domingo, 30 de novembro de 2014

Lu vira mendigata, Ane apanha e o dia acaba com uma festa de aniversário surpresa

Na última quinta, 27 de novembro, foi meu aniversário. E o dia já começou pra mim com fortes emoções, com a primeira ligação.

Adalberto: Alô, você vai ser a primeira pessoa a me dar parabéns, é?

Marjorie: Vou. E você vai ser o último a saber que a Lu virou mendiga em Niterói?

Adalberto: Oi?

Marjorie: Na verdade, não é bem mendiga. É mendigata, que é a uma nova linhagem de subcelebridade. Uma espécie de mulher-fruta das ruas.

Adalberto: É muita informação a uma hora dessas. Acabei de acordar. Eu tenho que fazer alguma coisa ou você só quis me escandalizar com essa notícia?

Marjorie: A gente precisa tirar ela de lá, primo. Ela pegou o ponto de uma ex-mendigata, que ganhou um dia de princesa num desses programas vespertinos de fofoca, mas, depois dos 15 minutos de fama, voltou pras ruas e deu de cara com a Lu no lugar que ela morava. Parece que tá a maior confusão lá.

Adalberto: Tá. Vou passar aí pra te buscar, e a gente vai lá encontrar com essa maluca.

Eu tinha certeza que essa era mais uma surpresa de aniversário, como elas fazem pra mim todo ano. Essa história estava muito mirabolante. Mas, no caminho, a atuação da Marjorie me confundia.

Marjorie: O que todos os meus amigos vão dizer, se descobrirem que uma prima minha virou mendigata. É capaz até de eu perder cliente, sabia?

Adalberto: Como é que você descobriu que ela virou mendiga?

Marjorie: Mendigata.

Adalberto: Marjorie, eu me nego a usar essa palavra.

Marjorie: Por quê?

Adalberto: Porque eu acho mais digno ser mendiga, do que essa palhaçada.

Marjorie: Ela ligou pra Ane pra contar.

Adalberto: E cadê a Ane?

Marjorie: Estava numa DR com um peguete em Japeri e vai pra lá direto.

Adalberto: A Sara já sabe?

Marjorie: Sabe. A casa dela é perto de onde a Lu tá. Pelo tempo, ela já tá lá com os trigêmeos.

Adalberto: Por que ela levou as crianças pra essa baixaria?

Marjorie: Pra fazer chantagem emocional na Lu.

Quando chegamos, e vimos os trigêmeos da Sara brincando com Lu num colchão, no meio de uma calçada, tive certeza que se tratava de uma surpresa pra mim. A Ane, provavelmente, ia chegar com o bolo, e a festa ia ser no meio da rua. Elas sabem que eu sempre desconfio das surpresas, e, a cada ano, tentam ser mais originais.

Fui correndo falar com as crianças.

Adalberto: Meus amores! O dindo anda tão em falta com vocês.

Sara: Anda mesmo.

Lu: Se veio me tirar daqui, pode tirando o seu cavalinho da chuva.

Adalberto: Por mim, você morre de frio aqui nessa rua.

Não falei nada do meu aniversário, porque sabia que era uma surpresa pra mim. Queria ver até onde ia essa palhaçada.

De repente, da esquina, um monte de gente mal encarada veio na nossa direção.

Sara: Jesus, Maria, José, ela tá vindo com uma gangue te tirar daqui. Bem que ela falou. Vambora agora.

Marjorie: Aquela é a ex-mendigata, primo.

Lu: Quero ver alguém tocar um dedo em mim.

Sara: Eu vou levar os meus filhos daqui agora. Táxi!

Quando a Sara correu pra dentro do táxi, eu me apavorei.

Adalberto: Gente, isso aqui não é uma surpresa de aniversário?

Marjorie: Não.Vambora daqui agora, Lu.

Lu: Me larga. Eu não saio daqui, antes de gravar um programa de televisão. Ela teve a chance dela e não soube aproveitar. Eu quero ter a minha oportunidade. Isso aqui não é dela. Tá escrito o nome dela aqui, em algum lugar?

Peguei a Lu à força no meu colo.

Adalberto: Vambora, sua retardada. Na rua, a lei é do mais forte.

Lu: Me larga!

Adalberto: Segurar os braços dessa maluca, Marjorie. Ela tá me enforcando.

E corremos pro meu carro, com uma doente mental aos berros no meu colo.

Marjorie: Coisa mais feia, hein, dona Lu.

Lu: Por quê? Só porque eu tou correndo atrás de um sonho?

Marjorie: E isso sonho?

Lu: É, ué. Qual o problema?

Adalberto: O problema é que ninguém sonha em ser mendiga.

Lu: Mas eu quero ser mendigata!

Adalberto: Piorou.

Lu: Pra onde vocês vão me levar?

Adalberto: Pra minha casa. Eu mereço ter um aniversário digno.

Mas a Ane estragou os meus planos.

Marjorie: Alô. Oi, Ane. Ai, não acredito. Tá indo pra delegacia? Tá bom, a gente te encontra lá. A Ane chegou lá e não viu a gente, foi perguntar pela Lu e levou uns tapas da ex-mendigata, que acabou de retomar o ponto. Vamos pra delegacia daqui do bairro.

Adalberto: Não tou acreditando nisso.

A Ane estava toda descabelada, prestando queixa. E eu só queria explodir pra ver aquilo tudo acabar da pior maneira. Que desgaste psicológico!

A mendigata foi presa pela agressão. Mas como uma rede de televisão chegou lá poucos minutos depois, se propondo a pagar a fiança, só pra explorar ainda mais a imagem da pobre coitada, ela foi solta e voltou pras ruas.

E eu voltei pra casa. Irado!

Adalberto: Não vou levar ninguém em casa. Se vocês quiserem, dormem lá no meu apartamento ou peguem um táxi até a casa de vocês.

Ane: Eu vou ficar por lá hoje mesmo.

Lu: Eu também.

Marjorie: Vou decidir ainda.

E quando abri a porta de casa, estavam os meus pais, minha irmã, meu cunhado, meu sobrinho, a Sara, o marido e os trigêmeos, catando parabéns pra mim.

Marjorie: Gostou da surpresa?

Adalberto: Adorei.

Respondi sem saber o que foi surpresa de fato. Mas não queria falar das coisas que vivemos até ali na frente dos meus pais. Ele siam ficar preocupados à toa. Mas a curiosidade tomou conta de mim até o terceiro copo de cerveja. Do quarto em diante, eu só queria que aquele dia nunca mais acabasse, já que eu estava com as pessoas que eu mais amo nesse mundo.