alemão, morreu, mas no mesmo dia, eu fui com uns amigos a uma rave. Minha mãe achou que eu deveria ter ficado em casa, mas eu já tinha comprado a entrada há meses. Fora que eu adorava o DJ que ia tocar. E todos os meus amigos iam...

Olha, eu fiquei vermelho de raiva da Danusa. Se eu tivesse uma arma, mandaria ele para junto do Tchuco. Que ódio de mim por ter pagado aquela conta caríssima da pizzaria no fim do mês, quando eu já estou completamente duro, por pena de uma mulher, que eu achei que tivesse ficado viúva.

Ela entrou em casa, e eu queria ter dito milhões de desaforos para ela. Eu queria ter pedido o meu dinheiro de volta. Eu queria voltar no tempo. Eu queria bater na Sara. Eu queria me matar. Mas, sobretudo, eu queria ter comprado aquele tênis que eu achei caro e não levei.

Voltei para casa chorando de raiva. E morrendo de fome. Abri a geladeira e só tinha pizza. Isso me embrulhou o estômago de raiva. Fui dormir porque era o melhor que eu podia fazer...

sábado, 15 de setembro de 2012

Polícia encontra sujeito que bateu no carro de Ane, que descobre que o serviço já estava pago

Quando a Ane voltou da delegacia, a primeira coisa que ela fez foi me ligar. Ela tinha ido lá, porque encontraram o sujeito que bateu no carro dela estacionado e fugiu.

Adalberto: E aí?

Ane: Ele não vai pagar o serviço.

Adalberto: Como assim? Ele bateu no seu carro, Ane! Isso está errado! Que Polícia de bosta é essa? Eu vou lá na delegacia agora fazer um escândalo!

Ane: Adal, menos! Até parece que você é barraqueiro assim.

Realmente, parecia que eu tinha incorporado um espírito histérico ensandecido.

Ane: O serviço já foi pago. 

Adalberto: Ué, então, é você que está de palhaçada com a minha cara? Tem algum idiota aqui?

Eu continuava escrachado.

Ane: Não, Adal, ele já tinha pagado o serviço mesmo antes de bater no meu carro.

Adalberto: Ah, é? Então, pergunta para ele se o Brasil vai ganhar na Copa de 2014 para eu saber se eu fico aqui ou aproveito os meus dias de folga no exterior... Como que ele pagou o serviço antes?

Ane: O tal cara é o Ademízio, você acredita?

Adalberto: Mentira! 

Ane: Sério. Ele me chamou num canto na delegacia e disse que o serviço já tinha sido pago, porque ele já tinha transado comigo vários vezes sem cobrar nada.

Adalberto: Mas ele transou de graça porque ele quis. Você mesma disse que ele estava pensando em namorar com você. Ia te sair caro essa namoro, hein...

Ane: Ai, Adal, eu preferi deixar para lá, sabe? O Ademízio é meio sinistro, tem uns amigos meio perigosos, mal encarados. E além dele saber muito da minha intimidade, eu tenho medo dele mandar fazer alguma coisa contra a minha família. Esqueceu que ele conheceu você, Lu, Sara e Marjorie? Imagina o estrago...

Morri de medo! Mas contive o cagaço...

Adalberto: É... Melhor deixar para lá mesmo. Quem dá aos pobres empresta a Deus. Pensa assim...

Ane: Verdade... Adal, deixa eu ir lá. O Ademízio chegou aqui.

Adalberto: Ué, o que você vai fazer com ele na sua casa?

Ane: Vou dar para um pobre. E emprestar para Deus.

Adalberto: Ane, você não vale nada. Acabou de dizer que o cara é meio sinistro...

Ane: Disse. Mas ele me ofereceu um programa-cortesia, e eu não vou dispensar. No fim das contas, com essa história de batida de carro, quem está saindo no lucro sou eu, meu bem. Beijo.

Essa só tem carinha de boba...

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Farinha pouca mas deu pirão para Ane e Lu

Hoje, feriado de 7 de setembro, eu podia acordar tarde, porque não trabalho, mas a Ane fez as vezes do meu despertador e acabou com a alegria de um pobre trabalhador em dia de folga.

Adalberto: Fala, Ane.

Ane: É assim que você atende a sua prima mais querida?

Adalberto: Quem disse que você é a minha prima mais querida?

Ane: Ah, não sou?

Adalberto: Bem, depois de me acordar em pleno feriado, acho que você foi para o final da lista.

Ane: Ah, é seu cachorro? Eu só não bato o telefone na tua cara, porque tenho que te pedir um favor.

Adalberto: É só para isso que eu sirvo...

Ane: Adal, você é dramático.

Adalberto: Fala logo o que você quer, Ane. Quero tentar voltar a dormir.

Ane: A Lu está presa lá na delegacia do Méier. Paga a fiança e tira ela de lá, para mim, por favor?

Adalberto: Como assim?

Ane: Ela ficou com um carinha lindo, que a gente conheceu numa festa anteontem.

Adalberto: E eu com isso?

Ane: Depois de tudo o que rolou, quando eles acordaram na casa dela, ontem de manhã, o cara resolveu contar que era um profissional do sexo e que o programa custava dois mil reais.

Adalberto: Mentira! E ela?

Ane: Quebrou um vidro de palmito cheio na cabeça do malandro e foi parar na delegacia.

Adalberto: E por que ela não me ligou?

Ane: O celular dela estava descarregado, e o único número que ela sabe de cabeça é o meu, que é fácil de decorar.

Adalberto: E por que você não me ligou, então? Deixou ela dormir na cadeia?

Ane: Porque eu me esqueci. Tanta coisa na minha cabeça...

Adalberto: Mentira.

Ane: Porque eu acho que ela devia pagar pelo que fez, Adal. Um dia na cadeia vale há anos de aprendizado.

Adalberto: Mentira.

Ane: Porque eu não queria te incomodar.

Adalberto: Mentira! Aliás, essa é a maior mentira da sua vida. Ane, acabaram as suas tentativas de me enganar. Está na hora de falar a verdade.

Ane: Tinha uma festa ontem que eu não queria que ela fosse. Pronto!

Adalberto: E o motivo?

Ane: Adal!

Adalberto: O motivo é homem, claro. Quem é o carinha?

Ane: O Aderbaldo. Se ela fosse, eu tenho certeza que ela ia fazer de tudo para ficar com ele. Ela me contou que é louca para sair com ele. Mas eu já estava de olho nele antes e ela sabia disso.

Adalberto: Isso não justifica.

Ane: Claro que justifica, primo. Farinha pouca, meu pirão primeiro.

Pior é que eu entendo ela. Essa é a lei de selva feminina. O que eu não aceito é essa disputa entre primas que se amam.

Adalberto: Isso não existe, Ane. A Lu é sua prima e, sobretudo, sua amiga.

Ane: Por isso que eu estou te ligando a essa hora de um feriado. Não deixa a minha priminha naquele lugar sujo, Adal. Eu já rezei por ela e tudo.

Pior é que isso me emociona.

Adalberto: Você conseguiu pegar o Aderbaldo pelo menos?

Ane: Consegui. Mas já botei para correr daqui.

Adalberto: Por quê? Não foi bom?

Ane: Foi ótimo. Mas ele quer namorar comigo.

Adalberto: E você não quer?

Ane: Até queria. Mas eu não ia fazer isso com a Lu. Ela também gosta dele e ia acabar se afastando de mim. Eu não vou perder uma prima amiga por causa de homem. Amigo verdadeiro vale mais do que dinheiro, Adal. Quebra essa para mim. Tira ela de lá.

Adalberto: E por que não vai você mesma?

Ane: Ela vai querer me matar, porque eu não a tirei de lá ontem. Você vai falar que eu estou em casa muito doente e que só tive forças para te ligar hoje.

Adalberto: Eu não sei mentir, Ane.

Menti.

Ane: Nem pela amizade das suas primas queridas?

Adalberto: Está bem. Mas é só pela paz na família, hein.

Ane: É por isso que eu te amo, primo.

Quando cheguei à delegacia, a Lu estava saindo da prisão com acompanhada de um carinha. Apurei a história e descobri que o bonitão era o Aderbaldo, que tinha recém-saído da casa da Ane. Que safado! Como ele descobriu que a Lu estava presa? Será que a Ane contou para ele? Será que foi a Lu que descobriu tudo? Será que foi o Aderbaldo que pagou a fiança da Lu? Ou será que tudo isso é uma grande coincidência e não tem nenhuma mente maliciosa por trás disso? Será que sou eu que estou ficando louco?

Me deu preguiça para tentar entender o que aconteceu...

Sabe de uma coisa? Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Fui embora sem eles me verem. E, dessa, a Ane jamais ficará sabendo. Assim, como a Lu jamais saberá o que a Ane esteve com o Aderbaldo no dia anterior e deixou-a para trás. E paz permanece na família.

Tudo pela amizade das minhas primas queridas!

sábado, 1 de setembro de 2012

Marjorie perde contrato milionário com artista plástico, mas viva Neil Armstrong!

Há uma semana, uns amigos argentinos da Marjorie chegaram ao Brasil para visitá-la. Um deles, segundo ela, é uma sumidade internacional na área das Artes Plásticas. Eu nunca ouvi falar o nome do cara, mas parece que ele já ganhou vários prêmios internacionais. Mas, enfim, depois de exaustivas tentativas de nos apresentar à gringalhada, fomos eu, Sara, Lu e Ane, ontem, à praia encontrá-los e acabar com mais essa pendência nas nossas vidas.

Sebastian: Hola chicos.

Adalberto: Hola.

Marjorie: Adal, esse é o Sebastian.

Adalberto: Ah, eu imaginei. 

Tinham mais cinco pessoas além do Sebastian. Mas ele era o único com cara de artista plástico. Eu não sei explicar direito, mas tem alguma coisa bem peculiar que só os artistas plásticos têm. Os outros aparentavam normais.

Sebastian: Tudo bem?

Adalberto: Fala português?

Sebastian: Um pouquinho.

Todo mundo que não sabe falar quase nada de português, costuma dizer que fala "um pouquinho". Como eu não estava com paciência de falar outro idioma que não fosse o meu, a resposta do Sebastian foi o álibi que eu precisava para conversar apenas em português. Continuei falando no meu ritmo e não estava nem aí se para o Sebastian. Sei lá, não fui muito com o cara. O santo não bateu. 

Sebastian: A Marjorie me falou muito bem de você.

Adalberto: Ah, que bom. Olha, essas aqui são minhas primas Sara, Ane e Lu.

Aí, começou a sessão "apresentações". Conhecemos a Lola, o Nestor, o Juan, o Paco e o Cesar. E, em seguida, os comentários maldosos à meia boca.

Lu: Adal, essa Lola deve ser uma periguete. Só ela de mulher no meio desses homens todos.

Adalberto: Ah, e eu que vivo com vocês sou o quê?

Ane: Nada a ver, Adal. Você é nosso primo lindo.

Sara: Eu não vou nem pedir para o Oswaldo me buscar para não correr o risco de cruzar com essa sirigaita.

Adalberto: Gente, fala mais baixa. Vamos conter a emoção e diminuir um pouco o tom, por favor.

E a guerra começou.

Lola¿Tu eres la chica que nos ha vendido las gafas oscuras aqui en la playa ayer?

Ane: Como assim? Está me achando com cara de ralé?

A Marjorie tentou amenizar o princípio de fúria da Ane.

Marjorie: Ane, gafas oscuras em espanhol significa obras de arte noir.

E mandou mal para caramba.

Ane: Marjorie, você está pensando que eu sou burra. Esqueceu que eu já fiquei com um chileno. Eu sei muito bem o que são gafas oscuras. Olha aqui, minha filha, eu não sou vendedora de gafas oscuras, não, está bem?

Adalberto: Ane, eu não vejo problema nenhum em vender óculos escuros na praia? É um trabalho como outro qualquer.

Sebastian: Claro que sim. O problema é que los óculos eram falsificados.

Aí, ferrou...

Adalberto: E você está querendo chamar a minha prima de contraventora? Está maluco? Bebeu água sanitária?

Marjorie: Adal, calma, por favor.

Sara: É, gente, vamos falar de outra coisa?

Marjorie: Vamos. Vocês viram que o Neil Armstrong morreu no sábado passado?

A Marjorie foi inteligente e deu início a um assunto de conhecimento de todos. Pena que, sem querer, ela plantou a discórdia.

Adalberto: Ah, eu vi. 

Ane: Se era bonzinho ele foi para o céu, pelo menos, ele já sabia onde iria pisar.

Lu: Sua sem graça. Fique sabendo você que ele não era bonzinho, não. Ele era muito bom. Muito bom mesmo. Ai, que recordações esse homem me traz... Aliás, eu devia mandar rezar uma missa de sétimo dia para ele hoje.

Marjorie: Por que isso tudo?

Lu: Por que isso tudo? O Mimi foi o primeiro homem a me deixar nas nuvens. 

E, assim, eu cheguei a duas conclusões: o Neil Armstrong, inegavelmente, já tinha dado uns pegas na Lu e, pior do que isso, foi tinha um apelido escroto brasileiro: Mimi. Inacreditável Futebol Clube!

Sara: Lu, isso é sério? Você é o Neil Armstrong.

Lu: Já, minha prima, está achando que eu vim a esse mundo de bobeira?

Marjorie: Como é que foi isso?

Lu: Então, parece até coincidência, mas o chileno que eu acabei de falar tem a ver com essa história.

Marjorie: Então, conta logo. Estou morrendo de curiosidade.

E eu estava tentando fazer um link da Lu com o Mimi, mas a minha pobre, humilde e parca imaginação não conseguia reunir esses dois extremos num espaço só. Ou melhor: numa cama.

Lu: Garota, quando eu fui esquiar com o Javier no Chile, o Mimi estava lá com uma periguete. A gente deu um perdido nos nossos respectivos e nos embrenhamos no meio da neve mesmo.

Ah, era isso! Não foi numa cama...

Lola: Então, você era a periguete que ficou o Mimi em Valle Nevado?

Adalberto: Ué, ligaram a tecla SAP? O que é isso?

Sebastian: Nosotros hemos estudiado juntos aquí en Brasil.

Adalberto: Então, volta a falar português, porque eu não sou palhaço.

Pronto! Foi o que faltava para eu perder a nesga de paciência que eu tentei preservar para a mala do Sebastian.

Lola: Esa chica...

Ane: Fala em português, palhaça!

Lola: Essa periguete ficou com o Mimi, quando ele foi me visitar no Chile!

Lu: Minha querida, você deu mole e eu peguei. De mais a mais ele já estava no segundo casamento e não era você a mulher dele. Está dando ataque de ciúmes por quê?

Lola: Porque eu era a amante oficial do Mimi.

Adalberto: É sério que você também chamava o Neil Armstrong de Mimi?

Lola: Claro! Era a minha maneira carinhosa de chamar o meu amor.

Lu: Ah, minha querida, então, essa era a nossa maneira carinhosa de chamar o NOSSO amor.

Lola: Eu vou arrebentar a tua cara, sua vagabunda.

Além de saber falar o português muito bem, a Lola descia do salto de uma maneira ímpar. Literalmente! quando ela sacou a sandália para tacar na Lu, começou a guerra. Lu, Ane e (pasmem!) Sara deram um festival de chutas, tapas na cara, pontapés e lanhadas na cara da pobre coitada da Lola, que ficou vendo estrelas de tão arrebentada que estava. Eu a Marjorie ficamos estatelados. Até aí, tudo bem. Não eram as nossas primas que estavam apanhando... O pior foi ver o Sebastian e os outros argentinos, que não abriram a boca em nenhum momento, também estatelados.

Eu fui o primeiro a quebrar o silêncio.

Adalberto: Vem cá, vocês vieram aqui para fazer figuração mesmo? Faz alguma coisa, gente! As minhas primas vão matar a amiga de vocês!

E foi a maior merda que eu fiz. Eles chamaram a Polícia e fomos todos parar na Deat, a Delegacia Especial de Apoio ao Turista.

A Sara, a Ane e a Lu foram presas. A Lola ficou vendo estrelas no E a Marjorie não sabia onde enfiar a cara. Só quando fomos a um caixa 24 horas para sacar a grana da fiança das meninas é que ela teve a brilhante ideia de me contar que a fábrica de bolsas dela estava para fechar um contrato milionário com o escritório do Sebastian.

Adalberto: Por que você não me falou isso antes? Eu teria me esforçado para tolerar a mala do Sebastian.

Marjorie: Sei lá, quando é assim, eu prefiro acreditar que não era para ser.

Adalberto: Verdade. Então vamos fazer o seguinte: vamos tirar as meninas da prisão e encher a cara de cerveja num pé-sujo para comemorar esse contrato de merda de que você se livrou?

Marjorie: Como assim contrato de merda, Adal? O contrato era ótimo! 

Adalberto: Mas não era para ser, Jojô! Você mesma acabou de dizer. E se era não para ser, é porque seria uma merda.

Marjorie: Então, beleza. Você me convenceu. Mas elas pagam a conta.

Adalberto: Perfeito!

E viva Neil Armstrong! O nosso eterno Mimi!