sábado, 28 de julho de 2012

O (quase) batismo dos trigêmeos da Sara - Tentativa 3

O batismo dos trigêmeos da Sara parece até novela. Na primeira tentativa, o padre faltou. Na segunda, os padrinhos. Agora, não tem como dar errado. Ane, Lu e Marjorie vieram jantar aqui em casa ontem e aproveitaram para dormir. A igreja é pertinho. Menos de dez minutos de carro. Fomos todos juntos para não ter problema de falta de padrinho.

Dessa vez, tirando os padrinhos, só a minha mãe foi. Meu pai, minha irmã e meu cunhado já haviam perdido toda a paciência para esse batismo nas duas tentativas anteriores.

O comentário na porta da igreja era sobre vestido. E eu garanto que era melhor ouvir isso do que ser surdo.

Ane: Eu não gosto daquele babado na manga.

Marjorie: Mas é muito cafona mesmo.

Lu: Eu ia vir de vestido curto e vocês não deixaram. Olha o daquela garota. Além de curto, é justíssimo. Não sei como ela está conseguindo respirar.

Neide: O vestido dela não é para esse tipo de ocasião. Será que ela vai batizar alguma criança? Eu não deixaria ela batizar filho meu com essa roupa. Um péssima influência.

Adalberto: Como assim péssima influência, mãe? Os bebês que estão aqui só sabem chorar. Não entendem nada.

Lu: Choram de tristeza, porque têm uma madrinha mais cafona que a outra.

Neide: Eles podem não entender agora, mas quando tiverem uma certa idade, eles vão ver as fotos do batismo.

Marjorie: Photoshop hoje em dia resolve tudo, tia. Se algum dia uma periguete batizar um filho meu, ela pode ir com a roupa que quiser. Mas no álbum de recordações, quem decide a roupa que ela vai vestir sou eu. E viva a tecnologia!

Lu e Ane: Viva!

Neide: Meninas, silêncio! A gente está na porta de uma igreja. Vocês parecem que estão numa feira livre.

Ane: Também, com o vestido estampado daquela sem noção que está chegando ali, igual a uma fruteira, parece mesmo que a gente está numa feira, tia.

Minha mãe que é péssima para disfarçar, quando olhou o vestido da tal mulher, não segurou o riso. Marjorie e Lu tentaram esconder que estavam rindo, mas a mulher percebeu.

Isso acionou a fúria da mulher do vestido estampado.

Mulher do vestido estampado: Qual é o problema de vocês, hein? Tem alguma palhaça aqui?

Neide: Não, moça, desculpa.

Lu: Palhaça, não. Mas uma feira livre em forma de gente, sim. Me vê uma penca de banana, por favor.

Mulher do vestido estampado: Eu vou dar na tua cara, sua folgada.

Ane: Para bater nela, vai ter que bater em mim também, sua colorida!

Marjorie: E se bater nelas, eu chamo a polícia. Eu não vou encostar os meus dedos em você. Nem nessa cortina cafona, que você está usando como vestido.

Mulher do vestido estampado: Então, espera aí, que eu vou chamar as madrinhas dos meus quíntuplos para pegar vocês três, suas vagabundas.

Ane: Caraca, a gente está ferrada. O mulher, além de cafona, é uma vaca parideira. Foi chamar um time de futebol para bater na gente.

Adalberto: Um time de futebol, não, porque faltariam jogadores. Mesmo se fosse futebol society.

Lu: Garoto, cala a boca e vamos embora daqui.

Adalberto: Eu, não. Vim aqui para batizar os meus três afilhadinhos e não saio daqui sem fazer isso.

Marjorie: Então, fica aí sozinho para enfrentar aquelas cinco baleias que estão vindo na nossa direção.

Peguei a minha mãe pelo braço e corri para o estacionamento.

Neide: Meu filho, a gente não pode ir embora assim.

Adalberto: Quer pagar para ver a fúria da mulher do vestido estampado?

Lu: Tia Neide, cala a boca e vamos embora. Corre!

Entramos no carro e deixamos para trás a terceira tentativa de batizar os trigêmeos e as madrinhas dos quíntuplos enfurecidas.

E, para variar, paramos num bar para tomar um chopinho. Bem longe daquela igreja, claro.

Ane: Sabe o que eu acho? Esse batismo não é para ser. Eu não quero mais ser madrinha da Lina. É a Lina a minha afilhada? Ih, caraca, nem sei mais se eu sou madrinha da Lina ou da Liana. Lu, você é madrinha de quem?

Lu: Não sei. É de uma dessas duas. Na hora, você pega uma, eu pego a outra e tudo se resolve.

Marjorie: O meu é fácil, porque é o Gero.

Adalberto: E o meu é mais fácil ainda, porque eu sou padrinho dos três. Desculpa aí.

Ane: Metido!

Neide: Gente, vamos ligar para a Sara? Ela deve estar na porta da igreja maluquinha, esperando vocês.

Marjorie: Vamos. Mas a gente fala o quê, tia?

Neide: Ué, que não tem como a gente ir. Vamos falar a verdade. As madrinhas dos quíntuplos não querem bater na gente? vamos contar isso para ela, então.

Adalberto: Então, liga aí, mãe, já que você deu a ideia.

Neide: Você é esperto, hein, garoto.

Adalberto: Esperto, não. Eu não ri de ninguém. Vim para cá em solidariedade a vocês. Se eu não tirasse vocês de lá, a essa hora, em vez do batismo dos trigêmeos, eu ia estar no enterro de vocês quatro.

Ane: Liga, tia!

Lu: É, tia, anda logo!

Neide: Vocês são folgadas, hein. Vou ligar mas é pela Sara. Eu não tenho culpa de ter rido do vestido daquela mulher. A Ane foi quem me mostrou a cafona. Ela que devia estar ligando para a ...

Sara: Alô.

Neide: Alô. Oi, Sara, tudo bem?

Sara: Tudo, tia.

Neide: Minha filhinha, a gente queria te explicar uma coisa. Mas a gente não queria que você ficasse chateada com a gente. A gente não teve culpa. Quer dizer, mais ou menos. Você já está aí na igreja?

Sara: Não.

Neide: Não?

Adalberto: Não?

Marjorie: Não?

Ane: Não?

Lu: Não?

Neide: Onde você está?

Sara: Em casa, tia, dormindo. Hoje é sábado, não é dia de missa. Missa é amanhã, domingo.

Neide: Ah, tá. É verdade. Olha, eu estou maluquinha. Sara, meu amor, desculpa, fiz confusão.

Sara: Aconteceu alguma coisa?

Neide: Não, está tudo bem.

Sara: Então, está bem, tia. Vou voltar a dormir. Estou muito cansada. As crianças choraram a noite toda e só agora que eu consegui pegar no sono.

Neide: Vai, sim, minha filha. Volta a dormir, sim. Depois a gente se fala com calma. Um beijo.

Marjorie: E aí, tia? Conta!

Neide: Gente, a Sara esqueceu do batismo.

Ane: E a senhora mandou muito bem em não ter lembrado a ela. Vou pedir mais uma rodada de chope só por causa disso. Isso precisa ser celebrado.

Neide: Isso o quê?

Ane: O lado atriz da senhora.

Adalberto: Ou você quer dizer mentirosa.

Lu: Atriz, mentirosa, qualquer coisa. O importante é que ela soube conduzir bem a situação.

Marjorie: E ela não mentiu. Ela só omitiu.

Ane: É. E se a Sara esqueceu o batismo dos próprios filhos, o problema é dela. Não nosso.

Lu: Nem da tia Neide.

Marjorie: Concordo.

Neide: Gente, vocês, por favor, não contem nada para ela. Vamos deixar assim. Todo mundo esqueceu, está bem?

Ane: Perfeito, tia. Agora, a Sara vai se crucificar, quando realizar que esqueceu do batismo dos próprios filhos.

Marjorie: Nada. De mais a mais, ela tem esse direito. Nós mesmos já esquecemos. Agora, foi a vez dela.

Adalberto: Olha, o chope chegou. Vamos brindar?

Ane: Um brinde ao talento artístico da tia Neide.

Lu: Um brinde ao esquecimento da Sara.

Neide: Um brinde aos trigêmeos, que não têm nada a ver com isso, e deviam estar agora sendo batizados, coitadinhos.

Marjorie: Um brinde à mulher do vestido cafona. Se não fosse por ela e por pessoas como ela, não haveria a distinção entre brega e chique.

Adalberto: Um brinde a mim, que livrei vocês da fúria das madrinhas dos quíntuplos.

E, no fim do dia, após muitas outras rodadas de chope e brindes como esses, nós fomos embora.

sábado, 21 de julho de 2012

Espírito aventureiro até a página dois

Hoje, eu acordei com espírito aventureiro. Mas precisava de uma sugestão e uma companhia. Liguei para a Marjorie.

Marjorie: Oi, primo.

Adalberto: Jojô, queria fazer uma coisa radical hoje. Fujir da rotina de fim de semana.

Marjorie: Então, você ligou para a pessoa certa.

Adalberto: Como assim?

Marjorie: Eu estou esperando um amigo me buscar aqui em casa. A gente vai para a Região dos Lagos fazer rally nas dunas.

Caraca. Não sei se o nível do meu espírito aventureiro eliminava o meu cagaço para essa atividade.

Adalberto: Rally nas dunas? É isso mesmo que eu ouvi?

Marjorie: É, Adal. Vamos?

Adalberto: Rally nas dunas eu estou cansado de fazer.

Marjorie: Você? Mentira! Nunca me falou nada.

Adalberto: Eu achava que você não gostasse. Foi há muito tempo atrás.

E antes que eu me enrolasse com muita explicação falsa, cortei logo o assunto.

Adalberto: Amoreca, estão me interfonando. Deve ser o porteiro para dizer que eu esqueci o farol do carro aceso. Eu sempre faço isso. Depois, a gente se fala. Beijo. Ah, divirta-se.

Eu queria alguma coisa menos radical. E a Ane podia ter uma boa ideia.

Ane: Que surpresa boa você me ligando logo pela manhã de um sábado.

Adalberto: Pois é, acordei com uma vontade de fazer alguma coisa muio diferente. Tipo radical. Mas não muito.

Ane: Então, você ligou para a pessoa certa.

Medo.

Adalberto: É? O que você sugere?

Ane: Sugiro, não. Eu vou acompanhar um carinha que eu estou ficando numa escalada na Pedra da Gávea. Vamos?

E se eu cair naquelas pedras? De jeito nenhum!

Adalberto: Ah, fala sério. Escalada na Pedra da Gávea. Isso, para mim, já perdeu a graça.

Ane: Desde quando você já escalou a Pedra da Gávea, senhor Adalberto?

Adalberto: Ah, Ane, faça-me o favor, né? Isso tem tempo. Agora, deixa eu desligar, porque estão me interfonando. Deve ser o porteiro para dizer que eu esqueci o farol do carro aceso. Eu sempre faço isso. Depois, a gente se fala. Beijo. Ah, divirta-se.

Cruz credo! Eu ir fazer escalada na Pedra da Gávea? Só se for sob anestesia geral. A Lu devia ter uma sugestão mais pé no chão.

Lu: Oi, meu amor. Ligou na hora certa.

Adalberto: Jura? Por quê?

Lu: Tenho uma proposta para te fazer.

Adalberto: Então, faz. Hoje, eu estou realmente aceitando propostas. Se for radical, então, é comigo mesmo.

Lu: Cara, um amigo do carinha que eu estou pegando furou com a gente, e tem uma vaga para saltar de paraquedas. Partiu?

Putz! Não mesmo! E se o treco lá não abrir? Não, de jeito nenhum! Eu não sou louco de fazer uma coisa dessas comigo! O meu espírito aventureiro, definitivamente, vai só até a página dois.

Adalberto: Ah, Lu, saltar de paraquedas, para mim, perdeu a graça. Na época do colégio, a gente pulava direto, até que um amigo morreu. O paraquedas dele não abriu. Aí, eu fiquei meio impressionado com a essa cena. E, desde então, não consegui mais saltar. Eu lembro do meu amigo e fico travado.

E, assim, eu a convenci de que saltar de paraquedas não era a minha praia, apelando para a emoção.

Lu: Ai, Adal, que chato. Fiquei até com medo agora.

Caraca, também não era para melar o programa da garota. Tive que mandar aquele papo do "nosso destino já está traçado" para reencorajar a prima.

Adalberto: Lu, quando chega a nossa hora, a gente pode estar sentado no sofá vendo novela, que não tem jeito. O nosso destino já está traçado. Vai lá se divertir. Não perde essa oportunidade.

Lu: É verdade, primo. Eu vou, sim. Beijo!

A Sara não ia me decepcionar. Ela tem medo de tudo. Uma caminhada na orla, para ela, já é mais do que uma grande aventura.

Sara: Oi, Adal. Fala rápido que eu estou me arrumando para sair.

Adalberto: Ah, que pena. Ia te chamar para um programa radical.

Sara: É? Qual?

Adalberto: Não sei ainda. Ia te pedir uma sugestão. Hoje, eu acordei meio que querendo fazer alguma coisa diferente. Mas não muito diferente, sabe?

Sara: Sei. Que tal fazer uma trilha de cinco quilômetros em Petrópolis?

Jamais! Tenho pavor de trilha. Morro de medo daqueles bichos que a gente nunca viu na vida e, sobretudo, de cobra.

Adalberto: Ah, seria uma boa, hein, Sarita. Pena que você vai sair.

Sara: Adal, você não está entendendo. Eu estou me arrumando exatamente para uma trilha de cinco quilômetros em Petrópolis. A gente deve sair em uma hora daqui de casa. Tem vaga no carro. Vamos?

Adalberto: Como assim você vai fazer uma trilha de cinco quilômetros em Petrópolis? E os trigêmeos?

Sara: Vão ficar com a babá, ué.

Adalberto: E você vai se arriscar no meio das cobras? O Oswaldo está sabendo dessa sua loucura?

Sara: Claro. Foi ele que me chamou. Isso foi ideia de um amigo dele. Estamos todos indo, primo.

Adalberto: E você não está com medo?

Sara: Olha, Adal, se eu te falar que não estou com medo, eu vou estar mentindo. Mas você sabe, né? Quem não dá assistência perde para a concorrência. Eu não posso deixar o Oswaldo muito solto no fim de semana, não. Senão, já viu, né? De mais a mais, o nosso destino já está traçado. Quando chega a nosso hora, a gente pode estar sentando no sofá vendo novela, que não tem jeito.

Adalberto: É...

Sara: Então, Vamos?

Adalberto: Não. Quer dizer, lembrei que eu esqueci de lembrar de comprar um tênis de corrida. Não vai dar.

Nunca formulei uma oração tão ruim como essa.

Sara: O Oswaldo, de repente, tem um para te emprestar.

Adalberto: Deixa para lá. Não é para ser. Eu não esqueci de comprar o tênis à toa. Deve ser coisa do destino. Ih, Sarita, deixa eu desligar. Estão me interfonando. E, dessa vez, é sério mesmo.

Sara: Como assim é sério? Aconteceu alguma coisa?

Adalberto: Não, fica tranquila. Deve ser o porteiro para dizer que eu esqueci o farol do carro aceso. Eu sempre faço isso. Depois, a gente se fala. Beijo.


O que poderia ser?

Adalberto: Pronto.

Deucleciano: Seu Adalberto, aqui é da portaria.

Adalberto: Já sei: esqueci o farol do carro aceso.

Deucleciano: Não. O Ruy e a Marta, do 303, pediram para eu interfonar para o senhor, para convidar o senhor para um churrasquinho que eles estão fazendo aqui embaixo.

Adalberto: Ah, legal. Obrigado,  Deucleciano. Já estou descendo.

E esse churrasquinho foi a minha aventura mais radical do sábado.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Deus salva Ane e Lu, após ficarem na mão por GPS e ex-namorado em Belford Roxo

Ontem, a Ane me ligou literalmente perdida.

Ane: Adal, eu estava indo para Vila Valqueire para conhecer um carinha da internetmas vim parar em Belford Roxo.

Adalberto: Como assim? Por que isso?

Ane: Aquele GPS do Paraguai que eu comprei...

Adalberto: Eu já te falei para parar com essa mania de comprar tudo do mais barato. O barato, às vezes, sai muito caro.

Ane: É... E esse me saiu pela hora da morte. Eu estou num lugar muito sinistro.

Adalberto: Sério?

Ane: Sério, primo. Estou morrendo de medo, primo. Estou rodando por aqui a esmo, porque acho que se eu parar o carro nesse lugar que eu estou, vão levar até a minha calcinha.

Adalberto: Esse GPS de merda não fala português?

Ane: Diz no manual que sim. Mas é um portunhol muito confuso. Aí, preferi colocar no espanhol e me ferrei.

Adalberto: É por isso que eles vendem o produto barato. Economizaram no tradutor...

Ane: O seu carro já voltou do mecânico?

Adalberto: Já, sim. Voltou hoje.

Ane: Ai, primo, vou te pedir um favor, então, porque sozinha eu não vou conseguir sair daqui.

Ah, não! Ela ia pedir para ir lá Belford Roxo resgatá-la. Mas, para a minha sorte, o meu telefone convencional tocou. Essa era uma ótima desculpa para eu desligar e sair pela tangente.

Adalberto: Anita, vou atender o telefone daqui de casa. Estou esperando uma ligação importante de lá do trabalho.

Ane: Está bem. Eu espero.

Putz!

Adalberto: Alô.

Lu: Primo, eu acabei de terminar com o Idelfonso.

Adalberto: E aí?

Lu: E aí que eu estou um caco e queria te pedir um favor.

Adalberto: Fala, meu amor.

Lu: Você pode vir aqui em Belford Roxo me buscar, porque o cachorro do Idelfonso é tão cretino, que não vai nem me levar em casa? E eu não tenho um centavo aqui. Nem para a passagem de ônibus, primo.

Belfordo Roxo! Eu não estava acreditando! Deus existe! Antes que eu tivesse a brilhante de promover o encontro das duas, um milagre aconteceu: a Ane atropelou a Lu.

Não foi nada demais. A Lu estava atravessando a rua desatenta, falando ao celular comigo. E a Ane, que já é meio avoada, estava completamente desorientada, por estar num lugar perigoso e que ela não conhecia. Graças a isso, a Ane passou de raspão pela Lu, que caiu num buraco de lama. Fora o fato de ter ficado completamente suja, a Lu estava inteirinha.

Viu como é a vida? Uma estava indo conhecer um carinha da internet em Vila Valqueire, se perdeu, foi parar em Belford Roxo, num lugar perigoso e estava morrendo de medo. A outra perdeu o namorado, ficou na rua da amargura e não tinha como voltar para casa de Belford Roxo.

Uma precisava de ajuda para sair de lá e a outra, de um meio para sair de lá.

Uma atropelou a outra, por sorte não foi nada grave, e eu não precisei sair de casa.

Deus existe.

sábado, 7 de julho de 2012

Meta de curto prazo acaba em filme com brigadeiro de panela

Quando eu anunciei que ficaria a sexta-feira em folga, na minha casa, todas as primas arrumaram espaço para me ver. A Sara deixou os filhos com a babá. A Marjorie trabalhou até tarde na quinta para ter a sexta-feira livre. A Ane pediu para o pai, que também é seu chefe, uma folga para resolver problemas. E a Lu pegou atestado médico com uma amiga nossa para não precisar ir ao salão onde trabalha. Politicamente corretas ou não, elas mandaram muito bem.

Decidimos ir andar de bicicleta na orla da Zona Sul. Esse programa era uma das nossas metas de curto prazo de fim de ano, que a gente nunca conseguia cumprir. E, dessa vez, eu acreditava que ia dar.

Marquei às oito na casa da Marjorie, no Leblon, com esperança de sair, no máximo, duas horas depois. Mas, com muita sorte, conseguimos sair ao meio-dia.

Sara: A Lu sempre se atrasa.

Lu: A Lu é o caramba!

Adalberto: Todas vocês se atrasaram. 

Marjorie: Eu não me atrasei.

Adalberto: Se atrasou, sim. Quando eu cheguei, você ainda estava dormindo, sua cara de pau.

Ane: Gente, vamos logo. Eu já estou ficando com fome.

Lu: Calma aí. Vou fazer xixi.

Sara: Viu como é sempre ela o problema maior...

Adalberto: Sara, querida, chega de implicar. O importante é que a gente vai cumprir mais uma meta de curto prazo, que nós estabelecemos juntos.

Ane: Qual foi a outra meta de curto prazo, que a gente conseguiu cumprir, Adal?

NENHUMA!

Adalberto: Não me lembro, Ane. Gente, vamos. Aquela minha amiga do trabalho, a Kelly Marie, ficou de vir aqui para ir com a gente, mas como ela não chegou até agora e não é uma das primas, vai ficar na pista.

Marjorie: Falou e disse, primo. Vamos.

Começamos o percurso pelo Leblon, claro. Tudo parecia perfeito. O sol estava incrível, as primas tinham parado de brigar e a praia estava lotada. Nada podia estragar.

Ou quase nada, porque, depois de trezentos metros, a Sara encontrou uma vizinha do Méier e resolveu parar.

Lu: Ai, não acredito! Depois, sou eu o problema...

Adalberto: Lu, não começa. Deixa ela falar com a amiga.

Marjorie: É, Lu. Hoje o dia não é para briga. É para diversão. Espera um pouco.

Ane: Isso mesmo. Vamos deixar para brigar, quando a gente se apaixonar pelo mesmo homem.

Passados quinze minutos...

Marjorie: Adal, vamos chamar a Sara. Meu corpo já esfriou.

Fui interromper a palestra que a Sara devia estar dando para a vizinha. 

Adalberto: Sarita, me dá licença um pouquinho. Vamos nessa? As meninas ainda estão esperando.

Sara: Ai, Adal, desculpa. Eu acho que eu vou voltar para casa com a Jurema. Ela veio ver a filha aqui na Zona Sul, mas já está voltando. Ela disse que não tem problema colocar minha bicicleta no carro dela. Você vai ficar chateado?

Chateado, não. IRADO!

Adalberto: Claro que não, meu amor. Beijo.

Ane: Que falta de consideração da Sara, hein...

Lu: Eu não falo nada.

Marjorie: É melhor.

Eu calado estava. Calado Fiquei. Continuamos o nosso percurso e, por muita falta de sorte, em menos de um quilômetro, uma estilista interrompeu a Marjorie para falar de trabalho.

Abigail: Amore, eu tenho que te mostrar umas fotos de uns modelos, que eu quero que você desenvolva lá para a minha oja.

Marjorie: Claro, Abgail. Quando você pode?

Abgail: Agora. Amanhã, vou para Nova York, para a formatura do meu afilhado, e volto daqui a vinte dias. Vou aproveitar para tirar férias.

Marjorie: Beleza. Adal, vou ter que ir.

Inacreditável ponto com!

Adalberto: Sem problemas, Jojô. Beijo.

Lu: Essa Abgail é sem noção, hein...

Ane: Cara de pau total.

A Marjorie também poderia ter dito um lindo não na cara da Abgail. Mas eu não quis pôr lenha na fogueira. Enquanto ainda tinha prima, o programa se mantinha. 

Pena que até mais quinhentos metros.

Ane: Lu.

Lu: Fala.

Ane: Aquele ali não é o Chebabi?

Lu: Garota! É ele mesmo!

Chebabi é um cara que ficou com a Lu para chegar à Ane. Isso seria um motivo para uma Terceira Guerra Mundial entre as duas, se não fosse o fato de a Lu ter interesses escusos no primo do Chebabi, o Hitachi.

Ane: Vamos parar?

Lu: Vamos. Mas a primeira coisa que você vai fazer é perguntar pelo Hitachi. Senão, eu acabo com a tua graça.

Ane: Combinado.

Ane e Lu foram para a casa do Hitachi e, assim, o meu programa furado acabou. Voltei para a casa da Marjorie para deixar a bicicleta, peguei o meu carro e fui para casa ver filme e comer brigadeiro de panela.

Se eu soubesse, esperava a Kelly Marie...