sábado, 30 de junho de 2012

O (quase) batismo dos trigêmeos da Sara - Tentativa 2

Vim passar o fim de semana em Búzios com os meus amigos do colégio. A viagem foi programada de última hora. Eu estou meio sem grana, mas como eu achava que não tinha nada para fazer, decidi entrar de leve no cheque especial e vir me divertir com o pessoal. Até que uma ligação da Sara, hoje cedo, acabou com toda a graça.

Sara: Adal, você já está chegando?

Tremi na base, mas despistei.

Adalberto: Eu? Chegando?

Sara: Ah, não vai me dizer que você também esqueceu do batismo dos seus afilhados?

Putz, era isso. Hoje era o dia da nova tentativa de batizar os trigêmeos da Sara. Na primeira, o padre faltou.

Adalberto: Lindona, eu estou num engarrafamento absurdo aqui na Linha Amarela.

Sara: Bom, pelo menos, você está vindo.

Adalberto: Como assim? Alguém esqueceu?

Nunca torci tanto para uma coisa dar errado...

Sara: A Marjorie, a Lu e a Ane. Está bom para você?

Ufa! Minhas primas me salvaram.

Adalberto: Como elas tiveram a capacidade disso?

Sara: A Marjorie viajou para fazer pesquisa de moda em Milão. Já a Ane e a Lu, viajaram para fazer pegação. Estou muito decepcionada com elas. Nunca mais olho na cara dessas meninas.

Adalberto: Como é que você vai ficar sem falar com as madrinhas dos seus filhos?

Sara: Elas não vão mais batizar as crianças. A tia Neide vai ser madrinha de todos os meus filhos com você.

Caramba, ela me ferrar se fizesse isso. Tentei salvar a minha cabeça.

Adalberto: Sara, a minha mãe já tem muitos afilhados. Ela não vai poder arcar com presentes bons para os meninos, não vai poder te ajudar a comprar coisas para as festas deles...

Sara: Sabe que eu não tinha pensado nisso?

Adalberto: Então, amore, remarca mais uma vez. A gente tem um crédito com você. Na primeira vez, nós fomos. Só agora que a gente esqueceu, mas não foi por mal.

Sara: Como assim, a gente esqueceu, Adal? Você também se inclui nessa? 

Ups, mandei mal...

Adalberto: É... É que...

Sara: Bem que eu estava achando estranho a Linha Amarela engarrafada às sete horas da manhã de um sábado.

Adalberto: Mas eu estou na Linha Amarela.

Sara: Ah, está? Então me manda a sua localização pelo celular. 

Adalberto: Sério isso?

Sara: Claro, meu bem. Depois do avanço da tecnologia, a gente não tem mais como mentir para ninguém. Me manda aí a sua localização para eu ver se você está falando a verdade.

Eu odeio esses celulares modernos com todas as forças que eu posso ter!

Adalberto: Sarita, eu vim para Búzios com meus amigos do colégio.

Depois dessa, esperei o esporro.

Sara: Búzios? Que legal. Estou com uma saudade de Búzios. Nunca mais fui à Região dos Lagos. Só um minutinho, Adal.

Medo!

Sara: Adal.

Adalberto: Oi, amore.

Sara: Falei aqui com o Oswaldo, a tia Neide e o tio Beto, e decidimos ir todos passar o fim de semana com você aí, em Búzios. Tem vaga para a gente, né?

Adalberto: E os trigêmeos?

Sara: Eles vão, ué. Se o padrinho não vem até os afilhados, os afilhados vão até o padrinho. 

Isso não podia ser verdade.

Sara: E olha: o Oswaldo está duro. Vamos ficar de seus gigolôs aí. Prepare o seu bolso, meu bem. Padrinho é para isso. Ó, a tia Neide está falando aqui que ela e o tio Beto também vão ficar na sua aba, hein... Até logo, primo. Quando a gente estiver chegando, eu te ligo. Ah, me fala uma coisa: a estrada está boa?

Tive o ímpeto de dizer que não, que estava toda engarrafada, esburacada, destruída... Mas decidi que era melhor falar a verdade para não piorar as coisas.

Adalberto: Está, sim.

Sara: Beleza, então. Já, já a família tralalá chega aí. Beijo!

E, assim, descobri que a minha entrada no cheque especial ia ser de leve. Mas em grande estilo.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Reunião com as primas acaba em pizza e cheiro de bosta



Ontem, depois de um tempinho tentando, consegui reunir as quatro primas lá em casa. Para variar, não tinha nada na dispensa além de sal nem na geladeira além de água. Tivemos, então, a brilhante ideia de pedir uma pizza.

Lu: Ai, tomara que não demore. Eu estou morrendo de fome.

Sara: E eu estou com uma sede danada.

Adalberto: Ué, tem água na geladeira.

Sara: Mas é sede de CocaAdal.

Marjorie: Esse negócio de sede de Coca é muito engraçado. E o pior é que supernormal. Outro dia, um funcionário lá fábrica disse que estava morrendo de sede de Coca, aí eu perguntei para ele: e quando não existia Coca, como as pessoas faziam?

Ane: É mesmo. Imagina o mundo sem Coca, gente. Como é que devia ser?

Sara: Não consigo imaginar. Eu ia morrer

Adalberto: Não ia, não, Sarita. Sabe quando a gente sente uma vontade de comer alguma coisa que não sabe o que é? Deve ser de alguma coisa que não existe.

Lu: Cara, aquela tua amiga jornalista, a Flávia Monteiro, é mestre em falar isso. Outro dia, fui para a Lapa com ela, para um showzinho desses alternativos, que por sinal foi uma bosta. Aí, no fim de noite, mortas de fome, passamos numa loja de conveniência. Você acredita que dentre milhões de coisas para comer ela não quis nada? Disse que estava com fome de alguma coisa diferente.

Marjorie: Gente, isso acontece recorrentemente comigo.

Ane: Comigo também.

Adalberto: Com a minha mãe também.

Sara: Será que um dia essas coisas gostosas vão existir, assim como a Coca-Cola?

Adalberto: Ah, não dá para saber.

Marjorie: Muita coisa ainda vem por aí. Enquanto a gente viver, vai ter coisa nova surgindo.

Lu: Ai, eu queria pelo menos viver até lançarem no mercado um negócio gostoso, que eu comi num sonho que tive, mas não sei o que é exatamente.

Sara: Mas era parecido com o quê?

Lu: Não sei. Mas eu quero repetir. Era muito bom.

Ane: Ai, gente, é horrível ficar com vontade de alguma coisa que não existe. É como o homem perfeito.

Adalberto: Como assim, o homem perfeito não existe? E eu?

Ane: Ah, Adal, você não conta. Você já é primo.

Marjorie: E se fosse para ser de uma, ia ter confusão.

Adalberto: Por isso, que eu sou de todas.

Marjorie: Melhor assim.

Ane: Sabe o que eu acho disso tudo?

Adalberto: Disso tudo o quê?

A campainha tocou e eu fiquei morrendo de curiosidade em saber o que a Ane ia falar. Será que era de mim? Do homem perfeito? Da Coca-Cola? Ou das coisas que a gente sente vontade de comer mas não existem?

Lu: Deixa que eu abro.

MarjorieAdal, eu vou pegar prato e talher na cozinha.

Ane: Eu te ajudo.

Sara: Eu vou lavar minhas mãos.

Em frações de segundo, uma avalanche levou todas as primas embora. A Lu se afeiçoou até demais pelo entregador de pizza e foi com ele para algum lugar que a minha imaginação até alcança, mas prefere se isentar.

Lu: Primo, não fica chateada comigo. Já que de homem perfeito só existe você, o entregador de pizza vai quebrar um galho para mim.

Marjorie veio correndo da cozinha e a Sara do banheiro. Aliás, não sei como eles não deram um encontrão, de tão pequeno que é o meu apartamento.

MarjorieAdal, ficou faltando um material para as meninas terminarem umas bolsas lá na fábrica. Tenho que ir em casa agora buscar, porque marquei com a cliente amanhã cedinho.

Sara: E o Oswaldo acabou de me ligar. Os trigêmeos resolveram chorar ao mesmo tempo e ele precisa dormir.

Adalberto: Ele falou se é alguma coisa séria?

Sara: Nada. Não sabe como é homem, quando vê criança chorando? Fica desesperado. Adal, você precisa dar umas aulinhas de como ser o homem perfeito para o Oswaldo.

Adalberto: E como você vai embora?

Sara: Eu pego um táxi. Não se incomoda comigo.

Ane: Não. Eu te levo. Aproveito e pego aquela blusinha que eu deixei para você diminuir a manga.

AdalbertoAneAne! O que você queria falar naquela hora?

Ane: Que hora, garoto?

Adalberto: Naquela hora que você ia dizer o que acha disso tudo.

Ane: Disso tudo o quê, gente?

Adalberto: Daquilo tudo o que a gente estava falando... De Coca-Cola, de vontade de comer coisa que não existe, de homem perfeito... Quando o entregador de pizza chegou e interrompeu seu raciocínio.

Ane: Ai, Adal, sei lá. Eu tenho a Síndrome do Raciocínio Interrompido. Uma vez meu raciocínio interrompido, ele nunca mais se conclui.

Adalberto: Palhaça!

Ane: Devia ser alguma bobagem.

Adalberto: Tenta lembrar.

Sara: Não dá, primo. A não ser que ela não vá mais me levar. Eu estou com pressa.

Ane: Não, eu vou. Adal, eu tento lembrar no caminho e, qualquer coisa, te ligo.

Adalberto: Está bem.

E quando dei por mim, estava sozinho, com uma pizza tamanho família, sem ninguém para me acompanhar naquele desastre gastronômico.

Meia-hora depois, eu estava internado no banheiro com uma dor de barriga daquelas. Quando consegui me libertar do vaso, a minha amiga jornalista, da qual a Lu falou, chegou inesperadamente.


Adalberto: Flavinha! Que surpresa boa!


Flávia: Pois é, estava aqui perto tomar um chope com uma colega de trabalho e, agora, na hora de ir embora, decidi vir aqui te dar um beijinho,


Adalberto: Entra um pouquinho.

Flávia: Está bem. Mas só dois segundinhos, Adal. Estou morta de cansaço..


E quando eu mal havia fechado a porta, ela já queria ir embora.


Adalberto: Como assim, já quer ir embora?

Flávia: Eu falei que eram dois segundinhos, ué.

Na hora, não entendi nada.

Adalberto: Eu te levo até lá fora, então, sua maluquinha.

Flávia: Beleza.

Quando entrei em casa, entendi o porquê da minha amiga ter levado tão ao pé-da-letra os dois segundinhos. O ambiente estava empesteado de um cheiro de bosta, e eu só percebi isso porque fui para fora e voltei.

Coitada da Flávia. Ela descobriu da pior maneira que eu não sou o homem perfeito.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Ane vive uma semana intensa, com escalação de elenco para inglês ver e testes do sofá


Ontem, a Ane me ligou para contar a boa nova.

Ane: Eu estou namorando o Deco Real.

Adalberto: E você fala como se eu conhecesse essa pessoa.

Ane: Adal, você não conhece o Deco Real?

Adalberto: Não. Quem é esse?

Ane: Ele é simplesmente um produtor de elenco.

Adalberto: Ué, e daí?

Ane: E daí que ele está fazendo a escalação da próxima novela das oito.

Adalberto: Ok. Mas o que é que isso acrescenta para o seu relacionamento? Se fosse para a novela das seis, das sete ou Malhação, você não namoraria ele?

Ane: Namoraria. Mas o bom é que, em se tratando de novela das oito, o meu campo de atuação melhora.

Adalberto: Como assim, Ane?

Ane: Meu bem, todo ator sonha em fazer novela das oito.

Adalberto: Tudo bem. Eu só não estou conseguindo entender a sua relação com isso.

Ane: A minha relação? Vem aqui em casa daqui a uma hora que você vai ser a minha relação... Sexual com um ator, que está vindo agora fazer teste comigo.

Adalberto: Ane, isso é sério?

Ane: Claro que é. Eu estou no paraíso, Adal.

Adalberto: E o Deco? Ele sabe dessa sua escalação de elenco para inglês ver?

Ane: Claro que não.

Adalberto: Quantos testes você já fez?

Ane: Tirando os de hoje, já fiz trinta.

Adalberto: E em todos você chegou aos finalmente?

Ane: Não! Eu não transei com os trinta, não! Um tinha mau hálito e outro tinha cecê. Fiquei com nojo.

Adalberto: E com os outros vinte e oito?

Ane: Ah, com eles, sim. Eram todos gatos.

Adalberto: Ane, desde quando isso começou?

Ane: Desde o meu segundo dia de namoro. Na segunda-feira.

Adalberto: Ane, de segunda até hoje você já transou com vinte e oito rapazes?

Ane: Tirando os de hoje, sim.

Adalberto: Em quatro dias você fez isso tudo?

Ane: E ainda tinha espaço para mais. Adal, teste do sofá é o que há.

Adalberto: Ane, você tem noção de que isso pode te dar o maior problema? O que você está dizendo para esses rapazes?

Ane: Eu reprovo todos eles. Aliás, isso é uma bosta. Queria ser produtora de elenco de verdade para poder aproveitar alguns atores... Em todos os sentidos.

Adalberto: E você usa o nome do Deco para promover esses testes?

Ane: Uso.

Adalberto: Garota! Como é que você faz isso?! Está maluca?

Ane: Não.Eu vou nos cursos de teatro, converso com os atores, mostro foto com o Deco, digo que estou ajudando a ele a escolher o protagonista da novela das oito, eles acreditam e vêm aqui. O bom é que todos, sem exceção, acham que é só me comer para ganhar o papel.

Adalberto: Ane, como você é suja!

Ane: Suja, não! Só estou aproveitando uma oportunidade.

Adalberto: Meu Deus! Você sabia que isso é uma... Bom, deixa para lá. Também vou aproveitar a minha oportunidade de ficar calado. Vou voltar para o meu trabalho. Beijo.

Ane: Beijo, seu caretão.

Qualquer coisa que eu falasse para ela, ia entrar por um ouvido e sair pelo outro.

Hoje, ela me ligou inconsolável.

Ane: Sabe quem veio fazer teste hoje cedo comigo?

Adalberto: Não tenho a menor ideia.

Ane: O filho do Deco.

Adalberto: Mentira.

Ane: Sério.

Adalberto: E aí?

Ane: Ele veio indicado por uma amiga, nós transamos e agora, à noite, quando fui jantar com o pai dele, fui surpreendida pela presença dele.

Adalberto: Jesus! E aí?

Ane: Aí, que o Deco descobriu que o filho fazia curso teatro sem ele saber e que a namorada dele ficou com o seu próprio filho.

Adalberto: O garoto contou?

Ane: Contou. Eu chutei o pé dele por debaixo da mesa, quando ele começou a entrar no assunto, mas não adiantou nada. Ele vomitou tudo para o pai.

Adalberto: E aí?

Ane: Aí, que Deco me xingou de todos os nomes, que você possa imaginar, levou o filho embora e me deixou no restaurante sozinha com uma conta assustadora para eu pagar. Se eu soubesse que a conta ia sobrar para mim, tinha chamado ele para tomar caldo de cana com pastel.

Adalberto: E agora?

Ane: Agora? Eu estou sem o Deco, sem os testes de elenco e muito mal acostumada, né?

Adalberto: Como assim, mal acostumada?

Ane: Era uma média de sete por dia, Adal.

Adalberto: Ah, sim. Entendi.

Pobrezinha...

terça-feira, 5 de junho de 2012

Marjorie desce do salto com baixinho, que desce do salto com Sara e tudo acaba em seis por meia-dúzia


Ontem, a Marjorie me ligou com uma voz um pouco alterada. Eu estava enroladaço no trabalho, mas como ela disse que era um caso de vida ou morte, parei tudo para atendê-la.

Adalberto: Eu detesto quando vocês me manipulam com o bordão “é um caso de vida ou morte”. O pior é que eu sempre caio nessa. Fala logo, porque eu estou ocupado.

Marjorie: Você não vai acreditar no que eu fui capaz de fazer.

Adalberto: Não sei. Mas, só de você falar assim, me dá medo.

Marjorie: Eu abri um perfil num site de relacionamento.

Adalberto: Ah, não vejo nada demais nisso. As pessoas têm um preconceito, uma visão de que o espaço virtual é uma coisa menor. Mas, não. É apenas outro meio de se relacionar. Não vejo problema nenhum nisso.

Marjorie: Eu concordo com você. Mas se você visse Eviseu, iria cair para trás.

Adalberto: Quem seria Eviseu?

Marjorie: O carinha que eu encontrei no sábado. Uma decepção, Adal.

Adalberto: Mas você não trocou foto, não falou com ele na webcam? Hoje em dia, esses dispositivos impedem que as pessoas mintam sobre si.

Marjorie: Impedem até a página dois.

Adalberto: O virtual nunca vai ser cem por cento igual ao real, Jojô.

Marjorie: Não mesmo. A foto que o Eviseu me mandou era incrível, num ângulo que super deixava ele com o maior corpaço, mas...

Adalberto: Quando você o encontrou, ele não era tão interessante quanto parecia.

Marjorie: Nem tão alto. O cara tinha um metro e cinquenta, e eu acho que ainda estou sendo generosa.

Adalberto: Sério?

Marjorie: E o pior é que eu fui estilo mulher de vida fácil, com um salto altíssimo. Homem gosta disso. Então, pensei: vou vulgar a medida do possível para ver se alcanço o meu objetivo.

Adalberto: Fez bem. Você é muito estilosa, chique, moderninha. Isso assusta.

Marjorie: Pois é, mas ontem foi um dia que eu queria ter assustado. Primo, eu queria morrer!

Adalberto: E o que você fez?

Marjorie: Nossa, só faltou eu agredir fisicamente o cara. Falei um monte. Acabei com ele.

Adalberto: Então, você desceu do salto? Coitada do cara. Ele tem culpa por ser baixinho?

Marjorie: Não. Mas por retorcer a realidade. Ele podia ter me falado a altura.

Adalberto: Podia. Mas tem gente que conserva aquela esperança de que um bom papo, a sua maneira de ser vão suplantar certos problemas como...

Marjorie: A baixíssima estatura.

Adalberto: É. Na verdade isso não chega a ser um problema, né? A gente acaba sendo preconceituoso tratando dessa maneira. É só a situação do cara.

Marjorie: Ai, primo, eu nem ia te contar. Mas você não sabe da maior.

Adalberto: Ainda tem mais coisa?

Marjorie: Eu recebi uma encomenda de 200 bolsas.

A Marjorie, para quem ainda não sabe, é designer de bolsas.

Adalberto: Ai, meu Deus. Fala logo que a loja que te encomendou essas bolsas é onde o Eviseu trabalha.

Marjorie: A loja que me encomendou essas bolsas é do Eviseu.

Adalberto: Ele é o dono?

Marjorie: Bingo!

Adalberto: Mentira!

Marjorie: Sério.

Adalberto: Como é que você descobriu isso?

Marjorie: Ele ligou para cá e se identificou. Eviseu só existe um no mundo. Fora que a voz dele é irreconhecível.

Adalberto: E ele não reconheceu a sua?

Marjorie: Graças a Deus, não.

Adalberto: Que bom.

Marjorie: Mais ou menos, primo. Ele quer se encontrar comigo para passar umas ideias.

Adalberto: Jesus! E aí?

Marjorie: E aí que, como a Sara não faz porra nenhuma o dia inteiro, ela vai me representar nessa reunião. E você vai junto para garantir que ela não vai abrir a boca para falar bobagem. É a minha imagem que está em jogo, primo. Você quebra essa para mim?

Adalberto: Mas e os trigêmeos?

Marjorie: Vão ficar com a babá.

Adalberto: Nossa, ela está evoluindo. Ela nunca fez isso.

Marjorie: E nem ia fazer. Eu tive que implorar para ela me quebrar esse galho.

Adalberto: E a que horas eu tenho que sair?

Marjorie: Tipo assim: agora!

Adalberto: Não acredito.

Marjorie: Anda logo, primo. Só você pode fazer isso por mim.

O pior é que eu fui. 

Na boa, eu devo estar à beira da demissão, por causa dos milhões de incêndios, que eu sou obrigado a apagar para as minhas primas. Mas eu não consigo dizer não para elas...

A reunião, como já era de se imaginar, foi um fiasco. A Sara falou todas as besteiras possíveis e imagináveis que ela foi capaz, com ideias cafonas e datadas sobre bolsas, queimando totalmente o filme da Marjorie.

Pelo menos, foi divertido. A Marjorie é que não ficou muito feliz, quando contamos para ela.

Marjorie: Pô, eu sabia que a Sara ia falar um monte de asneiras.

Sara: Se você já sabia, por que me mandou no seu lugar?

Marjorie: Porque o Adal foi junto para te censurar.

Adalberto: Mas não adiantou. Ela não deixava ninguém falar. Parecia o grande momento da vida dela. A Sara estava se achando a entendedora de bolsas.

Marjorie: Meu Deus, que vergonha.

Sara: Ah, gente, não conta mais comigo para essas coisas, não.

Marjorie: Não mesmo!

Adalberto: Gente, valeu a tentativa.

Marjorie: O cara, pelo menos, fechou com vocês?

Adalberto: Fechou! Fechou foi a porta na nossa cara! O cara ficou tão irritado com a Sara, que falava como uma maritaca, que saiu furioso, batendo a porta e tudo.

Marjorie: Nossa, ele foi escroto assim?

Adalberto: É... Hoje foi o dia dele descer do salto.

Marjorie: Ah, não me faça rir, Adal. O Eviseu desceu do salto? Ele é mais baixo do que o salto...

Como essa minha prima é sarcástica...

No fim das contas, ficou tudo a seis por meia-dúzia. A Marjorie não ficou com o Eviseu e ele não fechou com a fábrica dela.

Hoje, quando cheguei no meu trabalho com a cara mais lavada do mundo, cheio de coisas para fazer, por incrível que pareça, ninguém comentou nada. É... Não foi dessa vez que um caso de vida ou morte das minhas primas me fez perder meu emprego.