segunda-feira, 29 de março de 2010

O Facebook da discórdia

Eu estava atualizando o meu álbum do Facebook, quando recebi uma ligação da Sara:

Adalberto: Alô.

Sara: Adal, o que é Facebook?

Adalberto: Ué, você colocou alguma câmera escondida aqui em casa?

Sara: Eu, não. Por quê?

Adalberto: Porque eu tô, exatamente agora, mexendo no meu Facebook. Tô colocando uma foto sua, inclusive.

Sara: Você achou minha foto com o Borges?

Adalberto: Borges? Quem é Borges?

Sara: É o chefe da Nathália. Aquela minha amiga de São Paulo, que mora aqui no Rio.

Adalberto: Eu sei quem é.

Sara: Então, eu fui, ontem, almoçar com ela.

Adalberto: Tá. E daí?

Sara: Fui no trabalho dela. Ela mandou eu entrar na sala dela e você não vai acreditar no que vi.

Adalberto: O quê?

Sara: Ela pregando botão da camisa do chefe dela, esse Borges, que eu te falei.

Adalberto: E qual o problema disso?

Sara: Ele estava lá, sem camisa esperando. E pior: ele é gordo à beça.

Adalberto: Engraçado isso.

Sara: Engraçado, nada. Eu não conseguia olhar para cara dele sem camisa e fiquei olhando pra baixo, mas na direção dele. E ele achou que eu estava olhando pro pau dele.

Adalberto: Por quê?

Sara: Porque eu não conseguia olhar pro rosto de um cara sem camisa, dentro de uma multinacional. Só fui perceber a gravidade da coisa quando a coisa dentro da calça dele foi tomando volume.

A Sara fala de um jeito tão engraçado, que dá vontade de não levar a sério.

Adalberto: E aí? Curtiu?

Sara: Para de bobeira, Adal. O cara mandou a Nathália tirar uma foto minha com ele e disse que vai botar no Facebook. Por isso que eu tô te ligando. Me explica esse negócio de Facebook.

Adalberto: Facebook é um Orkut de salto alto. Eu gosto.

Sara: Mentira. Alguém já me falou que esse negócio de Orkut só serve pra expor a vida dos outros.

Adalberto: Depende. Mas é, mais ou menos, por aí mesmo.

Sara: Ai, meu Deus. Eu posso processar o Borges por uso indevido de imagem?

Adalberto: Claro que não. Você aceitou tirar foto com ele. A não ser que ele fizesse alguma sacanagem com você.

Sara: Mas vai fazer. Vai acabar com o meu casamento. Você viu aí a foto, que a Nathália tirou?

Adalberto: Sara, isso não é assim. Cada pessoa que tem cadastro no Facebook pode gerar um ou mais álbuns de fotos. Colocar uma foto sua no Facebook, não quer dizer que todo mundo vai te ver.

Sara: Mas se o Oswaldo vir uma coisa dessas, o meu casamento acaba.

Adalberto: Ele não vai ver. Tem gente do mundo inteiro no Facebook. E o Oswaldo tem Facebook, por acaso?

Sara: Não sei. O que você acha?

Adalberto: Essa pergunta foi despretensiosa ou capciosa?

Sara: O que você tá sabendo do Oswaldo? Me fala.

Adalberto: Sara, não começa com esse ciúme doentio. Eu não sei de nada.

Sara: Se não soubesse não iria querer saber se a minha pergunta era capciosa.

Adalberto: Sara, eu falei isso brincando.

Sara: Eu vou colocar você e ele de frente.

Adalberto: Não faça isso. Já te falei que eu não sei de nada. Eu não tenho nada a ver com o relacionamento de vocês. Se você não confia nele, não inventa um motivo. E não me coloca no meio disso. Acaba com esse casamento pronto!

Sara: Desculpa, primo.

Ela estava chorando, tadinha.

Adalberto: Tá chorando?

Sara: Não.

Estava, sim! Estava soluçando e tudo.

Adalberto: Desculpa se eu fui grosso com você.

Sara: Não. Tudo bem.

Adalberto: Quer uma sugestão?

Sara: Tá.

Adalberto: Abre um Facebook, um Orkut, um Twitter e um MSN e desfrute das maravilhas, que as redes sociais virtuais podem te propiciar. Esquece esse Borges e não fica imaginando o que o Oswaldo faz ou deixa de fazer, qaundo vocês não estão juntos.

Sara: Mas rede social não é coisa de gente casada?

Caralho! O Oswaldo acabou de me adicionar no Facebook! Eu não vou aceitar, óbvio!

Adalberto: É verdade. Faz o seguinte: não pisa em terreno que você não conhece. Manda um e-mail pra Nathália e vê se ela tem como deletar a foto da máquina.

Sara: Eu vou ligar pra ela.

Quinze minutos depois:

Adalberto: Fala, amore mío.

Sara: Você não vai acreditar.

Adalberto: O tal do Borges já colocou sua foto no Facebook.

Sara: Colocou mas tirou. A mulher dele mandou tirar. A Nathália me contou.

Adalberto: Que notícia boa. Você tá bem, hein prima. Provocando ciúme na mulherada.

Sara: A Nathália me falou que a mulher dele é rainha de bateria. Como é que ela vai ter ciúme logo de mim? O Borges que deve ser um safado mesmo.

Nisso, a Sara devia ter razão. Acho a minha prima muito bonita, mas uma rainha de bateria é uma rainha de bateria. O Borges que deve ser um safado mesmo.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Marjorie faz ménage à trois com a sogra e sua vingança vem a cavalo

Eu estava assistindo ao Arquivo Confidencial da Patrícia Poeta no Faustão, quando a Marjorie me ligou, contando uma notícia bizarramente fantástica.

Marjorie: Eu acabei de jogar as cinzas da mãe do Feliciano em cima dele.

Adalberto: Como assim?

Marjorie: Ele esqueceu uma caixinha aqui em casa, com um pó dentro, mas eu não sabia que eram as cinzas da mãe dele. Achei que era sujeira, joguei pela janela e caiu, exatamente, em cima dele.

Se não fosse a minha prima me contando, eu juro que iria achar que isso era piada.

Adalberto: Que triste. Aliás, depois dessa, ele tem que mudar o nome dele de Feliciano para Tristiano.

Marjorie: Adal, é sério.

Adalberto: E aí?

Marjorie: Aí, que ele lembrou que esqueceu as cinzas da mãe dele aqui em casa e está subindo para buscar. Ainda bem que está sem luz aqui no prédio. Ele vai ter que subir de escada.

Adalberto: Deixa eu te fazer uma perguntinha: o que é que ele foi fazer com as cinzas da mãe dele aí, na tua casa?

Marjorie: A mãe dele morreu. Mas depois eu te conto melhor. Me ajuda. Me diz o que é que eu faço?

Adalberto: Ué, não sei. Cozinha um pouco de farinha de trigo na panela pra ficar moreninha. Acho que dá uma enganada.

Marjorie: Eu não tenho farinha de trigo aqui em casa.

Adalberto: Tem pão duro? Faz farinha de rosca mesmo.

Marjorie: E como é que eu vou ligar o liquidificador, se não tem luz?

Adalberto: Fuma um maço de cigarro inteiro e junta as cinzas.

Marjorie: Não vai dar tempo. E eu não tenho pulmão pra isso.

Adalberto: Varre a casa. Tem sempre uma poeirinha, que a gente não vê.

Marjorie: A empregada encerou a casa ontem. Está limpíssima. Ih, é ele!

De tão nervosa, ela nem se despediu de mim. Bateu o telefone na minha cara e foi atender o Feliciano. Só fui ter notícia da Marjorie três dias depois. Ela me surpreendeu de mala e cuia aqui, na porta do meu apartamento:

Adalberto: O que é que houve?

Marjorie: Você nem me ligou pra saber do Feliciano.

Adalberto: Você que bateu o telefone na minha cara. De mais a mais, no dia seguinte, eu fui pra São Paulo a trabalho e só voltei hoje. Cheguei agorinha. Você deu sorte.

Marjorie: Posso ficar morando aqui por tempo indeterminado?

Putz!

Adalberto: Pode. Mas o que é que houve?

Marjorie: Naquele dia, eu acabei contando pro Feliciano a verdade.

Adalberto: Que você jogou as cinzas da mãe dele pela janela?

Marjorie: Falei. Mas fiz uma chantagenzinha emocional. Não fui tão direta.

Adalberto: Lógico. E ele?

Marjorie: Ele ficou comovido. Tinha acabado de perder a mãe...

Adalberto: Coitado. E aí?

Marjorie: Aí que nós transamos com ele todo sujo com as cinzas da mãe.

Adalberto: Mentira? Isso se chama ménage à trois.

Marjorie: Ai, nem me fala. Desde, então, eu ouço sons, quando vou dormir.

Adalberto: Isso se chama praga póstuma de sogra. Praga, não, né? Deve ser a tua própria sogra que está te atentando agora.

Marjorie: Pois é, eu também acho. E estou morrendo de medo disso.

Adalberto: Pior é se ela vier atrás de você aqui em casa. Morro de medo dessas coisas. Não tem outro lugar pra você dormir, não?

Marjorie: Ai, primo.

Adalberto: Estou brincando.

Marjorie: Não está nada, seu cagão.

Adalberto: Olha quem fala. Se borrando de medo...

Marjorie: Amanhã, eu vou a um centro espírita. Quero pedir desculpas para ela. Vamos comigo?

Adalberto: Eu, não. Vai na fé, prima.

E ela foi. Com fé ou sem fé. Com medo e coragem. E no mesmo dia, teve uma resposta da sogra, que a deixou mais tranquila. A ponto de vir buscar sua tralha aqui em casa.

Adalberto: E aí?

Marjorie: Ela disse que não vai mais me perturbar, contanto que eu me afaste do Feliciano.

Adalberto: Que espírito de porco.

Marjorie: Não fala assim! Essa mulher é vingativa!

Adalberto: É verdade. Desculpa você aí! Como é que é mesmo o nome dela?

Marjorie: Esqueci.

Adalberto: Droga. E o que você vai fazer?

Marjorie: O que ela mandou. Me afastar do Feliciano.

Adalberto: Mas você não disse que estava amarradona nele?

Marjorie: E estava mesmo. Mas, depois, dessa, eu vou colocar meu rabinhos entre as pernas e tirar meu time de campo.

E foi isso que ela fez. Tirou o time de campo da minha casa e da vida do Feliciano naquele mesmo dia. Achei que ela se contentou muito fácil com a determinação de uma pessoa, que eu nem tenho certeza que tinha incorporado a sogra dela. Bom para ela, que, assim como eu, morre de medo de espíritos. Acho até que nesse caso, a Marjorie saiu no lucro. Eu sei é que, desde então, ela me garantiu que não ouve mais vozes, quando vai dormir. Que assim seja!

quarta-feira, 24 de março de 2010

Um sapo? Um príncipe? Um Sayid com cara de lhama? Ou o alvo da Lu?

Eu chamei a Lu pra ir comigo ao casamento da Renata, uma ex-colega de faculdade e atual colega de trabalho, mas que tem status de amiga. Foi numa sexta-feira do mês de março.

Adalberto: Tá chorando?

Lu: Casamento mexe com a minha sensibilidade.

Adalberto: Um dia você vai casar também.

Lu: Será?

Adalberto: Claro.

Lu: Tá tão difícil arrumar alguém que preste.

Adalberto: A tá linda, né?

Lu: O marido dela também.

Adalberto: E a sua sensibilidade foi pro saco...

Um cara altíssimo, com cara de árabe, chegou atrasado e sentou na nossa frente.

Lu: Puta que p...

Adalberto: Lu! Você tá numa igreja.

Lu: Tô? Não sei. Não tô vendo nada, com essa parede na minha frente.

Adalberto: Pelo menos, ele tá filmando tudo com o celular. A gente pode ver o casamento pela tela do telefone.

E foi assim que a gente ficou a cerimônia inteira: assitindo o casamento da , através de uma tela de, no máximo, três polegadas. Pelo que deu pra gente ver, foi lindo. No salão de festas:

Lu: Adoro bolinha de queijo!

Adalberto: Eu também. Já comi umas dez.

Lu: Que bom que não teve aquelas fatias redondas de pão, com queijo e geleia em cima, né?

Adalberto: Odeio aquilo.

Lu: Estratégia pra encher a barriga dos convidados e gastar menos.

Adalberto: Sabe que eu nunca tinha pensado nisso?

Lu: Ih, olha ali o Sayid?

Adalberto: Quem?

Lu: O Sayid Jarrah, do Lost. Você não vê?

Adalberto: Eu, não. Seriado sem pé nem cabeça.

Lu: Eu adoro.

Adalberto: Aquela parede com cara de lhama é ator do Lost?

Lu: Claro que não, né, primo? Se fosse, eu já teria me jogado nele.

Adalberto: Ele não parece uma lhama?

Lu: Que porra de lhama é essa?

Adalberto: É um ruminante daqui, da América do Sul, que é da família dos camelos.

A Lu não conseguiu segurar a risada e engasgou com uma bolinha de queijo. Eu dei um tapa nas costas dela e o salgadinho acertou em cheio a cara da lhama, não, do Sayid, ah, sei lá...

Adalberto: Meu Deus! Ainda bem que ele não viu que foi daqui... Tô indo pro banheiro.

Lu: Vem cá! A Renata vai jogar o buquê agora.

Caguei pro buquê. Rir da cara da lhama no banheiro tinha prioridade. Quando voltei:

Adalberto: E aí? Pegou o buquê.

Lu: Não, ela jogou um sapo.

Adalberto: Sapo? De verdade?

Lu: Não! Um ursinho. Ela quis ser original e disse que ia jogar um sapo, que, depois, ia virar príncipe.

Adalberto: E foi muito original.

Lu: É. Pena que eu não peguei carona nessa originalidade.

Adalberto: Perdeu a chance de ir embora pra casa de carruagem.

Lu: Vou no seu Gol sujo.

Adalberto: Pelo menos, anda. Olha ali o Sayid dançando!

Lu: Parece um autista!

Adalberto: Olha! Todo mundo se afasta dele, com medo.

Lu: Também, né?

Ficamos um tempão rindo do Sayid dançando. De repente, chegou o momento das músicas românticas. A foi dançar com o marido e outros casais foram se formando na pista.

Adalberto: Lu, o Sayid tá vindo na sua direção. Acho que ele vai te convidar pra dançar.

Lu: Agora, chegou a minha vez de correr pro banheiro. Fui.

Quando começou a tocar música eletrônica:

Lu: Vambora.

Adalberto: Hã? Agora que eu ia levantar pra dançar?

Lu: Vamo agora.

Adalberto: O que foi?

Lu: No carro, eu te conto. Vamo.

Adalberto: Tá. Vai indo, que eu vou dar um beijo na .

No carro:

Adalberto: Você não vai acreditar: o Sayid com cara de lhama me deu um papel com o telefone dele. Mandou te entregar.

Lu: Era esse príncipe que estava escondido no sapo que a Renata jogou?

Adalberto: Você não falou que não tinha pegado o sapo?

Lu: Mas eu não peguei. Eu roubei da garota que pegou.

Adalberto: Como é que você fez isso?

Lu: Na hora que eu fui ao banheiro. Ela deixou a bolsa em cima da pia meio aberta. Deu pra ver o sapinho dentro. Peguei e me escondi.

Adalberto: Esconde isso.

Lu: Eu, não. Vou jogar essa bosta azarenta fora.

A Lu abriu o vidro do carro e arremessou o sapo longe. E, de novo, acertou em cheio a cara do Sayid com cara de lhama, que, pode não ter virado o príncipe da Lu, mas foi o alvo dela naquela noite.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Royal Caribbean, royalties do petróleo e a merdarada toda

Eu estava servindo de psicólogo no MSN para uma amiga, que mora na Austrália, quando alguém parecia arrombar a porta da minha casa. Abri morrendo de medo:

Adalberto: Porra, Lu, assim você me mata do coração!

Lu: Não me fala em coração. Eu não quero mais chorar.

Adalberto: Por quê?

Lu: Era assim que o Ateneu me chamava.

Adalberto: Ué, não era pra você estar num cruzeiro com ele a essa hora?

Lu: É, mas alegria de pobre dura pouco. Sempe sonhei em fazer um cruzeiro romântico. Quando encontro um baratinho, que posso parcelar em dez vezes, o navio inteiro fica com caganeira.

Disfarcei o riso, que saiu involuntário, com um acesso de tosse.

Adalberto: Era o Royal Caribbean, então?

Lu: Essa porra aí mesmo, que eu vou processar.

Adalberto: Mas e o Ateneu?

Lu: O Ateneu quer me matar.

Adalberto: Mas ele não disse que te amava?

Lu: Não fala isso que eu choro.

Adalberto: Mas foi você mesma que me disse isso. Aliás, ele ia te dar uma aliança de noivado lá no cruzeiro. Você me falou alguma coisa assim...

Lu: Só que eu joguei as nossas alianças em alto mar?

Adalberto: Como assim? Desistiu do noivado?

Lu: Não, primo. Você acha que eu ia jogar fora, assim, a minha chance de casar com alguém?

Adalberto: Não. Pelo menos, não em alto mar.

Lu: Ele não quer nem mais olhar na minha cara.

Adalberto: Me conta o que aconteceu. Por que você jogou as alianças fora?

Lu: Eu não joguei as alianças fora!

Adalberto: Não? Então, eu tô maluco!

Lu: Adal, o navio inteiro ficou com caganeira. Os banheiros todos ocupados, eu me segurando e nada de ninguém desocupar. Acabei me cagando toda!

Adalberto: Mentira! E o Ateneu?

Lu: O Ateneu também estava internado num vaso sanitário! Não tô dizendo que o navio todo estava com caganeira?

Adalberto: Mas e aí?

Lu: Aí que eu não tinha como tomar banho, tirei a bermuda cagada e a calcinha, claro, limpei o meu rabo, coloquei um biquini e joguei a roupa suja toda no mar. Não queria que ele me visse daquele jeito.

Adalberto: Tá. E as alianças?

Lu: Estavam no bolso da bermuda!

Adalberto: Por que não enfiaram a porra da aliança no dedo?

Lu: Porque a gente ia guardar. A gente ficou noivo na hora do almoço. Foi lindo...

Adalberto: E por que guardou? Aliança é pra ficar no dedo.

Lu: Mas esse noivado era o de mentirinha!

Adalberto: E existe isso?

Lu: A família dele é cheia de frescura. Noivado, pro pai dele, tem que ser com festa.

Adalberto: E por que vocês não esperaram, então?

Lu: Ai, primo, eu sempre sonhei com um cruzeiro, um amor, um pedido de casamento...

Adalberto: E como você teve coragem de dizer pra ele, que jogou as alianças fora?

Lu: Eu lembrei daquela peça que a gente viu, que a senhorinha joga o anel que ganhou do menino no mar, lembra?

Adalberto: Pra que sempre que ela olhasse pro mar, se lembrasse dele, porque dali, o anel nunca ia sair. "Ensina-me a viver" o nome da peça.

Lu: Mas, na prática, isso não adiantou, primo. Ele quase me arremessou no mar pra eu procurar as alianças!

Adalberto: Ele não é louco de fazer uma coisa dessas!

Lu: Não é louco? Eu precisei de ajuda da segurança navio.

Adalberto: Esse cara não te merece!

Lu: Não! Mas eu mereço ele.

Adalberto: Faz o seguinte, então: liga pro Ateneu e diz que eu dou de presente as alianças novas. Eu não vou ser padrinho? Eu compro, ué.

Lu: Mas aquelas alianças são as dos tataravós do Ateneu. Quando alguém na família casa, tem que ser aquelas merdas!

Adalberto: Aquelas merdas que você jogou fora, com a sua roupa cheia de merda. Que merda!

Brincadeirinha fora de hora.

Lu: Ai, primo, não acho graça nenhuma nisso! Você pode me apresentar aquela sua advogada? Vou descontar a minha raiva toda nesse cruzeiro.

Adalberto: Tá. Amanhã, eu te passo. A minha agenda, com o telefone dela, tá no trabalho.

O telefone tocou. Era a Marjorie.

Lu: O que ela queria?

Adalberto: Perguntou se a gente não queria ir com ela na passeata dos royalties.

Lu: Passeata contra essa navio que eu estava?

Adalberto: Não! Royalties do petróleo são uma coisa. Royal Caribbean é outra. Se bem que tá tudo dando merda.

Na passeata, a Lu tirou foto com a Xuxa, trocou um beijinhos com um deputado estadual (que eu não revelo o nome nem sob tortura) e, ainda, se acabou ao som do MC Créu. Aliás, ela me surpreendeu, dançando na velocidade cinco! No dia seguinte, a ressaca era tanta, que ela nem se lembrou de me pedir o telefone da minha advogada.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Olha só como é que eu... tomei um susto da Ane!

Só faltava a Ane chegar pra gente atacar o pudim acetinado que a Marjorie preparou. É, a Marjorie é daquelas que promove um evento, quando consegue realizar uma proeza dessas. Afinal de contas, cozinha, definitivamente, não é o lugar dela.

Ane: Cheguei!

Sara: Eu já estava quase indo embora. Tenho que preparar a janta do Oswaldo.

Adalberto: Tá toda esbaforida! O que é que aconteceu?

Ane: Eu conto! Mas só se for numa partida de "olha só como é que eu alguma coisa".

Marjorie: Oba! Já estava com saudade de brincar de "olha só como é que eu alguma coisa".

Lu: Tá bom, mas a gente pode brincar de "olha só como é que eu alguma coisa", comendo esse treco que a Marjorie fez?

Adalberto: Mandou bem! Não tô resistindo a esse pudim de azeite!

Lu: É de azeite essa bodega?

Adalberto: É. Pudim azeitinado... Só pode ser de azeite!

Sara: Ih, eu não vou gostar disso, não!

Ane: Também, não! Tô fora.

Marjorie: Bobo! Gente, vocês vão acreditar em Adalberto Monteiro Neto? É pudim acetinado! Não tem nada a ver com azeite! Me admiro você, hein, dona Sara! Acha que eu vou fazer pudim de azeite? E existe isso?

Sara: Sei lá, vocês são tudo doida!

Marjorie: Porra, mas o dia que eu fizer um pudim de azeite, me interna!

Adalberto: Hum, bom!

Lu: Tu não merecia comer, não! Cretino, safado!

Marjorie: É! Cospe fora! Cospe!

Adalberto: De jeito nenhum, ó, engoli!

Sara: Tá ótimo mesmo, prima.

Ane: Tá mesmo. Bonzão!

Lu: Me dá a receita depois?

Marjorie: Tá. É moleza de fazer. E no melhor é que ele não vai ao forno.

Sara: Não?

Marjorie: Não. Ele endurece na geladeira.

Ane: É bom que não corre o risco de queimar nunca, gente!

Marjorie: Por isso que eu amei isso! Esse é o pudim da minha vida.

Sara: Gente, eu tenho que ir.

Adalberto: Espera! Vamo começar o "olha só como é que eu sou alguma coisa"!

Lu: Quem começa?

Marjorie: A Ane! Tô morrendo de curiosidade pra saber o que aconteceu com ela.

Lu: Vai, então, Ane!

Ane: Tá bom. Olha só como é que eu... sou desprendida de certos pudores: saí do trabalho mais cedo prum open house de uma amiga. Quando cheguei lá, estava todo mundo pelado, e eu achei que eu estava num ensaio do Spencer Tunick. Obviamente, não era.

Lu: Quem é esse homem?

Adalberto: É aquele cara que faz foto de um montão de gente pelada.

Lu: Babado...

Ane: Eu me senti obrigada a aderir...

Marjorie: Hã! Não acredito!

Sara: Meu Deus!

Ane: Calma! Não foi fácil, assim, como vocês pensam. Eu tive que ficar de pilequinho. Aliás, pilecão, porque eu apaguei e, quando acordei, vi estava com-ple-ta-men-te sem roupa!

Ane ria sozinha, enquanto eu, Marjorie, Lu e Sara ficamos de queixo caído. Houve uma tentativa pra tentar quebrar o choque:

Sara: Sou eu agora. Olha como é que eu... não sou uma dona-de-casa perfeita: aprendi uma torta de chocolate no programa da Ana Maria Braga. Só que, em vez de açúcar, eu coloquei sal. O Oswaldo faltou me matar...

Eu, Lu e Marjorie ainda estávamos de queixo caído, com o que a Ane acabara de contar.

Marjorie: Peraí, Sara, a brincadeira acabou. Ane, vai agora fazer um exame de corpo de delito!

Adalberto: Vai agora fazer um exame de sangue!

Lu: Vai agora fazer um teste de gravidez na farmácia!

Ane: Ai, gente!

Marjorie: Ai, gente, não! Você não tem noção do risco em que você se meteu, não, é?

Lu: Aí, depois, vão dizer: tadinha, morreu cedo. Tadinha nada! Só faz merda!

Sara: Se eu conto uma coisa dessa pro Oswaldo, ele me proíbe de andar com vocês.

Ane: A brincadeira pra mim acabou. Tô indo pra casa. Tchau!

Uma semana depois, estávamos todos no mesmo lugar, brindando à vida e à saúde da Ane, com um bom vinho e o tal do pudim acetinado como acompanhamento. Ela não estava grávida nem com AIDS. Ufa!

quarta-feira, 3 de março de 2010

O dia em que a Ane achou que talvez e não parou de rimar

Eu estava terminando de estender a roupa no varal num desses sábados de chuva, de março, quando a Ane me ligou:

Ane: Oi.

Adalberto: Oi.

Ane: Tá podendo falar?

Adalberto: Tô.

Ane: Tá com uma voz estranha...

Adalberto: Eu estava lavando roupa... Deve ser por isso.

Ane: Ai, Adal, tô numa crise existencial...

Adalberto: Rimou!

Ane: O quê?

Adalberto: Adal com crise existencial.

Ane: É sério!

Adalberto: Quer sair, vir pra cá, fazer alguma coisa diferente?

Ane: Acho que talvez...

Adalberto: Achar já é não é ter certeza. Achar que talvez, então...

Ane: Sei lá, pode ser...

Adalberto: Agora, você trocou seis por meia-dúzia!

Ane: Pra você ver como eu não tô muito certa. Sem resposta concreta.

Adalberto: Rimou de novo!

Ane: Para! Que saco! Você tá muito chato!

E ela não para de rimar...

Adalberto: Desculpa, meu amor! Mas então?

Ane: Vamos.

Adalberto: Sair?

Ane: É. Não é isso que você quer?

Rimou de novo!

Adalberto: Foi a minha sugestão. Pra onde podemos ir?

Ane: Não sei. Quem convida é que manda.

Adalberto: Vamos dar uma caminhada na Pista Cláudio Coutinho?

Ane: Ah, não. Nada de exercício aeróbico por hoje, primo. Hoje é sábado! Quero fazer alguma coisa diferente...

Adalberto: Então, fala, ué. Você disse que quem convida é que manda e, quando eu sugiro alguma coisa, você não quer fazer...

Ane: Ai, primo, você tá tão grosso...

E ela, sem rimar, estava tão chata!

Adalberto: Não é isso. Eu só tô tentando te ajudar. O que eu não posso é adivinhar o que você quer fazer. Posso passar aí pra te pegar, e você vai pensando no que a gente vai fazer?

Ane: Não. Não quero essa responsabilidade pra mim. Ainda mais hoje, que eu tô meio assim...

Ih, pronto! Voltou com tudo! Prendi o riso.

Adalberto: Então, o que a gente faz?

Ane: Nada. Fica cada um na sua e a amizade continua.

Depois dela encher a minha paciência pra nada, não resisti:

Adalberto: Rimou!

Ela bateu com o telefone na minha cara! Melhor assim. A Ane só funciona quando tem certeza.