sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Viva eu! ou Viva o Dia dos Idosos Abandonados em Asilos!

Excepcionalmente esse ano, o dia do meu aniversário, 27 de novembro, foi celebrado também o Dia dos Idosos Abandonados em Asilos. Soube disso ao ler o jornal pela manhã. Eu estava de folga do trabalho, claro. Achei a data tão curiosa, que não esperei nenhuma das primas me ligar, desejando parabéns, para contar sobre a inusitada coincidência.

Lu: Como assim, você me ligando? Era para eu te ligar, garoto.

Adalberto: Eu sei, Luluzita, mas eu preciso te contar uma coisa.

Lu: Adal, eu não estou ouvindo nada do que você está me falando.

Adalberto: Pois é. Está uma barulheira aí, onde você está. 

Lu: primo, eu não estou te ouvindo, não adianta. Olha, eu estou aqui com a Ane, a Sara e a Marjorie. Viemos naquele asilo na rua detrás de onde a Sara mora. Hoje é o Dia dos Idosos Abandonados em Asilos. Depois, a gente passa aí para te dar um beijo de parabéns. Não vou te dar parabéns agora. Beijo! Até mais tarde.

Eu não estava acreditando no que estava ouvindo. Como assim elas me trocaram por um bando de velhinhos, que foram abandonados em asilos? Que raiva que eu fiquei! Das minhas primas, de mim por gostar tanto delas e, principalmente, dos velhinhos abandonados em asilos. Por um momento, eu queria que todos os velhinhos abandonados em asilos explodissem! Mas logo a parte psicologicamente correta da minha mente me condenou por isso e, em seguida, eu já estava pedindo perdão a Deus por isso. 

Fui até o asilo. As quatro traíras ficaram surpresas ao me ver.

Sara: Você aqui?

Adalberto: Não. Eu sou a reencarnação de um velhinho, que foi abandonado num asilo. Voltei só para atazanar a vida de vocês.

Marjorie: Adal! Você está maluco? Fala baixo!

Ane: Sem noção!

Adalberto: Sem noção? Vocês me trocam por um monte de... De velhinhos abandonados em asilos, no dia do meu aniversário, e ainda querem que eu fale baixo?

Lu: Claro. Se você não teve educação, nós tivemos.

Marjorie: Gente, vamos ali para fora.

Continuamos a DR na parte externa do asilo.

Adalberto: Sem noção são vocês, que me trocam por um bando de velhinhos.

Ane: Não fala besteira!

Quer me deixar com ódio mortal? Só dizer que o que eu estou falando é besteira.

Adalberto: Falo! Falo besteira, sim. sabe por quê? Porque é besteira o que eu represento para vocês. E como eu estou falando de mim, eu estou falando de besteira, então, né? Eu não sou besteira para vocês? Me responde! Eu quero ouvir de vocês.

Lu: Garoto, para de ser mimado!

Adalberto: Eu não sou mimado!

O pior é que eu me acho um pouco mimado, sim.

Marjorie: Ah, não é?

Adalberto: Não!

Sara: Mas está parecendo.

Adalberto: É? E você com isso? Você se importa com isso? Eu sou besteira para vocês. Por que é que vocês vão se importar se eu pareço mimado ou não?

Lu: Adal, para! Você está com ciúme, porque a gente veio aqui visitar os velhinhos. Pronto!

Adalberto: Ciúme? De vocês que cagam dez quilos para mim? Não estou, não, querida. Você está muito enganada.

Ane: Gente, vamos parar de discutir?

Adalberto: Ah, está cansadinha? Eu também estou cansadinho. Cansadinho de vocês, suas ingratas.

Marjorie: Está bem. Agora, vamos lá dentro, que a gente quer te mostrar uma coisa.

Adalberto: Você não entendeu que eu não gostei nada dessa vinda de vocês para cá? Ainda quer que eu vá lá dentro? Para quê? Para dar comidinha na boca dos velhinhos. Eu? Se nem os parentes tiveram paciência com eles, você acha que eu vou ter? No dia do meu aniversário?

Marjorie: Garoto, nem todos os velhinhos que moram aqui foram abandonados pelos seus parentes. Tem gente que veio por falta de opção mesmo.

Sara: E tem uns que vieram, porque aqui tem quem cuide.

Adalberto: Como é que vocês sabem disso? Quando trazem os velhinhos aqui, alguém pergunta "o senhor veio só deixar ou está abandonando mesmo"?

Marjorie: Não fala assim, Adal.

Adalberto: Jojô, vocês nem sabem quantos velhinhos foram abandonados pelos parentes. De repente, nenhum velhinho que mora aqui foi abandonado e vocês vieram comemorar um dia, que pode não ser o deles. 

Lu: Garoto, a menina que trabalha aqui falou que mais de 50% dos velhinhos desse asilo foram abandonados pelos parentes.

Adalberto: É? Lá em casa, 100% das pessoas fazem aniversário hoje. 

Ou seja, eu.

Ane: Está bem. Agora, vamos lá dentro,  Adal

Lu: É, garoto. Para de palhaçada e vamos logo. Anda!

Sara: Por favor, primo.

Adalberto: Vem cá, vocês não entenderam mesmo, né? Querem que eu desenhe, então? Eu vou embora desse lugar, de onde eu nunca deveria ter pisado os meus pés. E vou pedir um favorzinho para vocês.

Eu ia dizer para elas nunca mais falarem comigo, esquecerem que eu existo, apagar meu telefone das agendas dos seus celulares, quando uma moça que trabalha no asilo foi até nós.

Moça que trabalha no asilo: Gente, desculpa interromper a conversa de vocês...

Conversa? Como ela foi simpática.

Moça que trabalha no asilo: ... Mas a gente precisa cantar logo o parabéns para o primo de vocês, senão vai ficar tarde para os meus anjinhos tomarem banho.

Adalberto: Como assim, parabéns?

Marjorie: Essa é a sua festa surpresa, seu bobo.

Eu estava em estado de choque.

Adalberto: Como assim?

Ane: Festa surpresa, ué. Você não joga na nossa cara, que a gente nunca consegue fazer uma festa surpresa para você? Então, a Sara teve a brilhante ideia de fazer o seu aniversário num asilo. 

Sara: É. Só assim a gente conseguiu te fazer uma surpresa.

Marjorie: E ainda viemos trazer alegria para todos os velhinhos que moram aqui no Dia dos Idosos Abandonados em Asilos. Não é legal isso, primo?

Adalberto: Vocês só podem estar de brincadeira. Não estou acreditando nisso.

O pior é que eu estava acreditando, sim. De repente, se a moça que trabalha no asilo não tivesse aparecido, falando do meu aniversário, eu não acreditaria. Eu ia pensar que elas estava aproveitando a celebração do Dia dos Idosos Abandonados em Asilos para fingir que o motivo da festa era, na verdade, o meu aniversário. E o melhor é que não era.

Quando eu entrei na sala de eventos, vários velhinhos abandonados naquele asilo cantaram parabéns para mim. Amei aquilo. Amei aqueles velhinhos. E entendi por que a moça que trabalha lá os chama de anjinhos. Eles são uns lindos. Queria levar todos para minha casa, dar de tudo do bom e do melhor para eles, queria bater em quem abandonou eles ali.

Fui a um barzinho comprar cervejas para a gente tomar com os velhinhos. A diretora do asilo liberou para eles tomarem um goró, pelo menos, no dia deles. Mas com a condição de ser dois copos apenas para cada um. 

É claro que eu não fiquei regulando nenhum velhinho. Eles encheram o pote. Eu e as minhas primas também.  Até a diretora do asilo e as moças que trabalham lá beberam além da conta. Parecia que nunca tinham visto cerveja na vida.

De repente, uns instrumentos brotaram na festa e, quando dei por mim, estava numa roda de samba formada por idosos abandonados em asilos. Me acabei!

Já tarde da noite, completamente bêbado e quase sem conseguir andar, fui me despedir da velharada. Foi dessa maneira que eu me referi a eles depois de uns quatro copos.

Adalberto: Já vou.

Velhinho: Já? Ah, não vai.

Adalberto: Eu tenho que acordar cedo amanhã.

Moça que trabalha no asilo: Deixa ele ir. No ano que vem, a gente comemora de novo. Parece que essa data vai entrar mesmo para o calendário comemorativo nacional. 

Adalberto: Mesmo se não entrar, a gente institui. Adorei ter comemorado o meu aniversário aqui. Fiquei muito emocionado com a surpresa.

A moça que trabalha no asilo, que também estava completamente bêbada, deu uma gargalhada.

Adalberto: Eu falei alguma coisa engraçada?

Moça que trabalha no asilo: Ai, menino. A tua prima me mandou uma mensagem de texto, enquanto vocês brigavam lá fora, dizendo para eu chamar vocês para a sua festa surpresa de aniversário. Falou que você estava morrendo de ciúmes e que não podia nem sonhar que a festa era para os meus anjinhos. 

Adalberto: Sério? 

Eu estava tão nervoso, durante a discussão com as minhas primas, que nem percebi quem foi a ingrata, que mandou essa mensagem de texto.

Velhinho: A menina foi correndo lá dentro dizer que a gente tinha que cantar parabéns para um cara. Ninguém entendeu nada. Depois, que explicaram para a gente melhor.

Moça que trabalha no asilo: Olha, eu só estou te contando isso, porque vi que você é muito maneiro e vai levar isso na esportiva. 

Velhinho: Pelo jeito que falaram de você, a gente pensou que fosse um monstro.

Moça que trabalha no asilo: Pois é, menino. As suas primas exageraram. Você é muito legal.

É... Realmente, dessa vez, elas exageraram mesmo.

Moça que trabalha no asilo: Parece que elas iam para a sua casa, depois da festinha daqui pelo Dia dos Idosos Abandonados em Asilos. Mas foi bem melhor assim, né? vai dizer que você não gostou.

Não. Mesmo bêbado eu ainda tinha discernimento. É claro que eu estava gostando. Mas, depois de saber a verdade, eu estava odiando aquilo tudo.

Velhinho: Ele gostou, sim. Não gostou.

Adalberto: Gostei.

Fui embora para casa à francesa. Chorei copiosamente na minha cama. Dormi sem me dar conta de até onde chorei e, no dia seguinte, para a minha surpresa, acordei com nadinha de ressaca.

O álcool deve ter saído todo pelas minhas lágrimas. Então, até que não foi nada mal. 

E viva eu!

domingo, 25 de novembro de 2012

Viva a confusão de datas!

Na sexta-feira passada, atendendo ao pedido das minhas primas, tirei folga do trabalho. Achei que elas quisessem fazer alguma coisa comigo, sei lá. Levantei da cama às duas da tarde e ninguém, até então, havia me ligado. Passou-se uma hora, duas... Nada. Às seis, eu resolvi ligar para alguém, porque eu não sou palhaço.

Marjorie: Oi, priminho.

Adalberto: Oi, priminho é o cacete, né?

Marjorie: O que é isso, Adal?

Adalberto: Marjorie, você, a Ane, a Lu e a Sara pediram para eu tirar folga hoje e, até agora, nenhuma de vocês me ligou ou veio aqui em casa para me chamar para fazer alguma coisa...

Marjorie: Ué, mas a gente tinha que ir aí ou chamar você para fazer alguma coisa?

Adalberto: Ah, então, vocês queriam que eu tirasse folga para eu ficar descansando em casa?

Marjorie: É.

Adalberto: Eu cheio de coisa para fazer no trabalho...

Marjorie: Mas você descansou. Não foi bom?

Adalberto: Não. Fiquei na expectativa de fazer alguma coisa com vocês. Isso prendeu o meu dia.

Marjorie: Quer sair para tomar um sorvete?

Que ódio. Eu não tirei folga para tomar sorvete.

Marjorie: Vamos, primo?

Adalberto: Está bem. Vou só colocar uma roupa. Te pego aí?

Marjorie: Não! Quer dizer, nao. Eu passo aí.

Adalberto: Beleza. Te espero. Mas não demora. Eu já fiquei um dia inteiro sem fazer nada. Não aguento mais ficar dentro de casa.

Marjorie: Já vou sair. Até loguinho.

Quase duas horas depois, ela chegou. Fomos tomar sorvete e esse, de longe, foi o programa mais sem emoção que eu fiz com a Marjorie em toda a minha vida. Ela é designer de bolsas, é convidada para festas incríveis de grandes estilistas e sempre me leva de tiracolo. Foi, no mínimo, diferente sair com a Jojô para escolher sorvete de massa e calda de acompanhamento. Nada a ver com o que eu esperava para o meu dia.

Marjorie: Está gostando primo?

Óbvio que não.

Adalberto: Estou adorando. Obrigado pelo convite.

O telefone da Marjorie não parou de tocar durante todo o nosso programa furado na sorveteria, mas ela não atendia. Cancelava a ligação, blasé, e voltava a conversar comigo, como se nada tivesse acontecido. Isso me dava uma certa aflição. Cheguei à conclusão de que ela já deve ter feito isso comigo nas vezes que não quis me atender. Fiquei com raiva.

De repente, o celular tocou de novo - e essa já devia ser a milésima vez que isso acontecia - e ela atendeu. Que alívio.

Marjorie: Está bem... Ok... Beleza... Tchau.

Adalberto: Quem era?

Marjorie: Como assim, quem era?

Adalberto: Era a pessoa que estava te ligando desde a hora que chegamos aqui?

Marjorie: Por que você quer saber, primo?

Adalberto: Para saber se eu insisto, quando eu quiser falar com você, ou se não vale a pena.

Marjorie: Fica tranquilo. Sempre que você me ligar, eu vou te atender. Você é minha prioridade.

Sei...

Adalberto: Bom saber disso.

Marjorie: Vamos lá em casa comigo? Quero te mostrar umas coisas que eu comprei na minha última viagem.

Ela devia ter sugerido isso antes. Muito mais interessante ver as coisas que ela comprou na última viagem que ela fez, do que ficar batendo papo numa sorveteria. Eu já estava com frio e isso me deixou um pouco irritado.

Adalberto: Vamos, agora, então?

Marjorie: Vamos.

Quando chegamos em frente ao prédio da Marjorie, vi que todas as luzes do apartamento dela estavam apagadas e isso me deixou intrigado.

Adalberto: Jojô, você apagou todas as luzes, quando saiu de casa?

Marjorie: Apaguei.

Adalberto: Mas você gosta de deixar sempre a luz do corredorzinho acesa.

Marjorie: Não gosto mais. Parei de gostar. Agora, eu gosto de deixar a casa um breu.

Adalberto: Falar dessa maneira comigo também não combinava com ela. Mas tudo bem... Ela não devia estar naqueles dias.

Subimos num silêncio gutural. Isso nunca aconteceu. Por mais desconfortável que seja conversar no elevador, eu e as minhas primas conseguimos travar diálogos interessantíssimos dentro daquele espaço confinado, cheio de espelho, com pressão no ouvido e, dependendo da ocasião, cheio de gente.

A Marjorie abriu a porta do apartameto e pediu para que eu entrasse primeiro. MEDO!

Fui surpreendido por minhas outras primas cantando parabéns para mim. Tinha bolo, bola, docinho, refrigerante... Só que não era o meu aniversário.

As primas: Discurso, discurso, discurso...

Adalberto: Meninas, eu queria...

As primas: Eeeeeeeeehhhhhhh!

Adalberto: Agradecer por...

As primas: Eeeeeeeeeeeeeehhhhhh!

Adalberto: Essa festas, mas...

As primas: Eeeeeeeeeeeeeeeehhhhhhhhhhhhh!

Adalberto: Hoje não é o meu aniversário.

As primas: Hã?

As caras de decepção foram as melhores que eu já tinha visto em toda a minha vida. Senti vontade de rir.

Adalberto: O meu aniversário é no dia 27. Hoje é dia 24, dia do aniversário do tio Gabriel.

Ane: Putz, fui eu que confundi.

Sara: E eu nem me liguei no dia. Eu sei que é dia 27, mas eu achei que hoje era o dia 27. O tempo está passando tão rápido hoje em dia, né? Não era assim antigamente, não.

Lu: É mesmo. Esse ano voou. E eu não fiz nada. Continuo encalhada.

Marjorie: Gente, eu também não me liguei no dia. A Ane falou que era hoje e eu aceitei. Primo, entendeu, agora, por que não ligamos para você mais cedo? A gente ficou o dia inteiro organizando essa festinha.

O dia inteiro só para um bolo, umas bolas, uns docinhos e alguns refrigerantes. Poxa...

Marjorie: Entendeu por que eu não atendia as ligações? A gente combinou que, a cada ligação que elas me fizessem, eu deveria enrolar mais cinco minutos com você.

Adalberto: E por que você atendeu aquela última ligação? Como é que você sabia que era para atender?

Marjorie: Porque eu cancelei a ligação e elas ligaram de volta. Percebeu que, quando eu cancelava as ligações, ninguém me retornava imediatamente? Quando isso acotecesse, era porque eu devia atender.

Caramba...

Adalberto: Pena que vocês erraram a data. Essa ia ser a primeira vez que vocês iam conseguir fazer uma festa surpresa para mim.

Das outras vezes, eu sempre descobri a armação. Nessas outras vezes, não teve esse esquema de ligar-cancelar-quinze minutos ou ligar-cancelar-ligar de novo-está na hora...

Sara: E agora? A gente guarda para o dia 27?

Ane: Será que não vai estragar? O bolo tem que ficar na geladeira, né?

Lu: Ai, gente vamos comer isso tudo hoje. No dia 27, a gente faz outra brincadeira.

Marjorie: Concordo. Mãos à massa!

Adalberto: Gente, vamos fazer o seguinte, então. Já que a festa é minha, eu decido o que fazer. Vamos levar tudo isso para a casa do tio Gabriel e surpreendê-lo com uma festa de aniversário. Garanto que ele vai adorar. Ele deve estar em casa, deprimido, sozinho. Duvido que alguém tenha lembrado dele.

Marjorie: Ótima ideia primo. Partiu casa do tio Gabriel, então.

Lu: Demorou!

Sara: Só vou ligar para o Oswaldo saber que ele tem que me buscar lá no tio Gabriel. Se ele vier aqui e não me encontar, vai ter um filho.

Ane: Ah, chega. Vocês já têm três. Mais um, não!

Chegamos à casa do tio Gabriel, crente que estávamos abafando, mas do lado de fora ouvimos um som altíssimo. A música estava bombando e tinha uma galera animadíssima. Inclusive, meus pais, minha irmã, meu cunhado e o meu sobrinho, o Diego. Quem foi que falou que o tio Gabriel devia estar em casa, deprimido, sozinho?

Neide: Meu filho, vocês demoraram tanto. O que houve?

Adalberto: Ah, mãe, a gente demorou, porque resolvemos trazer essas coisas.

Neide: Levaram esse tempo todo para chegar aqui, por causa de um bolo, umas bolas, uns docinhos e uns refrigerantes? Poxa...

Ane: Demoramos porque fomos nós que fizemos tudo. Não foi nada comprado pronto.

A Ane apelou.

Neide: Quer enganar quem, Ane? A mim vocês não enganam, não.

Coitadas das minhas primas. Elas já tinham se enganado o suficiente, achando que era o meu aniversário. O melhor que elas poderiam fazer era ficar caladas. Mas isso não aconteceu, claro. E, depois de muitas cervejas, elas mesmas contaram para todo mundo sobre a comédia de erros que foi aquela sexta-feira.

Gabriel: No fim das contas, eu saí ganhando. Tomara que todo ano vocês façam essa confusão de datas.

Acho que, no fundo, no fundo, todo mundo saiu ganhando. O dia que tinha começado mocho terminou da melhor maneira possível. Graças as minhas primas.

E viva a confusão de datas!

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

É tudo culpa do hipopótamo

Ontem, foi o Dia da Proclamação da República, mas, na quarta-feira, eu decidi antecipar o feriado e faltei ao trabalho. O meu celular antigo tinha morrido e eu resolvi comprar um desses que faz tudo. Logo no fim da manhã, eu já estava em casa. A ideia era ficar o resto do dia desbravando os aplicativos do meu novo brinquedinho. Nele, eu posso baixar até o passo-a-passo da coreografia do novo clipe de Beyoncé.

É claro que eu não baixei esse aplicativo. É só um exemplo de como o meu novo celular é eclético. Ah, também tem um aplicativo que ensina a dar nó na gravata. Mas isso eu também não quero aprender a fazer. A minha mãe é mestre em dar nós em gravatas e, enquanto ela existir, vai continuar sendo a minha profissional do nó na gravata.

A brincadeira estava divertida, eu estava baixando um aplicativo que me mostrava como as formigas vermelhas se reproduziam, quando a Marjorie me ligou.

Adalberto: Zoológico? É isso mesmo que eu ouvi? Você está a fim de fazer programa de índio hoje? O que deu em você, Jojô?

Marjorie: A Isabela, aquela minha cliente, me chamou.

Adalberto: E por que você não disse que não? Inventava alguma desculpa...

Marjorie: Adal, eu já inventei diversas desculpas para ela. Ela vive me chamando para os programas de índio, que ela acha incrível, e eu nunca vou. Não tenho mais cara de dizer não. E outra: ela vai fechar comigo a próxima coleção da loja dela, são mais de 15 modelos de bolsa. Vou ganhar uma grana boa.

Adalberto: Entendi. Você está querendo me levar para essa furada junto?

Marjorie: Ai, primo, me salva. Eu não tenho muito assunto com ela. E você é o mestre de tirar assunto da cartola, com as pessoas mais improváveis. Quebra essa para mim?

E eu quebrei. Quando dei por mim, estava esperando o grande momento de ver um hipopótamo saindo de dentro da água.

Adalberto: Tem certeza que tem hipopótamo aí dentro, gente? Por mim, a gente vai embora. Já vi o elefante, o jacaré, a girafa e o rinoceronte... Para mim, já valeu o programa.

Isabela: Os hipopótamos só saem da água ao entardecer.

Adalberto: Pô, a pessoa que não tem tempo de ficar num zoológico o dia inteiro, devia receber um desconto por não conseguir ver o hipopótamo. Ou alguém de bom senso poderia tirar um hipopótamo de dentro dessa água podre, para a gente poder ver que tem mesmo um hipopótamo aí dentro. Eu já não estou acreditando.

Isabela: Fica tranquilo que você já vai ver.

Tranquilo era tudo o que eu não podia ficar naquele momento. Eu já estava num zoológico há quatro horas. Não aguentava mais.

Isabela: Eles passam a maior parte do dia da água para manter a temperatura do corpo baixa e não deixar a pele ressecar.

Adalberto: Hidratante neles!

Marjorie: Adal!

Adalberto: Ué, Jojô, você não vende bolsas? Imagina se as suas clientes tivessem que esperar você atendê-las só no fim do dia, porque você não acorda cedo. O que ia acontecer? Você ia perder muitas delas para outras designers de bolsa.

Marjorie: Adal, mas eu não sou um hipopótamo. Se fizesse isso, eu ia ser muito burra.

Adalberto: Os gestores desse zoológico também não são hipopótamos. Se eles fossem inteligente, passariam hidratante na pele dos hipopótamos e, assim, evitaria que eles ficassem o maior parte do dia dentro da água. Olha só o tanto de criancinhas esperando o hipopótamo sair da água. Isso não é humano.

Isabela: O que não é humano é passar hidratante na pele de um hipopótamo, Adalberto.

Eu ia dizer para ela que o que não é humano é convidar alguém para fazer um passeio no Zoológico, mas não quis colocar as bolsas, que ela encomendou da Marjorie, em cheque.

Marjorie: Ele sabe disso. Esse garoto é um palhaço, Isabela. Não viu que ele está brincando?

E logo recebi um beliscão na barriga para parar de dar sugestão sobre como ser um bom gestor de zoológico.

Isabela: Ai, eu sou tão lerda para essas coisas, que pensei que ele estava falando sério. Já estava pensando aqui comigo: "não acredito que o primo da minha designer favorita é um idiota". Já ia cancelar minha encomenda.

Marjorie: Sério?

E ela ficou rindo de uma maneira que me irritou profundamente.

Isabela: Claro que não, sua boba. Acha mesmo que eu ia deixar de comprar bolsa com você, só por causa do seu primo?

Marjorie: Sei lá, achei que você estava falando sério.

Isabela: Nada.

Marjorie: Então, você e o Adal são bem iguaizinhos. Ele adora falar uma coisa absurda sério, só de brincadeira. 

Eu não sabia que eu era assim...

Adalberto: Ah, eu sou assim mesmo. Sempre fui assim...

Isabela: Gente, olha ali o hipopótamo! Ai, meu celular está sem bateria. Me empresta o seu para eu bater foto, Adalberto.

E ela, toda abrutalhada, desastrada, deixou o meu telefone cair na água do hipopótamo. E adivinhem? O hipopótamo engoliu meu celular.

Olha como a vida adora pregar peças na gente: eu saio da minha casa para ir a um zoológico fazer um favor para a minha prima, sou obrigado a ficar horas esperando um hipopótamo sair de dentro da água e, quando isso, acontece eu perco o celular que eu tinha acabado de comprar.

Quando um carinha do zoológico veio perguntar o que tinha acontecido, eu não medi minhas palavras, não pensei na Marjorie. Eu estava com tanta raiva da Isabela, que falei o que veio à cabeça.

Adalberto: Ela jogou o meu celular de propósito para o hipopótamo comer. Ela disse que odeia hipopótamo e estava uma arara, porque o hipopótamo só sai da água no fim do dia e a gente queria esperar. Eu falei para ela que eles passam a maior parte do dia na água para evitar o ressecamento de pele e sabe o que ela me disse? Que vocês são uns incompetentes, que deveriam passar hidratante na pele dos hipopótamos para o público do zoológico não ter que ficar esperando um dia inteiro para ver o bichinho aparecer. E que as pessoas que não vissem, deveriam ter desconto. Isso tem coração? Não tem, não. 

Marjorie: Adal, como assim?

Adalberto: Olha, moço, leva essa mulher daqui. Prende ela.

A Isabela não conseguiu proferir uma palavra. Acho que, num primeiro momento, ela pensou que eu estava falando uma coisa absurda sério para, depois, desmentir. Só quando ela foi levada para uma salinha do zoológico e viu que eu não desmenti nada, que ela começou a se debater e fazer escândalo. Me xingou de tudo o que era nome e tentou manipular a Marjorie, dizendo que ia cancelar a encomenda. Mas já era tarde. Eu estava com ódio dela e nada ia me fazer desmentir aquele absurdo.

Fomos parar na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente

Ontem, fiquei o dia inteiro fazendo restituição do caso. Foi assim o meu feriado. A Marjorie estava uma arara comigo, mas eu estava me divertindo com aquilo. Um monte de gente envolvida, perito, fotógrafos, o pessoal do zoológico, muito legal essa coisa de reconstituição do caso. Eu já tinha visto isso na televisão, mas não imaginava que era tão legal. A gente parece até celebridade. Fiquei numa vaidade só... 

Durante a reconstituição, a Marjorie ficou do lado Isabela. Mas não adiantou nada. Eu tinha como álibi o fato de a perua ser um ótima cliente dela e consegui convencê-los de que a Jojô só estava protegendo-a por causa disso.

E depois das milhões de vezes que simulamos as situações narradas por mim e pela Isabela, chegou-se à conclusão de que a ela, realmente, tinha jogado o meu celular para o hipopótamo de propósito.

A Isabela chorou copiosamente e eu dava gargalhadas. Eu estava muito feliz e orgulhoso pelo meu poder de persuasão, me sentindo um reizinho, um imperador... Até que vi minha prima chorando também. Passaram-se várias coisas na minha cabeça. Naquele momento, era eu que fazia uma reconstituição mental de tudo o que tinha acontecido. A minha consciência pesada era a perita. E o resultado foi o seguinte: eu fui um escroto com a minha prima. Ela, provavelmente, ia perder a cliente e nunca mais ia querer falar comigo. Eu precisava consertar isso a tempo.

E enquanto a Isabela era levada para ser presa, eu decidi contar a verdade.

Adalberto: Ei, gente. Era tudo mentira minha. Ela não jogou o meu celular de propósito para o hipopótamo comer. Eu inventei aquilo. E me aproveitei de que ela é cliente da minha prima para invalidar todo o depoimento da Marjorie. Vocês me desculpam?

Claro que ninguém me desculpou. No lugar da Isabela, eu fui preso por calúnia e difamação. E, assim, terminou o feriado do Dia da Proclamação da República do imperador Adalberto Neto: com o reinado na lama. Parecia até ironia do destino. Castigo por ter faltado ao trabalho no dia anterior, só pode!

Hoje, depois de passar uma noite de cão numa cela xexelenta, as minhas quatro primas decidiram pagar fiança e me tirar daquele lugar imundo.

Adalberto: Meus amores, achei que vocês tinham se esquecido de mim.

Marjorie: Deixei você dormindo lá um dia para aprender a nunca mais fazer isso. Toma isso aqui.

Era um embrulho que eu abri num átimo. Um celular novíssimo! E bem melhor do que o que eu tinha comprado! Caramba, há males que vem mesmo para o bem... 

Sara: Você é doido, primo.

Ane: Maluco! Isso, sim!

Lu: Você não vale nada, garoto!

Realmente. Mas elas continuam me amando. E é isso que importa.

Adalberto: E a Isabela?

Marjorie: Fechou com outra designer.

Adalberto: Desculpa, prima. Foi tudo culpa do hipopótamo.

Marjorie: Tudo bem. Ontem mesmo, fechei contrato com três estilistas bem mais conceituados que ela.

Adalberto: Que ótimo!

 Marjorie: É... Mas, desses, eu quero você bem distante.

Melhor assim...

domingo, 11 de novembro de 2012

Quando todos os caminhos dão no show da Lady Gaga

Na sexta-feira, eu saí do trabalho mais cedo, porque fiquei de levar umas doações para um convento. Como não gosto de fazer nada sozinho, chamei a primeira prima que me veio à cabeça para me acompanhar.

Sara: Alô.

Adalberto: Está fazendo o que, Sarita?

Sara: Oi, Adal. Estou aqui no supermercado, fazendo compras de mês. 

Adalberto: O Oswaldo está com você?

Sara: Não. Por quê? Você está sabendo de alguma coisa dele? Olha, se estiver, pode falar, Adal, nós somos primos.

Adalberto: Sara, que neura! Perguntei por perguntar. Não sei de nada. Beijo.

Depois dessa, decidi convidar a Marjorie, a prima prática.

Marjorie: Fala, Adal.

Adalberto: O que você está fazendo de bom?

Marjorie: De bom, nada. Eu estou esperando uma cliente, que está vindo conversar sobre a próxima coleção. Ih, primo, ela acabou de chegar. Tenho que desligar. Beijo, tchau.

Viu como ela é prática? Próxima opção: Ane.

Ane: Priminho!

Adalberto: Oi, amoreca, onde você está?

Ane: Aqui, na casa do Afonsino.

Adalberto: Quem é esse.

Ane: Meu novo "amor verdadeiro, amor eterno".

Adalberto: Ane, você não vai tatuar essa cafonice no seu pé.

Ane: Eu, vou. Só faltava encontrar o meu amor. Agora que encontrei, já posso escrever "Afonsino - Amor verdadeiro, amor eterno". Isso não é cafona.

Adalberto: Pode até não ser. Mas a Deborah Secco já tatuou isso no pé, quando estava namorando o Falcão. Você sabe disso. 

Ane: Claro. Eu estou copiando dela, porque achei lindo.

Adalberto: Copiar a cafonice dos outros é ser cafona ao quadrado.

Ane: Ai, Adal, deixa eu desligar. O Afonsino está quase batendo na mãe dele, porque ela não acha um par de meias dele. Vou ajudar a procurar.

Adalberto: Como assim?

Ane: A mãe dele perde tudo que é dele. 

Adalberto: E só por isso ele quer bater nela?

Ane: Toda semana ele bate nela, mas ela não aprende...

Adalberto: Ane, então, corre daí, antes que esse cara te bata.

Ane: Ele não é maluco.

Adalberto: Ah, o cara que bate na mãe não é maluco?

Ane: Ela dá motivos?

Adalberto: E perder uma meia é motivo?

Ane: Isso para ele é importante, Adal. Você, quando viaja, coloca fralda geriátrica, porque tem medo de sentir vontade de fazer número 2 e não ter onde. Isso para você é importante. Para o Afonsino, um par de meias também é importante. 

Ela precisava fazer essa comparação?

Adalberto: Ane, se você não sair dessa casa agora, quem vai te bater sou eu. Onde já se viu? O cara bate na mãe e você ainda quer tatuar o nome dele no seu pé. O teu amor-próprio está no pé mesmo, hein...

Ane: Ih, deixa eu ir lá. Ele está molhando o pano de prato.

Não entendi a ação.

Adalberto: E quando a pessoa molha o pano de prato, o que isso quer dizer?

Ane: Quer dizer que ele vai bater na mãe dele com pano de prato molhado. Tchau, Adal!

Meu Deus! A minha prima está muito mal parada. O pior é que eu nem sabia onde ela estava para tirá-la à força daquele lugar.

Resolvi não ficar preocupado com a Ane para não comprometer a tranquilidade do meu dia. Ela já passou por situações piores e soube dar a volta. 

Liguei para a Lu.

Lu: Oi, meu amor.

Adalberto: Lindona, vamos comigo levar umas doações naquele convento, que eu ajudo sempre?

Lu: Adal, eu estou indo à feira. Vou comprar tomate e, depois, vou aproveitar para tomar caldo de cana com pastel. Estou com esse desejo há dias. Vem para cá.

Adalberto: Não posso, amore.

Lu: Por quê? É rapidinho. Eu como e a gente vai.

Adalberto: Não. Agora que vi, estou atrasado.

Mentira. Estou de dieta. Engordei três quilos no último feriadão.

Lu: Então, está bem. A gente se fala. Beijo.

Para a minha surpresa, depois que eu entreguei as minhas doações, a madre superiora, que se acha superior às outras, me entregou um envelope.

Madre superiora: Isso aqui é para te agradecer.

Adalberto: Ah, madre, obrigado.  

Eu imaginei que fosse um cartão, com uma mensagem linda. Mas eram dois ingressos para o show da Lady Gaga.

Eu tinha ouvido que o show dela não bombou nas vendas. Mas daí a ter distribuição de ingresso em convento... É muita apelação!

Como não tinha nada para fazer, decidi ir ao show. Não chamei ninguém para ir comigo, porque queria tentar vender o outro ingresso na porta e fazer uma graninha extra.

Me dei mal. Os cambistas estavam trocando biscoito e refrigerante por ingresso para o show.

Fui ser solidário.

Adalberto: Toma aqui, moço. Quem sabe, com esse, o senhor não consegue a passagem de volta para casa...

Cambista: Obrigado, meu filho. Acabei de trocar cinco ingressos por um golinho de Coca-Cola e sete, por uma mordida num sanduíche de presunto com ovo.

Meu Deus, que decadência! Eu queria adotar esse cambista, pagar por todos os ingressos que ele comprou, na esperança de ter lucro e, quem sabe, colocar comida dentro de casa, mas eu não tinha condições de fazer isso. Eu não tinha um centavo no bolso. Meu cartão tinha sido bloqueado e eu fui ao show com a roupa do corpo e nada mais.

Adalberto: Moço, saiu muito caro para o senhor comprar os ingressos para revender aqui na porta?

Cambista: Nada. Umas freiras subiram lá no morro onde eu moro e saíram distribuindo. Só eu ganhei uns vinte.

Adalberto: Ah, tá.

Então, ele estava no lucro... E eu com pena desse sujeito...

Cambista: Tu vai entrar no show ou também veio tentar vender ingresso?

Adalberto: Não, eu vou entrar. 

Cambista: Então, vamos! Eu também vou. Minha família está toda lá dentro.

Dentro do Parque dos Atletas, onde aconteceu o show, cabem cem mil pessoas. Mas parecia que só tinham cem. Cem monstrinhos, diga-se de passagem. A Lady Gaga, sim, era digna de pena.

Mas ela não se abalou por isso. Fez sua apresentação como se estivesse diante de uma plateia de um milhão de... Mostrinhos!

De repente, fui chamado ao palco.

Lady Gaga: Hey, you!

Adalberto: Eu?  

Lady Gaga: Yeah!

Subi ao palco.

Lady Gaga: Do you like my concert?

Adalberto: Yes.

Lady Gaga: Really? So you are having a good time, aren´t you?

Adalberto: Yes.

Lady Gaga: Did you come alone?

Adalberto: No.

Eu detesto ser monossilábico, mas também morro de vergonha de falar inglês na frente de um monte de gente que fala a mesma língua que eu. Tudo bem que não tinham cem mil pessoas. Mas tinham cem!

Lady Gaga: Who came with you?

Caramba! Eu não sabia o nome do cambista. Também ia ficar chato eu falar para a cantora que eu entrei com um cara que estava fazendo venda ilegal de ingressos do show dela. Fora que eu não sei como se fala cambista em inglês. Será que existe cambista nos lugares em que se fala inglês? Ou isso é coisa que só tem no dicionário de português do Brasil?

Adalberto: Sorry, I came alone.

Lady Gaga: Oh, ok. And what´s your name?

Tive dúvidas se ela ia conseguir pronunciar meu nome.

Adalberto: My name is very difficult for you to speak.

Lady Gaga: But say to me. What´s your name my little monster?

Depois de ter visto como eram os seus fãs, entendi isso como um xingamento. Mas tive pena de dizer para ela que eu não era um monstrinho. O show já não tinha bombado... 

Adalberto: My name is Adalberto.

Lady Gaga: What?

Adalberto: Adalberto:

Lady Gaga: Sorry, baby. Spell your name, please.

E depois da cena ridícula, em que eu soletrei o meu nome para a Lady Gaga, ela finalmente improvisou, para mim, uma versão de "Alejandro".

Lady Gaga: Adalberto, Adalberto // Ada-Adalberto, Ad-Adalberto // Don´t call my name, don´t call my name, Adalberto // I´m not your babe, I´m not your babe...

Que mico! Naquele momento, eu virei uma celebridade da mídia. Da mesma safra dos ex-BBBs, das mulheres que invadem as partidas de futebol completamente nuas, das ex-namoradas dos jogadores de futebol e das mulheres que ficam viúvas de famosos e escrevem livros para contar como era a vida deles.

De repente, de cima do palco, vi uma confusão. E como era pouca gente nos show, consegui ver as minhas quatro primas e o Oswaldo no meio de uma briga. Isso chamou a atenção da Lady Gaga, que interceptou.

Lady Gaga: Hey, please, stop fighting, my little monsters!

Adalberto: Deixa que eu falo em português com eles.

E tomei o microfone da mão dela.

Adalberto: Gente, vamos parar com a briga! Vamos parar com essa palhaçada! Não tem tanta gente aqui para ter briga. Dá para todo mundo ver o show de perto. Cadê os seguranças, hein?

Os seguranças estava dormindo. Era tão pouca gente, que eles achavam que não iam ter trabalho e ficaram dormindo nas guaritas. Isso foi o que me contaram depois. 

Um policial, que estava curtindo o show, algemou um homem e o levou para fora do local. Deis dois beijinhos na Lady Gaga e desci para ficar com as minhas primas. Ela voltou a cantar como se nada tivesse acontecido. Essa menina, como diria minha mãe, é uma artistona. Sabe superar as dificuldades...

Adalberto: gente, o que vocês estão fazendo aqui? O que aconteceu? Que confusão era aquela?

Marjorie: Calma, Adal. A gente se encontrou aqui por coincidência. Eu ganhei um ingresso daquela cliente que foi lá em casa hoje.

Lu: Eu ganhei o meu na barraquinha de tomate, da feira. 

Sara: Eu ganhei dois ingressos no mercado, onde fiz compras de mês.

Ane: E eu vim com o Afonsino.

Adalberto: E cadê ele?

Ane: Ele foi preso. Um policial que estava aqui à paisana levou ele para fora.

Adalberto: Eu vi isso de lá de cima do palco! Era o Afonsino?

Ane: Era, Adal, vamos lá comigo atrás dele?

Adalberto: Está maluca? Para quê? Para ele me bater? O cara que bate na mãe merece isso. Ser preso! Mas o que esse louco aprontou?

Marjorie: Foi pego furtando dinheiro da bolsa de uma monstrinha.

Percebi a ironia da Marjorie e senti vontade de rir, mas não era a ocasião para isso.

Lu: O cara não presta. Roubou uma freira todos os ingressos que uma freira ia distribuir numa favela. 

Adalberto: Ah, deve ser do convento que eu ajudo. As freiras de lá saíram distribuindo ingressos para o show pela favelas. Eu ganhei o meu de lá... Mas como é que você soube que ele roubou uma freira?

Lu: Aquela madre superiora, que está ali na frente comprando cerveja, me contou. Ele ficou o tempo todo com a gente aqui no show. Ela se joga, primo. Muito legal.

Adalberto: Gente, é a madre superiora do convento que eu faço doação! Como assim?

Marjorie: Como assim, que eu vou embora!

Adalberto: Já?

Marjorie: Primo, todos os mosquitos do mundo já me comeram aqui. Eu preciso estar viva para terminar uma coleção até o fim da semana que vem. Estou indo. Beijo!

Sara: E eu vou com o Oswaldo. Também não estou aguentando esses mosquitos.

Oswaldo: Eles são os verdadeiros monstrinhos.

Sara: Tchau, primo.

Adalberto: Gente, então, eu também vou.

Lu: Eu vou com você. Vamos beber fora daqui, primo. A cerveja aqui dentro é muito cara e eu nem gosto tanto assim dessa gaga.

Ane: Ah, sua falsa! Você ficou aos prantos, quando ela acenou para você de dentro do carro, chegando aqui...

Lu: Porque eu pensei que fosse aquela outra que eu gosto.

Adalberto: E quem é aquela outra que você gosta.

Ane: É a Kate Perry. Mas ela nem sabia o nome da mulher.

Lu: Ah, não sabia mesmo, não. Só sabia que ela cantava aquela música que eu gosto, assim "nãnãnã, nãnã, nãnãnãnãnã, nãnãnã, nã".

Adalberto: Que música é essa?

Ane: Ah, sei lá, Adal. Vamos embora daqui. Vou atrás do Afonsino.

Adalberto: Ah, mas não vai mesmo. Senão, eu vou bater em você, como ele faz com a mãe dele: com pano de prato molhado.

Fui com a Ane e a Lu para um bar perto da minha casa. A essa altura, o show já havia acabado.

Quando chegamos, tomei um susto com o bando de gente que veio me fotografar. A Ane que estava com um bico do tamanho do mundo, porque eu não quis deixá-la ir atrás do bandido do Afonsino, estava curtindo o momento "prima de um pseudo-famoso".

Adalberto: O que é isso, gente?

Lu: Esqueceu que você agora é uma celebridade? O show foi transmitido na TV aberta, meu bem. 

Adalberto: Ah, meu Deus, que vergonha.

Já tinha gente com faixa, cartaz com foto minha e tudo...

Nem consegui pedir minha cervejinha. Os meus fãs não me deixavam em paz. Fui para casa sozinho. A Ane e a Lu, espertas que só elas, se arrumaram entre os meus fãs.

Adalberto: Esses meninos devem ter menos de dezoito anos!

Lu: Deixa! A gente cuida deles direitinho.

Adalberto: Vocês não valem nada.

Ane: Por isso que você gosta da gente.

Adalberto: Pelo visto, já esqueceu o Afonsino, né?

Ane: Quem é Afonsino?

Lu: Afonsino já é passado na vida dela, meu bem. A gente, agora, vai investir na primeira idade.

Adalberto: Tchau, suas louquinhas! Agora, vai ser assim que vou chamar os meus fãs. Os da Lady Gaga, são monstrinhos e os meus, louquinhos. Gostaram?

Ane: Adorei.

Lu: Muito bom, primo.

Muito boa foi essa reviravolta que deu na minha vida. Ontem, fui convidado para da entrevista para vários telejornais, estou sendo chamado para fazer presença VIP em várias festas, estou conhecendo vários artistas e fui sondado para fazer a abertura do "Soletrando", do programa do Luciano Huck, no começo do ano que vem.

Tomara que os meus quinze minutos de fama durem até lá.

sábado, 3 de novembro de 2012

Dia de Finados em grande estilo

Ontem, foi Dia de Finados e eu só pensava em matar minha fome. Tinha saído no dia anterior, acordei tarde, faminto, mas a dispensa estava vazia. Nem ia tomar café. Como já era hora de almoçar, queria ir para algum restaurante e encher a pança. Mas queria companhia. Liguei para a Sara:

Sara: Oi, Adal.

Adalberto: Está falando baixinho por quê?

Sara: Eu estou no cemitério. Vim aqui com a minha sogra. A gente está no meio de uma oração. Depois, eu te ligo.

Eu queri ter falado que não precisava me ligar depois, que o que eu queria fazer não podia esperar a oração dela... Mas ela não me deu tempo para isso e desligou. Se desse tempo, eu também iria perguntar para quem elas estavam rezando. Mas isso, eu posso saber depois.

Opção 2: Marjorie.

Marjorie: Oi, Adal.

Adalberto: Que voz é essa?

Marjorie: Como assim?

Adalberto: Você está com uma voz de enterro.

Marjorie: É que eu acabei de voltar do enterro da Dora.

Adalberto: Quem é Dora?

Marjorie: A minha hamster. A minha vida acabou.

Eu senti vontade de rir. Juro, não consigo sofrer pela morte de um bicho, mas entendo quem é assim.

Adalberto: Ela morreu?

Marjorie: Morreu, né, Adal...

Adalberto: É, eu sei. Não foi isso que eu quis perguntar. Eu só queria lamentar, mas acabou me expressando mal e fiz uma pergunta meio que óbvia. Mas, na verdade, eu só queria te dizer que... Bom, eu queria te dizer que... Nessas horas... A vida... Eu acho que quando um animal morre é como se... Não... talvez seja melhor você... Sei lá.

Ai, acho que é mais fácil confortar uma pessoa que perdeu a mãe, do que alguém que perdeu um hamster, que só sabia fazer sujeira pela casa inteira!

Marjorie: Adal, eu vou desligar. Eu preciso ficar um pouco aqui, na minha.

Melhor assim.

Adalberto: Está bem, então, amore, só liguei para saber se estava tudo bem com você. Eu lembrei que a Dora estava mal e aí te liguei para isso. Eu só não sabia o nome dela, né? Mas lembrei que a hamster estava bem mal. Eu sou péssimo para nomes. E, quando você fala Dora, sempre me vem à mente a Dorinha, a nossa ex-vizinha lá do Méier. Lembra da Dorinha? Uma querida aquela menina. Parece que ela teve um filho. Aliás, vamos combinar um dia de ir lá na casa dela, visitar a mãe dela, conhecer o filhinho dela. parece que ela separou do marido. Mas, segundo diziam, o cara não valia nada. Talvez tenha sido melhor assim, né? Marjorie? Marjorie? Jojô? Ih, a ligação caiu.

Ou, não. Decidi que a Lu seria a minha companhia para almoçar.

Lu: Oi, Adal.

Ela parecia bem nervosa, mas eu fingi que não tinha percebido nada.

Adalberto: Boa tarde!

Lu: Boa tarde, por quê?!

Adalberto: Porque já passou do meio-dia e as pessoas educadas cumprimentam assim.

Lu: Mas eu estou cansada de educação. Eu fui educada, maneira, parceira com aquela canalha do Clodowilson ele me trocou por uma garota, que ainda nem tirou as fraldas. Eu não mereço isso! Eu não mereço isso! Eu vou matar aquele desgraçado!

Adalberto: Lu, olha só, hoje é Dia de Finados. Deixa para matar ele outro dia. Imagina como deve ser ruim para uma família quando alguém morre no Dia de Finados...

Lu: Eu quero que se dane ele e a família dele. Aquela jararaca da mãe dele, que dizia que eu era a sua segunda filha, nem atende as minhas ligações. Se ela cruzar a minha frente, eu mato ela também. Adal, eu estou indo agora com uma faca até a casa do Clodowilson para matar aquele ordinário.

Eu precisava parar essa doida!

Adalberto: Lu, não! Me espera. Eu vou com você. Te ajudo a matar ele, a mãe dele, o pai dele, a irmãzinha dele, que é uma fofa, mas é irmãzinha dele, a vozinha dele, o cachorro, o papagaio, o periquito... Chacina total. Acabar com aquela raça de gente. Topa?

Lu: Não, primo. Eu sei que você está falando isso só para me enganar. Depois, vai chegar aqui e não vai fazer nada disso.

Adalberto: Eu te prometo.

Lu: Não. Depois, você vai ficar sabendo pelo boletim de ocorrência, que, com certeza, alguém vai fazer.

Adalberto: Lu, não! Por favor! Lu! Lu! Lu? Desligou. Droga!

Perdi até a fome... Com a Sara ocupada com a sogra e a Marjorie arrasada, só me restou ligar para a Ane me ajudar a conter a Lu.

Ane: Oi, Adal.

Adalberto: Que voz é essa?

Parecia que ela estava gemendo.

Ane: Nada, Adal, fala.

Adalberto: A Lu saiu de casa agora para matar o Clodowilson. A gente precisa impedir essa louca de fazer isso. Liga para ela. Eu falei com ela, mas não adiantou nada. Acho que ela te ouve mais.

Ane: Não, não, não, não, não, não, não, não, nãããããããããããããããããããoooooooooooooooo!

Adalberto: Está bem, Ane. Não precisava disso tudo. Era só dizer uma vez que não, que eu ia entender.

Ane: Calma, Adal.

Adalberto: Calma, o quê? Eu estou calmo. Você é que está gritando comigo. Aliás, eu tenho motivos para estar nervoso. A nossa prima foi matar o ex-namorado e nem por isso eu te destratei.

Ane: Adal, eu estava transando.

Adalberto: Como assim? Você atende telefone, enquanto transa?

Ane: Ideia do Creonelson. Ele disse que era para eu atender. Fetiche bobo.

Muito bobo!

Adalberto: Quem é esse idiota?

Ane: Adal, o Creonelson, não lembra? Falecido Creonelson, que eu namorei tem uns dois anos, mas que terminou comigo, porque se mudou para o interior de Minas.

Óbvio que eu não me lembrava!

Adalberto: Ah, sim. Lembro, sim.

Ane: Então, ressuscitou. Veio fazer um trabalho aqui no Rio e resolveu me fazer uma visitinha. Foi ótimo.

Adalberto: Ah, que bom que foi bom para você. Agora, vamos lá comigo impedir que a Lu faça uma loucura.

Ane: Você sabe onde é?

Adalberto: Acho que sim. Eu já fui com ela à casa desse cara uma vez.

Ane: Está bem. Vou dispensar o Creonelson, tomar banho e, quando você passar aqui, eu já vou estar prontinha, te esperando.

Adalberto: Em vinte minutos eu chego aí.

Fui voando para a casa da Ane. Devo ter tomado várias multas de excesso de velocidade e ultrapassagem de sinal. Tudo por uma nobre causa.

Chegamos a tempo à casa do Clodowilson. Ela ainda não tinha chegado. Fizemos hora numa barraquinha de cachorro-quente. Eu até tinha voltado a sentir fome, mas estava com nojo. A vendedora, que chamava Djenanny, com dois ênes e ípsilon, era uma menina querida. Mas tinha um aspecto de porca.

Duas horas se passaram e a gente nem sentiu. Foi como se estivéssemos há quinze minutos ali. Estávamos tendo altos papos com a Djenanny. Ela contou cada coisa da vida da vizinhança, que até Deus duvida. Já éramos melhores amigos de infância dela.

De repente, ela começou a contar uma história que me soou um pouco familiar. Ela disse que um cara, que tinha largado uma mulher mais velha para ficar com ela, voltou atrás e largou ela para ficar com a mulher mais velha. Ela falou que estava com ódio dele, porque eles mal terminaram e ele já tinha ido ficar com a outra. Segundo ela, ele queria trocar de moto e sabia que a "otária" ia ajudá-lo a comprar uma nova. E afirmou que, se ele passasse ali com ela, ela ia jogar aquela panela inteira, com molho de cachorro-quente fervendo, em cima dele e dela. A Ane não parava de rir, mas eu fiquei pensativo.

Me afastei um pouco delas e liguei para a Lu.

Lu: Ou, Adal.

Agora, ela parecia feliz.

Adalberto: Lu, onde vocês está?

Lu: Estou aqui na rua do Clodowilson e estou te vendo. Quando eu estava saindo de casa, dei de cara com ele na portaria com um buquê de flores. Eu sabia que você ia vir para cá para não deixar eu matar o Clodowilson.

Eles estavam quase chegando à altura da barraquinha de cachorro-quente. Eu precisava impedir a Lu de cruzar com a ira da Djenanny.

Adalberto: Lu, o esgoto daqui da rua está vazando. Tem um monte de barata aqui. Ai, olha! Uma até subiu em mim. Corre!

E ela correu a tempo de evitar a queimadura de terceiro grau, de molho de cachorro-quente, que deformou o rosto do Clodowilson.

As meninas ficaram apavoradas. Fomos para a casa da Marjorie tentar espairecer. A Sara estava lá. O clima, que parecia bom, ficou melhor depois que contamos a nossa aventura.

Passamos o resto do dia conversando, bebendo e rindo. terminamos o Dia de Finados em grande estilo: celebrando a vida.