domingo, 29 de junho de 2014

O amor nos tempos da Copa ou Viva o futebol!

Combinei de ir com a Ane ao primeiro jogo da Copa do Mundo no Maracanã. Ela ficou horas numa fila, em que conheceu um carinha que é idêntico ao David Luiz. O rapaz foi o passatempo durante as nove horas de espera pra comprar o ingresso.

No dia do jogo, ela parecia cabisbaixa. Mas eu tentei levantar o astral.

Adalberto: Que bom que deu tudo certo, né?

Ane: Tudo certo pra você, né?

Adalberto: Não. Pra nós dois. Você também vai ao Maracanã.

Ane: Mas quem disse que eu faço questão disso?

Adalberto: Ane, é Copa do Mundo no nosso país! Você ia querer deixar isso passar em branco

Ane: Ai, Adal, ainda tou meio arrasada com o sumiço da David Luiz.

Adalberto: Esquece esse menino! Isso foi um amor de fila.

Bizarro isso. Já tinha ouvido falar em amor de carnaval, de verão... Amor de fila só uma prima minha mesmo pra estrear.

Ane: Mas eu me deixei levar pelo sentimento. Eu nunca imaginei que, a chegada à bilheteria, seria o fim.

Adalberto: Ai, que papo mais novela das oito. Vamos parar! Quero você animada pro jogo.

A partida foi entre Argentina e Bósnia, e nós sequer sabíamos disso. Chegando no Maracanã, fomos surpreendidos. O nosso ingresso não passava na catraca eletrônica. E quanto mais eu tentava, mais eu me irritava. Até que gritei.

Adalberto: Porra, Ane, em qual Paraguai você comprou essa bosta desse ingresso?! Essa bosta só pode ser falsificada.

Intrometido: Mira, yo soy de Paraguai. No me gusta que hable así de mi país.

Adalberto: E daí? Eu não te perguntei nada! É do Paraguai mas entende português?

David Luiz falsificado: Eu traduzi pra ele o que você disse, seu babaca.

Depois que falou, o rapaz se assustou ao ver a Ane.

Ane: Olha, o David Luiz falsificado foi solidário com o amiguinho do país, em que tudo que se vende é falsificado. E se eu contar aqui, pra todo mundo ouvir, que você também é um frouxo, que não dá no couro. O amiguinho vai defender?

David Luiz falsificado: Cala a boca.

Intrometido: Cállete!

Ane: É assim, né? Um amiguinho defende o outro. Ou será que um é namoradinho do outro? Deve ser, né? 

Adalberto: Ane... Menos...

Ane: Legal saber que você me usou pra furar fila, pra comprar ingresso pro teu macho.

Nesse momento, o David Luiz falsificado deu um tapa em um lado do rosto da Ane, e o Intrometido,no outro. Um segurança, imediatamente, foi separar a briga que se iniciava. E, enquanto os casalzinho era levado para fora, eu peguei os ingressos deles, que caíram no chão.

Adalberto: Vamos entrar?

Ane: Ué, passou? 

Adalberto: Depois te explico.

O ingresso dos meninos era VIP. Ficamos num lugar incrível do Maracanã, com tudo liberado.

Adalberto: Gostou de ter vindo?

Ane: Adorei!

Adalberto: Já esqueceu o David Luiz falsificado?

Ane: Há séculos! Já troquei até telefone com o Júlio César do Paraná

Adalberto: Mais um sósia de jogador da seleção. Isso não termina bem.

Ane: Para de ser pessimista, garoto! A nossa história vai ter um final feliz. Ele é o cara. 

Adalberto: E por que ele não tá aqui com a gente?

Ane: A ex-namorada dele, com quem ele terminou há uma semana, tá aqui. Eles compraram os ingressos, quando ainda estavam juntos. Ele prefere não ficar comigo na frente dela pra evitar escândalo. Ele tem pavor de gente escandalosa.

Tadinho. Tá mal parado, então.

Adalberto: Quer uma boa notícia, então? Os ingressos que você comprou não eram pro Maracanã, sua bisonha. Mas pra Arena da Baixada, em Curitiba. Se a sua história com o Júlio César do Paraná tiver mesmo um final feliz, convida ele pra ir com você Irã e Nigéria.

Ane: Ai, que tudo! Viu? Eu não comprei os ingressos errado à toa. Isso não é coincidência. Isso já estava escrito. Esse homem vai ser meu.

E com alguns litros de álcool já no sangue, ela foi até o Júlio César do Paraná e toucou-lhe um beijaço. E dessa vez, o tapa na cara foi da ex-namorada dele, que, na verdade, até aquela altura era atual.

Na nova confusão, eu não consegui tirar proveito. Talvez porque também estava bêbado.

No caminho para casa, tive que aturar a choradeira da Ane.

Adalberto: Não fica assim. Esses caras não prestam. Já, já você encontra alguém legal. A Copa só tá começando.

Eu não sei, exatamente, o que eu quis dizer com esse meu comentário. Mas ele acionou algum sensor na Ane, que a deixou pensativa e, segundo depois, já não derramava mais lágrima alguma.

Ane: Você tá certo, primo. Homem nenhum vale o meu choro. Mas, me diz uma coisa, quando é mesmo o jogo da Nigéria com o Irã?

E viva o futebol!