segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Vacinação faz Marjorie trocar namorado e missão humanitária na Etiópia por passeio em Paris com amigas

A Marjorie me ligou ontem à tarde para me dar uma notícia surpreendente.

Marjorie: Adal, vou viajar para Adis Abeba daqui a um mês?

Adalberto: Onde fica isso?

Marjorie: Na Etiópia! É a capital, garoto!

Adalberto: Como assim?

Marjorie: Vou em uma missão humanitária.

Adalberto: Você em missão humanitária? Só com homem no meio.

Marjorie: Não basta ser homem para fazer eu sair do meu ar-condicionado split e ir para a Etiópia. Tem que ser o homem.

Adalberto: E quem é o homem?

Marjorie: O Gilmarcio. Estou apaixonada, Adal.

Adalberto: Acredito. Você tem preguiça de ir à casa da Sara no Méier, porque é longe. Ir à Etiópia é muito mais do que paixão. É amor incondicional.

Marjorie: Acho que ainda é cedo para dizer se é amor.

Adalberto: Então, não é melhor você deixar ele ir sozinho, enquanto você decide se é ou se não é?

Marjorie: Não. Eu preciso provar para mim, que eu sou capaz disso.

Adalberto: Por quê?

Marjorie: Porque isso é um baita de um desafio para mim, não é, Adal?

Adalberto: Ah, então, você está querendo se superar?

Marjorie: Isso.

Adalberto: Então, me ajuda com a faxina aqui de casa. A empregada não veio essa semana e isso aqui está um pardieiro.

Marjorie: Sem graça. Isso é um problema seu. Eu quero fazer a diferença para as pessoas que precisam de verdade.

Adalberto: Nossa, assim você me comove.

O que ela não imaginava era a quantidade de vacinas que ela ia ter que tomar para viajar para a Etiópia.

A Marjorie tem mais medo de injeção do que de bicho papão.

Ontem mesmo, ela mudou de ideia e sugeriu ao Gilmarcio, que mandassem uma boa quantia em dinheiro para ajudar aos necessitados da Etiópia e fizessem uma viagem romântica para Paris.

Segundo ela, o Gilmarcio achou torpe a desculpa de não viajar, por causa das vacinas, e disse que não tinha como declinar do projeto da viagem para a Etiópia.

Assim, acabou o amor incondicional da Marjorie pelo Gilmarcio.

Daqui a um mês, quando o Gilmarcio estiver embarcando para Adis Abeba, na Etiópia, a Marjorie estará linda e com suas mechas californianas louras, seguindo para Paris a passeio com amigas.

Marjorie: Não fiz certo, Adal?

Adalberto: Marjorie, você mandou muito bem. Ir para Paris não é desafio nenhum, mas também você vai deixar o seu ar-condicionado split pelo ar delicioso da França.

Marjorie: Quer ajuda com a limpeza da sua casa?

Adalberto: Caramba, você quer mesmo se superar, hein.

Marjorie: Eu me superar? Isso é coisa do passado, bebê. Vou ligar para a Clotilde ir aí limpar a sua casa. Ela, sim, vai ter que se superar nesse domingo com um sol incrível.

Adalberto: Coitada. A mulher já trabalha na tua fábrica a semana toda...

Marjorie: Adal, você vai ficar com pena e fazer faxina sozinho ou você deixar a Clotilde limpar a sua casa, enquanto a gente se esbalda na praia?

Aceitei o desafio.

sábado, 22 de outubro de 2011

Puyehue frustra "Projeto Traição na Argentina" de Lu e ninguém chora pelo leite derramado

Na segunda-feira, o meu celular me despertou com o toque de chamada telefônica. O cansaço era tanto que passou batido. Mas quando estava prestes a entrar no banho, de novo o mesmo toque.

Adalberto: Ué, eu não acionei a função soneca...

Era uma ligação! Fui correndo atender.

Adalberto: Que número estranho é esse? Alô.

Lu: Primo, me salva.

Adalberto: Lu, de onde você está ligando?

Lu: Da Argentina.

Adalberto: Como assim? Você não tinha ido para Cabo Frio, para a casa da Aninha?

Lu: Era mentira. Eu vim para a Argentina com o José Damião.

Adalberto: E você fala isso como se estivesse passando o sal. Quem é esse?

Lu: Um engenheiro que eu conheci na sexta-feira num barzinho.

Adalberto: Você não é normal, não. Como é que vai para outro país com um cara que acabou de conhecer.

Lu: Argentina é aqui do lado, Adal.

Adalberto: Então, toma um chá de vergonha e vem logo embora.

Lu: As cinzas do Vulcão Puyehue não deixam.

Adalberto: Mas esse vulcão não fica no Chile?

Lu: O vulcão fica. Mas as cinzas dele, não. Por causa da erupção dessa bosta de vulcão, eu estou ferrada.

Adalberto: Ah, ok. Agora, o fenômeno natural tem culpa pela sua falta de vergonha na cara...

Lu: Por que falta de vergonha na cara?

Adalberto: Você não tinha um encontro hoje, com um carinha que você já vinha paquerando há tempos?

Lu: Por isso que eu estou te ligando, amore.

Amore no fim da frase = vou te pedir para me quebrar um galhão.

Adalberto: Lu, pede logo.

Lu: Liga para o Eliandro e inventa qualquer coisa trágica.

Adalberto: Eliandro é o tal carinha do encontro de hoje?

Lu: Isso.

Ela me passou o celular e eu fiz o que me foi mandado.

O telefone do Eliandro caía direto na caixa postal. Claro! Eram menos de sete horas da manhã e eu achando que todo mundo tem a obrigação de estar com o celular ligado a essa hora.

Liguei outras vezes ao longo do dia e nada.

Quando a Lu me ligou à noite, eu não tinha novidade. Mas ela, sim.

Lu: Adal, você vai morrer com o que eu vou te falar.

Adalberto: Está bem, mas antes eu vou logo te avisando que eu não consegui falar com o Eliandro.

Lu: Garoto, eu encontrei o Eliandro ainda há pouco, perto da Casa Rosada, com uma mulher com a maior cara de piranha. Você acredita nisso? Esse cara é um safado.

Adalberto: Safado que trai safada tem cem anos de perdão...

Lu: Perdão? Eu enfiei a porrada nos dois.

Adalberto: Sua maluca! O José Damião estava perto?

Lu: Estava. E, agora, ele não quer me ver nem pintada de ouro.

Adalberto: Claro. Nem eu ia querer te ver pintada de ouro se estivesse no lugar dele. Como é que você dá ataque de ciúmes por um cara na frente do outro que você está saindo?

Lu: Adal, eu não vou ficar chorando pelo leite derramado.

Adalberto: Você não chora por nada! Nem pelo leite derramado, nem pela cinza do Vulcão Puyehue, nem pelo safado que estava te traindo, nem pelo coitado que você desprezou... Parece que não tem sentimento. Só fogo no rabo.

Lu: Para de falar assim comigo. Queria ver um negócio com você, amore.

Amore no fim da frase de novo... Droga!

Adalberto: O que foi, Lu?

Lu: Eu não tenho onde cair morta. Vim sem um centavo para a Argentina.

Adalberto: Você é maluca. Quer que eu te mande dinheiro?

Lu: Como? Eu não trouxe nem cartão.

Adalberto: Me liga daqui a uns dez minutos. Vou ver o que eu faço.

E desliguei o telefone na cara dela de raiva.

Sorte que eu tenho amigos que argentinos. Liguei para um que se prontificou a buscá-la no aeroporto, recebê-la em sua cawsa e emprestar dinheiro para ela vir embora. Ufa!


Mas a Lu nunca mais me ligou. Fiquei morrendo de preocupação, sem dormir direito até quarta-feira, quando ela resolveu aparecer na minha casa, antes do celular me despertar para o trabalho.

Depois de três tentativas em desligar o celular, que eu fui perceber que era a campainha que estava me acordando. Fui ver quem era com a cara do diabo.

Adalberto: Lu?

Lu: Eu quero te matar.

Adalberto: Por quê?

Lu: Você desligou o telefone na minha cara e eu não tinha mais créditos para te ligar, seu cachorro.

Adalberto: Ah, então, depois do Vulcão Puyehue, eu sou o culpado pelos seus atos impensados?

Lu: É. Alguém tem que levar a culpa. Eu estou fora!

Adalberto: Você não existe, sua doida. Agora, me conta como foi que você se virou para sair da Argentina?

Lu: Mas você já me faz a pergunta com a resposta dentro...

Adalberto: Como assim?

Lu: Quer saber mesmo, nos mínimos detalhes, como foi que eu me virei?

Adalberto: Não, deixa para lá. Eu também não vou ficar chorando pelo leite derramado...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ser padrinho de trigêmeos não dói só o bolso

Fui passar o sábado com a Sara e os trigêmeos. Nunca trabalhei tanto na minha vida.

Adalberto: Já lavei a louça, coloquei a roupa na máquina e guardei as compras no armário. Posso ir?

Sara: Não, Adal. Tem roupa para passar, comida para fazer e o banho dos bebês.

Adalberto: Sara, eu vim aqui para visitar os meus afilhados.

Sara: Eu sei, ué.

Adalberto: E não parei de trabalhar até agora.

Sara: Mas eles estão dormindo.

Adalberto: Não tem problema. Dormindo ou acordados eles não vão conversar comigo mesmo.

Sara: Ai, que grosseria Adal.

Adalberto: Grosseria, não. Eu estou com a minha coluna doendo.

Sara: Quer passar uma pomada anti-inflamatória?

Adalberto: Não. Quero ir embora para casa.

Sara: Mas e as outras coisas, que você ainda tem para fazer?

Adalberto: E o Oswaldo, hein? Ele é café com leite? Não trabalha nessa casa?

Sara: O Oswaldo foi encontrar com os amigos. Ele trabalha a semana inteira. É judiação botar o cara para trabalhar no fim de semana.

Adalberto: Ah, eu não trabalho a semana inteira?

Sara: Adal, você é padrinho dos bebês.

Adalberto: Ah, então foi para isso que eu batizei os trigêmeos?

Sara: Não. Mas padrinho é para todas as horas.

Adalberto: Eu sei. Mas tem horas em que se é preciso descansar.

Sara: Você está cansado?

Adalberto: Muito.

Sara: Quer ir embora?

Adalberto: Quero.

Sara: Está bem, vai lá.

Adalberto: Mas você vai conseguir fazer as coisas que faltam?

Sara: Não tenho como. Como é que eu vou sair de perto dessas crianças?

Adalberto: Você precisa de uma babá urgente.

Sara: Eu sei. Já marquei entrevista com umas dez para a semana que vem.

Adalberto: Então, eu vou fazer seguinte: eu vou ficar, fazer o que tem para fazer, mas no fim de semana que vem, quero você com uma babá para te ajudar. Combinado?

Sara: Combinado.

Terminei tudo o que tinha para fazer e fui para casa deitar. Não estava me aguentando em pé.

Eu achava que ser padrinho de trigêmeos só fosse doer o meu bolso.

Passei o domingo inteiro na cama. Vi todos os programas de televisão, dos mais interessantes ao Domingão do Faustão. E, agora, é hora de trabalhar.

Ainda não tenho planos para o fim de semana que vem. Mas de uma coisa eu tenho certeza: vou passar bem longe da casa da Sara.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ane finalmente desencalha ou "O casamento do meu melhor amigo"

Eu estava tomando um chope com um amigo gringo na segunda-feira, à tarde, em Ipanema, quando a Ane passou por nós bêbada e trôpega num vestido longo muito bonito e com um buquê de flores.

Adalberto: Ane, sua maluca!

Ane: Primo!

Adalberto: Isso são horas de sair de uma festa?

Ane: Eu estava no casamento do meu melhor amigo. E você tomando cerveja... Isso são horas de tomar cerveja?

Eram 8h da manhã.

Adalberto: Esse aqui é o meu amigo Gianfrancesco Brinkley, filho de italiana com americano, que mora na Espanha.

Ane: Ou seja, um cara complexo.

Adalberto: Exatamente.

A Ane se restringiu em apenas apertar a mão do Gian, como ele é chamado por todos.

Adalberto: Ah, ele fala português.

Ane: Então, a gente pode ser amigos.

Gian: Claro.

Ane: Quanto tempo você vai ficar aqui, Gian?

Gian: Só hoje.

Ane: Só?

Adalberto: Ele veio aqui só para casar com uma amiga minha, para poder se legalizar no país. Ele pretende vir morar aqui.

Ane: E já casaram?

Gian: Não.

Adalberto: A minha amiga é da Bahia. Perdeu o voo. Não vai ter como chegar a tempo. Uma pena.

Ane: E ele não vai casar?

Gian: Não.

Ane: Mas ele só casa se for com uma baiana?

Adalberto: Não. Pode ser com qualquer pessoa. É que ela é a única pessoa, que eu conheço, que tem interesse em tirar passaporte europeu. O cartório está agendado para a uma e meia.

Ane: Então, ele vai casar comigo.

Adalberto: De jeito nenhum!

Gian: Por que não?

Ane: É. Por que não?

Adalberto: Porque esse casamento é uma farsa.

Ane: O casamento é verdadeiro. O sentimento que vai ser uma farsa.

Adalberto: Então, pronto! Vai se casar pela primeira vez dessa maneira?

Ane: E daí? O lance é casar. Olha, dizem que, depois que a gente casa, o assédio aumenta. Eu quero que o assédio aumente!

Adalberto: Seja mais ambiciosa!

Ane: Eu quero tirar passaporte europeu e americano.

Isso me convenceu.

Quando dei por mim, estava no cartório com a Ane e o Gian.

Ah, não posso me esquecer da Lilian Passé, a amiga do Gian, que é filha de espanhola com francês, mas que mora na Alemanha. Ela estava dormindo no hotel e teve, apenas, cinco minutos para se arrumar para ser madrinha de casamento.

A Ane estava com o buquê do casamento do seu melhor amigo.

Ane: Esses seus amigos são muitos complexos, hein, Adal.

Adalberto: A Lilian não é minha amiga. A gente se conheceu hoje.

Ane: Casa com ela e tira passaporte europeu.

Adalberto: Cala a boca.

A Lilian não pôde ser testemunha do casamento da Ane comigo, porque não tem CPF brasileiro. Tive que ir à rua buscar alguém que se submetesse substituir a Lilian por cinqüenta reais. O máximo que consegui foi uma vendedora de petshop afrodescendente, cheia de creme no cabelo oxigenado. E olhe lá.

Ane: Essazinha, com a calça da Gang, foi o máximo que você conseguiu? Não podia arrumar uma madrinha com menos cara de piranha?

Adalberto: O Gian me deu cinquenta reais para eu subornar alguém para ser madrinha. Com esse dinheiro não dava para trazer a Gisele Bündchen.

Ane: Esse seu amigo gringo também é pobre?

Pior que é. Mas eu não tive coragem de falar para a Ane. Eu coleciono amigo gringo sem dinheiro. Impressionante! Tenho uma meia dúzia de amigos do Primeiro Mundo, que têm menos dinheiro e bens do que eu.

Ane: Adal, você precisa conhecer gringo melhor. Com mais dinheiro.

Adalberto: Ane, você veio aqui para casar ou para bater papo?

Ane: Chato.

Demorei muito para conseguir assinar a certidão de casamento da minha prima. A periguete da petshop assinou em um segundo e picou a mula. Mas ela não tinha nenhum envolvimento com os noivos. Me deu uma tremedeira... Eu estava muito nervoso. Era tudo fake, de mentira... Mas não deixava de ser o casamento da minha prima.

Ane: Adal, diz para a Lilian Passé, que eu vou jogar o buquê. E só tem ela de mulher. Ela vai se dar bem.

Adalberto: Ane, não inventa. A Lilian Passé está passada.

Ane: Por quê?

Adalberto: Porque esse casamento é uma piada. Parece filme de Almodóvar.

Gian: Vamos comer?

O Gian nos levou para comer num restaurante caríssimo em agradecimento. Era o mínimo que ele podia fazer por mim e pela minha prima.

Só que a conta quem pagou fui eu. O cartão do Gian, surpreendentemente, não passava.

Ainda gastei os tubos de combustível no circuito Recreio-Ipanema, Ipanema-carório, cartório-Ipanema e Ipanema-aeroporto. Tudo isso para fazer um favor por um amigo.

Ane: Adal, obrigada pelo favor que você me fez.

Adalberto: Que favor que eu te fiz? Eu fiz um favor para o Gian. Aliás, você fez um favor para ele.

Ane: Foi estranho vê-lo indo embora. Mal casei e meu marido foi morar no outro lado do mundo.

Adalberto: O seu marido mora no outro lado do mundo.

Ane: Ele bem que podia ser bonito, hein, Adal.

Adalberto: Não gostou?

Ane: Não. Muito gordo, muito baixo e muito careca.

Adalberto: Mas muito gente boa.

Ane: Será?

Adalberto: Por que você está falando isso? Percebeu alguma coisa nele?

Ane: Não. Só achei estranho o cara convidar a gente para almoçar e, na hora de pagar a conta, não ter dinheiro.

Adalberto: Mas ele disse que ia me pagar.

Ane: Quando?

Adalberto: Não sei. Não perguntei. Talvez ele faça uma transferência internacional. Não sei.

E não sabia mesmo. Aliás, não fazia a mínima idéia de como ele ia fazer para me pagar aquele almoço.

Ane: Fica tranqüilo. A partir de agora, eu vou ter direito a tudo o que ele adquirir. Você não vai sair no prejuízo, primo.

É assim que se fala!