quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Marjorie namora com o presente falsificado do meu colega de trabalho

No dia do desfile de uma grife, que ter modelos usando as bolsas da Marjorie, a Lu me ligou:

Lu: Ai, sei lá, não tô a fim.

Adalberto: Mas de ontem você falou que estava louca pra ir.

Lu: Pois é. Dois loucos não se bicam.

Adalberto: De quem você tá falando?

Lu: Do Loco Abreu.

Adalberto: Como assim?

Lu: O namorado da Marjorie, garoto.

Adalberto: Caramba, Lu, me dá, então, o seu convite?

Era aniversário de um colega de trabalho uruguaiano, o Javier, que é fanático pelo Loco Abreu. Ele ia amar conhecer o jogador. Um presentaço pra ele.

Ele se atrasou um pouco pra se arrumar, e nós chegamos ao fim do desfile. No começo do coquetel. Foi difícil encontrar a Marjorie, em meio a tanta gente. Mas conseguimos.

Marjorie: Achei que você ia embora sem falar comigo.

Adalberto: Tá maluca?

Marjorie: Você é doido.

Adalberto: Pois é, falando em doido, cadê o Loco?

A Marjorie deu um sorriso, que, na hora, eu não entendi o que significava.

Adalberto: Ele veio só pra falar com ele. Trabalha lá comigo. Javier.

Marjorie: Oi, Javier, tudo bem?

Javier: Todo bem.

Marjorie: Gostou do desfile?

Javier: Muito. Muy lindo!

Que mentiroso.

Adalberto: O Javier também é do Uruguai.

A Marjorie fez uma cara de que "no comprendo", mas dissimulou:

Marjorie: Ah, é? Legal.

Nisso, chega um maluco completamente irritado, empurrando o Javier, que, na hora, estava com a mão na cintura da Marjorie.

Marjorie: Oi, Gui.

Aguinaldo: Vambora agora.

Marjorie: Mas, Gui. Tem um monte de gente querendo.

Aguinaldo: Agora.

Marjorie: Adal, depois eu te ligo.

Adalberto: Tá bom.

Javier: Que aconteceu?

Adalberto: Sei lá. O cara é maluco. Deve ser algum cliente irritado da Marjorie.

Javier: E o Loco Abreu? No veio?

Adalberto: Pois é, ele deveria estar aqui com a Marjorie.

Javier: Vamos procurar.

Adalberto: Vamo. Vamo, sim.

Depois de uma hora rodando o salão, decidi ligar pra Marjorie:

Adalberto: Amore, eu sei que você disse que me ligaria, mas é que eu já tô há mais de uma hora com o Javier, procurando o Loco. Ele veio?

Marjorie: Que Loco, Adal. De que Loco que você tá falando?

Adalberto: Do seu namorado, ué.

Marjorie: Ai, vai se catar.

E desligou o telefone.

Javier: Que aconteceu?

Adalberto: Caiu. Deve ter acabado a bateria.

Javier: Que pena! E ahora?

Adalberto: Ai, Javier, você me desculpa, mas...

Javier: No, no. Todo bem. Sem problema, sem problema.

Adalberto: Vou só ligar pra Lu, minha outra prima. Ela me garantiu que o Loco viria.

Javier: Sem problema, sem problema.

Adalberto: Alô, Lu. Então, amoreca, você não disse que o Loco viria? Como é que você tem certeza disso? Estilista? O Loco é estil...

Fiquei ouvindo a Lu me explicar que o Loco Abreu não era bem quem eu imaginava. O Loco Abreu, na verdade, se chama Aguinaldo Abreu e é estilista da grife que desfilou com as roupas bolsas da Marjorie. Loco Abreu foi o apelido maldoso, que a Lu deu pra ele.

Devia ser o cara maluco, que veio cheio de grosseria, arrastando a Marjorie embora. Eu lembro dela ter chamado o cara de Gui.

Lu: Ela chama ele de Gui, sim.

Putz, então, esse é o Loco da Uruguaiana. O Loco pirata.

Adalberto: Tá bom, então, babe. Beijo.

E agora? Como falar pro Javier, que deixou comemorar o aniversário com a família, pra conhecer o Loco Abreu? Mentir pro bem não é pecado. Alguém, que eu não lembro quem, me disse isso.

Adalberto: Javier, o Loco teve que ir pro Uruguai às pressas. A vozinha dele tá mal.

Javier: Oh, que pena! Que pena!

Adalberto: Desculpa.

Javier: No, no. Sem problema, sem problema.

Adalberto: Vamo tomar um chopinho lá fora, então? Hoje eu não tô pra essas comidas chiques, que não enchem barriga.

Javier: Vamos, claro.

Eu já não sabia mais quantos chopes nós tínhamos bebida, mas ainda não estava louco o suficiente pra não saber que era o Loco Abreu, que acabava de entrar no bar em que estávamos, acompanhado de uma louraça:

Javier: Mira, se yo não soubesse que Loco foi pra Uruguai, ia hablar com aquele hombre, pensado ser Loco.

Eu ri de nervoso pra não chorar.

Adalberto: Vamo embora? A gente já tá muito louco. Tamo até tendo visão. Isso não é bom.

Javier: No, no. A música ao vivo vai começar agora. E yo vou cantar pra ti, meu amigo.

Ai, não acredito. O Javier estava tão bêbado, que, quando o cantor agradeceu a presença ilustreo do Loco Abreu, ele achou que o cara também tinha bebido.

Javier: Mira, que louco! Bebeu mais que nós!

Adalberto: É.

Javier: Voy cantar o Hino de Uruguai. Conoces?

Claro que não!

Adalberto: Acho que não.

E ele foi lá. A pro meu desespero, o Loco foi cantar com ele. Até que foi engraçado ver o Javier abraçado ao Loco Abreu sem ter a menor noção de que estava ao lado do seu maior ídolo.

Mas, no dia seguinte, no trabalho, o esporro que eu ia tomar do Javier não ia ter a menor graça. Cheguei a pensar em inventar uma doença. Mas eu sou caxias; detesto faltar trabalho. Fui assim mesmo.

E fui recebido com festa pelo Javier.

Javier: Amigo, cheguei a ficar com raiva de ti, mas passou, passou. Estoy famoso. Obrigado pot tudo.

Isso, ele falou na frente de umas 300 pessoas. Eu estava completamente sem graça.

Adalberto: De nada.

Esse mundo é muito louco...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ane revive experiêcia simplória

Outro dia, fui com a Ane à casa de uma amiga nossa de infância, a Marcela. Ela estava meio tristinha pelo término de um namoro relâmpago e precisava desabafar com a amiga. Na visita, sem querer, pegamos duas ladras pelo pau, com a licença para o trocadilho:

Marcela: Ela vende tudo o que vocês podem imaginar. Ela tá precisando tanto. Coitada. Fico com pena.

Adalberto: O lance é que eu tô duro. Bati com o carro e morri numa grana com a franquia do seguro, que não estava no meu orçamento.

Marcela: Mas ela deixa parcelar.

Ane: Vamo ver, Adal. Você não é obrigado a comprar nada.

Adalberto: Eu sei. Mas eu detesto frustrar a expectativa de uma pessoa.

Marcela: Mas quem trabalha com vendas tá acostumado com isso.

Ane: Também acho.

Adalberto: O lance é que ela não trabalha com vendas. Ela trabalha com faxina.

Ane: Mamá, chama logo a moça aqui, antes que eu dê na cara desse garoto? Tá me irritando já.

A empregada da Marcela, a Carmen, tinha tralha pra vender que não acabava mais. O pior é o que eu já imaginava: nada me agradou. Ainda bem que a Ane gostou de um celular. Parece que ira igual ao do... Esqueci o nome do carinha:

Ane: Simplório.

Adalberto: Isso! Posso mexer?

Carmen: Pode sim, senhor.

Fiquei fuçando tudo. Tenho essa mania. Quando tenho nas mãos um brinquedinho novo, fico igual a um pinto no lixo. Isso, às vezes, não é bom:

Marcela: Que cara é essa, Adal?

Adalberto: Esse celular é novo?

Carmen: É, sim senhor.

Adalberto: Mas novo de zero bala ou novo de segunda mão com pouco uso?

Carmen: O que é zero bala, senhor?

Ane: Novo. Zero bala é o que nunca foi usado.

Carmen: Então, é isso aí, sim, senhora.

Ane: Me dá isso, aqui, senhor Adalberto.

Quando ela olhou a imagem na tela do aparelho, tomou um susto.

Ane: Gente, esse aqui é o pau do Simplório.

Marcela: Como assim? Deixa eu ver.

A maior surpresa veio com o comentário da Marcela:

Marcela: É dele mesmo.

Ane: Como é que você sabe disso? Marcela, você já ficou com o Simplório?

Pela cara que ela fez, sim.

Marcela: Amiga...

Ane: Eu não tô acreditando nisso. A minha amiga de anos ficou com o cara que eu sonhava em casar. Ladra de homem! E você, sua ladra de celular? Não fala nada? Como é que esse celular chegou até você, sua safada?

Carmen: Eu não sei, não, senhora.

Ane: Não sabe, não, senhora, mas o seu caso eu posso levar pra polícia descobrir. Já a sua vingança, dona Marcela, vira à cavalo. Vou mandar um e-mail hoje mesmo pro Glauco, contando tudo. Vambora, Adal.

O Glauco era o marido da Marcela, que, definitivamente, não devia ter mexido com um homem que já foi da Ane.

Da casa da Marcela, fomos a uma delegacia registrar queixa contra a faxineira. Descobrimos, mais tarde, que a Carmen também era diarista do Simplório. Que mundo pequeno esse!

Adalberto: Tão pequeno que chega a ser simplório.

Ane: Para de bobeira, garoto. Anda logo.

De lá, fomos ao apartamento da Ane, enviar o e-mail pro Glauco, o que, obviamente, acabou com o casamento dele. E, por fim, deixei minha prima na casa do Simplório, onde ela foi entregar o celular e matar a saudade do simplório do Simplório.

No fim das contas, isso tudo foi até bom pra minha prima, que estava sofrendo com o fim de um relacionamento com um carinha, que só queria usá-la. Como os muitos que ela já arrumou nessa vida, né?

Ane: E nada melhor do que curar uma ferida de amor...

Adalberto: Com outro amor que já causou uma ferida, que já cicatrizou.

Ane: Bobo. Eu acho que o Simplório mudou, sabia?

Adalberto: Eu não sei de nada.

Ane: Tá bom, seu chato. Quando eu casar com o Simplório, eu te convido, tá?

Adalberto: E eu vou estar lá no altar, como seu padrinho.

Ane: Acho bom. Agora, deixa eu desligar, que o interfone tá tocando. É ele. A gente vai comemorar um mês de namoro. Beijo.

Esse namoro durou um mês e dois dias.

Ane: O estranho é que anteontem a gente saiu pra jantar, pra comemorar o nosso primeiro mês. E, agora, do nada, ele me ligou dizendo que precisava de um tempo. Estranho, né, Adal?

Estranho, não. Simplório!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Os presidenciáveis dos corações das minhas primas

No sábado passado, marquei um chope com minhas primas, mas cheguei atrasadaço, porque estava num churrasco do Rodrigo Procaci e do Bruno Forever, dois amigos da época do colégio. Quando cheguei, elas já estavam na mão do palhaço de tanto beber. Com exceção da Sara, claro:

Lu: Isso são horas?

Marjorie: Achei que fosse furar com a gente.

Ane: Quando ele tá com os amiguinhos do Martins é sempre assim.

Adalberto: Ninguém tá bebendo?

Marjorie: Eu acabei de pedir mais uma rodada.

Adalberto: Pediu pra mim?

Lu: Claro que não, seu tratante.

Ane: Garçom!

Com os copos devidamente a postos e a consciência perdida, elas revelaram o critério de escolha para votar no candidato a presidente do Brasil. Ah, fui eu quem começou com esse assunto. É que, até o momento, eu não sabia em quem votar:

Marjorie: A gente acabou de decidir isso, Adal.

Adalberto: Mas aqui? Num bar?

Ane: E daí?

Adalberto: Não, ok.

Sara: Adal, mas pelamordedeus, não comenta nada com o Oswaldo, hein.

Na hora, eu não entendi o porquê.

Adalberto: Tá. Então, vocês chegaram a um consenso?

Marjorie: Mais ou menos.

Adalberto: Por que mais ou menos?

Lu: Eu vou votar no Plínio.

Adalberto: Sério?

Lu: Tô falando...

Adalberto: O cara não tem nem um por cento das intenções de voto. Por que isso?

Lu: Por causa do Philipe de Souza Oliveira Lemos.

Adalberto: Como assim?

Lu: Philipe de Souza Oliveira Lemos. PSOL. O partido do Plínio.

Adalberto: Mas quem é esse Felipe?

Lu: O meu primeiro amor.

Adalberto: Mas Felipe não é com éfe?

Lu: Não. O dele é com pê agá.

Adalberto: Você vai fazer uma homenagem pra lee na hora de votar pra presidente?

Lu: É.

Que loucura!

Adalberto: Que criatividade!

Ane: O meu voto é pro... Como é que é o nome do cara mesmo, hein?

Marjorie: Serra.

Adalberto: Você esqueceu o nome do cara que tá bombando nas pesquisas?

Ane: Ah, tô nem aí. Tô bêbada. Cala a boca. Deixa eu falar. Vou votar no Serra, por causa do... Como é que é o nome do safado?

Sara: Pedro Sandro Dantas Braga.

Adalberto: Mas não foi você que namorou com o Pedro Sandro.

Sara: Eu sei. Mas aquele safado não merece homenagem minha.

Ane: Merece minha. Quando a Sara terminou com ele, eu bem tirei umas casquinhas. Nossa, inesquecível, Adal.

Adalberto: É... Tô vendo.

Marjorie: Eu vou votar na Dilma.

Adalberto: Você? Você odeia a Dilma. Outro dia, estava fazendo campanha no Facebook contra ela. Tá louca?

Marjorie: Tô. Vou fazer essa merda pelo Paulo Tavares. Lembra dele?

Adalberto: Não.

Marjorie: Aquele chinês que eu namorei, Adal.

Adalberto: O único chinês que você namorou se chamava Yang Jun Zhu? E não Paulo Tavares.

Marjorie: Você não lembra que, quando veio aquela chinesada toda, cada um deles tinha um nome de um dos apóstolos e o sobrenome do gerente de área lá da empresa deles? O do Yang ficou Paulo Tavares.

Adalberto: Nossa, faz tanto tempo. Eu não lembro nem o que eu comi lá no churrasco do Procaci agora...

Lu: Carne! Você não come ave.

Eu estava tão chocado. Até a Marjorie entrou nessa da Lu e da Ane. Até esqueci que, quando vou a um churrasco, só como carne.

Adalberto: É. Comi carne mesmo. Só carne.

Ane: Que cara de bobo é essa, garoto?

Adalberto: Nada. É a minha cara.

Mal sabia eu que ela ainda ia ficar pior.

Sara: Seguindo essa linha, o meu voto vai pra Marina.

Adalberto: Como assim seguindo essa linha? Que linha? Não tem linha nenhuma aqui. O que tem é gente perdendo a linha.

Lu: Lógico. Cu de bêbado não tem dono.

Ane: Nem linha.

Elas estavam morrendo de rir. Mas a minha ansiedade em ouvir a Sara me fez não achar graça nenhuma.

Sara: Adal, eu vou votar na Marina, por causa do Pablo Vasconcellos. Se esse cara me liga agora, eu largo tudo e vou morar em Londres com ele.

Meu Deus! Ela nem bêbada estava. E o Oswaldo? Agora, entendi, porque ela falou pra eu não contar nada. Ela nunca tinha falado sobre isso comigo. Que momento mais desapropriado!

Lu: Olha a cara desse garoto, gente. Eu vou bater uma foto disso.

Ane: Bate. Eu vou fazer um quadro dela pra espantar os mosquitos lá em casa.

Marjorie: Vai ser mais eficiente do que essas raquetes malditas, que vendem nos sinais.

Realmente. Com a cara que eu estava, o mosquito, de longe, ia se estribuchar no chão de susto.
Ainda bem que vieram outras rodadas de cerveja e, dali a uma meia-horinha mais ou menos, eu já estava rindo de tudo. Com uma cara bem melhor. Cheguei até a pensar em quem eu votaria pra presidente, segundo os critérios de escolha das minhas primas. Mas não deu em nada. E eu saí dali com a firme certeza de que votaria nulo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Marjorie e sua experiência metrossexual sem salto

Hoje, lendo uma matéria sobre o metrossexualismo, lembrei de um namorado que a Marjorie arrumou. Isso já tem uns três anos, mas parace que foi ontem que o meu telefone tocou com a notícia:

Marjorie: Tô namorando um carinha da época da faculdade. Silmério o nome dele.

Adalberto: Tá recorrendo ao passado pra desencalhar?

Marjorie: Ridículo. A gente achava que ele era gay.

Adalberto: As aparências, às vezes, enganam.

Marjorie: Que bom, né?

Adalberto: Você tá feliz?

Marjorie: Tô. Acho que, dessa vez, a coisa engrena. O Silmério é pra casar.

Realmente, o Silmério é pra casar. O cara é gente boa. Chato é esperar ele se arrumar. Ele já estava morando com a Marjorie, quando fui jantar fora com eles pela primeira e última vez:

Marjorie: Adal, espera só mais um pouquinho.

Adalberto: Eu já To aqui embaixo há uma hora, esperando so mais um pouquinho Marjorie. Que tanto vocês fazem aí em cima?

Marjorie: O cabelo.

Adalberto: Hã?

Marjorie: O Silmério fez uma hidratação no cabelo dele. Você chegou quando ainda faltavam 15 minutos pra ele lavar a cabeça. Eu falei pra você não chegar antes.

Adalberto: Então, tá bom. Tem 45 minutos que eu tô aqui embaixo esperando vocês.

Marjorie: A gente já vai descer. O Sil acabou de secar o cabelo, vai vestir a roupa e pronto. A gente já desce.

Quinze minutos se passaram e nada. Eu fui pro restaurante sozinho. Uma hora depois chega a Marjorie e o Silmério.

Marjorie: Apressado.

Adalberto: Eu já ia pedir a conta.

Silmério: Desculpa, Adal. A culpa foi toda minha. Você acredita que eu não achei uma roupa decente de noite? Olho só com é que eu tô. Um trapo. Só vim pra não ficar chato.

Como assim um trapo? O cara estava todo bem vestido. Fiquei até com vergonha por ter ido de bermuda. No Rio de Janeiro bermuda pode ser considerada roupe de noite?

Marjorie: O que você quer comer, amor?

Silmério: Não sei. Tô com uma enxaqueca que tá me tirando a fome.

Até então, só tinha ouvido falar que enxaqueca tirava a fome de uma tia fresca minha.

Adalberto: Cara, eu acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Tem?

Silmério: Ai, Adal, eu sou muito sensível a tudo, sabe?

Adalberto: Sei. Quer dizer, sei lá.

Silmério: Eu sou, eu sou.

Marjorie: Mas toma uma sopinha, pelo menos.

Silmério: Não, nem isso, baby. Vou pedir um suco verde.

Não acredito que o cara ficou horas pra se arrumar, pra chegar no restaurante e tomar um suco verde. Blurgt! Isso, sim, ia me dar enxaqueca.

Silmério: Garçom, traz um suquinho verde pra mim, por favor?

Se ele soubesse que o garçom estava todo enrolado, no seu primeiro dia de trabalho, e que ia derramar tudo em cima dele...

Silmério: Não acredito nisso! Quero me matar!

Não parecia. Ele arremessou um monte de prato e talher em cima do pobre coitado do garçom... Os outros garçons e os seguranças do restaurante tentaram conter, mas o cara parecia que estava incorporado.

O pior foi que o prejuízo sobrou todo pra mim. A Marjorie foi embora correndo. Na hora fiquei puto, mas depois, entendi. O dono do restaurante é um dos melhores clientes dela. Ainda bem que ela não tinha avisado a ele que ia.

Na volta pra casa, eu ainda tive que dar carona pro escroto de Silmério. Só fiz isso, porque tinha falado lá pros caras, que ele um primo louco que eu tinha. Não podia dar uma de louco também e deixar ele lá sozinho.

Silmérico: Ai, Adal, me desculpa. Quando eu fico nervoso, eu perco a cabeça.

Adalberto: Eu vi. Você desce do salto e não tem enxaqueca que te segure, né?

Na porta da casa da Marjorie, constatei que ela parou de achar que o Silmério era pra casar. E foi de uma maneira bem prática: arremessando todas as roupas e pertences dele pela janela.

Silmério: Que falta de respeito! Isso não se faz!

Adalberto: Realmente. Quebrar prato em garçom iniciante também não. Desce.

Silmério: Você me ajuda a pegar as minhas coisas?

Adalberto: Claro que não. Você me ajudou a pagar o prejuízo do restaurante?

Silmério: Adal, eu te expliquei. Eu estava descontrolado.

Adalberto: E, agora, quem vai ficar descontrolado sou eu. Vou subir pra casa da minha prima e, se tiver mais alguma coisa sua lá, eu jogo aqui pra baixo.

Sempre quis fazer isso com alguém.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Projeto Verão acaba em pizza

Quando cheguei em casa hoje, tomei um susto com as quatro plantadas na minha sala:

Marjorie: O que houve, Adal?

Sara: Fiquei preocupada.

Ane: Que palhçada é essa?

Lu: Tá de sacanagem com a nossa cara?

Adalberto: Vocês estão falando de quê?

Sara: Primo, você tá há mais de uma semana sem falar com a gente.

Marjorie: Sem atender as nossas ligações.

Ane: Deve ser aquelas amiguinhas do Martins.

Lu: Aquelas piranhas.

Só aí entendi do que elas estavam falando.

Adalberto: Gente, se eu contar porque eu sumi, vocês não vão acreditar.

Marjorie: Tá em crise existencial?

Sara: Deprê?

Ane: Chateado?

Lu: Tá puto com alguma coisa?

Adalberto: Não. Eu virei rato de academia.

Ane: Como assim?

Adalberto: Eu ouvi um pessoal lá no trabalho falando de Projeto Verão e resolvi aderir.

Marjorie: Gente...

Adalberto: Eu saía do trabalho voando, ia direto pra academia e ficava lá até a hora de ir pra casa dormir. Não tinha tempo pra nada.

Sara: Mas você não veio da academia agora.

Marjorie: Não mesmo. Com esse livro do Tolstói na mão.

Lu: Tá mentindo pra gente.

Adalberto: Não. É que ontem aconteceu uma coisa muito séria.

Sara: O que foi?

Adalberto: Ai, prima, dois caras caíram na porrada lá na academia. Um foi falar que o outro tinha o bíceps de frangote e porrada comeu feio.

Marjorie: Mas o que você tem a ver com isso?

Ane: Tentou separar a briga?

Lu: Não acredito que vcoê fez isso. Tá se achando o Incrível Hulk já?

Adalberto: Acha?

Marjorie: Então, o que aconteceu?

Sara: Fala, primo.

Adalberto: Eu fiquei com medo de me virar um deles no futuro, larguei os alteres que eu estava usando e fui correndo pra uma pizzaria.

Ane: E aí?

Adalberto: Hoje, eu acordei bem melhor, sem compromisso com projeto de nada.

Lu: E esse livro aí?

Adalberto: Foi só pra recuperar o tempo perdido. Estava numa biblioteca.

Marjorie: E a gente?

Adalberto: Eu ia deixar pra manhã.

Lu: Eu sou mais importante do que um livro?

Sabe que, em se tratando de um livro do Tolstói, eu fiquei na dúvida.

Adalberto: Não é isso.

Ane: Então, é o quê?

Adalberto: Ia deixar pra falar com vocês amanhã.

Sara: Por quê?

Adalberto: Porque amanhã é sábado, eu estou de folga e vou ter tempo pra ouvir as milhões de histórias que vocês devem ter pra me contar.

Sara: Tenho tanta coisa pra te contar do Oswaldo, primo. Acho que el andou aprontando.

Marjorie: Eu precisava da tua opinião sobre um carinha aí.

Ane: Conheci um safado, que aprontou uma comigo...

Viu? As mesmas coisas de sempre...

Lu: Eu fui estuprada.

Caramba. Isso não costuma acontecer.

Adalberto: Mentira! Lu, mentira! Prima, como é que isso aconteceu? Quem foi o safado? Eu vou matar!

Lu: Ninguém.

Adalberto: Como assim ninguém?

Lu: É mentira. Ninguém me estuprou. Era só pra te deixar com remorso.

E conseguiu.

Adalberto: Ah, tá...

Marjorie: Gente, vamos tomar uma cerveja?

Adalberto: Vamos. Depois dessa...

Sara: Tem Guaraná Antarctica, primo?

Adalberto: Tem. Na geladeira. Aproveita e traz as longnecks de todo mundo.

Depois de pizzaria do dia anterior, do livro do Tolstói de hoje mais cedo e, agora, da cervejinha bem gelada, assim, eu enterrei o meu Projeto Verão no melhor estilo: falando merda a noite toda com as minhas primas.