sexta-feira, 25 de julho de 2014

Visita à grávida com Marjorie, em Botafogo, termina em trabalho de parto, em Nova Iguaçu

Hoje, acordei com uma ligação da Marjorie, por volta do meio-dia.

Adalberto: Fala, Jojô.

Marjorie: Que voz é essa? Tá tristinho?

Adalberto: Não, tô dormindo mesmo.

Marjorie: Ué, não foi trabalhar hoje?

Adalberto: Não. Ando com uma estafa, prima... Meu chefe até me deu o dia de hoje de folga.

Marjorie: Estafa de quê? Você quase não trabalha, vive inventando que tá com dor de barriga pra ficar em casa... Só se for estafa de coçar o saco.

Adalberto: Cara, eu tenho trabalhado muito. Sério.

Marjorie: Sei...

Adalberto: Para de duvidar de mim.

Marjorie: Você é uma farsa, garoto!

Adalberto: Para!

Marjorie: Olha só, levanta dessa cama e vamos comigo visitar uma menina, que trabalha aqui na fábrica?

Adalberto: Ela tá doente?

Marjorie: Não, tá grávida. Mas ela fica até hoje na casa da mãe, em Botafogo, e, amanhã, já vai pra casa, em Nova Iguaçu, pra esperar o bebê nascer. E eu não sei chegar em Nova Iguaçu. Aí,combinei de vê-la em Botafogo mesmo e, depois que o bebê ficar grandinho, eu marco alguma coisa lá em casa, convido ela e vejo a criança.

Adalberto: Que absurdo!

Marjorie: Ué, vai me levar em Nova Iguaçu?

Adalberto: Lógico que vou. Com o maior prazer. Só que não.

Marjorie: Bobo. Vem logo aqui. Tô te esperando.

Adalberto: Mas Jojô, a Zona Sul, a essa hora, tá toda engarrafada...

Marjorie: Vem pra cá de carro e, daqui, a gente vai de metrô.

Adalberto: Tá bem, sua chata.

Até que gostei de ter um motivo pra sair da cama. Porque, na verdade, o problema nem é sair da cama. Mas se eu ficasse deitado o dia inteiro, à noite, eu não ia conseguir dormir. Foi bom pra dar uma cansada...

Mas só o trajeto do Recreio ao Leblon de carro, já me deixou morto.

Marjorie: Como assim cansado?

Adalberto: Ué, tô cansado. Dirigir do Recreio até aqui cansa. Quero voltar pra casa e dormir mais umas três horas. Me deu estafa.

Marjorie: Ah, garoto, para! Vamos logo!

A Marjorie, que é toda "vida saudável", resolveu ir do Leblon até a Praça General Osório caminhando pela orla.

Adalberto: Que programa de índio, hein!

Marjorie: Índio vive muitos anos, primo. Isso é bom pra saúde!

Adalberto: Prefiro comer chocolate.

Marjorie: É, e, depois, reclama da pochete.

Adalberto: Quem tá com pochete?

Cuidei de encolher bem a barriga, antes de fazer essa pergunta pra ela.

Marjorie: Você! Ou você não se olha no espelho. Olha só essa barriga imensa!

É, não adiantou muito...

Adalberto: Será que, com essa caminhada, eu perco alguma coisa?

Marjorie: Só se for a vergonha na cara, primo. Pra perder essa pança, você tem que correr uma hora por dia, durante um ano inteiro.

Adalberto: Então, vamos pegar um táxi?

Marjorie: Não, cala a boca e aperta o passo. Tá andando muito devagar.

Adalberto: Que saco!

Quando chegamos à Praça General Osório, eu estava esbaforido. Mal conseguia respirar. Pra entrar no metrô, fomos empurrados pela massa. Estava abarrotado, e eu continuava sem conseguir respirar. Quando saí, estava tão fraco, por não ter conseguido respirar direito, que mal consegui respirar também. Ou seja, em coisa de minutos, eu achava que fosse morrer.

Na casa da mãe da funcionária da fábrica da Marjorie, fomos avisados que ela tinha ido pra uma consulta numa clínica na Gávea e, de lá, ia visitar uma amiga lá perto e, depois, ela iria direto pra casa, em Nova Iguaçu. Pegamos o endereço da amiga e seguimos pra Gávea. De ônibus!

Tinha um lugar no fim do ônibus, e eu corri pra sentar.

Marjorie: Adal, eu vou ficar em pé?

Adalberto: Ué, vai. Você não correu. Eu fui mais rápido que você.

Marjorie: E o cavalheirismo?

Adalberto: Marjorie, você é rica, tem uma fábrica de bolsas. A gente podia ter ido de táxi.

Marjorie: Eu ainda tô com trauma de taxista, desde o último assalto que sofri.

Adalberto: Então, fica em pé aí pra ver se passa.

No trajeto, entraram no ônibus um vendedor de todos os doces possíveis e imagináveis, um evangélico fazendo pregação, um rapaz sem uma perna pedindo dinheiro pra comprar remédio, um vendedor de descascador de legumes e um assaltante que foi preso por um policial à paisana, que estava no ônibus.

Depois da tentativa de assalta, a Marjorie estava aos prantos. Uma senhora de mais de 60 anos, que estava sentada ao meu lado, levantou para a Marjorie sentar. Fiquei tão sem graça por isso que esqueci de ser fofo com a minha prima.

Adalberto: Tá com trauma de andar de táxi ainda?

Marjorie: Ai, não fala assim comigo.

Adalberto: Desculpa, deita aqui.

E ela se recostou no meu ombro e dormiu. Eu fiz o mesmo. Só que com a cabeça encostada no vidro da janela do ônibus. Acordamos com o ônibus parado... em Nova Iguaçu!

Adalberto: Jojô, acorda! O ônibus tá parado. Deve ter chegado no ponto final.

Marjorie: Tudo bem. A gente tem que saltar no ponto final mesmo.

Mas a gente não estava no ponto final. Só depois de quase ficarmos sem voz de tanto berrar pra alguém abrir o ônibus pra gente sair, descobrimos que estávamos na garagem da empresa de ônibus, em Nova Iguaçu.

Adalberto: Como assim Nova Iguaçu?

Marjorie: Não pode ser, o ponto final é em Botafogo.

Trocadora: Sim, senhora, mas a gente precisava fazer a troca de turno, e a garagem da empresa fica aqui em Nova Iguaçu.

Adalberto: Que loucura! Não é mais fácil uma garagem em Botafogo?

Trocadora: Com certeza, mas como o senhor sabe, Botafogo é um bairro de passagem e que não tem mais espaço pra nada, né? A empresa bem que queria ter uma garagem lá. Se o senhor achar, avisa pra gente. Vai ser um favor que o senhor vai fazer.

Ainda tive que ouvir isso da trocadora.

Marjorie: Adal, e agora? Como é que a gente vai fazer pra sair daqui?

Adalberto: A gente vai pegar um táxi até a minha casa, e você que vai pagar pra aprender...

Marjorie: Aprender o quê?

Adalberto: Não sei. Mas acho que você tem que tirar alguma coisa disso tudo.

O taxista parecia que estava bêbado. E estava. Tanto que, na primeira blitz da Lei Seca, ele foi parado. E quando o carro ia ser rebocado, um funcionário do Detran chegou desesperado. Um carro que tinha acabado de sofrer um leve acidente estava com uma mulher grávida, que, com a batida, ficou nervosa e o bebê estava começando a entrar em trabalho de parto. Só que o carro não estava mais funcionando.

Me ofereci pra dirigir o táxi do motorista bêbedo pra levá-la no hospital. E eles abriram uma exceção e deixaram. Quando trouxeram a grávida, vimos que se tratava da funcionária da Marjorie.

Marjorie: Caraca, é a Samantha.

Adalberto: Quem é Samantha?

Marjorie: A menina que trabalha lá na fábrica, que a gente ia visitar.

Samnatha: Marjorie! Como assim?

Marjorie: É...

Adalberto: A gente estava indo fazer uma surpresa na sua casa.

Samantha: Mas essa doida falou que não viria me ver aqui, em Nova Iguaçu...

Marjorie: Samantha, para de falar, você tá entrando em trabalho de parto.

No carro, estávamos eu, Marjorie, Samantha e o marido dela. No meio do caminho, tive que parar o carro. O bebê estava nascendo! O marido dela desmaiou ao ver aquela quantidade absurda de sangue, que estava saindo da Samantha.

Marjorie: Adal, vai buscar ajuda,q eu eu fico aqui com ela.

Adalberto: Não, vai você buscar ajuda, que EU fico aqui com ela. Chega de me dar trabalho por hoje. Tô cansado! Desculpa, Samantha, mas a minha cota de paciência com a Marjorie acabou há umas cinco horas mais ou menos.

O tempo que a Marjorie demorou foi o suficiente pra eu ter que fazer o parto do bebê da Samantha. Eu estava nervoso, assustado, com medo, com nojo, impressionado, tremendo, mas com alguma coisa de felicidade, que não cabia em mim. Estava me sentindo um herói. A coragem era tanta que cortei o cordão umbilical com o dente.

O marido da Samantha despertou a tempo de fazer umas imagens com o celular do nascimento do bebê. Vou guardá-las pra vida toda. Foi lindo!

Valeu muito a pena ter feito esse programa de índio com a Marjorie. Depois de um dia tão intenso, eu nem sentia mais estafa. Podia fazer mais uns 30 partos non stop!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Bermuda jeans e camisa bege foram as responsáveis pela derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo

No dia que o Brasil foi humilhado pela Alemanha na  Copa do Mundo, eu pretendia ver o jogo com as minhas. Até então, tínhamos visto todos os jogos juntos, na casa da Ane, com a mesma roupa sem lavar e sentados no mesmo lugar.

Pra esse jogo, não tinha a menor condição de eu ir com a mesma roupa sem lavar. E eu só me dei conta no dia. O cheiro de cecê estava absurdo. Ninguém ia aguentar ficar do meu lado. Fui com uma bermuda jeans e uma camisa bege.

Ane: Adal, como assim?

Adalberto: A minha roupa estava impraticável, prima. Vocês não iam aguentar.

Ane: Não interessa, era o nosso pacto, a nossa roupa-amuleto.

Adalberto: Ah, gente, que besteira. Não vai ser por causa de uma roupa, que o Brasil vai perder.

Marjorie: Claro que vai. Vai pra casa agora trocar de roupa e volta devidamente vestido!

Adalberto: De jeito nenhum! Eu não vou sair do Humaitá pra ir pro recreio pra, depois, voltar pra cá. Gente, o litro da gasolina tá três reais, não pra dá jogar dinheiro fora.

Lu: Nossa, caro, né? Se agora tá assim, imagina na Copa!

Ane: Lu, a questão é que a gente já tá na Copa. E se ele não for trocar de roupa agora, imagina o que vai ser do jogo de hoje.

Adalberto: Gente, é sério que vocês não vão me deixar entrar? É isso mesmo?

Sara: Primo, eu não acho uma boa ideia você ficar aqui com essa camisa bege.

Ane: Gente, claro que não! Quando abri a porta e vi essa garoto de bege, eu fiquei bege!

Lu: Adal, vai-te embora!

Adalberto: Eu tô sendo expulso?

Marjorie: Lógico!

Adalberto: Não acredito nisso. Ane, a casa é sua, você decide. Posso ficar?

Ane: Claro que não. Tchau!

E bateu a porta na minha cara.

Adalberto: Olha só, isso não vai ficar assim! Eu não vou esquecer NUNCA essa falta de respeito de vocês.

E quando já ia pegar o elevador pra ir embora pra casa...

Adalberto: Ah, e tomara que esse jogo seja um fiasco, que o Brasil perca de lavada. Que tome uns sete gols e que vocês sofram muito com essa derrota. Que fiquem desidratadas de tanto chorar! E morram!

Fui assistir ao jogo em casa sozinho. Até o terceiro gol, não parei de andar de um lado pro outro da sala. A partir do quarto, comecei a chorar copiosamente. No sétimo, me caguei todo! Eu não podia ter esse poder! Não podia!

Quando o juiz apitou o fim do jogo, eu já estava com a faca na mão criando coragem pra me matar. Eu sabia que eu não iria fazer isso, mas eu precisava contar pras minhas primas que tinha tentado, pelo menos. Até que resolvi lembrar, que tinha desejado que elas se desidratassem de tanto chorar e morressem em seguida.

Liguei imediatamente pra casa da Ane. Ninguém atendia. Liguei de novo. Nada. Outra vez. nenhuma resposta.

Fui até à casa dela. Eu até tenho a chave da casa de todas as minhas primas, mas saí com tanta pressa que esqueci de levar. Perguntei pro porteiro se tinha alguém em casa, mas ele não sabia. Tinha acabado de render o outro porteiro. Subi correndo pelas escadas, mesmo sabendo que, se esperasse o elevador descer e, depois, subisse até o oitavo andar, seria mais rápido. No quinto andar, estava completamente esbaforido. Decidi parar e pegar o elevador. Quando ele chegou, estava cheio de gente. Não cabia nem metade do meu corpo. Esperei mais três vezes, e ele continuava subindo cheio. Voltei pro térreo pra pegar o elevador vazio e voltar a subir (pra descer, todo santo ajuda!). Deu certo!

Finalmente, no andar da casa da Ane, bati à porta mil vezes. E nada! Perdi todas as forças do corpo. Mal conseguia chorar. Não tinha nem fôlego pra arrombar a porta. Bem que queria. Mas achava que pra botar aquela porta pra baixo, só se fosse o Hulk. Nesse momento, corrigi o meu próprio pensamento e resolvi que pra botar aquela porta no chão, só mesmo o Podolski, o Klose, o Khedira. Ou qualquer outro jogador da Alemanha. Menos o Hulk!

As minhas primas estavam mortas! E eu era o responsável por isso! Chorei, chorei, chorei. Até que já não tinha mais lágrimas. Acho que já estava começando a ficar desidratado, quando desmaiei.

Acordei num quarto de hospital, com as minhas quatro primas em volta da minha maca.

Adalberto: O que você estão fazendo aqui? Onde eu tô? Quem sou eu?

Lu: Gente, ele não sabe nem mais quem é ele!

Adalberto: Não, quem sou eu, eu sei, sim. Estava brincando. Mas onde eu tô e o que vocês estão fazendo aqui eu, realmente, não sei.

Marjorie: Você tá num hospital, recebendo soro na veia, porque estava desidratado.

Ane: O médico disse que, se você perdesse mais água do corpo, poderia até morrer, primo.

Sara: Tadinho do meu Adalzinho!

Reparei que elas estavam com as camisas do Brasil e lembrei do jogo, do fiasco, da minha responsabilidade.

Adalberto: Vocês não estão com raiva de mim?

Lu: Claro.

Ane: Só um pouco.

Sara: Mas vai passar.

Marjorie: Fica bom logo, primo. Quando você sair, a gente te mata.

Adalberto: Brigado.

Era tudo o que eu podia dizer naquele momento.

sábado, 5 de julho de 2014

Marjorie desiste de formar a dupla Clamar e decide se relacionar com cavalos

Anteontem, enquanto eu me arrumava pra ir pro trabalho, a Marjorie ligou sete vezes para o meu celular. Ando sem paciência pra ela. Quem conhece a Marjorie sabe que ela não é de ficar chata, quando tá apaixonada por algum homem. O problema é que, agora, ela se apaixonou por uma mulher e tá mais chata do que menina de 12 anos com o primeiro namoradinho. Só fala de Clarinha, Clarinha, Clarinha...

Ontem, elas iam sair pela primeira vez juntas. A coisa deve ter sido boa. Até agora ela não me ligou...

Caramba, foi só eu falar, que o telefone toca. É ela.

Adalberto: Oi, Jojô.

Marjorie: Tudo bem, primo?

Adalberto: Tudo.

Marjorie: Tá fazendo o que de bom?

Adalberto: Cara, nada. Acho que vou cortar a minha unha do pé. Tá grande. 

Marjorie: Quer ajuda?

Adalberto: Pra quê? Pra cortar a minha unha? Não, né?

Marjorie: Eu corto pra você. Eu sei que você não gosta dessas coisas.

A Marjorie queria me encontrar pessoalmente pra falar alguma coisa. Ela jamais se ofereceria pra cortar a  minha unha, se não existisse um interesse por trás disso.

Adalberto: Vem, então. Aí, você aproveita e corta a da mão também, espreme uns cravos nas minhas costas, limpa o meu ouvido e lixa o meu pé. Tá com aquela crosta grossa, sabe? Eu devo ter crescido uns dois centímetros por causa disso.

Marjorie: Ai, que nojo, primo! Isso eu não vou fazer, não.

Fiz chantagem.

Adalberto: Então, deixa. Eu vou numa dessas clínicas do pé pra fazer uma limpeza. Só não vai dar pra você vir aqui, então. Eu devo demorar na rua. Vem na semana que vem.

Marjorie: Não, eu vou hoje, primo. Preciso falar com você.  Deixa que eu lixo o seu pé.

Adalberto: É? Tá bom.

Em 40 minutos, ela chegou na minha casa. Estava com uma cara de poucos amigos.

Marjorie: Oi.

Adalberto: Que cara é essa?

Marjorie: Ai, Adal, eu não tô bem.

Adalberto: O que foi?

Marjorie: A Clarinha.

Adalberto: Já sei: a noite foi ótima, você tá apaixonada e veio me contar que a Clarinha é a mulher da sua vida. Acertei?

Marjorie: Não. A gente nem chegou a ficar. Quando ela pegou na minha mão, no restaurante em que a gente foi jantar, eu senti nojo. Eu sei que é horrível falar isso, mas não tem nada a ver comigo. Eu não sei de onde eu tirei da cabeça essa coisa de que eu e a Clarinha poderíamos ter alguma coisa.

Adalberto: Eu sei! Da novela, do Big Brother. Hoje em dia, você liga a televisão, e tem alguma mulher pegando uma Clarinha. É a Marina, personagem da Tainá Müller, é a Vanessa, do BBB, é mais não sei quem... Virou moda ser mulher e pegar uma Clarinha. Você foi influenciada. Depois da Clanessa, da Clarina, você achou bonito criar a dupla Clamar. Eu estava achando isso um saco. Pronto, falei.

Marjorie: Ah, primo, eu estava meio carente, tinha acabado de ser sacaneada por aquele idiota, do Bairro de Fátima, que eu estava pegando. E a Clarinha apareceu nesse momento. Sendo carinhosa comigo, me dando apoio, elevando minha autoestima. Era tudo o que eu precisava naquele momento.

Adalberto: E agora?

Marjorie: Agora, ela não para de me ligar, já me mandou 300 mensagens, 500 WhatsApps, deixou sete recados na minha caixa de voz. Eu não aguento mais essa mulher, primo. Fora que, ontem, ela ficou de bico, quando o Marquinho, do colégio, me abraçou e me beijou daquele jeito exagerado dele.

Adalberto: Ele estava no restaurante também?

Marjorie: Estava. Coincidência, né? Continua doido. 

Adalberto: E a outra já com ciúme dele?

Marjorie: Nossa, uma cara de cachorro com fome, sabe? E depois que ele foi embora, ficou pagando geral pra mim, perguntando como eu deixo um homem me pegar pela cintura, ficar agarrado comigo na frente de todo mundo, me enchendo de beijo no rosto... Gente, o Marquinho é meu amigo. A gente tem intimidade.

Adalberto: Você já falou pra ela, que não vai rolar?

Marjorie: Primo, eu tô sem coragem de fazer isso. A Clarinha não vai aceitar, vai discutir comigo, vai dizer que eu a enganei. E hoje, eu não tô com saco pra isso. Quero curtir o meu sábado. Eu já me estresso de segunda a sexta. Hoje, eu não quero.

Adalberto: Então, deixa pra falar com ela na segunda. É bom que você vai estar tão enrolada na tua fábrica que nem vai poder dar ibope pro mimimi dela.

Marjorie: Pra onde a gente vai, então?

Adalberto: Bora encher a cara num pé sujo?

Marjorie: Boa, primo! Quero beber até cair. Estava até pensando em sair pra dançar, mas prefiro beber mesmo. Até ficar engraçada.

E ela conseguiu. Umas duas horas depois que nós chegamos, quando a Marjorie já estava pra lá de Bagdá,  a Clarinha apareceu por lá com uma amiga. Parecia triste. Com certeza, ia fazer o ouvido da pobre coitada de penico, e desabafar as mágoas com a minha prima.

A Marjorie soube aproveitar a ocasião. Levantou, foi até elas e fez a louca.

Marjorie: Como assim? É isso mesmo que eu tô vendo?

Clarinha: O quê? A Marlene é minha amiga.

Marjorie: Eu não quero saber! Você me mandou 800 mensagens, dizendo que não ia fazer nada, que ia ficar em casa, porque estava triste, porque eu não te respondia. E na primeira oportunidade você, com a primeira que te aparece? 

Clarinha: Mas eu...

Marjorie: Eu não quero saber! Olha, eu não te respondi, porque eu estava em conflito comigo mesma. Você sabe que eu nunca fiquei com uma mulher. Era uma decisão muito difícil pra mim. Mas sabe de uma coisa? Eu não quero mais você. Toda a confiança que eu tinha em você acabou. Fica com ela. Sério mesmo. Pega ela, se amassa nela e leva pra casa, meu bem. Porque dessa toca aqui, não sai mais coelho. 

Por uma coincidência assustadora, o Marquinho chegou ao local com um grupo de amigos. E a Marjorie fez a louca.

Marjorie: Não fala mais com os pobres, não, Marquinho? Vem cá me dar um beijo.

E tascou o maior beijo na boca do Marquinho. E Clarinha estava chorando, tadinha. Não sabia se era pelo esporro que levou ou por ciúme da Marjorie com o Marquinho. Fiquei com pena.

Marjorie: Vamos, Adal!

Adalberto: Peraí, a gente tem que pagara  conta.

Marjorie: Depois, a gente volta aqui pra pagar. A gente vem sempre aqui, todo mundo aqui conhece a gente. Não é possível que a gente não possa pagar outro dia. Vamos! Eu tô com pressa.

Fomos pra minha casa e apagamos. No dia seguinte, era o Marquinho que já tinha ligado 15 vezes, mandado 250 mensagens e 457 WhatsApps

Adalberto: Que merda, hein. Trocou seis por meia-dúzia.

Marjorie: Meia-dúzia, não, né? O Marquinho, pelo menos, tem o que eu gosto. Pena que ele é muito grude, tipo mulher, sabe? Por isso que tá sempre sozinho. Mulher nenhuma aguenta uma pessoa que seja mais chata do que ela. Ainda mais quando é um homem. Ah, na boa, eu não vou responder o Marquinho. Cansei do ser humano, primo. Vou me relacionar com cavalos. Eles, sim, vão me tratar do jeito que eu gosto.

Apoiada!