sexta-feira, 9 de maio de 2014

Coincidências da vida deixam Ane sem palavras

Hoje, quando eu estava saindo de casa pra ir trabalhar, a Ane me ligou.

Ane: Primo, para tudo!

Adalberto: O que foi, Ane?

Ane: Preciso da sua ajuda. É um caso de vida ou morte.

Essa não! Os casos de vida ou morte das minhas primas NUNCA são casos de vida ou morte.

Adalberto: Fala.

Ane: Sabe o Almiríade?

Adalberto: Não.

Ane: Aquele cara que eu conheci na semana passada e fiquei apaixonada.

Adalberto: O do cabelo do nariz grande?

Ane: Isso. Mas eu cortei no terceiro dia que a gente ficou.

Adalberto: Que bom, era nojento.

Ane: É. Mas antes não tivesse me preocupado com isso.

Adalberto: Por quê?

Ane: Ele estava com a Jane ontem.

Adalberto: A Jane Furacão?

Ane: Essa galinha mesma. Passeando na Praia de Copacabana. Eu preciso ir lá em Irajá agora falar com ela que o homem é meu.

Adalberto: Mas ele não é seu. Vocês só estão ficando. De mais a mais, ele conhece a Jane há mais tempo do que você.

Ane: Mas eu peguei primeiro.

Adalberto: Eu não vou deixar de ir trabalhar pra ir te levar em Irajá, né?

Ane: Vai, sim. Senão, eu vou postar no Facebook aquele seu vídeo fazendo o quadradinho de oito.

Eu nunca mais bebo na frente da Ane!

Adalberto: Eu te levo. Mas você me promete que não vai fazer barraco com a menina?

Ane: Prometo.

Tenho certeza que ela cruzou os dedos escondido. Ela sempre faz isso.

Inventei mais uma dor de barriga pra faltar o trabalho. Levei uma hora pra buscar a Ane e duas pra chegar à casa da Jane, que me recebeu com um abraço forte.

Jane: Que bom ver vocês!

Ane: Sua falsa! Você tá saindo com o MEU homem.

Adalberto: Ane, por favor.

Ane: Ane, por favor, não! Me segura, senão eu vou arrebentar a cara dessa vadia!

Me senti ridículo segurando uma louca aos berros. A Jane fez a fina, fingiu que não era com ela, bateu o portão na nossa cara e deixou a Ane falando sozinha.

Adalberto: Tá bom pra você?

Ane: Eu quero matar essa vadia! Vou tacar uma pedra na casa dela.

E quando ela ia tacar uma pedra na janela da casa da Jane, foi abordada por uma cópia da sua "rival" com o Almiríade.

Iane: Ei, vai tacar pedra onde, hein?

Ane: Jane?

Adalberto: Você se teletransportou?

Iane: Não, eu sou Iane, irmã gêmea da Jane.

Ane e Adalberto: A Jane não tem irmã gêmea.

Iane: Tem, sim. Eu fui roubada na maternidade. Uma louca colocou um bebê morto no meu lugar e me levou pro Acre. Lá, eu passei fome, fiz trabalho escravo pra Nike dos três aos nove anos, vi uma irmã de criação ser estuprada, minha mãe assassinada, meu pai se suicidando, fui estuprada, engravidei, perdi, fui estuprada de novo, engravidei de novo, eram gêmeos, perdi um, o outro nasceu sem os membros, foi comido por um pitbull, eu me joguei de uma ponte, não morri, fui a uma cartomante, ela disse que eu tinha família no Rio, eu vim pra cá sem eira nem beira, o avião caiu no mar, só eu não morri, fui nadando até à praia, o Almiríade me viu caída na areia, achou que era a Jane, me levou pro hospital desacordada e, quando eu acordei, eu disse que tinha uma irmã gêmea no Rio e ele me trouxe até a Jane, a gente se apaixonou e, ontem, ele me levou à Praia de Copacabana, onde ele me encontrou caída pra pedir a minha mão em casamento.

Ane: Ah, tá.

Foi tudo o que Ane pôde dizer. Eu me mantive calado. A história da Iane com o Almiríade é coisa de filme. É ela que merece ser a nova cabeleireira do nariz dele.

Iane: Eu tou muito feliz.

Adalberto: Eu imagino.

Ane: Parabéns pra vocês.

Almiríade: Muito obrigado.

Adalberto: Tchau, gente. Que vocês sejam felizes.

E voltamos pra casa calados. Fiquei refletindo sobre as coincidências na vida, que, definitivamente, não devem existir. E a Ane dormiu até chegar em casa.