quinta-feira, 29 de abril de 2010

Júnior Capixaba, que é baiano, não virou ídolo do Vasco nem da Marjorie

Fui com as meninas à praia num sábado desses de sol:

Adalberto: Sarita, você nõ vai mesmo sair debaixo da barraca?

Lu: Deixa ela, menino.

Sara: Eu odeio sol, areia me incomoda e o sal do mar de dá alergia.

Ane: Ou seja, veio aqui só pelo amor aos primos mesmo.

Sara: O que eu não faço por vocês?

Marjorie: Não dorme lá em casa sem o Oswaldo.

Ane: Não vai pra boate comigo sem o Oswaldo.

Lu: Não vai pro clube das mulheres comigo sem o Oswaldo.

Adalberto: Nossa, isso é um complô contra o Oswaldo?

Lu: Não. A gente só disse o que ela não faz por nós.

Sara: Quando elas casarem, vão ver que o que eu faço é muito.

Marjorie: Sarita, eu te amo, mas eu não vou ser como você é com o Oswaldo.

Sara: Você é a exceção, Jojô. Duvido que a Lu e a Ane iam botar o Júnior Capixaba pra escanteio.

Adalberto: Quem é Júnior Capixaba?

Marjorie: É um baiano lindo que eu conheci.

Ane: Capixaba não é quem nasce no Espírito Santo?

Marjorie: É. Mas ele é jogador de futebol. E Júnior Baiano já tem um.

Adalberto: E de onde vem o capixaba?

Marjorie: Da mãe dele.

Sara: Ela é capixaba?

Marjorie: É. E uma vaca também.

Lu: Por que, meu pai?

Marjorie: Porque eu terminei com ele e ela não aceitou. E agora quer me matar.

Ane: Jura? Que coisa mais rara!

Lu: Quem dera se a mãe de algum namorado meu ficasse puta por eu terminar namoro.

Ane: Geralmente, elas dão graças a Deus.

Lu: Geralmente, não. Sempre.

Sara: Mas o babado com esse foi forte.

Adalberto: A Jojô, no mínimo, achou o cara brega.

Marjorie: Pô, o cara saiu comigo com sapato preto e meia branca.

Adalberto: Não falei?

Ane: Ai, é daí? Eu namorei com um que usava camisa pra dentro da calça jeans.

Ane: Eu namorei com um que usava pochete.

Sara: O Oswaldo usa camisa pra dentro da calça jeans e pochete.

Marjorie: Medo.

Sara: E, na maioria das vezes, ao mesmo tempo.

Marjorie: Eu queria que o meu amor também fosse cego. O cara é gostoso, ia jogar no Vasco e me faz liberar muita ocitocina na cama.

Lu: Que porra é essa que você tá liberando na cama?

Ane: Eu só tenho dois buracos.

Lu: Eu também. Mas me conta, porque se for bom, eu libero também.

Adalberto: Gente, ocitocina é o hormônio feminino do amor.

Sara: Eu não sei se eu libero isso pro o Oswaldo, não. Até porque ele não tá merecendo. Anda mentindo muito pra mim. Acha que eu sou boba.

Ane: Equece o Oswaldo, Sara. Não consigo conceber como uma meia branca conseguiu acabar com uma relação.

Marjorie: Não foi a meia branca. Foi a falta de estilo.

Lu: Tu é estilista pra quê? Dava um trato no cara.

Marjorie: Gente, eu perdi o tesão por ele. Não consigo.

Sara: O cara ficou arrasado.

Adalberto: Agora, jogando no Vasco, ele vai pegar geral e já, já te esquece.

Marjorie: Não, Adal. Ele desistiu da carreira de jogador, por causa de mim.

Adalberto: Como assim? O que você tem a ver com isso?

Marjorie: A nossa família toda é Vasco, né, primo?

Ane: E daí? Ele não pode jogar lá, só por causa disso?

Marjorie: Pode. Mas ele disse que sempre que vestisse a camisa do Vasco ia lembrar de mim e não ia conseguir jogar.

Ane: Gente, eu quero esse homem pra mim.

Lu: Eu também.

Sara: E eu queria que o Oswaldo fosse como ele.

Adalberto: Você não ficou com pena dele, Jojô?

Marjorie: Não. Fiquei com mais raiva. Cara babaca!

Sara: Resumindo: a Marjorie arruinou a carreira promissora do Júnior Capixaba.

Marjorie: Por isso que a mãe dele quer me matar.

Adalberto: Agora, tá explicado.

Lu: Eu, se fosse ela, já teria matado.

Mas como não era, foi tentar correr atrás do prejuízo da prima. Duas semanas depois, soube pela Sara que ela e a Ane pegaram três ônibus pra chegar à casa do Júnior Capixaba, no interiorzaço da Bahia. A Sara disse que elas foram atender a um pedido da mãe dele. Eu não sei como a mãe desse rapaz conseguiu entrar em contato com elas. Nem quero saber, porque no fundo, no fundo, eu tenho certeza que elas é que correram atrás de um golaço.

Parece que os 13 mil habitantes da cidadezinha botaram elas pra correr, quando descobriram que eram primas da fulana que "desgraçou" a carreira do cara, que ia tornar aquele lugarejo conhecido em todo o Brasil, quando começasse a jogar num grande time. O Vasco perdeu um possível ídolo. Mas eu, como sempre, saí ganhando com mais essa história impagável das minhas primas.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Dia Internacional do Fora da Área de Cobertura ou Desligado e Dia Internacional do Acidente em Transportes Coletivos caem na mesma data

Foi numa sexta-feira do mês de abril. Eu estava chegando em casa do trabalho, quando o telefone fixo tocou. Que coisa rara de acontecer hoje em dia:

Adalberto: Alô.

Marjorie: Adal, pra que você tem tem celular?

Adalberto: Ué, pra atender a ligação, quando eu não estiver em casa.

Marjorie: É mas ele tá desligado. Assim, não adianta nada.

Adalberto: Ele tá ligado, sim.

Mentira. Eu tinha desligado, por causa de uma reunião que tive cedo no trabalho e, até agora, não tinha ligado.

Adalberto: Estava ligado. É que no elevador não funciona.

Marjorie: Virou ascensorista agora?

Adalberto: Marjorie, você me ligou só pra isso? Aliás, não era pra você estar voltando de Londes agora?

Marjorie: Era. Mas meu avião caiu e eu tô no hospital.

Adalberto: Mentira. Olha que primeiro de abril já passou hein...

Marjorie: Adal, eu tô falando sério.

Adalberto: Tá muito machucada?

Marjorie: Não. Só vim fazer uns exames, mas parece que tá tudo ok. Tô esperando pra ser liberada.

Adalberto: Mas por que o avião caiu?

Marjorie: Por causa das cinzas do vulcão da Islândia. O piloto foi fazer um pouso de emergência e acabou fazendo merda.

Adalberto: Prima, eu li sobre esse lance das cinzas no trabalho, mas é tanta coisa na minha cabeça, que não associei a você.

Marjorie: Pois é. Bastou eu viajar que você já me esqueceu.

Adalberto: Ah, para de drama.

Marjorie: Não paro. Adoro fazer drama. E dessa vez, é justificável. Um acidente de avião não é um acidente de trem.

Adalberto: Ah, mas não é mesmo. Se você me ligasse pra dizer que estava machucada, porque o trem descarrilou, eu ia dizer "bem feito".

Marjorie: Você ia ter que me levar pra internação num hospício.

Adalberto: Claro. Vem cá, você já contou pras meninas?

Marjorie: Não consigo falar com essas vacas também. Hoje deve ser o Dia Internacional do Fora da Área de Cobertura ou Desligado.

Adalberto: Amoreca, acabei de ligar o celular e chegaram umas trinta mensagens da Sara. Tô preocupado.

Marjorie: Ah, viu como eu te pego na mentira...

Dei uma risadinha mega sem graça e completei com a única coisa que eu podia falar nesse momento:

Adalberto: Desculpa.

Marjorie: Cachorro! Vai ficar ouvindo ela falar de Oswaldo. Bem feito. O médico tá me chamando. Também tenho que desligar.

Naquela hora, tudo o que eu menos queria era ouvir a palavra Oswaldo. Vindo da Sara, claro. Troquei de roupa sem pressa, tomei um copo da água e, aí sim, liguei pra ela:

Adalberto: Oi, minha lindeza.

Sara: Adal, pra que você tem celular?

Adalberto: Ah, de novo essa pergunta, não? Olha, vou fazer igua a Deborah Secco: não falo sobre vida pessoal. Pronto.

Sara: Eu tô te ligando desde cedo. Fui andar de trem hoje e o treco descarrilou. Tô aqui num hospital em Deodoro.

Bem feito! O que essa louca foi fazer num trem?

Adalberto: Formosura, o que você foi fazer num trem?

Sara: Fui realizar um sonho. Sempre quis andar de trem.

Adalberto: Sério?

Sara: Aí, fui visitar aquela minha amiga que tá pra ter neném lá em Santa Cruz. Na volta, decidi ir de trem pra casa.

Adalberto: Hora ruim pra realizar um sonho, hein, prima. O Oswaldo já sabe?

Sara: Não. Eu não consigo falar com esse cachorro. O telefone dele também tá desligado. Eu não sei pra que vocês têm celular.

Adalberto: Ele deve estar ocupado, Sarita.

Sara: Ocupado com uma vagabunda.

Adalberto: Você tá bem?

Sara: Tô. Só vim fazer uns exames, mas parece que tá tudo ok. Tô esperando pra ser liberada.

Adalberto: Me ligou só pra fazer drama, né?

Sara: Claro. Adoro fazer drama. E dessa vez, é justificável. Um acidente de trem não é um acidente de bicicleta.

Na minha opinão, nada é pior do que eu acidente de trem, mas vou valorizar o drama da minha prima.

Adalberto: Ah, mas não é mesmo. Se você me ligasse pra dizer que estava machucada, porque a sua bicicleta caiu no meio-fio, eu ia dizer "bem feito".

Sara: Você ia ter que me levar pra internação num hospício.

Adalberto: Claro. Vem cá, você já contou pras meninas?

Sara: Não consigo falar com essas vacas também. Hoje deve ser o Dia Internacional do Fora da Área de Cobertura ou Desligado.

Adalberto: Ou do Acidente em Transportes Coletivos.

Sara: Por quê? Aconteceu alguma coisa?

Adalberto: Me diz uma coisa, você vai querer que eu te pegue aí?

Sara: Quero.

Adalberto: Então, eu te conto no caminho.

Sara: Foi alguma coisa com o Oswaldo.

Adalberto: Não, prima. O Oswaldo tá bem.

Sara: Ah, é? Onde é que tá essa cachorro?

Adalberto: Não sei. Mas imagino que ele esteja bem... Ele deve estar bem, sim, prima. Até porque, se não estivesse, a gente já saberia. Notícia ruim chega rápido.

Mesmo que seja no Dia Internacional do Fora da Área de Cobertura ou Desliado.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Overdose de Benedita Aparecida da Silva na família é prejudicial a uma relação

Eu estava mexendo no computador, quando vi que a Lu atualizou o seu álbum de fotos do Orkut. Fui lá pra ver e... Como assim? A minha professora do prezinho no álbum da Lu? Eu tenho memória boa. É a tia Benedita Aparecida da Silva. De onde a Lu desenterrou ela, meu Deus?

Lu: Alô.

Adalberto: O que é que a tia Benedita Aparecida da Silva tá fazendo no seu álbum de fotos do Orkut?

Lu: Ela é mãe do Horácio.

Adalberto: Inácio.

Lu: Horácio, Adal.

Adalberto: Lu, a minha memória é infalível e a tia Benedita Aparecida da Silva só tem um filho. E o nome dele, com toda a certeza desse mundo, é Inácio.

Lu: Então, o meu namorado e a família inteira dele tão me enganando. Na casa dele, só chamam ele de Horácio.

Adalberto: Um amigo meu também dava nomes diferentes pras namoradas dele e a família toda confirmava.

Lu: Isso é falta de vergonha na cara.

Adalberto: E o pior é que quando, por azar, as enganadas apareciam na hora que ele estava com a namorada oficial, ele dizia que elas estavam loucas.

Lu: Tu acha que o Horácio tá fazendo isso comigo?

Adalberto: Não sei. Mas, como eu te falei, o nome do filho da tia Benedita Aparecida da Silva é Inácio.

A Lu nem se despediu. Bateu o telefone na minha cara. A maluca contratou um detetive pra seguir os passos do Horácio e nem me falou nada. Parece que o cara descobriu e deu mó merda. Ela veio aqui em casa, querendo me matar:

Lu: Agora, ele tá preso e não quer nem mais olhar na minha cara.

Adalberto: Também, quem mandou enfiar a porrada no coitado do detetive? Bem feito.

Lu: Adal, não se mete mais na minha vida. Se você vir alguém conhecido nas minhas fotos do Orkut, não me fala mais nada. Não quero saber.

Adalberto: Como é que eu ia saber que a tia Benedita Aparecida da Silva tem uma irmã que também se chama Benedita Aparecida da Silva. Não basta uma?

Lu: Ela contou que o pai dela estava bêbado quando a registrou. Acabou colocando o mesmo nome da irmã, que é só um ano mais nova.

Adalberto: Elas são iguais. Impressionante. Além de ter o mesmo nome tem a mesma fuça. É muita falta de sorte.

Quando disse falta de sorte, não estava me referindo à beleza, mas o pensamento da Lu fez essa associação e ela não segurou a gargalhada.

Lu: Elas são muito feinhas, né?

Adalberto: Eu nem acho. A tia Benedita Aparecida da Silva é tão gente boa, que eu não consigo ver feiura nela.

Lu: Qual era o nome da sua escolinha mesmo?

Adalberto: Grilinho Falante.

Lu: Droga!

Adalberto: Ah, eu gostava de lá.

Lu: Não. É que a mãe do horácio trabalha no Tempinho Feliz. Se eu tivesse te perguntado isso antes, de repente, o meu namoro ainda estaria salvo.

Adalberto: Mas a tia Benedita Aparecida da Silva trabalha no Grilinho Falante até hoje?

Lu: Sei lá, mas eu perguntava pra ela. De alguma maneira, eu ia acabar descobrindo que no mundo existem duas Benedita Aparecida da Silva.

Adalberto: E que, diga-se de passagem, saíram da mesma barriga.

Lu: O pior é que eu estava amarradona no Horácio.

Adalberto: Lu, posso te dar um conselho?

Lu: Não, primo. Não quero mais ouvir os seus conselhos.

Adalberto: Tá bom. Mas eu acho que você deveria investir no Inácio.

Lu: O filho da sua Benedita Aparecida da Silva?

Adalberto: Lógico. O da sua Benedita Aparecida da Silva tá preso.

Lu: Tá maluco, Adal? Não tenho coragem de fazer isso, não.

Tá bom. E eu acredito em Papai Noel. Duas semanas depois, soube pela Sara, que a Lu estava namorando um tal de Inácio. Essa minha prima não dorme no ponto. Parece que a dona Benedita Aparecida da Silva não gostou muito. Tomou as dores do filho. Mas a tia Benedita Aparecida da Silva adorou. Ela gostava muito da Lu, desde o namoro com o Horácio.

Depois de um mês, a Lu teve coragem de me contar. Ela inventou uma história dessas mirabolantes pra justificar o namoro com o Inácio. Eu fingi que acreditei facilmente, porque mão queria deixar minha prima constrangida. E, no domingo passado, estávamos em pleno almoço de família na casa da tia Benedita Aparecida da Silva. Como foi bom revê-la. Senti saudade da minha infância, dos tempos em que não era preciso ter responsabilidade. De quando as minhas opiniões não exerciam tanta influência na cabeça da Lu. Pensando bem, disso eu não sinto falta. Influenciar a cabecinha da Lu até que não é nada mal.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Diverticulite é coisa séria e eu não sabia

As meninas foram cuidar de mim no sábado. Minha sinusite bilateral aguda me atacou e eu fiquei de cama o fim de semana inteiro. Não conseguia levantar a cabeça de tanta dor. Até pra rir doía. Pior é que, com elas, rir é inevitável:

Sara: Tadinho, não consegue nem levantar da cama.

Ane: Ainda bem que eu não tenho essas coisas.

Marjorie: Mas, se tivesse, não ia ser assim. Homem faz muito drama, quando tá doente.

Lu: Eu vou fazer cosquinha em você.

Adalberto: Não! Para! Por favor, não faz isso, Lu!

Lu: O que eu vou ganhar em troca, então?

Adalberto: Um pacote de Serenata do Amor. Pode pegar lá na cozinha, na parte do meio do armário, na terceira gaveta.

Lu: Oba!

Sara: Lu, aproveita e vê se a água já ferveu.

Adalberto: Ai, prima, eu não sei se eu vou ter coragem de inalar esse negócio da China.

Sara: Que negócio da China? É buchinha da Índia.

Marjorie: Não vai doer nada, gatinho manhoso.

Ane: É. Você não quer ficar bom? Então, vai inalar a buchinha da Índia, sim, seu bucha.

Lu: Ó, tá pronto. Cheira aqui.

Adalberto: Não. Vai doer.

Ane: Ah, Adal, para de frescura.

Adalberto: Não é frescura. Vocês não tem noção da dor que eu tô sentindo.

Sara: Vocês já imaginaram como seria um homem parindo?

Ane: Depois do parto, as mulheres iam ficar viúvas e com um filho pra criar.

Marjorie: E a taxa de natalidade ia reduzir absurdamente, porque muitos não iam querer engravidar nem por cem pacotes de Serenata do Amor.

Adalberto: Ah, mas não ia mesmo.

Lu: Cheira logo isso aqui, Adal. O negócio vai esfriar.

Adalberto: Espera.

Ane: Que esperar o quê? Se for depender de você, a gente sai daqui só amanhã.

Adalberto: Vocês vão dormir aqui comigo mesmo.

Sara: Eu não vou, não, primo. Não posso dar bobeira com o Oswaldo.

Lu: E eu e a Ane vamo sair com aqueles gêmeos, esqueceu?

Adalberto: Não. Mas eu achava que fosse mais importante que eles.

Marjorie: Eu vou dormir aqui com você, Adal. Deixa elas tirarem o atraso com os supergêmeos.

Ane: Jesuslino e Deusvaldo.

Marjorie: Esses são os nomes das criaturas?

Ane: São.

Adalberto: Eles são irmãos ou pai e filho?

Lu: Irmãos, ué.

Adalberto: Pelo que eu sei, Deus era pai de Jesus. Não irmão.

Lu: Mas Deusvaldo é irmão de Jesuslino.

Marjorie: Eles não têm nenhum irmão, pra mim, não? Aí, a gente fechava com a Santíssima Trindade.

Adalberto: Para, gente. Assim vocês me matam de diverticulite.

Sara: Adal, não brinca com coisa séria. É feio e tá nos Dez Mandamentos da Bíblia, que a gente não pode usar o santo nome de Deus em vão.

Adalberto: Então, vai falar pro Jesuslino e pro Deusvaldo mudarem de nome.

Sara: Não tô falando disso. Tô falando da diverticulite.

Adalberto: A palavra que eu acabei de inventar? Diverticulite, segundo o dicionário Adalberto Monteiro Neto, significa inflamação das células da diversão.

Sara: É, mas segundo o dicionário Aurélio, significa inflamação dos divertículos do intestino grosso.

Adalberto: Mentira que isso existe?

Marjorie: Eu também não sabia que isso existia.

Ane: Eu também, não. Fui saber depois que a Marieta Severo se internou, por causa disso.

Marjorie: Eu não tenho tempo pra assistir programa vespertino de fofoca de televisão.

Adalberto: Nem eu.

Lu: Cheira a buchinha da Índia, Adal.

Adalberto: Só se você fizer um favor pra mim. aliás, você e a Ane.

Ane: Tá bom.

Lu: O quê?

Adalberto: Peçam a Deusvaldo e a Jesuslino que rezem por mim.

Sofri com as cosquinhas que a Lu e a Ane fizeram em mim. Eu odeio que façam cosquinha em mim.

Acabamos deixando de lado a buchinha da Índia. Aquilo, sim, não tinha a menor graça.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Nem tudo é primeiro de abril

Eu estava dormindo e não fazia a menor ideia de nada. Tinha esquecido de colocar o relógio pra despertar. Se não fosse a Marjorie, acho que não acordaria a tempo de ir pro trabalho, de tão cansado que estava.

Adalberto: Oi.

Marjorie: Que voz é essa?

Adalberto: Que horas são?

Marjorie: Hora de você tomar vergonha na cara, juízo, café-da-manhã, banho e voar pro trabalho.

Adalberto: Meu Deus, o relógio não despertou.

Marjorie: E eu achei que você já tivesse visto a surpresinha que eu deixei na frente da sua porta de ontem pra hoje.

Adalberto: Você veio aqui?

Marjorie: Não. Pedi pro entregador.

Adalberto: E o que é?

Marjorie: A cabeça do jacaré, que me venderam pra fazer bolsa.

Adalberto: Não acredito nisso.

Marjorie: Na cabeça do jacaré?

Adalberto: Também. Vocês matam os animais pra fazer bolsa?

Marjorie: Adal, você ia gostar de tomar banho num rio e ser surpreendido por um jacaré? Ele ia te matar.

Adalberto: Problema é meu. Ele tá na habitat natural dele.

Marjorie: Olha logo a caixa.

Adalberto: Eu, não. Vou tomar banho. Tô atrasado pro trabalho. E não vou abrir caixa nenhuma. Vou jogar fora sem ver o que tá dentro.

E desliguei o telefone. Mas, claro, fui primeiro abrir a caixa. Até parece que eu ia desafiar a minha curiosidade e jogar a caixa fora sem abri. Um jacaré de pelúcia! Liguei pra cretina:

Adalberto: Sua cretina!

Marjorie: Primeiro de abril!

Adalberto: Hoje é primeiro de abril?

Marjorie: É. Ontem foi 31 de março. Hoje é primeiro de abril.

Adalberto: Ah, tá. Prima, deixa eu ir lá, que eu tô atrasado. Adorei, tá. Beijo.

A manhã no trabalho tinha sido estressante. Um monte de coisas pra fazer num dia, que parecia ter muito menos de 24 horas. Na hora do almoço, foi a vez da Ane me ligar:

Adalberto: Oi, amoreca.

Ane: Tá almoçando?

Adalberto: Ih, já é meio-dia e eu achei que ainda fossem nove da manhã. O dia tá voando.

Ane: Pode falar?

Adalberto: Posso. Vou aproveitar e descer pra almoçar. Se cair é porque eu entrei no elevador, tá?

Ane: Sabe aquela DJ que namorou a Lindsay Lohan?

Adalberto: Samantha Ronson.

Ane: Foi minha primeira experiência homossexual.

Adalberto: Como assim?

Ane: Ela tocou, ontem, na Casa da Matriz. A gente se conheceu e ficou.

Adalberto: Não tô acreditando nisso.

Ane: Não? E que eu vou embora com ela pros Estados Unidos? Nisso você acredita?

Adalberto: Você não devia abandonar a empresa do seu pai, assim, por causa de uma paixão louca.

Ane: Por uma paixão louca, eu abandonaria, sim. Mas por um negão-armário de dois metros de altura. Não pela Samantha Ronson, né, Adal. Primeiro de abril!

Adalberto: Sua cachorra.

Ane: Meu pai ficou desesperado, quando eu falei isso pra ele.

Adalberto: Tu é louca. Pior que a Marjorie, hoje cedo, conseguiu me pegar com essa porra de primeiro de abril.

Ane: Você é muito desligado, primo.

Adalberto: Não é, não. É tanta coisa na minha cabeça, que, pra mim, hoje já era dia dois de abril. Agora ninguém me pega mais.

Entrei no elevador e a ligação caiu. Quando cheguei no térreo, o telefone tocou de novo. Achei que era a Ane retornando a ligação. Mas, não. Era a ingênua da Sara, querendo dar uma de esperta comigo:

Sara: Primo, entrei pra academia.

Adalberto: Tá. Primeiro de abril.

Sara: E já tô pegando o meu personal trainer. Transamos, ontem e tudo.

Adalberto: Sara, eu sei que isso é mentirinha de primeiro de abril.

Sara: E terminei com o Oswaldo.

Adalberto: Nossa, isso é um ultra megamente power primeiro de abril.

Sara: Droga! Não consigo mentir pra ninguém.

Adalberto: Tadinha. Me liga de novo, então, que eu finjo que acredito.

Sara: Não. Assim não tem graça.

Adalberto: Então, tá, pretty baby. Deixa eu almoçar, porque o dia tá corrido.

E, depois de um longo dia de trabalho, cheguei em casa e só queria saber da minha cama. Nem ia tomar banho, quando a campainha tocou. Era a Lu:

Adalberto: O que é que aconteceu?

Lu: Nada. Amanhã é feriado. Você não tem que acordar cedo.

Adalberto: Eu sei. Mas tô tão cansado que não ia nem ver o Jornal da Globo. Você vai dormir aqui?

Lu: Pode ser. Adal, sei lá, com a vitória do Dourado no BBB, estava pensando, acho que todo mundo merece uma segunda chance.

Adalberto: Nem todo mundo. O Alexandre Nardoni é um que não merece.

Lu: Agora, você me confundiu.

Adalberto: Por quê?

Lu: O Bial já tinha conseguido me convencer de que todo mundo merecia uma segunda chance.

Adalberto: O texto do Bial tem que ser apropriado pro resultado da votação. Aliás, ele faz isso muito bem.

Lu: É... Ai, que roda-viva que tá a minha vida.

Adalberto: Lu, fala logo o que tá acontecendo.

Lu: O Jackson fugiu da cadeia e me ligou. Perguntou se eu não quero ir com ele pra Colômbia.

Adalberto: Colômbia? Por que Colômbia? Ele é das Farc?

Lu: É. E daí? Eu não tô preocupada com isso, Adal. A minha parada com ele é maior do que tudo.

Adalberto: Olha, Lu, falta, exatamente, um minuto pra meia-noite. Se você não correr com essa tua história absurda, já vão ser dois de abril.

Lu: Como assim?

Como assim "como assim"? Não era piadinha de primeiro de abril?

Adalberto: Ué, primeiro de abril. Não é isso?

Lu: Eu nem sabia que dia é hoje. Eu tô quase me mudando pra Colômbia e você de brincadeira.

Adalberto: É que hoje, agora ontem, era primeiro e abril. Não dá pra saber quem tá falando a verdade.

Lu: Eu tô querendo largar tudo. Eu amo o Jackson.

Adalberto: Você confia num cara que é bandido?

Lu: Eu boto a minha mão no fogo por ele. Ele não é um bandido porque quer.

Adalberto: Vamo tomar um chope aqui embaixo?

No dia seguinte, quando a Lu voltou pra casa, a porta do seu apartamento estava arrombada e todas as suas joias tinham sido levadas. Ainda bem que eu nem precisei acusar ninguém. Ela já tinha certeza de quem tinha sido. Se ela botasse mesmo a mão no fogo pelo tal do Jackson, estaria maneta agora.