quinta-feira, 30 de junho de 2011

Guaraná Antarctica, meditação e déjà vu: uma combinação de dar medo

Eu estava almoçando num restaurante com a Marjorie na segunda-feira passada, quando uma senhora muito da enigmática veio até mim com uma latinha de Guaraná Antarctica aberta.

Senhora: Eu não bebi quase nada. Ainda tem muito aqui. Toma para você.

Adalberto: Obrigado, querida. Eu não bebo durante a refeição.

E recebi um beliscão da Marjorie.

Marjorie: Adal, você acabou de me falar, que estava louco para tomar um Guaraná Antarctica bem gelado.

Adalberto: Eu?

Recebi outro beliscão.

Adalberto: É que eu não bebo refrigerante normal. Só diet.

E a senhora continuava parada, blasé, com a mão segurando o guaraná na minha direção.

Marjorie: Me dá isso aqui. Obrigada, tá? Ele é muito tímido.

E a senhora saiu sem esboçar nenhum sentimento. Gelei.

Adalberto: Marjorie, que medo dessa mulher.

Marjorie: Medo por que, garoto? A mulher é uma fofa.

Adalberto: Mas o restaurante tá cheio. Por que logo eu?

Marjorie: Porque ela quis dar para você, achou que você tem uma cara boa, sei lá.

Adalberto: Será? Eu sei que eu tenho cara de pobre, mas ela não me fez um olhar de compaixão, sabe?

Marjorie: Ai, garoto, que neura. Me dá esse guaraná aqui.

Adalberto: Não! Tá maluca? Quer morrer? Você que é toda fresca vai beber isso?

Não deu tempo de impedir o pior. A Marjorie tomou a latinha da minha mão e tomou o guaraná todo.

Marjorie: Pronto.

Adalberto: Eu quero matar você.

Marjorie: Mata, ué.

Adalberto: Não vou precisar. Você já tomou esse guaraná envenenado.

Marjorie: Senhor Paranoia, vamos logo que eu ainda tenho que ir para o grupo de meditação.

Adalberto: Eu vou com você.

Marjorie: Como assim? Você não ia trabalhar?

Adalberto: Ia. Quero ficar com você nas suas últimas horas.

Marjorie: Tá bom.

No carro, fui trabalhando o meu poder de concentração. Eu não ia aguentar ficar sentando num lugar meditando com um monte de gente fazendo “aunnnnn, aunnnnn” sem me rolar de rir.

Eu falo isso, porque já tive uma experiência trágica com o Budismo. Um amigo me garantiu que eu me tornaria uma pessoa mais tranqüila, se me tornasse budista. Aceitei o desafio e fui a uma reunião. Foi a primeira e última. Eles entoavam um mantra, que eu me esqueci milhões de vezes e eu não via sentido em nada daquilo. Aliás, eu via muita graça naquilo. Passei mal de tanto rir e nunca mais tive a cara de pau de voltar lá. Hoje, se alguém me convida para um reunião budista, e mudo de assunto.

Marjorie: Chegamos.

Adalberto: Foi rápido.

Marjorie: Olha, Adal, eu acho que não preciso te falar para não rir, né?

Só de ter me falado disso, já senti vontade de rir.

Adalberto: Não. Fica tranquila. Eu tenho boa concentração.

Maior mentira.

Entramos na salinha de meditação, recebi umas orientações e, quando dei por mim, já estava há uns bons quinze minutos meditando amarradão.

A merda é que alegria de pobre dura pouco, né? Baixou um santo na Marjorie e toda aquela minha concentração foi para o saco.

Ele começou a rir como uma pomba-gira e eu me caguei de medo.

A instrutora começou a bater na cara dela e eu senti vontade de rir.

Por fim, a Marjorie caiu no chão desmaiada e eu comecei a chorar.

Adalberto: Foi aquela velha maldita que matou a minha prima. Eu vou atrás dela nem que seja no inferno!

E essas foram minhas últimas palavras, antes do meu desmaio.

Acordei na casa da Sara. Estávamos na cama eu e Marjorie.

Marjorie: Adal, o que é que a gente está fazendo aqui?

Adalberto: Sei lá. Aqui é a casa da Sara?

Marjorie: É. Olha ali o porta-retrato na cabeceira da cama, com uma foto dela com o Oswaldo.

Adalberto: Gente, que surreal.

Marjorie: Nada. A gente deve ter bebido a noite inteira. Isso, sim. Aposto que a Ane e a Lu também estão caídas no outro quarto.

Adalberto: Será?

Marjorie: Fato.

A Marjorie e a sua mania de minimizar as coisas, que me deixam neurótico...

Adalberto: Então, cadê a minha ressaca. A minha cabeça está ótima.

Marjorie: Engraçado. Também acordei com nada de ressaca.

Adalberto: Isso não é normal.

Marjorie: Ai, Adal, para de ficar procurando coisa onde não há nada. Que saco!

Adalberto: Tá bom. Se você está falando...

Marjorie: Relaxa, primo.

Nisso, a Sara entra no quarto com uma latinha de Guaraná Antarctica aberta.

Sara: Oi, meus amores, acordaram? Querem um pouquinho de guaraná? Eu não bebi quase nada. Ainda tem muito aqui. Toma para vocês.

E esse foi um dos piores déjà vu da minha vida. E acho que da Marjorie também.

Adalberto e Marjorie: Nãããããããããããããããããooooooooo!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Mas é que eu tenho que manter a minha fama de... Visionário!

No domingo, tive que sair no meio do almoço com uns amigos do Martins pra ficar com a Marjorie. Ela me ligou com uma vozinha tão triste, que preferi ir a campo ver o que estava acontecendo:

Adalberto: Por que você tá com essa cara? Posso saber?

Marjorie: Por causa do Naldiney.

Adalberto: Ah, fala sério. Aquele cara é um imbecil, idiota e otário. Ou seja, ele não te merece.

Marjorie: Adal, você veio aqui só pra estragar o meu momento?

Adalberto: Que momento? Momento de sofrimento?

Marjorie: É.

Adalberto: Ah, vai procurar uma louça pra lavar.

Marjorie: Não quero. Deixa eu ter o meu momento Bridget Jones com dignidade e sofrer ouvindo “All by myself”, pelamordedeus.

Adalberto: Tudo bem. Mas eu vou ficar aqui com você.

Marjorie: Mas eu quero arrastar as costas contra a porta até agachar no chão e me debulhar em lágrimas.

Adalberto: Para de ser infantil. Nem parece a mulher inteligente forte que eu conheço.

Marjorie: Primo, me abraça.

Eu queria bater na cara dela por estar sofrendo por um cara, que não vale a merda que caga, mas quando alguém me pede um abraço, tenho que confessar: eu me comovo.

Adalberto: Jojô, não fica assim.

Marjorie: Diz pra mim que ele vai voltar, Adal. Por favor.

Isso nem cremado!

Adalberto: Digamos que o melhor vai acontecer na sua vida, ainda que disfarçado de pior.

Marjorie: Ai, não vem com essa conversinha, Adal.

Adalberto: Ué, e você quer que eu diga o quê?

Marjorie: Que ele vai voltar, ué.

Cruzei os dedos sem que ela visse, respirei fundo e disse:

Adalberto: Ele vai voltar. Pronto. Não era isso que você queria ouvir?

Marjorie: Ai, brigada, primo. Agora, eu tô bem.

Porra, que maravilha!

Adalberto: Sério?

Marjorie: Sério. Eu confio muito no que você fala, primo. Pra mim, você é o maior entendedor da vida que eu conheço. Um visionário. E, se você falou, é porque é.

Porra, que merda! Não quero perder essa fama.

Adalberto: Jojô, mas tem coisas na vida que eu até posso prever, mas isso não quer dizer que elas vão acontecer de fato.

Marjorie: Ah, primo, para de modéstia. O que você fala é lei.

Tadinha...

Adalberto: Olha... Sei lá, estava pensando em tomar um chope, então, pra comemorar?

Marjorie: Claro. Comemorar a volta do meu amor.

Adalberto: É...

Marjorie: Só se for agora, primo!

Embebedei a Marjorie no bar. Tomei cerveja sem vontade, só pra deixá-la na mão do palhaço. Foram muitas garrafas. MUITAS. E o melhor de tudo: ela tem amnésia alcoólica. Ontem, pela manhã, quando nos falamos, ela não lembrava de porra nenhuma. Tinha muita ressaca com que se preocupar. E eu não perdi a minha fama de visionário.

Marjorie: Jura que eu beijei um cara no bar, Adal?

Adalberto: Juro.

Nem precisei cruzar os dedos, porque quem jura mente mesmo...

Marjorie: Ai, que vergonha, primo. Agora, sou eu que não quero mais ficar com o Naldiney. Você sabe que eu não aprovo infidelidade.

Adalberto: Claro. Por isso, que, quando eu saí da sua casa pra vir pro trabalho, e vi que ele estava plantado na porta do teu prédio com um buquê de rosas, disse pra ele partir pra outra. Eu te conheço bem e sei que você jamais iria mais conseguir ficar com ele, depois de ter beijado outro cara.

Marjorie: Verdade. Mas me conta, Adal. E ele? Tô com uma pena...

Adalberto: Não fica. Ele entendeu. E foi embora.

Marjorie: Sem questionar?

Adalberto: Sem questionar.

Cruzei os dedos, claro.

Marjorie: Então, hoje, quando você sair do trabalho, vem direto aqui pra casa, pra gente beber mais. Vamos celebrar um novo começo na minha vida.

E, assim, o sofrimento pelo Naldiney foi enterrado. Fácil, né? Tudo bem que a insignificância dele facilitou o processo. Mas a fábrica de bolsas da Marjorie teve a sorte de fechar um contrato incrível com uma grife nova. Isso também ajudou.

Mas o melhor de tudo isso é que eu não perdi a minha fama de visionário.

Ufa!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sara tem seu dia de Gisele Bündhen aos seis meses de gravidez

Na última quinta-feira, tive que resolver um problema na Receita Federal. Como tenho mais medo de fila de órgão público do que bicho papão, tive uma brilhante idéia: convidar a minha prima Sara e a sua gravidez de seis meses para entrar comigo na fila de idosos, deficientes e gestantes:

Sara: Mas por que você quer tanto que eu vá com você à Receita Federal, Adal?

Adalberto: Ah, sei lá. Eu acho que vai ser maneiro. Vamos?

Sara: Está bem.

Adalberto: Então, eu vou para o trabalho agora e, depois do almoço, a gente se encontra lá. Vou mandar um táxi te pegar aí, na sua casa, por volta de uma da tarde, pode ser?

Sara: Pode.

Coitadinha. Ir à Receita Federal resolver problema não tem nada de maneiro. Menos maneiro ainda foi vê-la completamente sem barriga.

Adalberto: Sara, cadê a sua gravidez de seis meses?

Sara: Está atrás da minha cinta.

Adalberto: Como assim? Tira isso agora!

Sara: Eu, não. Você acredita que o Oswaldo teve a cara de pau de dizer que, depois que eu tiver meus nenéns, quer que eu fique gostosa como a Deborah Secco, em Insensato Coração?

Adalberto: E daí?

Sara: E daí? Você ainda me faz essa pergunta, Adal? Isso quer dizer que ele não me acha gostosa.

Adalberto: Mas, Sara, você está grávida.

Sara: Grávida dos filhos dele. Ele tem que me achar gostosa de qualquer jeito. Até com uma barriga de mioma.

Porra, que drama...

Adalberto: Amore, o negócio é o seguinte: eu preciso da sua barriguinha de seis meses intacta para gente poder usufruir da fila de idosos, deficientes e gestantes.

Sara: Ah, você me chamou aqui só pra isso?

Adalberto: Não. Mas também por isso.

Sara: Adal, você está se mostrando pior do que o Oswaldo, hein!

Adalberto: Olha aqui, Sara, quem está sendo pior é você, que tá sufocando os meus afilhados, por causa de um capricho medíocre. Solta essas crianças aí agora!

Sara: E você vai resolver o meu problema com o Oswaldo?

Adalberto: Vou.

Sara: Vai mesmo?

Putz, que responsabilidade...

Adalberto: Vou.

Sara: Então, está bem. Vou ao banheiro tirar essa cinta.

Ela demorou uma meia-hora só para tirar uma cinta. E o pior: quando ela voltou, todo mundo que estava na fila achou que a gente estava de picaretagem, dando o golpe da barriga no serviço público.

Ou seja, a emenda saiu pior que o soneto. Uma senhora de muito baixo nível chegou ao ponto de dizer para  a Sara levantar o vestido pra provar se estava mesmo grávida.

Adalberto: Ah, minha senhora, mas ela não vai fazer isso mesmo.

Sara: Eu sou uma mulher casada. Não vou ficar levantando o meu vestido aqui, na frente de todo mundo. Olha bem para a minha cara. Vê se eu pareço uma qualquer, sua desclassificada!

A Sara mal imaginava que a senhora desclassificada estava acompanhada de duas filhas mais desclassificadas ainda. Ela tentaram agredir a minha prima. O pior é que elas tinham umas caras tão medonhas, que até eu fiquei com medo. MUITO MEDO.

Adalberto: Sara, vamos embora daqui, antes que essas mal encaradas tentem fazer alguma coisa contra você e os meus afilhados.

Não adiantava insistir. Não ia ter santo que fizesse aquelas meninas acreditarem, que a Sara não estava grávida. Vazamos para fora daquele lugar e em passos rápidos.

A uns bons metros do cartório, já mais tranquilos, estávamos caminhando esbaforidos atrás de água, quando passamos em frente a uma obra. Percebemos uma movimentação absurda de operários e nos cagamos de medo.

Para a nossa sorte, eles só queriam admirar a mulher que estava passando por ali. E para a sorte da Sara essa mulher era ela. Isso mesmo, com aquele barrigão de seis meses, ela foi ovacionada pela classe operária. Eram gritos e mais gritos de gostosa, que até eu queria que me beliscassem pra ter certeza que aquilo era verdade.

E era verdade. A Sara estava tirando onda de Gisele Bündchen. E eu lá, me achando o cara que estava pegando a top model. Adorei esse nosso momento Garoto e Garota da Construção Civil.

Por fim, bebemos água, comemos um resto de uma carne assada deliciosa de uma quentinha que sobrou e ainda tomamos um refrigereco, que eu tive o ímpeto de perguntar o nome, mas a minha vaidade não me permitiu. Estava tudo MUITO bom.

Pena que eles tomaram um baita esporro, quando o encarregado de obras chegou e viu o burburinho de operários em volta da gente. Eles tiveram que voltar pro trabalho árduo. E nós, para a nossa dura realidade de reles mortais.

Quando deixei a Sara em casa, o Oswaldo estava com um buquê de rosas esperando por ela. Ufa! Ele me poupou de qualquer esforço para tentar ajudá-los a fazerem as pazes. A Sara, facinha, facinha, parecia ter esquecido de tudo o que aconteceu no dia e voltou às boas com ele.

Bom, acho que do momento Gisele Bündchen ela jamais vai se esquecer...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ombro amigo dá lugar a engradado de cerveja, aos 45m do segundo tempo, no Dia dos Namorados

O meu Dia dos Namorados foi sensacional. Fiquei em casa assistindo a todas as comédias românticas , que os canais a cabo transmitiram. E gostei. Eu tinha um preconceito enorme com esse gênero. Me incomodava aquela previsibilidade de um casal se ama, briga nos quinze primeiro minutos do filme, depois fica mais ou menos uma hora e meia tentando se matar, até que alguma coisa nada relevante acontece e eles voltam a se amar. Aí, sobem os créditos finais e você não tem a menor pista de como é viver feliz para sempre.

Enfim, entre uma noiva que fugia no dia do seu casamento e uma mulher que achava que a sua relação estava em crise, porque o marido não percebeu o novo corte de cabelo, a Sara me ligou:

Sara: O Oswaldo não comprou nada pra mim.

Adalberto: E daí? Você não é namorada do Oswaldo. É a mulher dele.

Sara: Mas ele sempre me deu.

Adalberto: Sempre deu, mas chega uma hora que para de dar. Com o meu pai e a minha mãe também foi assim. Liga, agora, pra minha mãe e pergunta se ela ganhou alguma coisa do meu pai.

Sara: Mas comigo é diferente, primo.

Adalberto: Claro que você é diferente. Você, praticamente, obriga o Oswaldo a te dar presente de Dia dos Namorados, aniversário, aniversário de casamento, Dia Internacional da Mulher... Até Dia das Crianças!

Sara: E ele sempre me deu. Você acha que tá acontecendo alguma coisa?

Adalberto: Como assim?

Sara: Alguma mulher, Adal!

Adalberto: Ah, Sarita, você só pensa nisso. Claro que não. O Oswaldo tá super feliz com os trigêmeos, curtindo à beça a sua gravidez. Fora que ele tá gastando uma grana com o enxoval de três. Aliás, esse deve ser o motivo pra ele não te comprado nada pra você. Um filho já é muita despesa. Imagina três...

Sara: Verdade.

Adalberto: E vai se acostumando a não receber mais presente no Dia das Crianças, depois que os bebês nascerem.

A campainha tocou. Era a Ane:

Adalberto: Posso saber aonde você vai assim, toda bonita?

Ane: Claro. Vou sair com o Arleildo.

Adalberto: E posso saber quem é Arleildo?

Ane: Lógico. É o meu futuro namorado.

Adalberto: Humm, que coisa boa. E posso saber onde vocês se conheceram?

Ane: Óbvio. Na The Week.

Adalberto: Legal. A The Week, apesar de ser uma boate gay, é bastante freqüentada por héteros.

Ane: Mas que disse que ele é hétero?

Adalberto: Ah, ele não é hétero?

Ane: Não.

Adalberto: E o que é que um cara que é gay vai querer com você?

Ane: Tudo. Eu tenho muito pra dar prum cara que é gay, sabia?

Adalberto: Sabia. Mas o que você tem pra dar, ele dispensa.

Ane: Mas o Arleildo é diferente. Eu vi como ele me olhava.

Adalberto: Então, de repente, o cara não é gay.

Ane: É, sim!

Adalberto: Calma. Amigo...

Ane: Ele estava beijando outro cara. Eu vi.

Adalberto: De repente, ele é bi.

Ane: Ah, não! Não aceito um bissexual.

Adalberto: Ué, mas se o cara sentiu atração por você, ele é bissexual.

Ane: Mas eu quero ser exceção. A única na vida dele. Que nunca vai trocada por nenhuma outra.

Adalberto: Mas que pode ser trocada por outro. Olha só que diferente.

Ane: Ai, Adal, vira essa boca pra lá.

Voltei aos meus filmes. E na hora que o mocinho ia beijar a mocinha e eu, talvez, passasse a levar em consideração o amor eterno, chegou no meu celular um torpedo da Lu com o seguinte. “Dia dos Namorados de cu é rola. Viva a vida dupla!”. Ou seja, ela obviamente estava saindo com um homem comprometido.

Nisso, a Marjorie me ligou:

Marjorie: Adal, preciso de um ombro amigo.

Adalberto: Bom, o meu ombro, além de amigo é primo. Serve?

Marjorie: Serve. Tô indo aí agora.

Adalberto: Tá.

Medo!

Cinco minutos depois, a campainha tocou. A Marjorie costuma pisar forte no acelerador, mas não tinha como ser tão veloz, assim, do Leblon ao Recreio. Era a Lu. Com um olho roxo:

Lu: Primo, preciso de um ombro amigo.

Putz, dessa vez, eu não escapo da escoliose. Bom, um ombro já estava reservado pra Marjorie, mas eu ainda tinha o outro.

Adalberto: O que foi que aconteceu?

Lu: O carro do idiota que eu estava saindo é rastreado por satélite. A mulher dele foi atrás da gente e me pegou na porrada.

Bem feito! Quem mandou ficar com homem casado?

Adalberto: Tadinha. Vem cá, meu amor. Eu vou cuidar de você.

Mais uma vez a campainha.

Adalberto: Deve ser a Marjorie: Ela tá vindo pra cá.

Era a Ane:

Ane: Primo, preciso do seu ombro amigo?

Bom, enquanto a Marjorie não chegava, ela podia usar o ombro. Qualquer coisa, depois eu poderia realocá-la prum joelho, cotovelo ou calcanhar amigo, sei lá...

Ane: O Arleildo não queria nada comigo. Ele só queria o meu vestido emprestado pra ir na Parada Gay de Aão Paulo na semana que vem.

Fiz uma cara de lamento. E essa foi a reação mais profunda que eu pude ter, em relação a isso.

A porta ainda estava aberta, quando a Sara aos prantos:

Sara: Primo, preciso de um ombro amigo.

Ombro vago eu não tinha mais. Mas eu podia terceirizar os ombros da Ane e da Lu, se ela não se importasse.

Adalberto: O que foi, lindona?

Sara: Eu fui perguntar pro Oswaldo por que ele não comprou nada pra mim de Dia dos Namorados e sabe o que foi que ele me disse?

Adalberto: O quê, amor?

Sara: Que ele esqueceu.

E eu só tive o trabalho de acionar a mesma cara de lamento, que eu tinha desfeito há poucos segundos.

E eis que chegou a Marjorie:

Adalberto: Antes de qualquer coisa que você tiver pra falar, se isso te servir como consolo, tá todo mundo aqui na merda.

Marjorie: Jura? Tadinhas.

Adalberto: Ué, mas você também não tá na merda? Não precisava de um ombro amigo?

Marjorie: Precisava! Pretérito Imperfeito de Indicativo!

Adalberto: Que coisa boa! E o que foi que aconteceu no Presente do Indicativo pra você mudar de humor, posso saber?

Marjorie: Pode. Eu realizei que tenho saúde, dinheiro, amigos e uma família lindíssima pra ficar chorando por causa de homem.

Adalberto: Mas como você foi capaz chegar a essa conclusão inteligentíssima?

Marjorie: Descobri que o cara é casado, pobre e não tem dinheiro. Não preciso mais do seu ombro amigo, primo. Preciso de um engradado de cerveja e muitas gargalhadas.

E essa foi a melhor sugestão do dia. Todas aderiram ao projeto, com exceção da Sara, que ficou no Guaraná Antarctica, como sempre. E o meu ombro amigo sequer foi lembrado, depois do primeiro copo.

Sabe que eu acho? Todo Dia dos Namorados podia ser assim...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia do Chique é repleto de decepções

Eu, Ane, Lu e Sara elegemos o último sábado como o Dia do Chique. Mais uma das invenções da Ane. Enfim, nesse dia, a gente tem que se vestir chiqueterrimamente (eu fiz o que pude) e ir pra um restaurante carésimo arregaçar. Aproveitamos para comemorar os cinco meses de gravidez da Sara.

Quando o garçom chegou com o meu prato, tive a primeira decepção:

Adalberto: Porra, essa merda de coq au vin é frango?

Ane: Frango ao vinho tinto, ué.

Adalberto: E por que você não avisou, quando eu pedi? Esqueceu que eu não como frango?

Ane: Não. Achei que você tivesse vencido o seu trauma de infância.

Adalberto: Claro que não. Quem é que consegue vencer um trauma de infância?

Sara: Sabe que com a gravidez, eu parei de ter medo de escuro?

Adalberto: Sério? Eu morro de medo de escuro. Preciso engravidar urgentemente.

Ane: Eu adoro o escuro. Dormir no escuro. Blackout total.

Lu: Eu também adoro escuro. O meu escuro. O Zéfiro.

Adalberto: Quem é Zéfiro, gente?

Lu: Aquele jardineiro, que eu to pegando.

Adalberto: Ah...

Lu: Ele é escuro, ué. Negão. Adoro dormir no Zéfiro.

Sara: Adal, você quer trocar de prato comigo?

Adalberto: Qual você pediu?

Sara: Pedi uma raita de tomate e pepino.

Adalberto: Isso é chique?

Sara: Tudo aqui é chique, primo.

Adalberto: Tem frango?

Sara: Não. Não tem nada de carne.

Adalberto: Eu quero. Será que demora?

Sara: Não. O garçom já deve estar trazendo. Vou aqui no banheiro e já volto.

Lu: Leva a bolsa. Tem uns sabonetinhos coloridos lindos lá. Mete a mão.

Sara: Podexá.

A Ane pediu um magret de pato ao molho de mel e a Lu, ensopado de vitela à provençal (do qual eu MORRI DE INVEJA). Enquanto esperávamos a Sara para comer, tiramos VÁRIAS fotos dos nossos pratos chiques com o Iphone da Ane que, imediatamente, foram postadas e devidamente marcadas no Facebook. Ou seja, cumprimos o item “Como proceder em um restaurante chique”, da cartilha “Vida de emergente e luxo”.

Quando a Sara voltou do banheiro, veio a segunda decepção da noite:

Sara: Gente, tem uma mulher sem noção lá no banheiro, passando um óleo de morango no corpo MEGA enjoativo. Tô passando mal.

Ane: Sério? Eu acho que eu sei qual é. Eu tinha uma secretária que usava uma porra dessas. O negócio é chique pra caramba, mas tem um cheiro que me embrulha o estômago. Eu demiti ela por isso. Não aguentava.

Lu: Pegou os sabonetes, Sarita?

Sara: Ih, esqueci minha bolsa lá no banheiro. Tá cheia de sabonete. Pega lá pra mim, Lu.

Lu: Ô, cabeça de vento. Vou lá.

Sara: Eu to meio tonta. Acho que vou vomitar.

Adalberto: Quer ir embora? Eu te levo.

Sara: Não, Adal. Vou esperar um pouco. Pede uma água pra mim?

Adalberto: Claro. Garçom!

Meio minuto depois, a Lu voltou. Sem bolsa. Terceira decepção.

Lu: Caralho, o cheiro é pior do que eu imaginava. Não consegui passar da porta do banheiro. A minha moussaka subiu até a garganta. Quase botei os bofes pra fora. Que merda de cheiro é esse, gente?

Ane: Garota, tô te falando que eu demiti uma filha da puta, que usava um óleo desse lá na empresa?

Lu: Esse óleo tem que dar demissão por justa causa.

Adalberto: Ai, gente, que exagero.

Lu: Não é exagero, Adal, essa porra é maldita. Eu quero vomitar.

Adalberto: Calma, senta e bebe um pouco da água da Sara.

Sara: Ane, vai lá pegara minha bolsa.

Ane: Eu não entro nesse banheiro de jeito nenhum.

Quarta decepçao.

Adalberto: Mas, pelo tempo, a pessoa que passou o óleo já deve ter saído de lá.

Ane: Mas o cheiro fica, Adal. É maldito mesmo.

Adalberto: Eu vou lá.

Esperei o momento certo para entrar no banheiro. Nem foi difícil. Em restaurante chique, as pessoas não vão ao banheiro. Isso deve estar em algum lugar da cartilha “Vida de emergente e luxo”.

Quando entrei o banheiro estava realmente sem ninguém. Que lugar chique! Bem mais bonito e confortável que o meu quarto. Realmente, estava com um cheiro fortíssimo do tal óleo de morango. Mas eu caguei pra isso. O espelho daquele banheiro me deixava lindo e isso falava mais alto. Eu queria ser daquele jeito na vida real. Nada podia atrapalhar o meu momento deslumbre. Isso era o que eu achava.

De repente, uma senhorinha saiu de uma das portas do banheiro. Como assim? Gente chique faz necessidades? A Sandy, a Xuxa e o Roberto Carlos também cagam? Nãããããããoooo!

Quinta decepção.

Acordei não sei quanto tempo depois num hospital. A velha tinha me dado uma porrada na cabeça com a bolsa da Sara, que estava pesadíssima. Cheia de sabonetes roubados do banheiro do restaurante.

Abri os olhos e vi alguma coisa muito semelhante a minha prima Marjorie.

Adalberto: Jojô? O que você tá fazendo aqui? O que eu tô fazendo aqui?

Marjorie: A mãe do Sidésio deu uma bolsada na tua cabeça.

Adalberto: Jura?

Caralho, Sidésio era o carinha que a Marjorie tinha começado a namorar há duas semanas e estava apaixonadíssima. Então, foi a mãe dele me bateu... Sexta decepção.

Marjorie: A velha do óleo de morango.

Adalberto: Cadê ela agora?

Marjorie: Sei lá. Já deve estar em casa com o babaca do filho.

Adalberto: Era pra aquela safada estar pres agora.

Marjorie: Ela? Foi você que entrou no banheiro feminino, primo, esqueceu?

Ups...

Adalberto: Como é que você sabe disso tudo?

Ane: A Marjorie estava lá no restaurante.

Sara: Jantando com o namorado...

MArjorie: Ex.

Lu: ... e a filha da puta da sogra xexelenta.

Adalberto: Mentira!

Ane: Por isso que ela não pôde participar do nosso Dia do Chique.

Lu: E acabou se ferrando.

Marjorie: É. O Sidésio acabou de terminar comigo por torpedo. Tomou as dores da mãe. Idiota.

Adalberto: Que coincidência você no mesmo restuarante que a gente.

Marjorie: Coincidência de merda.

Adalberto: E o que é que essas meninas estão fazendo aí, nessas macas, Jojô?

Ane: A gente caiu dura, quando foi te pegar no banheiro.

Adalberto: Que lindo, meninas. Isso que é preocupação. Acharam que eu tinha morrido.

Lu: E alguém teve tempo pra isso? Aquele cheiro derrubou a gente.

Sétima decepção.

Ane: Adal, comida chique não combina com aquele cheiro bagaceiro.

Adalberto: É tão ruim quanto, né?

Lu: Também acho. Tô fora desse Dia do Chique. O bom disso foi que a gente não pagou a conta.

Marjorie: Eu paguei. Eu fui a única que não passou mal com o cheiro.

Lu: A única chique da família.

Adalberto: Quanto deu, Jojô? Eu te pago depois.

Marjorie: Três mil e quinhentos reais.

Oitava decepção.

Calei mina boca e reforcei minha cara de sofrimento pra fugir do assunto dinheiro. A dor é sempre um bom apelo.

Marjorie: O que foi, primo?

Adalberto: Minha cabeça. Dei uma repuxada agora.

Marjorie: É que você tá falando muito.

Realmente eu estava falando muito! Como eu pude falar que depois eu pagava a ela aquela conta, antes de saber o valor? Por via das dúvidas, nunca mais toquei no assunto. Isso é problema da Marjorie.

Saímos do hospital e fomos pra minha casa. Tiramos a barriga da miséria. Comemos macarrão com carne moída, brigadeiro de panela, sorvete, doce de leite e tomamos MUITA cerveja. A Sara -- como sempre e especialmente agora, que está grávida -- ficou só no Guaraná Antarctica Zero mesmo. Rebatizamos a data com o Dia do Lixão. Nessa brincadeira, eu devo ter engordado, pelo menos, uns 30 quilos.

Nona decepção.

Quando as meninas foram embora, reuni coragem pra tomar banho. A Sara esqueceu em cima da minha estante. Confesso que cheguei a pensar em tomar banho com um dos milhões de sabonetes que ela furtou no restaurante chique. Mas, como em time que tá ganhando não se mexe, preferi usar o meu bom e velho Francis. É barato mas me atende.

Pior é que o meu Francis mal deu pra eu tomar banho. Só tinha uma raspa e o meu estoque havia acabado. Mó merda. Tive que lavar a minha cueca (eu TENHO que lavar a minha cueca no banho; isso é um TOC) com o sabonete chique.

Não sei se é implicância, mas, hoje, fui vestir a cueca pra ir a um jantar com uns amigos do trabalho e vi que ela estava com um furinho. Era novinha...

Décima decepção.

Excluí de uma vez por todas o Dia do Chique do meu calendário. Uma cueca custa muito caro.

E chega de decepções!