sábado, 28 de setembro de 2013

Ane não é uma mulher de palavra

Depois de muita insistência da Ane, eu e a Sara topamos fazer uma trilha. O ponto de encontro, foi na academia que ela malha.

Adalberto: Por que você trouxe a gente aqui para dentro?

Sara: O pessoal vai sair em cinco minutos.

Ane: Vim mostrar para vocês onde eu faço meu treinamento funcional. É aqui. A gente usa esses elásticos, essas bolas.

Sara: E não tem aparelho?

Ane: Não, o seu corpo funciona como um aparelho. E você usa o seu peso a seu favor. É assim que a gente ganha massa muscular.

Sara: Mas eu não tenho como usar o meu peso a meu favor, se eu não peso quase nada. Esse negócio de treinamento funcional não ia dar certo comigo.

Ane: Então, se for assim, eu vou ficar como a Gracyanne. Eu não quero isso para mim!

Sara: Não mesmo?

Ane: Ai, acho que quero, sim. Sei lá, será que vão pensar que eu sou muito fútil, se eu fosse malhadona, como a Gracyanne?

Sara: Não sei, talvez. 

Ane: O que você acha, Adal?

Adalberto: Ane, vamos deixar para pensar sobre essa questão superimportante depois. O pessoal já vai sair.

Ane: Ai, Adal, você vai ficar chateado, se eu não for mais?

Adalberto: Claro que sim! Cara, eu sabia que você não tinha trazido a gente aqui para dentro só para isso.

Ane: Fiquei com medo de dizer que não ia mais, e vocês fazerem um escândalo comigo na frente de todo mundo.

Adalberto: Ane, eu quero matar você. Eu saí do Recreio, fui buscar a Sara em Niterói e vim aqui para a Zona Sul só para isso.

Sara: Ah, Adal, valeu pelo passeio, pensa assim.

Adalberto: Passeio? Eu acordei às cinco horas da manhã para estar aqui a essa hora. Isso não é um passeio. É um castigo.

Ane: O Edilberto me ligou, pedindo para eu levar o café da manhã para a filha dele lá em Niterói. Ele não vai conseguir sair do trabalho a tempo. Vai dobrar, aí já viu, né? Sobrou para mim.

Adalberto: Ah, sim, poxa. Aí, tudo bem. A menina é criança, né?

Ane: É, ela tem nove anos.

Sara: Ela fica em casa sozinha?

Ane: Não. Está com uns amiguinhos na porta de onde vai acontecer o show do Justin Bieber.

Adalberto: Como assim? Eu não ouvi isso.

Ane: Ela é completamente fã do Justin Bieber e quer ser a primeira e entrar, quando abrirem so portões.

Adalberto: Ane, e você compactua com isso?

Ane: Eu, não. O Edilberto compactua com isso. Eu só vou na onda dele. Adal, homem, hoje em dia, está muito difícil. A gente tem que abaixar a cabeça para algumas coisas.

Sara: Gente, eu jamais deixaria filho meu fazer uma coisa dessas. Loucura isso. E como a menina está indo para a escola?

Ane: Ela não está indo. Já estava mal mesmo nos estudos, tudo indicava que ia repetir. Aí, o pai deixou ela abandonar. Mas no ano que vem ela volta. É bom que já volta com uma cabeça melhor.

Adalberto: Que cabeça melhor? Com um pai desses, essa garota tem tudo para ser uma perdida na vida. Quando que é esse show?

Ane: Daqui a dois meses e meio.

Sara: O quê? E essa criança vai ficar morando numa barraca durante esse tempo todo?

Ane: Vai, ué. Eu não vejo problema nenhum nisso. O pai dela deixou. A gente faria o mesmo na idade dela, se fosse o New Kids on the Block.

Sara: É verdade.

Adalberto: Gente, na boa, eu vou embora. Estou ficando com raiva disso. E, principalmente, estou com raiva de mim, que vim até aqui à toa. Você vem comigo, Sara?

Sara: Primo, eu tenho que ficar. Eu falei para o Oswaldo que eu ia fazer a trilha. Se eu for para outro lugar ou chegar em casa mais cedo, ele vai desconfiar de mim.

Adalberto: Mas a essa hora, o pessoal já saiu.

Sara: Eu sei mas eu fico esperando eles voltarem. Aí, eu me molho um pouco para fingir que suei e, depois, volto para casa.

Adalberto: Não acredito nisso.

Sara: Adal, é o que a Ane falou: homem, hoje em dia, está muito difícil. A gente tem que fazer certas coisas, mesmo não concordando com elas.

Adalberto: Tchau, gente.

Deixei as duas loucas sozinhas naquele lugar.

Ane: Prima, eu não vou poder esperar aqui com você. Você vai ficar chateada comigo?

Sara: Claro que não.

Ane: Então, eu vou lá.

Eis que surge o ator Eriberto Leão.

Eriberto: Dá licença. Vocês sabem se o pessoal, que ia fazer a trilha da Carlinha já saiu?

O mundo tinha parado para a Ane naquele momento. 

Ane: É... trilha? Pessoal? Carlinha? Quê? Você também malha aqui? Quer dizer... Ai, muita informação, desculpa. O que é que você falou?

Eriberto: É que eu vim fazer a trilha da Carlinha, a professora. Ela já foi com o pessoal?

Sara: Olha, pela hora, já, sim.

Eriberto: Que pena, acordei meio atrasado, mas achava que dava para chegar a tempo.

Sara: Olha, mas se você correr, acho que você alcança eles.

Eriberto: Boa ideia. Vou fazer isso, então. Obrigado, meninas.

Sara: Ei, moço. Você não é o Eriberto Leão?

Eriberto: Sou eu, sim.

Sara: Você se incomoda de me dar um autógrafo? Na verdade, para mim e para o meu marido. Se você colocar só o meu nome, o meu marido vai pensar besteira, vai achar que eu te pedi um autógrafo, porque estava querendo me oferecer para você. Ele morre de ciúmes de mim.

Nada... A Sara adora acreditar que tem um marido ciumento, coitada.

Eriberto: Qual são os nomes que eu coloco aqui, então?

Sara: Sara e Oswaldo. Mas coloca Oswaldo na frente para não dar problema.

Eriberto: Beleza. Toma o seu autógrafo.

Sara: Obrigada.

Eriberto: Agora, deixa eu ir lá. Vou correr para tentar alcançar o pessoal na trilha. Mas se não der, vou curtir a natureza sozinho mesmo. Tchau, meninas.

E quando ele ia fechar a porta, a Ane, que estava paralisada, resolveu dar sinal de vida.

Ane: Eriberto!

Eriberto: Oi.

Ane: Eu posso ir com você? Qualquer coisa, se a gente não encontrar o pessoal, a gente curte a natureza juntos.

Eriberto: Perfeito. Vamos nessa, então?

Sara: Ué, então, eu vou com vocês.

Ane: Tchau, prima.

Sara: Ane, mas e a filha do Edilberto?

Ane: Edilberto? Quem é Edilberto? Agora, eu só sei quem é Eriberto, meu amor. Beijo!

E bateu com a porta na cara da prima.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Beyoncezinha Sara fica à beira de um ataque de nervos, por causa do Rock in Rio

Ontem, fui para um bar em Nikity me encontrar com a Sara. Ela disse que precisava conversar comigo fora de casa, mas não podia ir para muito longe, por causa dos trigêmeos.

Adalberto: Que saudade de você, minha linda. Tudo bem?

Sara: Não. E com você?

Adalberto: Comigo, sim. Só um pouquinho cansado, porque fui a todos os shows do Rock in Rio.

Sara: Primo, nem me fale nesse negócio de Rock in Rio, que eu estou a ponto de fazer macumba para o Roberto Medina.

Adalberto: Como assim, Sara? Por que isso?

Sara: O meu casamento está acabando, por causa dessa maldição de evento.

Adalberto: O seu casamento está sempre acabando desde a lua-de-mel, quando você me ligou do Marrocos para me dizer que Oswaldo estava paquerando uma mulher de burca, lembra? Você é muito neurótica, amore.

Sara: Tudo bem, eu confesso que eu exagerava muito no começo, mas agora eu estou mais tranquila. Ele é que continua safado. Você acredita que ele ficou babando pela Beyoncé?

Adalberto: Acredito.

Sara: Como assim acredita?

Adalberto: O Brasil inteiro babou pela apresentação dela.

Sara: Mas o Oswaldo é diferente. O Oswaldo é cachorro, Adal. Aquilo não vale nada. Ele fala de um jeito, que parecia que estava desejando a mulher. E a safada ainda fez a coreografia do lelek para deixar o homem louco... Ainda bem que a gente viu tudo pela televisão. Imagina se a gente tivesse ido? Ele ia subir no palco, e eu ia voltar solteira para casa.

Adalberto: Sara, não exagera. Você está tendo a mesma atitude de todos os anos, durante a transmissão do carnaval. Só que, em vez das passistas e madrinhas de bateria, agora você está com ciúme dele com a Beyoncé.

Sara: Claro. Imagina se calha dele cruzar com essa mulher, se apaixonar e ir embora com ela para não sei onde.

Adalberto: Olha como você viaja...

Sara: Os meus filhos iam ficar sem pai. Ele ia querer viajar atrás dela nesses shows, eu conheço o Oswaldo, ele é deslumbrado. Ia adorar ter uma mulher famosa.

Adalberto: Será?

Sara: Lógico que sim. E se bobear, ainda ia levar os meus filhos com ele, alegando, sei lá, que tem condições melhores de criá-los. E, realmente, com a Beyoncé, ele pode dar vida de rei para os nossos trigêmeos.

Adalberto: Sara, acorda, para com ciúme doentio.

Sara: Ai, primo, eu queria que no mundo só existissem as gordas, as feias e as caolhas.

Adalberto: Para com isso! E o que seria do Brasil? A nossa mulher é aclamada pelo mundo todo. Se não fosse pela beleza da Helô Pinheiro, não existiria a linda "Garota de Ipanema", do Tom Jobim. E o cinema sem o charme Marilyn Monroe? Dá para imaginar?

Sara: Com essas, eu não vejo problema. Uma já morreu e a outra já está aposentada, não me mete mais medo. A regra das gordas, feias e caolhas podia passar a valer depois que eu nasci. O meu casamento seria muito mais tranquilo.

E por uma coincidência absurda, vi o Oswaldo vindo na nossa direção com a Helô Pinheiro. Ainda bem que a Sara estava de costas pare eles.

Sara: Você acha que eu estou errada?

Adalberto: Amore, preciso ir ao banheiro. Um segundinho.

Liguei para o Oswaldo.

Oswaldo: Oi, Adal.

Adalberto: Ô cara de pau, dá meia volta agora!

Oswaldo: Por quê?

Adalberto: Eu estou com a Sara num bar, aqui na rua que você está caminhando com a Helô Pinheiro. Se ela vir vocês dois e descobrir, que a Garota de Ipanema ainda não se aposentou, ela vai te matar.

Oswaldo: Mas eu não estou fazendo nada demais. Encontrei por coincidência com a tia Heloísa aqui perto e estava levando ela até um ponto de táxi. Minha avó morou no prédio dela, Adal. Já brinquei muito com a Ticiane.

Adalberto: Não interessa! Eu sei que você é um boboca e não faz nada de errado, mas esqueceu que a tua mulher é neurótica? Inventa alguma coisa para a tia Heloísa e vai embora para casa. Ouviu?

Oswaldo: Está bem, Adal. Pode deixar. Super-obrigado.

Adalberto: Olha só, eu sou legal com você, porque sei que você anda na linha com a minha prima. Mas se um dia...

Oswaldo: Nunca! Eu amo a minha mulher mais que tudo. Ela é a minha Beyoncezinha.

Que lindo.

Adalberto: Oswaldo, esquece esse negócio de Beyoncezinha por ora. Até porque a Sara é branca. Melhor chamar de "meu amor" mesmo. Depois eu te explico.

E assim eu livrei a minha prima de um ataque histérico gratuito.

A Helô Pinheiro não merecia. Mesmo não estando aposentada, ela já é uma senhora.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Mentirinha boba garante a presença da Marjorie no show da Beyoncé

A Marjorie chegou ontem na minha casa meio chorosa.

Adalberto: O que foi, meu amor?

Marjorie: Vim trazer os ingressos do Rock in Rio.

Adalberto: Por que isso? A gente não combinou de se encontrar amanhã e ir direto?

Marjorie: Eu não vou mais?

Adalberto: Como assim? A Lu vai dar na tua cara, se você não for. Ela vai deixar de sair com aquele gringo para ir ver a Bionça com a gente.

Marjorie: Adal, eu estou sem condições psicológicas.

Adalberto: É?

Marjorie: Estou.

Adalberto: Faz o seguinte, então: toma uma cartela de Rivotril, que, na hora, você vai ter condição psicológica! Oh, Marjorie, você não é disso! Está parecendo a Sara, a Ane. Elas são dramáticas. Estou te desconhecendo, hein!

Marjorie: O Sébilo terminou comigo, primo. É sério.

Adalberto: Nada que venha do Sébilo é sério para mim. A não ser que rima. Fora isso, esse cara é um idiota.

Marjorie: Eu investi tanto nessa relação.

Adalberto: Jojô, você conheceu o cara e, uma semana depois, ele foi fazer uma viagem sabática. O cara vai ficar um ano pulando de país para país. Você ia mesmo ficar esperando?

Marjorie: Ia.

Adalberto: Por que isso?

Marjorie: Por amor, a gente faz qualquer coisa.

Mulher é muito burra.

Adalberto: Prima, você não está sendo inteligente. Que amor? Que investimento em relação? Amor precisa de convivência. Qual a convivência que vocês têm?

Marjorie: A gente se falava todo dia por Skype.

Adalberto: Ele te prendia todo dia por Skype. Você parou de sair com a gente para ficar enfurnada em casa, conversando com o Sébilo. Isso era investir na relação? Ficar distante dos primos? Ou era a banda larga vazando mega, de tão veloz, que você deve ter colocado na sua casa.

Marjorie: Para! Eu quero chorar. E vim aqui atrás do ombro amigo do meu primo! Será que você não me entende?

Não. Mas me comovo sempre que minhas primas me procuram para ser consoladas.

Adalberto: Claro que te entendo, amor. Deita aqui no meu colo.

Marjorie: Ainda bem que eu tenho você, primo.

Adalberto: Posso te falar uma coisa?

Marjorie: Claro.

Adalberto: Eu vi bem umas fotos do Sébilo na Austrália beijando uma mulher.

E ela levantou do meu colo num impulso acelerado.

Marjorie: Mentira.

Claro que era mentira.

Adalberto: Eu estou falando sério.

Marjorie: E por que você não me falou isso antes? Eu não vi isso.

Adalberto: Ele te bloqueia em alguns álbuns, prima. Mas esqueceu de fazer isso comigo. Olha, eu não ia te contar, não, mas...

Marjorie: Não, foi ótimo você ter me contado isso, Adal.

Adalberto: E agora? O que você pensa em fazer?

Marjorie: Ir ao show da Beyoncé amanhã e dar mole para geral. Eu não sou palhaça. Não vou ficar em casa, chorando por quem não me merece. Obrigada, primo. Te amo.

Perfeito! Garanti o time completo no Rock in Rio.

Mandei bem na mentirinha boba.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O dia em que as primas ficaram caidinhas pelo Eriberto Leão

Ontem, enquanto eu recebia a visita de um amigo ilustre, as primas resolveram me atazanar. Para variar, né?

A Lu foi a primeira desaforada a me ligar.

Adalberto: Fala, Luluzinha.

Lu: Adal, estou indo aí para a tua casa agora.

Adalberto: Lu, eu estou meio ocupado.

Lu: Como assim? Ocupado para mim? Eu sou sua prima e melhor amiga, esqueceu?

Adalberto: Não fala isso. Eu amo as minhas quatro primas igualmente.

Lu: Mentiroso! Você gosta mais da Marjorie, que eu sei. Não mete essa, não. A mim, você não engana.

Adalberto: Ah, não começa.

Lu: Você que começou. Olha só, eu estou indo para aí, sim. Quer você queira ou não.

Adalberto: Aconteceu alguma coisa?

Lu: Garoto, eu não vou dormir na minha casa hoje, não. Eu vi um fantasma no meu quarto.

Adalberto: Está maluca, Lu? Você não tem medo dessas coisas. Eu tenho!

Lu: Mas eu entrei para o seu clubinho hoje. Lembra da Jocilaine?

Adalberto: Aquela chata que fala errado?

Lu: Ela mesma. Foi lá em casa ontem aos prantos, porque o namorado terminou com ela.

Adalberto: Ai, que coisa mais chata. E você com isso?

Lu: Ah, meu bem. Ele inventou de fazer a brincadeira do copo, que, para mim, não tem nada de brincadeira. Foi perguntar para os espíritos se ela ia voltar para o imbecil. Aí, eles disseram que não...

Adalberto: Eles quem?

Lu: Os espíritos, idiota!

Adalberto: Ah, verdade.

Lu: Aí, sabe o que ela fez? Quebrou o copo na parede do meu quarto. Eu só faltei arrebentar a cara dela. Sabia que aquilo não ia dar em boa coisa. E não deu outra. Quando cheguei em casa, vi um vulto no meu quarto.

Adalberto: Lu, isso é coisa da tua cabeça. Se fosse para aparecer, eles teriam aparecido ontem. Você dormiu bem de ontem para hoje?

Lu: Dormi. Mas dormi na casa de Belisário. Aquele coroa que eu pego quarta, sim; quarta, não.

Adalberto: Está bom, biscate. Vem logo para cá, que eu vou puxar teu pé de noite.

E bateu lindamente o telefone na minha cara para, em seguida, a Ane me incomodar.

Adalberto: Fala, Anita. Me conta uma boa. Mas rápido porque eu estou com visita.

Ane: A Dona Sulamita.

Adalberto: Aquela velha mocoronga, que adorava reclamar do som alto, quando a gente fazia festa no seu apartamento?

Ane: Não fala assim, garoto.

Adalberto: Por quê?

Ane: Sei lá, vai que ela volte.

Adalberto: Para me assombrar? Mais ela tem que vir com duas almas penadas para me fazer cagar nas calças, meu bem. Não tenho medo dela, não. Está pensando o quê? Que, agora, só porque morreu, vai me botar medinho?

Ane: Garoto, me escuta!

Adalberto: Fala.

Ane: Eu vou dormir na sua casa hoje.

Adalberto: Ah, no acredito.

Ane: Pelo menos hoje. Amanhã, o padre Roselbo vai vir cedo benzer o prédio inteiro. Aí, eu vou ficar mais tranquila. Ele vai fazer tudo na moita. Não quero que a família pense besteira, que é para espantar a Dona Sulamina. Tenho que desligar, vou passar por uma blitz. Beijo.

E na chamada em espera estava a Sara.

Adalberto: E aí, periguete.

Sara: Não fala assim comigo. Se o Oswaldo escuta isso, ele te mata.

Adalberto: A mim, não. Ele tem que matar você, por dar confiança para eu te chamar assim.

Sara: Então, para.

Adalberto: Vou pensar. Mas fala.

Sara: Adalzinho, eu estou indo aí para o seu apartamento.

Adalberto: Como assim? Não vai dizer que também está com medo de espíritos, almas penadas e assombrações.

Sara: Como é que você sabe? Foi o Oswaldo que te falou?

Adalberto: Não.

Sara: Fala a verdade.

Adalberto: Não, ué. Só estou achando uma coincidência macabra todo mundo ter tirado o dia para ter medo da mesma coisa.

Sara: Mas é sério. Olha só, a gente inventou de pegar um gatinho na rua. Só que ele fala.

Adalberto: Fala?

Sara: Fala!

Adalberto: O quê, por exemplo?

Sara: Não dá para entender. Mas dá para dar medo. Olha, a gente já levou esse bicho para longe, para outro município, para um lugar deserto, mas ele volta. E o pior: fica encarando a gente. Até o Oswaldo que adora pagar de corajoso está se borrando de medo. Ele vai dormir com os trigêmeos na casa da mãe dele. Só que não tem vaga lá para mim.

Adalberto: Mas até quando?

Sara: Até amanhã. O nosso porteiro está indo de férias para a casa dos pais, em Fortaleza e vai levar o gato maldito bem cedinho amanhã. Não é possível que esse bicho vai voltar de Fortaleza.

Adalberto: É, também acho que não. Beleza, então, amore. Te espero.

Sara: Beijo.

E, para fechar com chave de ouro, a Marjorie e os seus medos.

Adalberto: Fala, Jojô da minha vida.

Marjorie: Primo, vou dormir na sua casa hoje.

Adalberto: Ah, conta uma novidade.

Marjorie: Como assim?

Adalberto: Nada, quando chegar aqui, você vai ver. Mas o que é que aconteceu?

Marjorie: Eu trouxe uma bolsa lá da fábrica para casa, para fazer uns ajustes, e você não sabe da maior.

Adalberto: O quê?

Marjorie: Tem uma vela preta, uma cruz e uma pena de galinha preta amarrados dentro dela.

Adalberto: Jura? Quem fez isso?

Marjorie: Não sei. Pelo que eu saiba, todo mundo me adora lá na fábrica. Acho que ninguém faria uma coisa dessas. Isso é que é o pior. Como é esse negócio foi parar logo na bolsa, que eu trouxe para casa?

Adalberto: Marjorie, alguém colocou. Macumba não brota, assim, do nada. Macumba é feita. E feita para alguém. No caso, você. Toma cuidado.

Marjorie: Cara, amanhã, eu vou mandar um pessoal de uma clínica, que tem lá perto, para fazer shiatsu nos meus funcionários. Também vou comprar brinquedo para os filhos de todo mundo e dar um cesta básica para cada um. Uma, não, duas. Não, três. E vou aumentar em trinta por centro o salário de todo mundo. Será que isso vai deixar eles mais satisfeitos?

Adalberto: Garota, você já paga bem aos seus funcionários. Tanto que todo mundo deixa currículo na tua fábrica. Você não precisa disso. Ok que você seja rica e possa fazer essas graças. Mas isso não tem nada a ver com insatisfação no trabalho. É coisa de gente invejosa. E que vai ficar ainda mais com inveja de ver que você está podendo dar aumento, cesta básica, etcetera e tal.

Marjorie: Jura?

Adalberto: Claro. Faz o seguinte: pega esses trinta por cento, que você ia dar para todo mundo de aumento, e transfere para a minha conta todo mês. Eu estou mais precisado do que eles.

Marjorie: Adal, não brinca com coisa séria.

Adalberto: Desculpa, Jojô. Mas eu não estava brincando. A situação está braba mesmo para o meu lado.

Marjorie: Está bom, primo. Quando eu chegar aí, a gente conversa. Beijo.

Finalmente, eu pude dar atenção ao meu amigo. Já furei muito com ele, por causa das minhas primas.

Ele está em cartaz com uma peça sobre a vida do Jim Morrison, e eu inventei uma doença atrás da outra para justificar a minha ausência nos fins de semana, no teatro em que ele está se apresentando.

Mas o cara é tão meu amigo e fez tanta questão que eu visse o espetáculo dele, que foi até a minha casa dar uma canja de algumas músicas, que ele canta no palco. E foi caracterizado de Jim Morrison. Ele ficou igual ao Jim. Se eu não tivesse visto ele antes de se caracterizar, ia achar que era o Jim ressuscitado. Impressionante.

O chato é que tive que ficar debaixo de um cobertor, me fazendo de doente, porque, no fim de semana passado, eu já tinha inventado uma virose para ficar com as minhas primas e faltar pela milésima vez à apresentação dele no teatro.

Eriberto: Cara, agora eu vou tocar  uma dos nossos tempos de festinha americana lá em casa. Você era um moleque, nem deve lembrar.

Adalberto: Claro que vou. Lembro de tudo daquela época. Lembro até gente não se falava direito, porque você namorava a minha irmã, e eu morria de ciúme disso.

Eriberto: Verdade. Ó, vou começar. Um, dois, três: "You know that it would be untrue You know that I would be a liar // If I was to say to you // Girl, we couldn´t get much higher".

E quando ele começou a cantar "Light my fire", eu não em aguentei. Me acabei, lembrei dos velhos tempos. De quando eu brincava de pique-pega na casa dele, e eu era café com leite. Cara, que saudade. Eu nunca perdia na brincadeira e ainda ficava com raiva. Quem dera que a vida fosse assim. Nunca perder... nada.

Adalberto e Eriberto: "Come on baby, light my fire // Come on baby, light my fire // Try to set the night on fire //".

Mas a bosta da campainha resolveu tocar no momento da nosso maior empolgação. Era o refrão da nossa vida que estava em questão. Droga!

Adalberto: Betão, faz um favor para mim, que eu estou doente, vê quem está tocando, por favor.

E quando ele abriu a porta, era elas. As quatro. Berrando. Assustadas.

Ane, Marjorie e Sara: Jim Morrison!

Sara: Ressuscitou!

E caíram desmaiadas.

Lu: Que Jim Morrison, o caramba! Esse é o gato do Eriberto Leão. Vem, Eri, deixa elas aí.

Eriberto: Mas não tem que chamar uma ambulância, elas precisam ser atendidas.

Lu: Não. Isso é palhaçada delas. Deixa que o Adal resolve isso. Adal, espera elas acordarem e dá uma voltinha com elas lá embaixo. Pode demorar, está bem? Beijo.

Adalberto: Eriberto!

Eriberto: Eu, é...

Lu saiu puxando o pobre coitado pelos braços para dentro do meu quarto. Foi acender o fogo dele.

E eu, fiquei apagando incêndio. Como sempre.