sábado, 25 de maio de 2013

Ane vive fortes emoções em reality show, até a chegada dos personagens da Disney

Finalmente, depois de uma semana inteira com o tempo ruim, o sábado amanheceu com sol. Eu não tinha plano nenhum, além de passar o sábado inteiro fritando no sol.

E enquanto eu abria a porta da minha casa para sair, a Ane, simultaneamente, estava do outro lado, abrindo-a para entrar. Tomamos um susto, quando demos de cara um com o outro.

Adalberto e Ane: Aaaaaahhhhhhhhh! 

Ane: Que susto, garoto! O que você está fazendo aqui?

Adalberto: Eu é que pergunto: o que VOCÊ está fazendo aqui? Tudo bem que você e as outras primas tenham a chave da minha casa, mas eu gostaria que vocês passassem a avisar quando viessem. Acho que não é pedir muito. 

Ane: Eu vim passar o dia com você.

Adalberto: Ótimo. Bota um biquíni e vamos para a praia. Não posso perder o sol maravilhoso, que está fazendo lá fora.

Ane: Ah, não, primo. Vamos ficar em casa, conversando.

Adalberto: Como assim ficar em casa conversando? Vai conversar na cadeia! Vamos conversar na praia, ué.

Ane: Adal, por favor, você não está entendendo. Deixa eu entrar para falar com você. Não quero ficar plantada aqui na porta.

Que saco!

Adalberto: Fala. O que é que está acontecendo.

Ane: Não faz cara de sério. Fica me olhando, rindo, como se você estivesse feliz. 

Comecei a ficar com medo e fiz o que ela mandou.

Ane: Eu estou com uma câmera escondida aqui no meu boné.

Eu não parava de demonstrar que estava rindo, mas por dentro, já estava me cagando de medo.

Adalberto: Alguém está ouvindo o que você está falando?

Ane: Não. Essa não tem áudio. Mas eu tenho mais três aqui na minha bolsa para instalar na sua casa. Essas têm áudio. Então, muito cuidado com o que você fala.

Adalberto: Mas para que isso, meu Deus. Você foi traficada?

Meu olho já estava enchendo d´água.

Ane: Não, Adal! É coisa do Doroanderson!

Adalberto: Doroanderson é aquele senhor, que você começou a namorar na terça-feira?

Ane: Isso. Ele é muito ciumento. Não deixa eu sair de perto dele, se não for desse jeito.

Que doença!

Adalberto: Não é melhor ficar perto dele, então?

Ane: Ah, eu já estou de saco cheio. O Doroanderson só me dá atenção, depois que termina de jogar xadrez com o melhor amigo dele. O problema é que uma partida deles demora, no mínimo, cinco horas. 

Adalberto: Sério?

Ane: Estou te falando! Eu fico lá, parada, sem poder falar um "ai" para não tirar a concentração deles. Aí, sabe o que acontece? Eu não paro de comer. Fico comendo o dia inteiro. Como doce, como salgado, e outro doce, outro salgado... Assim, o dia in-tei-ro! Você acredita?

Adalberto: Acredito. Vindo de você, da Marjorie, da Lu e da Sara, eu acredito. E já falei para as quatro que não me meto mais na vida de vocês, que vocês têm que se estrepar sozinhas para aprender. Mas, também, não contem comigo para ficar batendo palma para maluco. Estou indo à praia. Você vai comigo?

Ane: Está maluco? Se eu for à praia, o Doroanderson me mata. Ele morre de ciúme, não te falei.

Adalberto: Ué, mas você está com uma câmera, ele vai ficar te vendo. O que ele quer mais?

Ane: Eu não posso usar biquíni.

Adalberto: Vai de maiô.

Ane: Eu não posso ir à praia.

Adalberto: Por quê?

Ane: Ele acha que algum cara pode me agarrar.

Adalberto: Ah, e ele pensa que a praia é o quê? Uma micareta? É mais fácil você, que é sem noção, agarrar alguém na praia.

Ane: Eu não sou nada sem noção.

Adalberto: Ah, não? Uma pessoa que se submete ao que você está se submetendo não é sem noção? É o que, então? Ah, já sei: LOUCA. Eu vou sozinho. Me dá licença.

Ane: Primo.

Adalberto: Fala.

Ane: Me ajuda só a colocar as câmeras aqui na sala, então, por favor.

Que raiva que eu fico de mim, quando eu não consigo dizer não, para as coisas absurdas, que as minhas primas me pedem!

Adalberto: Tudo bem. Mas é para ser rápido, hein. Onde você quer colocar?

E depois de todas as câmeras a postos, começou o reality show.

Doroanderson: Oi, Adalberto, a Ane me fala muito de você.

Adalberto: Muito prazer. Eu também ouvi muito de você hoje aqui.

Doroanderson: Ah, é? Bem ou mal.

Adalberto: Bem. Ela fala muito bem de você.

Doroanderson: Ah, que coisa boa. Essa menina é uma joia que apareceu na minha vida.

Adalberto: Que bom, né?

Doroanderson: É muito legal quando a gente encontra o amor da nossa vida, depois dos sessenta anos, né?

Como é que eu vou saber? Ainda falta muito para eu chegar aos sessenta! Esse cara está me chamando de velho?

Doroanderson: Você não acha?

Adalberto: Acho , sim, claro.

Doroanderson: Coisa boa, né? Ô...

Sabe quando o assunto já acabou e a pessoa fica te olhando, com um sorriso amarelo no rosto, sem saber o que falar? Estava assim a minha conversa com o Doroanderson.

Adalberto: É...

Doroanderson: Legal, né?

Adalberto: Muito:

Doroanderson: Que bom, então.

Adalberto: Pois é...

Doroanderson: Está certo, então.

Adalberto: Ô! Sempre!

Doroanderson: Isso aí...

Cansei!

Adalberto: Doroanderson, eu vou deixar você jogar o seu xadrezinho em paz. Não quero atrapalhar.

Doroanderson: Você não atrapalha, não, meu filho. Aliás, até atrapalha, mas eu prefiro que você fique em casa, dando atenção a sua prima.

Adalberto: Mas eu ia à praia...

Doroanderson: Nada de praia! Praia para quê? Fica aí com ela, menino. Que primo é esse, que abandona a prima em casa?

Como assim? Ela não podia estar falando sério. Como é que eu ia abandonar alguém, dentro da minha própria casa? 

E, quando dei por mim, estava implorando a um cara, que não é nada meu, para ir à praia 

Adalberto: Por favor, deixa eu ir. É rapidinho. Eu prometo que não vou demorar nada.

Doroanderson: Se não vai demorar nada, então, para que ir?

A Ane, esparramada no sofá, sem falar nada, já estava me irritando.

Adalberto: Ane, você não vai falar nada?

Ane: Melhor, não, primo.

Doroanderson: Ai dela, se me contrariar! Ela sabe o que eu faço com ela.

De repente, o medo voltou.

Adalberto: Está bem, eu fico.

Doroanderson: Agora, você falou a minha língua.

Língua de porco!

Doroanderson: Você falou alguma coisa?

Adalberto: Não, só estava espirrando.

Doroanderson: Ah, tudo bem. Se quiser falar alguma coisa, é só em chamar aqui. Vou voltar pro meu joguinho.

E depois de um tempo, assistindo a um filme com jovens num acampamento de verão, e eu morrendo de inveja deles, a Ane se manifestou.

Ane: Adal, pega água para mim?

Adalberto: Ane, você está em casa. Vai lá e pega.

Doroanderson: Isso mesmo, Adalberto! Não dá mole, não.

Adalberto: Ai, que susto. Esqueci que você estava aí.

Doroanderson: Não tem problema. Faz o seguinte: manda ela ir buscar a água dela, e você vai atrás com uma câmera. Não quero mulher minha mal acostumada, preguiçosa. Mulher minha tem que me servir. E não ser servida. Vai lá, pega a câmera e vai atrás dela. Só não perde o foco, hein. Se não você também vai ser penalizado.

Fiz o que ele mandou, morrendo de ódio. E medo.

A Ane não falava nada. Vai ver era medo de abrir a boca e falar alguma besteira. Besteira, não. Mas algo que desagradasse ao nosso poderoso chefão.

Depois disso, ela foi lanchar e eu fui atrás com a câmera. Foi comer um doce e eu fui atrás. Foi tomar mais água e eu estava lá filmando. Foi tomar sorvete e eu lá...

Ane: Adal, agora, quero ir ao banheiro.

Adalberto: E eu tenho que ir atrás?

Doroanderson: Claro que tem.

Adalberto: Beleza.

Ane: Mas eu vou fazer número dois.

Adalberto: Ah, mas eu não vou mesmo.

Doroanderson: O quê? Eu ouvi isso?

Ele passou dos limites. E o meu medo foi embora, com medo da minha valentia.

Adalberto: Ouviu! Eu não vou ficar num lugar fedendo, sem ter obrigação.

Doroanderson: Mas você tem obrigação.

Adalberto: O quê? Pirou? Eu não tenho obrigação de fazer nada por você, seu doente! Mal resolvido! Olha só o que eu faço...

Ane: Adal, não!

E varei o controle remoto numa das câmeras, que se estraçalhou.

Doroanderson: Você vai me pagar!

Adalberto: Eu? Pagar? Quer mais? Olha isso...

E quando eu ia jogar um porta-retrato numa outra câmera, a campainha tocou. Era o porteiro. por sorte, quem estava de plantão era o Adenildson, que é um paraibano com o corpo todo definido.

Adenildson: Senhor Adalberto, a vizinha do andar debaixo pediu para verificar com o senhor, se está tendo vazamento no seu apartamento. É que está vazando água na cozinha dela.

Adalberto: Tira a roupa, Adenildson.

Adenildson: O quê? O senhor está bem?

Adalberto: Faz o que eu estou mandando. Tira a roupa e fica só de cueca.

Adorei dar ordem. Agora, até entendo um pouco porque o Doroanderson é mandão. É bom ser mandão.

Adenildson: Mas...

Adalberto: Nem mais nem menos. Ou você prefere que eu invente uma história cabeluda para a síndica te demitir.

Que horror! O olho do Adenildson encheu d´água. E eu lembrei de mim, com medo do Doroanderson. Não quero mais ser assim, não.

A Ane estava chorando, dando mil explicações para o Doroanderson na sala, enquanto passava o meu plano para o Adenildson, que já estava apenas com a sua cueca com os personagens da Disney.

Adalberto: É o seguinte: você vai agarrar aquela maluca, que está na minha sala chorando, e tascar um beijo nela. Mesmo que ela não queira, te bata, relute, eu quero você beijando ela. Entendeu?

Adenildson: Sim, senhor.

Coitado. Parecia eu com o Doroanderson.

Adalberto: Eu vou te pagar bem por isso.

E ele fez direitinho o que eu mandei. A Ane, no começo, ficou de debatendo. Mas não resistiu por muito tempo e se entregou para o meu porteiro. Foi quando eu entrei em cena.

Adalberto: Está vendo, Doroanderson. Olha bem. Quem muito quer, meu amigo. NADA tem! Tchau para você. 

E quebrei todas as outras câmeras que restavam. O Doroanderson ficou estatelado. Esses caras machões se assustam, quando encontram alguém que encare eles.

Adalberto: Pronto. Agora, vocês dois podem parar com a pouca vergonha aí, no sofá. O reality show acabou. Chega, desgruda!

Ane: Ah, não, primo. Agora, que está ficando bom. Vai para a sua praia, vai...

Adenildson: É senhor Adalberto, pode ir. E não precisa me pagar por esse trabalho, não. Fiz com o maior prazer para o senhor.

Ane: Vamos lá para o quarto, Adenildson.

Adenildson: Sim, senhora.

Ane: Tchau, primo.

Adalberto: Tchau.

Quando voltei da praia, soube pelo pessoal do meu prédio, que o Adenildson tinha pedido demissão. 

Subi para o meu apartamento, mas não tinha ninguém em casa. A Ane não respondia o celular. Fiquei com medo de o Doroanderson ter feito alguma coisa com eles. Fui correndo para a casa dele. Mas de carro, claro.

E para a minha surpresa, quando entrei no prédio da Ane, o Adenildson estava na portaria.

Adalberto: O que você está fazendo aqui, Adenildson?

Adenildson: Eu estou trabalhando aqui agora, senhor Adalberto. Tinha uma vaguinha aqui em aberto e a dona Ane conseguiu me colocar. 

Fiquei de cara com isso. A Ane é rápida no gatilho mesmo. Já não devia nem mais saber quem era Doroanderson.

Adalberto: Entendi.

Adenildson: Olha, senhor Adalberto, a dona Ane esqueceu o celular dela comigo. Eu até vi que o senhor ligou, mas eu fiquei assim de atender. Ela pode não gostar e ficar brava comigo.

Adalberto: Tudo bem.

Adenildson: O senhor pode entregar para ela, para mim, por favor?

Adalberto: Lógico. Levo, sim.

Adenildson: Muto obrigado, senhor Adalberto.

Adalberto: De nada.

Adenildson: Ah, diz para ela que, quando eu largar daqui, eu vou para subir. Que é para ela me esperar daquele jeito!

Adalberto: Daquele jeito como?

Adenildson: Ah, senhor Adalberto, o senhor não quer que eu fale, né?

Claro que não! Eu estava tão embasbacado com a rapidez das coisas, que não concatenava mais as ideias.

Adalberto: Não, obrigado. Vou subir. Até já. Quando você chegar, pode ficar tranquilo, que eu saio.

Terminei parecendo eu mesmo com o Doroanderson, mas agora, com o Adenildson.

Acho que nasci para ser mandado. Mas até certo ponto!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Homenagem pelo fim do namoro da Marjorie termina com mancha roxa

Ontem, eu ultrapassei a minha cota de desculpas por dor de barriga para faltar, para ir à comemoração de um mês de namoro da Marjorie. Eu não vou com a cara do namorado dela, mas fazer o quê? Ela é minha prima...

Ane e Lu dormiram na minha casa e me acordaram com o barulho dos secadores às sete da manhã.

Adalberto: Não dá para fritar o cabelo outra hora, não?

Lu: Claro que não. A festa começa ao meio-dia. A gente está atrasada.

Adalberto: Como assim atrasada? São sete horas da manhã.

Ane: Mas não é só cabelo. É cabelo, maquiagem, roupa, sapato, muita coisa.

Lu: Ser mulher não é fácil, não.

Adalberto: Gente, na boa, por mim, eu ia assim, de pijama. Estou com preguiça para esse evento.

Ane: Não fala isso. A Marjorie merece ser feliz no amor.

Adalberto: Eu sei que ela merece. Mas não com o Henriquelson. Ele não vale nada.

Lu: Coitado. Eu gosto do Henriquelson.

Adalberto: Eu não gosto. Ele arrota na mesa.

Lu: Só isso? Quem dera se eu arrumasse um homem que arrotasse na mesa, mas gostasse de mim, como ele gosta da Marjorie.

Adalberto: Mas não é só isso. A mãe dele vem aqui em casa e usa todos os meus abacates para fazer massagem no cabelo. Fora a irmã dele, que sempre senta em cima do controle remoto e aciona o closed caption da televisão. Depois, eu fico duas horas tentando desativar. E o irmãozinho dele? Ô criança maldita. Eu tenho que esconder o meu creme de barbear, quando ele vem aqui, senão ele pega para ficar desenhando com a espuma na parede. Ah, não dá! Tenho má vontade para essa família, na boa.

Ane: Você é um chato. Eu adoro a família do Henriquelson.

Adalberto: Eu vou me trancar lá na cozinha para dormir mais um pouquinho. Com essa barulheira não dá. Daqui a umas quatro horas, uma de vocês vai lá para me acordar, por favor.

E assim foi feito. A Ane me acordou às onze e, em quinze minutos, eu já estava pronto, dentro do carro a caminho da festa. Só joguei um perfume, passei uma pomada no cabelo, botei uma roupa e fui. Tudo isso em um minuto. Os outros quatorze levei fechando a parto do apartamento, a porta que isola os apartamentos do lado direto do corredor, a porta do corredor, a porta que dá acesso à garagem e a porta da garagem. Muita porta nessa minha vida...

Quando chegamos ao local da festa, a Marjorie veio nos receber com um sorriso de orelha a orelha.

Marjorie: Nem acredito que vocês vieram!

Ela sabia que a Ane e a Lu iriam. Esse comentário foi diretamente para mim.

Adalberto: Eu não iria faltar a sua comemoração de um mês de namoro, prima. Eu vim aqui por você.

Fiz questão de ressaltar ao falar "você". Eu não estava ali pelo Henriquelson. Não mesmo.

Ane: Prima, você está linda!

Lu: Vou querer esse vestido emprestado depois.

Marjorie: Lógico, é nosso.

Adalberto: Estou com fome. Tem alguma coisa para comer?

Marjorie: Já vão servir o almoço. A Sara pegou uma mesa para vocês. Ela veio sozinha. O Oswaldo ficou em casa com os trigêmeos. Eles estão meio enjoados, aí o Oswaldo preferiu ficar em casa com eles.

Duvido. O Oswaldo é esperto, inventou uma boa desculpa para evitar a família do Henriquelson.

A Sara estava inquieta na mesa, olhando de um lado para o outro.

Adalberto: Tcharam!

Sara: Ai, que susto, garoto!

Adalberto: Tudo bem aí?

Sara: Ai, não. Primo, tenho que te dar o braço a torcer. Essa família do Henriquelson é muito sem noção. E as crianças? Não tem educação nenhuma. Você acredita que um sobrinho dele cuspiu na minha cara?

Adalberto: Mentira! E o que você fez?

Sara: Nada, né? Ia fazer o quê?

Cuspir de volta, bater, puxar o cabelo, arranhar a cara dele na parede chapiscada, sei lá.

Adalberto: Você devia ter falado com os pais dele.

Sara: Mas é uma criança.

Adalberto: Por isso mesmo! Estou brincando.

Marjorie: Gente, o Henriquelson está chamando todo mundo lá na mesa. Ele quer me fazer uma homenagem. Abafo o caso, mas eu acho que ele vai me pedir em noivado.

Que merda!

Adalberto: Que legal.

Marjorie: Ai, eu estou muito feliz, primo. Sabe, eu sei que você não vai muito com a cara dele, eu percebo isso. Mas ele me faz feliz, fica tranquilo.

Adalberto: Isso é o que importa.

Ane: Gente, silêncio!

Lu: Cala a boca aí!

Henriquelson: Bom, pessoal, primeiramente, eu gostaria de agradecer a presença de todos. Segundamente...

Meu Deus! Um cara que fala segundamente é mesmo capaz de fazer a Marjoie feliz?

Henriquelson: Segundamente, eu queria dizer que esse é um dia muito importante na minha vida. Há um mês, eu conheci uma pessoa muito especial na minha vida, que me fez crescer como homem. Essa pessoa me fez entender o valor da vida. Essa pessoa me fez entender o que é cumplicidade. Essa pessoa...

Já estava me irritando o Henriquelson se referindo a minha prima por "essa pessoa".

Henriquelson: Essa pessoa ensinou que, se a gente quer, a gente pode. Eu sou fascinado por essa pessoa. É por isso que eu resolvi organizar essa festa, reunir vocês todos aqui. Durante um mês, a nossa relação foi embasada pela total sinceridade. Tudo o que essa pessoa sente, ela me fala. Eu eu aprendi a fazer o mesmo. Eu sei que essa pessoa vai gostar muito do que eu vou fazer agora...

Uma lágrima se formava no meu olho, esperando ele tirar a caixinha de alianças do bolso.

Henriquelson: E eu vou fazer isso única e exclusivamente por causa dessa pessoa. Pelo respeito, carinho e amor que tenho por ela...

E, finalmente, ele tirou a caixinha de alianças do bolso. E as muitas lágrimas escorreram de mim.

Ane: Sabia que você ia se emocionar.

Adalberto: Não enche.

Henriquelson: Essas alianças eu trouxe aqui para você...

E ele ressaltou o "você" da mesma forma que eu.

Henriquelson: Abençoar o meu noivado com a Elisanny.

Bolei.

HenriquelsonElisanny é uma pessoa que eu conheci, enquanto comprava pastel na feira lá perto de casa. E seguindo o que você sempre me disse... Lembra que você dizia que, se um dia eu me apaixonasse por outra pessoa, você ia ser a primeira a querer saber, que ia continuar querendo ser minha amiga, que seria capaz até de ser minha madrinha de casamento com outra pessoa? Então! Nesse evento, além dessa homenagem que eu fiz para você, que foi muito importante para mim, eu quero pedir a mão da Elisanny em casamento e te convidar para ser a nossa madrinha. Elisanny, vem aqui por favor.

E quando a Elisanny se aproximou para dar um beijo na Marjorie, foi surpreendida por um tapa na cara.

Marjorie: Eu não sou tão sangue barata assim!

Era tudo o que eu precisava. Peguei uma cadeira e varei em cima do Henriquelson, que caiu no chão. O pai dele correu para cima de mim e me acertou um soco. Ane, Lu e Sara vieram me defender com unhadas. Aí, começou a guerra.

Eu não imaginava que um monte de primo do Henriquelson não iam com  cara dele como eu. Ainda bem! Só assim, fomos maioria na briga.

Eu sei que eu estava atordoado, dando socos em todas as direções, quando de repente, a polícia chegou. Fomos todos para a delegacia.

Para a nossa sorte, o delegado também tinha sido trocado pela mulher recentemente e fui super a favor da Marjorie. Liberou todo mundo com o pretexto de que essa era uma roupa suja para ser lavada em casa.

E nem precisava mais! A roupa suja já tinha sido lavada no salão de festas chinfrim, que o Henriquelson: alugou para fazer a festa de fim de namoro com a minha prima e noivado com a Elisanny.

E muito bem lavada.

Se bem que a cara do Henriquelson ficou cheia de mancha... Roxa.

sábado, 11 de maio de 2013

O dia em que a Lu virou um monstro

A Lu dormiu na minha casa de ontem para hoje. Aliás, ela não dormiu. Ficou acordada contando as horas passarem. Hoje, ela batizaria o filho da irmã do Agrilúcio, um carinha que ela conheceu há umas três semanas.

Eu ainda estava dormindo, quando ela me acordou.

Lu: Adal, Adal, acorda.

Adalberto: Que horas são?

Lu: Seis.

Adalberto: O batismo não é às dez?

Lu: É. Mas eu não aguento mais esperar a hora passar sozinha. Conversa comigo que passa rápido.

Adalberto: Não acredito nisso. Deita aqui do meu lado, sua chata.

E ela foi toda serelepe. Nunca vi tanta felicidade para batizar o filho da cunhada, que ela nem gostou muito. Era uma maneira de ela achar que estava colocando uma coleira no Agrilúcio. Coitada.

Lu: Você gostou mesmo do vestido, que eu comprei.

Adalberto: Gostei... É aquilo que te falei, só achei que ele brilha muito. Fora isso, ele é bonito, sim.

Lu: Sem aquele brilho, eu não sou ninguém. Fora que a cretina da ex do Agrilúcio vai. Eu tenho que brilhar mais do que ela. Aliás, eu não te contei a última que ela aprontou. Você acredita que ela foi capaz de...

A Lu desembestou a falar mal da ex do Agrilúcio e não parou mais. Eu, que estava com sono, voltei a dormir profundamente e ela nem percebeu.

Meia-hora depois...

Lu: Aí, eu peguei e falei para ela: minha querida, a poderosa aqui sou eu. Mandei bem, primo? Hein, primo? Primo. Primo!

Adalberto: Oi. O quê?

Lu: Você estava dormindo?

Adalberto: Não sei. Acho que sim.

Lu: Acha? Eu te contando um babado forte da outra lá, e você dormindo... Ah, dá licença que eu vou tomar banho para me arrumar.

Adalberto: Vai, sim. Eu vou descansar mais um pouquinho.

Lu: Chega de descansar, garoto! Vai dormir depois que morrer! Vai dormir na cadeia!

Adalberto: Não enche, Lu.

Ela demorou duas horas e meia para se arrumar. Eu eu ganhei duas horas e meia de sono. Eu lembro que eu estava sonhando com monstros, espíritos, fantasmas. Eu corria como um louco deles. Mas estava quase sendo pego. E quando um dinossauro, que apareceu do nada, pulou na minha frente para me atacar, a Lu me acordou.

Lu: Adal.

Adalberto: Aaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiii! Sai daqui, monstro maldito!

Lu: Como é que é? Você me chamou de monstro? É isso?

Adalberto: Lu, eu estava tendo um pesadelo... Com monstros, calma.

Lu: Vai logo se arrumar. Não quero chegar atrasada. Eu sou a madrinha, não se esqueça.

Adalberto: E você deixa? Não vejo a hora desse dia acabar para você para de me perturbar com  isso.

Lu: Então, anda logo, vai tomar banho!

Em quinze minutos eu estava pronto. A Lu estava aflita. Ela demorou duas horas e meia se arrumando e achou os meus quinze minutos eternos.

Lu: Ai, finalmente. Vamos.

Quando chegamos à igreja, eu, a Lu e o vestido brilhoso, a cerimônia já tinha começado.

Lu: Ué, que horas são?

Adalberto: Quinze para as dez.

Lu: Não pode ser. O seu relógio deve estar errado. A gente deve estar em horário de verão, de inverno, de outono...

Adalberto: Lu, o meu relógio está marcando a hora certa. Você deve ter se enganado. Mas não tem problema. Pelo visto, a hora do batismo, propriamente, é agora. Os padrinhos estão começando a formar a  fila com os afilhados no colo.

Lu: Deixa eu correr, então.

Adalberto: Vai lá. Ó, só não afoga a criança na hora de molhar a cabeça dela na pia batismal, hein.

Ela nem tinha como afogar a criança. Ela não ia ser mais a madrinha...

A Agrilúcio tinha voltado para a ex, que ganhou o direito de ser a madrinha do filho da cunhada. Eles estavam juntos há três dias. Detalhe: o vestido dela e da Lu eram idênticos. Não dava para ficar ao lado das duas sem um óculos escuro. Eu que tenho fotofobia, sofri quando fui separar a briga.

Quando soube que o Agrilúcio tinha voltado para a ex, que ia batizar o sobrinho dele e que estava com um vestido igual ao seu, a Lu puxou a menina pelos cabelos (escovados, diga-se de passagem) e afundou a cabeça da garota na pia batismal. Ela já não era muito gata, mas com o cabelo ao natural, dava medo. Ficou furiosa e tentou arrebentar a Lu.

O batismo não aconteceu, claro. O padre cancelou a cerimônia, depois da confusão.

E a Lu, realmente, conseguiu brilhar mais do que a rival. Mas o que contou, além do vestido, foi a atitude... De monstro.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Esse cara sou eu (ou não)

Hoje de manhã, quando eu estava no meio da minha meditação, percebi que não tinha colocado o celular para vibrar. E a bosta do aparelho não parava de tocar. Acabou com a minha paz!

Atendi soltando fogo pelas ventas.

Adalberto: Alô.

Marjorie: Que voz é essa? Não estava acordado? Você acorda sempre muito cedo.

Adalberto: Eu acordo sempre muito cedo para fazer meditação. Graças a você, que me apresentou aquele guru lá de Botafogo.

Marjorie: Que bom. Eu mesma nem tenho feito, sabia? Vai ver por isso, eu ando tão nervosa ultimamente.

Adalberto: Me ligou só para falar isso?

Marjorie: Não. Quero que você venha me buscar na casa do Aldemárcio.

Adalberto: Eu? O cara usa o teu corpinho e, depois, não quer fazer delivery? Lamento. Deixa eu voltar para a minha meditação. Aliás, eu vou correr, porque meditação, agora, nem vai mais adiantar.

Marjorie: Primo, eu estou doente. Com muitas dores no corpo. E o Ademárcio não cuida bem de mim.

Adalberto: O que você está sentindo?

Marjorie: Dores no corpo, febre, dor de garganta... Sintomas de gripe.

Adalberto: Então, você tem que tomar remédio e ficar de repouso. Não tem que ter um cuidado especial.

Marjorie: Eu sei que não. Mas quando a gente está doente, a gente quer carinho. E o Ademárcio não me dá carinho. Só me dá canja. Não aguento mais tomar canja, primo. Me tira desse lugar. Só você, no mundo, sabe cuidar bem de mim.

Adoro quando falam que só eu, no mundo, sei fazer alguma coisa. Isso me compra na hora.

Adalberto: Estou indo aí te buscar agora. Não sai daí.

Marjorie: Obrigada, Adal. Te amo.

Fui correndo livrar minha prima das garras desse Ademárcio. Me senti um super-herói.

Cheguei na casa do cara, imaginando que fosse travar uma luta com ele, com socos e pontapés para conseguir resgatar minha prima... Mas nada disso aconteceu. Ele nem estava em casa. E eu caí na real.

Melhor assim. Eu nem me garanto tanto no braço.

E fizemos uma fuga completamente sem emoção.

Marjorie: Primo, eu falei com a Lu, enquanto você estava vindo. Ela não foi trabalhar. Está arrasada em casa. Vamos lá para a casa dela?

Adalberto: Ah, Jojô. Eu tenho mil coisas para fazer ainda hoje.

Marjorie: Ela disse que precisa da gente. E que só você é capaz de colocar um sorriso no rosto dela.

Só eu? Era tudo o que eu precisava ouvir.

Adalberto: Vamos, sim. Depois, eu resolvo o que tenho para fazer.

Na casa da Lu, o chororô era o mesmo.

Lu: Vocês acreditam que, ontem, no teatro, o Jonalzélio ficou olhando para uma mulher pelada?

Marjorie: Como assim:

Lu: A atriz lá, em cima do palco, tirava a roupa num momento da peça. E ele não tirou o olho dela.

Adalberto: Mas, Lu, ele estava olhando o espetáculo como um todo.

Lu: Foi isso que ele me disse! "Estou olhando o espetáculo". E eu virei a mão na cara dele com o teatro lotado. Espetáculo sou eu!

Eis que a campainha da casa da Lu toca. Era a Ane também com dor de cotovelo.

Ane: Primo, me abraça.

Adalberto: O que foi?

Ane: Eu falei a semana toda para o Rodonaldo, que eu ia fazer uma balaiagem no meu cabelo. Você acredita que ele nem percebeu?

Acredito. Eu também não tinha percebido.

Adalberto: Que idiota. Está na cara que você fez balaiagem. Ficou linda, prima.

Ane: Eu sabia que você ia perceber. Você é o melhor do mundo primo.

Melhor do mundo? Era tudo o que eu precisa ouvir para inflar ainda mais o meu ego!

Lu: Agora vê, esses homens são uns idiotas, né?

Ane: O pior foi que, quando eu falei com ele: "Hello, não vai falar o que achou do meu cabelo, não?". Ele disse: "Ah, nem mudou muito". Ele não tem noção de que eu gastei duzentos reais para fazer o meu cabelo.

E, para fechar com chave de ouro, o meu celular tocou.

Adalberto: Oi, Sarita.

Sara: Primo, vem aqui para a minha casa.

Adalberto: Amore, eu estou com as meninas aqui na casa da Lu.

Sara: E quero chorar. O Oswaldo disse que o meu ensopadinho não é mais o mesmo. Eu senti vontade de jogar tudo na cara dele, mas me contive.

Adalberto: E cadê ele?

Sara: Saiu. Foi levar os trigêmeos no parquinho.

Adalberto: Você não quer vir para cá?

Sara: Não. Queria que vocês viessem aqui em casa. Eu estou com um nó na garganta, por não ter dito nem feito nada com o Oswaldo. Vem aqui, primo. Só o seu ombro amigo para me deixar tranquila.

Só? Caraca! Eu sou o cara. Aliás, esse cara sou eu!

Nem hesitei. Peguei as outras primas e fomos todos encontrar com a Sara.

Comemos o ensopadinho que o Oswaldo desdenhou e bebemos todas as cervejas dele, que estavam na geladeira. A Marjorie já nem sentia mais dores no corpo. O problema dela devia ser falta de carinho mesmo.

Depois de bêbadas, as primas se declararam ainda mais para mim. E eu estava todo, todo...

Nem sei se eu é que sou um bom apoio para elas. Ou se elas é que são o meu melhor alicerce.

Não importa. Do jeito que está, está bom demais!