sábado, 25 de agosto de 2012

O batismo dos trigêmeos da Sara - A eliminação de uma pendência

Hoje fez um sol incrível, eu estava em folga do trabalho, mas não pude ir à praia.

Marjorie: Por que você não pode ir ao churrasco da Aninha comigo, Adal?

Adalberto: Jojô, se eu pudesse, eu iria à praia, mas estou na Casa de Saúde São José, no Humaitá com a minha mãe. Não posso falar muito. Vou desligar.

Marjorie: Aconteceu alguma coisa com a tia Neide?

Adalberto: Não. Foi com o padre Leôncio.

Marjorie: Como assim?

Adalberto: Eu fui buscar a minha mãe numa vigília da igreja. Só ela aguentou até o final.

Marjorie: A tia Neide adora rezar. Nunca vi...

Adalberto: Pois é, até o padre Leôncio estava morto de cansaço. Foi levar a minha mãe até a porta da igreja bêbado de sono, tropeçou num galho de árvore e bateu feio com a cabeça no chão. Aí, sobrou para mim, né? Agora, eu estou aqui num hospital com o ar-condicionado bombando, com bermuda de tactel e camiseta, morrendo de frio. Surreal, né?

Marjorie: Putz, Adal, que droga.

Adalberto: E eu já tinha marcado praia com umas amigas do Martins.

Marjorie: Então, é bem feito. Não mandei marcar nada com essas garotas chatas.

Adalberto: Ah, que ciúme bobo. Já era para você estar acostumada com as minhas amizades. Aliás, você a Lu, a Ane e a Sara. Que coisa mais infantil esse ciúme de vocês.

Marjorie: Olha só, eu estou indo à praia, mas você vai me salvar.

Adalberto: Eu não tenho como sair daqui, enquanto o padre Leôncio não tiver alta.

Marjorie: Eu sei, garoto. O favor que você vai me fazer é aí mesmo. Pega o resultado de uns exames meus aí na recepção.

Adalberto: Exames de quê?

Marjorie: Adal, coisa de mulher.

Adalberto: Ah, está bem, desculpa.

Fui à recepção, mas me informaram que só a pessoa que fez os exames é que poderia retirá-los.

Marjorie: Ah, sério? Não acredito. Vou fazer o retorno aqui, então, é passo aí rapidinho.

Adalberto: Não pode deixar para pegar durante a semana?

Marjorie: Não tenho tempo. Eu já estou a cinco semanas para buscar esses exames.

Adalberto: Ah, então, se era alguma coisa importante, grave, não se preocupe. Eu te dou o meu lado médico: você está ótima. Segue para o teu churrasco e divirta-se.

Marjorie: Não garoto, eu vou aí buscar esses exames rapidinho.

No corredor do hospital, voltando para o quarto onde estava a minha mãe e o padre Leôncio, me deparei com a Lu em trajes sumários.

Adalberto: Lu, o que você está fazendo aqui com esses trajes?

Lu: O que VOCÊ está fazendo aqui com ESSES trajes?

Adalberto: Eu estava indo à praia. Foi um acidente. Um erro de percurso.

Lu: Bateu com o carro, Adal?

Adalberto: Não garota. Vim trazer o padre Leôncio. Ele caiu e eu me ferrei. Vamos lá no quarto falar com a minha mãe.

Lu: Ah, a tia Neide está aí?

Adalberto: Está. Ela é praticamente a culpada pelo estabaco que o padre Leôncio tomou.

Lu: Mentira! Me conta.

Adalberto: Conto. Mas me fala primeiro porque você está desfilando de Miss Periguete da Casa Saúde São José. Surtou de vez?

Lu: Surtei. Uma enfermeira da Emergência anda se engraçando para o lado do Eliseu.

Adalberto: O médico que você está saindo trabalha aqui?

Lu: Lógico, né? O que eu ia estar fazendo num sábado de manhã, num hospital, cheia de saúde para dar, se não fosse por homem?

Adalberto: Ai, Lu... Isso vale a pena.

Lu: Vale. O cara manda muito bem na cama, primo.

Adalberto: Não, eu não estou falando disso. queria saber se vale a pena você se matar por uma coisa que você nem sabe se vai dar futuro.

Lu: Ai, me pergunta a raiz quadrada de 7.829, que deve ser mais fácil de responder.

Adalberto: Ih, a Marjorie está me ligando. Ela está vindo aqui buscar uns exames. Minha mãe está nesse quarto. Vai entrando, que eu vou atender o celular.

Quem me conhece sabe que eu falo ao telefone andando de um lado para o outro. E foi percorrendo o corredor do hospital, enquanto tentava convencer a Marjorie a subir um minutinho para falar com a minha mãe, que reconheci uma família dentro de um quarto.

Marjorie: Adal, eu não vou aí em cima, com o macacão todo florido, estilo nada ver com hospital.

Adalberto: Eu estou estilo nada a ver com hospital. Olha, se você não vier, eu nunca mais falo contigo. Vou desligar. Beijo.

E abri a porta de um quarto impetuosamente

Adalberto: Sara!

O Oswaldo era o doente em questão.

Sara: Adal?

Adalberto: O que houve com o Oswaldo?

Sara: Intoxicação alimentar. Foi um susto, mas agora está bem. Detalhe: na pressa, eu coloquei esse sobretudo por cima do pijama e vim assim mesmo. O Oswaldo e os trigêmeos também estão de pijama.

Só vai terminar de tomar esse frasco de soro e vamos embora. E você?

Adalberto: Eu estou com a minha mãe ali no outro quarto. Viemos trazer o padre Leôncio aqui. Ele caiu. A Lu está lá com a gente e a Marjorie está subindo.

Sara: Então só faltava a Ane aqui para quarteto estar completo: as primas do Adalberto.

Isso me deu uma idea.

Adalberto: Quanto tempo você acha que o Oswaldo leva para terminar esse soro. Ah, mais uns vinte minutos.

Adalberto: Beleza. Já volto aqui.

Sara: Mas Adal...

Deixei ela falando sozinha, encontrei com a Marjorie perdida no corredor, levei ela para o quarto onde estava o padre Leôncio, a minha mãe e a Lu, disse que ia pegar uma surpresa para elas no meu carro e voei para a casa da Ane, que fica a três quadras da Casa de Saúde São José. Voltei com ela no colo enrolado num cobertor.

Neide: O que é isso, meu filho? Essa era a surpresa que você tinha para a gente?

Adalberto: Não. A surpresa está a caminho. Só vim deixar a Ane aqui. O senhor já está melhor, padre Leôncio?

Padre Leôncio: Estou me sentindo bem, sim. Só um pouco de tonteira ainda, mas já estou bem melhor.

Coloquei a Ane no colo da minha mãe e fui para o quarto onde a Sara estava com o Oswaldo e os trigêmeos.

Adalberto: Com licença. Sara, o médico perguntou se o Oswaldo não pode terminar de tomar o soro num outra quarto, porque esse vai ser higienizado. Ou seja, se o quarto tem que ser higienizado, é porque está sem higiene. Pode fazer mal aos trigêmeos. Melhor a gente ir para o outro, então, né?

Sara: Mas ele falou qual é?

Adalberto: Sim.

Sara: Então, vamos.

O bom de mentir para a Sara é que ela não questiona. Posso falar o maior absurdo do mundo, que ela não duvida de mim.

Quando chegamos no quarto, todos ficaram surpresos.

Marjorie: Essa é a surpresa?

Adalberto: É. A família Banana de Pijama.

Neide: Meu Deus, está todo mundo de pijama! Eles vieram de casa?

Adalberto: Não, mãe. O Oswaldo ainda está tomando soro na veia. Não está vendo?

Neide: Não, cadê?

Oswaldo: Aqui, tia.

Neide: Meu Deus... Garoto, você é maluco. Teu pai está chegando aqui para me buscar, não vai entender nada.

Adalberto: Ué, por que o meu pai veio te buscar? Você não ia comigo?

Neide: Ia, mas você é doido. Quando saiu dizendo que ia trazer uma surpresa para a gente, achei que não ia mais voltar e liguei para o teu pai. Aí, você me aparece com a Ane tremendo em febre. Agora sai de novo e volta com a Sara e a família toda...

Adalberto: É bom que, depois do batismo, a Ane aproveita e fica se tratando aqui no hospital.

Sara: Que batismo?

Adalberto: O dos trigêmeos, ué.

Lu: Meu Deus, que loucura.

Marjorie: Esse garoto não bate bem da cabeça mesmo.

Adalberto: Gente, se a gente não aproveitar essa oportunidade, essa batismo nunca vai sair. Já tentamos três vezes e nada. Vamos fazer logo isso? Você se incomoda de celebrar o batismo aqui, nesse quarto de hospital, padre Leôncio?

Padre Leôncio: Não. Por mim, tudo bem. Mas onde nós vamos lavar a cabeça das crianças.

Adalberto: Lu, pede para o seu peguete trazer uma comadre hospitalar, anda. Usa o teu poder de primeira dama da Emergência. Ele aproveita e tirar as fotos.

Sara: Meus filhos vão molhar a cabeça, onde as pessoas fazem xixi?

Adalberto: Sara, esquece isso. De mais a mais, ele vai trazer uma comadre limpa.

Meu pai chegou, viu a Lu com roupa de periguete, eu de bermuda de tactel e camiseta, a Marjorie de macacão florido e a família Banana de Pijama e não entendeu nada.

Adalberto (pai): O que é isso aqui? Eu tinha que vir fantasiado?

Adalberto: Não, pai. Não é nada disso que você está pensando.

Eu adoro falar "não é nada disso que vocês está pensando", mesmo quando a coisa que a pessoa está pensando não é nada demais.

Sara: Tio, o senhor pode consagrar os trigêmeos com a tia Neide? Não vai dar tempo de chamar as pessoas que a gente tinha escolhido.

Lu: Ah, gente, claro que pode. Não faz diferença nenhuma. Padrinho de consagração não tem importância nenhuma.

Neide: Não fala isso na frente do padre Leôncio. Consagrar uma criança à Nossa Senhora é muito importante, sim.

Adalberto (pai): Por mim, tudo bem.

Neide: Claro que eu aceito. E fico tão feliz e lisonjeda, como os padrinhos de batismo.

E, assim, batizamos e consagramos os trigêmeos.

Não foi numa igreja, não estávamos com roupas adequadas e o padre não lavou a cabeça dos trigêmeos numa pia batismal. Mas eliminamos uma pendência.

Agora, eu sou padrinho do Gero com a Marjorie, da Lina com a Lu e da Liana com a Ane. E os meus pais consagraram juntos os três.

Isso que é família unida!

sábado, 18 de agosto de 2012

Lu desiste de vaga de quinta mulher do Mr. Catra ou Para ser cachorra é preciso ser adulta

A Lu voltou na quinta-feira para casa em polvorosa, depois de uma incursão a um famoso baile funk do Rio. E ela não esperou o dia seguinte para me ligar e contar a boa nova.

Lu: Eu sou a mais novo primeira-dama do funk, meu bem. Estou namorando o Mr. Catra.

Adalberto: Lu, isso são horas de me contar uma bomba dessas?

Lu: Bomba, eu vou ser rica, não vou mais precisar de trabalhar, Adal. Quer coisa melhor do que isso?

Adalberto: Quero ver você conseguir um solteiro da MPB.

Lu: Ai, Adal, você é preso a esses modelos que a sociedade cria, né? Casamento, fidelidade...

Adalberto: Não. Eu sou prático. Você não assistiu ao Profissão Repórter de terça-feira, não?

Lu: Não.

Adalberto: Lindona, o Mr. Catra é casado com quatro mulheres e tem mais de vinte filhos. Já pensou como deve ser difícil administrar isso tudo com os zilhares de shows que ele faz por ano? Para para pensar.

E depois de três segundos eternos de silêncio...

Lu: As mulheres podem fazer o mesmo com ele?

Adalberto: O mesmo o quê? Ter outros maridos? Nem pensar. Ele exige fidelidade.

Lu: É...

Adalberto: É o quê?

Lu: Estava pensando numa coisa.

Medo.

Adalberto: Que coisa?

Lu: Eu vou pagar com a mesma moeda para esse cachorro. Ele vai ver como é bom para tosse o que ele faz.

Adalberto: Sua maluca, comeu banana? Não me faça uma coisa dessas. Está cansada de viver? 

Lu: Como assim? Ele vai me matar por fazer a mesma coisa que ele faz?

Adalberto: Lu, não é isso. Essas coisas a gente não fala por telefone. Tem como você vir aqui em casa? 

Lu: Agora?

Adalberto: Não. Vamos esperar o sol nascer, toma o teu café tranquila, depois, vem.

Lu: Ai, Adal, agora fiquei ansiosa. Eu vou fazer o seguinte. Eu vou aí agora. Mas espero você acordar. Eu não vou conseguir dormir.

Adalberto: Está bem. Você tem chave, entra sem fazer barulho e fica me esperando no quarto de hóspedes, na sala, onde você quiser. Só não me acorda, por favor.

Lu: Prometo.

Quando ela chegou, a primeira coisa que ela fez foi me acordar.

Adalberto: Porra, não falei que não era para me acordar?

Lu: Adal, eu vou morrer de ansiedade. Eu estou prestes a roer as minhas unhas. Eu não quero ficar com cotoco de unha. Por isso, preferi te acordar.

Adalberto: Não acredito nisso. E quem vai reparar nas suas unhas?

Lu: Todas as mulheres do mundo. E vão falar horrores de mim. "Como é que ela tem coragem de sair com aquelas unhas? Nem para colocar unha postiça...".

Adalberto: E por que você não coloca unha postiça?

Lu: Alergia.

Adalberto: Ai, meu Deus, vamos lá na sala para eu te mostrar uma coisa.

Eu gravo toda a programação noturna para assistir quando não estou em casa. Coloquei o Profissão Repórter para a Lu assistir.

Adalberto: Assiste do início ao fim. E não desvia a tua atenção para nada.

Quando ela viu um punhado de futuras enteadas rebolando até o chão, ela chegou a uma brilhante conclusão.

Lu: Sabe, Adal, eu acho que eu vou pular fora desse barco. 

Adalberto: É?

Lu: É... Eu curto baile funk, mas isso foi uma decisão minha. Não sei se quero uma filha rebolando igual a uma cachorra desde pequena. Eu acho que a pessoa tem que ter o direito ao livre arbítrio

Adalberto: O que você está querendo dizer? Que ser cachorra tem que ser uma escolha e não a ordem natural da vida?

Lu: Claro, Adal! Para ser cachorra é preciso ser adulta.

Filosofou!

Adalberto: Você está certíssima. Que bom que mudou de opinião e não vai ser mais aspirante à vaga de quinta mulher do Mr. Catra.

Lu: Vamos fazer alguma coisa hoje?

Adalberto: Podemos. O que você sugere?

Lu: Um show de MPB. Mas de um cantor solteiro, hétero e sem filhos.

Saquei o que ela quer...

sábado, 11 de agosto de 2012

Nina, de Avenida Brasil, influencia vingança das primas ou Uma periguete jamais fura o olho de uma amiga

Na quinta-feira, a Lu me ligou para me contar um podre do seu novo namoradinho.

Lu: Eu mexi no celular do Roanilson. Ele manda mensagem de texto para tudo o que é mulher. Tem até uma conhecida nossa.

Adalberto: Mentira! Quem?

Lu: A Ane. Eles estão saindo.

Adalberto: Sério? 

Lu: Sério.

Adalberto: E o que você vai fazer com eles?

Lu: Com ela nada. Ela não tem culpa. Nem sabia que eu estava ficando com o Roanilson.

Adalberto: Ah, tá. que susto. Achei que ela estivesse furando o teu olho.

Lu: Não. Uma periguete jamais fura o olho de uma amiga. Ainda mais sendo prima. Essa é a nossa lei.

Que bom que existe essa lei!

Adalberto: Mas e aí? Você vai terminar com ele?

Lu: Não. Mas eu combinei com a Ane um jantar na sua casa. Com a desculpa de que eu quero apresentar a minha família para ele, vou colocar esse safado frente a frente com a Ane. Quero ver a cara desse safado.

Adalberto: E eu tenho que aceitar isso na minha própria casa?

Lu: Não precisa, primo. A gente obriga você a isso.

Eu, claro, cedi à armação das minhas primas. 

Quando o Roanilson chegou a minha casa e deu de cara com a Ane, começou a sua copiosamente. De nervoso, claro. 

Lu: O que foi, amor? Que cara é essa? Parece que viu bicho...

Roanilson: Eu não estou muito bem. Acho melhor a gente ir para casa.

Ane: De jeito nenhum. Vai fazer desfeita? Eu cozinhei especialmente para você. Estava ansiosa para conhecer o meu mais novo priminho. O que você está sentindo primo?

Roanilson: Enjôo.

Ane: Vamos lá no quarto do Adal. Vou pegar um Plasil para você.

Lu: Vê lá o que você vai fazer com o meu namorado no quarto, hein.

Ane: Fica tranquila, prima. Eu não esqueço da nossa lei.

Lu: Acho bom mesmo.

No quarto, a Ane tentou seduzir o Roanilson.

Roanilson: O que você está fazendo, sua maluca?

Ane: Tirando a roupa, ué.

Roanilson: Está doida? Coloca isso!

Ane: Só se você me der um beijo.

Roanilson: Que beijo? Comeu merda?

Ane: Eu, não. Me beija, senão eu tiro a roupa e grito. Digo que foi você que mandou.

Roanilson: Não. Eu não posso terminar com a Lu. Graças a ela, eu estou para fechar um contrato bom entre a minha empresa com a rede de salões, em que ela trabalha. E a minha comissão vai ser muito boa.

Ane: É mesmo?

Roanilson: Fora que, por causa disso, o meu chefe disse que vai me promover. Mas se Lu descobrir alguma merda minha, eu estou ferrado. Ela pode cancelar o negócio.

Ane: Então, me beija, anda! 

Roanilson: Então, vem cá, sua vagabunda. Anda logo.

E, enquanto o beijo rolava, a Ane, com uma das mãos fotografou a infração do Roanilson com o celular. 

Quem foi que disse que o celular veio para facilitar a vida das pessoas?

Roanilson: Pronto, está bom assim?

Ane: Não.

Roanilson: Quer mais um beijo?

Ane: Não. Chega de beijo. Eu quero brincar de "o mestre mandou".

Roanilson: Como assim? Que palhaçada é essa?

Ane: Eu fotografei a gente se beijando pelo celular. Olha aqui. E nem adianta tomar o telefone da minha mão e deletar a foto. Eu já enviei para o meu e-mail. Portanto, você vai fazer tudo o que eu mandar ou eu mostro para a Lu, que você é um safado.

Roanilson: Mas ela vai ver que você também é uma safada, se você mostrar essa foto para ela.

Ane: E se eu mostrar essa foto, mais as milhões de mensagens que você me enviou, de quando você já estava ficando com ela e eu nem sabia? Hein?

Roanilson: Está bem. O que você quer que eu faça?

Ane: Por ora, você não pode dar um beijo sequer na Lu

Roanilson: Mas ela é minha namorada. 

Ane: Problema é seu. Eu não sou obrigada a ver essa cena. Ou ela também verá você me beijando. Escolhe.

Roanilson: Tudo bem.

O clima do jantar foi fúnebre. Eu estava tão nervoso quanto o Roanilson.

Lu: Ai, vocês estão tão sérios. Conta uma piada, amor. O Roanilson é ótimo para piadas.

Roanilson: Eu ainda estou meio mal. Vamos deixar a piada para depois, está bem?

Ane: Ah, não, Roanilson. Eu quero rir. Conta uma piada... Deixa eu ver... Sobre traição.

Depois de uns quinze segundos de silêncio, que pareceram durar toda uma vida, ele se pronunciou.

Roanilson: O Joãozinho entrou no quarto dos pais e pegou eles se beijando. Aí, ele disse: pai, vou contar para a empregada, que você está beijando a mamãe.

Ane: Ah, muito boa. Adorei. Ainda bem que foi com a empregada, né? Imagina se fosse com a prima?

Eu calado estava. calado fiquei. Enquanto isso, por debaixo da mesa, a Ane, esfregava a sua perna na do Roanilson.

Lu: Amor, me dá um beijo.

Roanilson: Lu, eu estou comendo. Isso é não é higiênico.

Lu: Nossa, você não é assim. Não tem nojo de nada.

Roanilson: Não é questão de nojo. 

Adalberto: Estou com sede. Vou pegar um refrigerante.

Ane: Não. Deixa que o Roanilson pega. Querido, pega o guaraná para a gente na geladeira, por favor?

Roanilson: Está bem.

Lu: O que é isso? O meu namorado é seu escravo agora?

Ane: Não. É meu priminho fazendo favor para mim.

Lu: Sei... Parece que você já se conhecem de antes.

Ane: Não, prima. Nunca vi o Roanilson mais gordo. Até porque ele  de gordo não tem nada.

O clima estava tenso e eu estava me sentindo em Avenida Brasil. Não na via perigosíssima do Rio, mas na novela do João Emanuel Carneiro.

Ane: Lindão, agora me serve. Não adiantar trazer o guaraná e deixar em cima da mesa.

Roanilson: Ah, desculpa. Mais alguma coisa?

Ane: Sim. Agacha no chão e cacareja.

Roanilson: O quê?

O Roanilson olhou para a Lu tentando algum apoio, mas ela estava impassível.

Ane: Agacha no chã e cacareja, seu galinha safado.

Adalberto: Gente, por favor, isso é sério?

Ane: Cala a boca, Adal. Não se mete.

Lu: Você vai fazer o que ela está te mandando?

Roanilson: Eu? O que agachar no chão e cacarejar? Isso aqui, olha...

E ele agachou no chão e cacarejou para o meu maior espanto!

Roanilson: Isso, eu não faço de jeito nenhum... Na casa de estranhos!

Ane: Ai, Roanilson, você é muito espirituoso. E espirituoso deriva de espírita e os espíritas recebem santo. Recebe aí um santo para eu ver, anda.

Roanilson: Mas eu não sei.

Ane: Finge, anta.

Roanilson: Eu não sei, olha só...

E não é que o cara fingiu que estava recebendo santo?

Lu: Amor, eu sabia que você era engraçado, mas não superengraçado. Me dá um beijo aqui.

Roanilson: Depois.

Lu: Mas você já acabou de comer. Me beija.

Roanilson: Não, amor, isso é falta de educação. Na frente dos outros.

Lu: Ué, você me beijou na frente da sua família.

Roanilson: Mas era minha família. Eles já estão acostumados comigo.

Lu: E a minha família já está acostumada comigo, ué. Me dá um beijo.

A campainha tocou.

Adalberto: Ué, quem será?

Ane: Deve ser a farmácia. Eu pedi Plasil para o Roanilson. Não tinha no seu quarto.

Lu: Eu abro a porta.

Ane: Não. Deixa que o Roanilson abre. É para el o remédio. Ele recebe o carinha da farmácia, aproveita e paga. Ah, eu pedi uns xampus, uns condicionadores e uns cremes. São meus. Paga pra amim, que depois eu te dou.

Roansilson: Tudo bem.

Essa Ane é uma Nina mesmo.

E enquanto o Roanilson recebia o carinha da farmácia, a confabulação rolava a solta na mesa.

Lu: Você está se saindo muito bem, hein, sua cachorrinha.

Ane: Eu pedi tudo em dobro para você também, prima. Não vamos gastar dinheiro com xampu, condicionador, creme e hidratante tão cedo. Fiz uma boa compra, prima.

Lu: Obrigada, Nina.

A nossa risada despertou a atenção do menino da farmácia.

Ane: Olha só como ele é gatinho.

Lu: Pois é, eu gostei. E ele está me olhando.

Ane: Sério? Quer dar um beijo nele?

Adalberto: Ah, não, gente. Isso é muita maldade.

Lu: Ah, eu quero.

Meu Deus!

Ane: Roanilson, já pagou?

Roanilson: Acabei de passar o cartão. Prontinho! Tudo pago.

Ane: Agora, chama o menino da farmácia, por favor.

O rapaz entrou cheio de si, como se estivesse em casa.

Ane: E aí, bonitão. Eu reparei que você ficou olhando para a minha prima lá de fora. Está a fim de dar um beijo nela.

E o garoto nem respondeu. Lançou um olhar 43 para a Lu e tascou-lhe um beijo. A Ane, óbvio, fez uma foto de beijo com o Roanilson, ao fundo, olhando tudo com cara de babaca.

Ane: Obrigado, querido. Pode ir. E leva esse corno sabido com você. Vai lá, Roanilson.

Roanilson: Eu? Mas...

Lu: Não ouviu o que a sua mestra falou? Vai embora, corno sabido! Eu não quero mais você.

Ane: E se você aprontar alguma coisa contra ela, eu mostro os vídeos que eu fiz de você recebendo santo e agachado cacarejando na sua vizinhança, naquela pobreza de lugar que você mora.

Lu: Tchau, amor. E não me aparece lá no salão. O contrato com a sua empresa já foi cancelado. Ou seja, eu não precisa olhar nessa sua cara safada nunca mais.

Ane: Tchau, bem. Deixa as minhas encomendas aí nessa poltrona e mete o pé.

E quando ele ia tirando o plasil do saco plástico...

Ane: Ah, o Plasil também. A gente sabe muito bem que o seu enjôo não era de verdade. Você é um péssimo ator. Deixa o remédio aí, que eu vou dar para o Adal de presente. O meu priminho querido também merece ganhar alguma coisa de você, né, otário? Agora, rala!

E ele saiu batendo a porta.

Lu: Toca aqui prima. Você arrasou.

Ane: Nós arrasamos.

Adalberto: Meninas, vocês são muito más. Vocês não vão fazer nada com essas fotos e vídeos do Roanilson, né? Chega de atazanar a vida do coitado.

Lu: Não sei. Vamos pensar sobre esse assunto depois.

Ane: É... Por enquanto, eu estou gostando de brincar de ser atriz de Avenida Brasil.

Lu: Eu também.

Eu prefiro assistir pela televisão. Mas até que me diverti com a atuação das minhas primas...

domingo, 5 de agosto de 2012

Desabafo de Marjorie em meio às Olimpíadas é salvo por simpatia de mãe

Ontem, a Marjorie me ligou arrasada.

Adalberto: O que foi, meu amor?

Marjorie: O Amadeu terminou comigo.

Adalberto: Mas não foi esse Amadeu que disse que você era o amor da vida toda dele?

Marjorie: Foi. Mas não sou mais.

Adalberto: Acontece.

Marjorie: E você não vai nem perguntar qual foi o motivo?

Claro que não! Eu não tenho mais saco para ouvir por que os "amores da vida toda" das minhas primas terminaram com elas. Mas eu não podia dar essa resposta.

Adalberto: Ah, Jojô, não vou, não. Sabe, eu acho que, nessas horas, o melhor a fazer é enterrar esse assunto. Isso evita um sofrimento maior.

Marjorie: Mas eu quero falar.

Putz!

Adalberto: Então, fala. Mas fala rapidinho, porque eu estou vendo o jogo de vôlei do Brasil nas Olimpíadas.

Marjorie: Adal, isso não é assunto que para se falar rapidinho. Eu estou falando de um projeto de vida, que eu deixei para trás. Eu pretendia me casar com o Amadeu.

Adalberto: Mas eu também tenho os minhas razões. Os Jogos Olímpicos só acontecem de quatro em quatro anos. E se o Brasil perde e é eliminado? E a minha culpa por não ter visto, por não ter ajudado? Eu faço milhões de coisas que eu sei que faz a diferença na hora do resultado.

Marjorie: Como assim?

Adalberto: Ué, eu já tirei o Brasil de muita derrota.

Marjorie: Como, Adal? Fala mais.

Hummm, ela se interessou pelo assunto... Eu nem faço nada de tão excepcional. Só sigo uns rituais supersticiosos meus. Nada demais.

Adalberto: Ah, eu faço umas simpatias que a minha MÃE me ensinou. Coisa boba. Mas sempre dá certo.

Marjorie: Sério?

Adalberto: O quê? O tetracampeonato no futebol foi graças a mim, as vitórias do vôlei nas Olimpíadas foram graças a mim. Eu sempre ajudo o Brasil.

Marjorie: E quando o Brasil perde?

Adalberto: É porque eu não posso assistir a tudo. A Copa na Alemanha foi uma. Aconteceu num momento, em que eu estava atolado de trabalho. Não pude assistir aos jogos. E olha que o Brasil é o país do futebol, todo mundo para no período de Copa, mas eu precisava adiantar umas coisas e não pude assistir a nada. Também, achei que a gente tinha time para levar o título e acabei não me preocupando muito. E o que aconteceu? A Itália levou o título.

Marjorie: Caramba, Adal. A tia Neide que te ensinou essas simpatias milagrosas?

Adalberto: Foi. Aliás, ela está em casa agora. Por que você não vai lá pedir uma ajuda a ela? Quem sabe você não traz o Amadeu de volta em três dias?

Marjorie: Eu vou lá agora!

Ufa!

Adalberto: Vai, sim.

Marjorie: Obrigada, primo.

Adalberto: Imagina... Estamos aí para isso. Vai na fé.

Marjorie: Depois te conto tudo. Beijo!

E, assim, eu consegui assistir a vitória do Brasil em paz. Mãe é tudo, né?