terça-feira, 28 de julho de 2015

Velho manco e banguela, sem querer, acaba com a festa junina da escola dos filhos da Sara

No domingo, fui com a Sara levar os trigêmeos na festa junina da escola e fiquei impressionado como as crianças de hoje em dia estão com a índole pior do que as da minha época. Uns meninos de seis, sete anos de idade, que mais pareciam a encarnação do exu capa preta, ficaram contando histórias de morte trágica pros meus afilhados, que só têm quatro anos. Fiquei possesso. E pior: com medo.

Adalberto: Sara, quero ir embora daqui agora.

Sara: Por que, Adal? Ainda vai ter a dança.

Adalberto: Posso dormir na tua casa?

Sara: O quarto de hóspedes tá em obras. Você não viu, doido?

Adalberto: Não tem problema. Eu durmo no meio dos escombros. Não! O velho manco e banguela surge dos entulhos.

Sara: Oi? De que você tá falando?

Adalberto: Sara, você não pode deixar a Lina, a Liana e o Gero andarem com crianças mais velhas do que eles. Elas não prestam.

Sara: Tá maluco?

Adalberto: Elas estavam contando histórias de terror e morte pros trigêmeos.

Sara: Ih, relaxa, primo. Eles não acreditam em nada disso. Eu falo pra eles que é tudo mentira. Você sabe como eles são, só acreditam no que eu falo. Não tem essa de monstro, fantasma, boi da cara preta, espírito que vaga...

Adalberto: Jura?

Sara: Tô te falando, eles não acreditam em nada dessas besteiras.

Adalberto: O espírito que vaga não existe mesmo? Nem o velho manco e banguela?

Sara: Adal, pelamordedeus, você acreditou?

Acreditei. Mas fiquei sem graça e mudei de assunto.

Adalberto: Lembrei que, amanhã, eu tenho que encontrar com a Ane. Acho que vou daqui direto pra casa dela. Assim, não perco o horário.

Sara: É. Você não tem a chave de lá? Ih, olha ali a Lu. Quem é aquele cara com ela?

Adalberto: Não sei. Vamos lá falar com ela?

O peguete novo da Lu tinha levado o filho para a festa. Ela parecia babá do menino, pra cima e pra baixo atrás de um capeta em forma de criança. Tive que dar uma sacaneada.

Adalberto: Já pode casar, hein...

Lu: Ih, vocês estão fazendo o que aqui?

Sara: Os meus filhos estudam aqui, ué.

Lu: Ih, pior que é mesmo! Sarita, eu tô em dívida com você. Pode me chamar de madrinha desnaturada, mas esse menino tem tirado o meu sossego.

Sara: Só te observo.

Adalberto: Cadê o pai dele?

Lu: Foi comprar caldo verde pro meu sogro. É a única coisa que aquele banguela toma. O cara não tem dente nenhum e ainda é manco. Dá mais trabalho que a criança. Vamos lá comigo pra eu te apresentar meu namoradinho, Adal? Vamos, Sarita?

O velho manco e banguela! Quase me mijei quando a Lu falou dele.

Sara: Vamos, sim.

Adalberto: Tá maluca? A quadrilha vai começar daqui a pouco. A gente tem que pegar os trigêmeos.

Sara: Ih, é verdade.

Enquanto procurávamos as crianças, a neurose da Sara, que estava demorando a se manifestar, me deu uma ótima ideia.

Sara: Primo, olha ali o Oswaldo conversando com aquela mulher. Tem cara de piranha, não tem?

Adalberto: Realmente. Eu vi mais ela mais cedo pegando o peguete da Lu atrás de uma pilastra.

Sara: Ué, mas a Lu não chegou agora?

Adalberto: Não. Agora que a gente viu a Lu na festa. Mas ela já devia ter chegado há tempos, porque eu vi o carinho que estava com ela se atracando com essa piranha. Mas não comenta nada com ela, não.

Eu sabia que a Sara ia contar. Elas não se traem. Eu sei que foi meio maldade da minha parte, mas eu não podia permitir uma prima minha namorando o filho do velho manco e banguela.

Depois da quadrilha, não deu outra. A Sara foi direto bater pra Lu que a piranha tinha dado uns beijos no peguete dela. Foi lindo. E como baixaria é com a Lu, ela foi eficiente no trabalho de quebrar a festa inteira, arrebentar a cara da piranha e dar uma boa de uma joelhada no saco do peguete que, depois dessa, virou ex.

Adalberto: Vamos embora daqui agora, Lu! Chega de confusão!

Sara: Vamos, prima. Você precisa tomar uma água com açúcar. Vamos lá pra casa, dorme lá.

Adalberto: Ué, tem vaga pra Lu, mas não tem pra mim na tua casa?

Sara: Adal, é um caso de emergência. Vou botar um dos trigêmeo pra dormir no meu quarto comigo e o Oswaldo, e a Lu numa das camas do quarto deles.

Adalberto: Eu durmo na sala.

Sara: A sala não tem espaço. Tá com as tralhas todas do quartinho que tá em obras.

Que saco!

Adalberto: Vou pra casa da Ane mesmo.

Sara: Melhor, primo.

Fui com o cão no corpo de raiva pra casa da Ane. E as histórias macabras daquelas crianças voltaram a rondar na minha cabeça, durante o percurso escuro e frio entre Niterói e Humaitá.

Cheguei na casa da Ane e, pro meu terror, quando acendi a luz, havia uma cabeça de boi em cima da mesa da sala. E era do boi da cara preta. Berrei me medo!

Ane: Que isso aqui?!

Adalberto: Calma, Ane, sou eu!

Josicleidson: Você conhece esse doido:

Ane: É meu primo.

Adalberto: Ane, o boi da cara preta tá em cima da tua mesa!

Ane: Ai, Adal, que susto! Isso aqui não é o boi da cara preta! Aliás, é um boi da cara preta, sim.

Adalberto: Não encosta nisso! Você vai morrer.

Ane: Mas é tipo um adereço, que faz parte da apresentação de dança do Josicleidson. Pega só pra você ver.

A Ane vindo na minha direção com aquele boi da cara preta parecia um pesadelo, a visão do inferno. Desci doze andares até o térreo de escada e saí do prédio igual a um louco ensandecido. Ainda bem que o porteiro me conhece, senão ia pensar que eu era ladrão.

Fui pro Leblon, pra casa da Marjorie. Lá eu não corria perigo. Tudo bem que a Marjorie estava com uma juba de leão que, num primeiro momento, me deu até um certo medo. Mas fiquei tranquilo quando vi que era ela mesma.

Obviamente que tomei um megaesporro por ter chegado esbaforido àquela hora. Mas de esporro eu não tenho medo. Só de velho manco e banguela, boi da cara preta e de uma meia-dúzia de outros personagens macabros mesmo.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Sogro de Marjorie, reencarnado num coelho, morre no aeroporto e me salva do final do filme 'Magic Mike XXL'

No sábado, fui ao cinema com Ane e Lu, mas parecia que eu estava na feira. Elas não paravam de falar.

Lu: A bundinha do Mike é deliciosa, hein.

Ane: Nem fala, prima. Tô ovulando aqui.

Adalberto: Gente, será que vocês podem falar mais baixo? Daqui a pouco, vou expulsar a gente daqui. Já não basta eu ser o único homem vendo "Magic Mike XXL"? Tenho que passar mais vergonha com vocês mesmo?

Nisso, o meu celular toca, a mulherada toda reclama, e eu saio da sala, fazendo cara de "vou ali tirar minha mãe da forca rapidinho e já volto". Ane e Lu cagaram solenemente para mim. Estavam tão envolvidas com as cenas de strip-tease do filme, que nem repararam na minha saída.

Era a Marjorie no telefone.

Adalberto: Fala, Jojô.

Marjorie: Adal, você precisa me salvar agora.

Adalberto: O que aconteceu?

Marjorie: A mãe do Fredismarlon teve problema com o marido dela no Galeão.

Adalberto: Eles brigaram? Ela passou mal? Morreu?

Marjorie: Não. Ele é um coelho.

Adalberto: Para de sacanagem, Marjorie. Eu acabei de sair do meio da sessão do filme "Magic Mike XXL". Por hoje, chega, né?

Marjorie: É sério, primo. A minha sogra acha que o marido, que morreu há séculos, reencarnou num coelho. Só  porque o bichinho tem um olho azul e o outro verde, como o meu sogro tinha. Ele trouxe ele de Portugal pra cá.

Adalberto: E você quer que eu faça o que, além de rir disso?

Marjorie: Que você fale com aquela sua amiga do Pio XI pra ela liberar a entrada dele no país. Ele tá preso no aeroporto.

Adalberto: Você quer que eu fale com a Michaelle? Que você sacaneou a vida inteira? Tá maluca?

Marjorie: Nossa, mas era coisa de adolescente. Tem mais de 20 anos que não a vejo. A mágoa dela nunca expira?

Adalberto: Não sei. Vou ligar pra ele e já te falo.

Marjorie: Implora pra essa raquítica, pelamordedeus!

Adalberto: Marjorie!

Marjorie: Desculpa! Adal tenho que desligar, beijo.

E quando eu achava que estava ligando pra minha amiga do tempo do primeiro grau...

Sara: Fala, primo.

Adalberto: Sara? Eu te liguei?

Sara: Não. Eu te liguei.

Adalberto: Sarita, eu preciso deligar. Tenho que resolver um problema pra Marjorie.

Sara: Você tá onde?

Adalberto: Aqui no cinema do Shopping Metropolitano.

Sara: Ah, foi providência de Deus isso, primo, que bom! Olha, só, eu preciso que você passe na farmácia e compre um remédio para Joelma, aquela minha amiga do Méier. A bolsa dela estourou antes do tempo, e ela acabou de parir na Perinatal. Detalhe: o marido dela tá viajando, a mãe tá cuidando do neném do outro filho, e eu tô aqui com os trigêmeos gripados, sem poder sair de casa.

E a trolha sobrou pra mim. Contei até mil em dois segundos e respondi:

Adalberto: Tá bom. Qual remédio?

Sara: Sabia que podia contar com você.

Por uma coincidência absurda, encontrei com a Michaelle na maternidade.

Michaelle: Garoto, quanto tempo! Tá fazendo o que aqui?

Adalberto: Oi! Mika, eu preciso falar com você. Sério, eu ia te ligar agora.

Michaelle: Mentira.

Adalberto: Realmente, é mentira. Mas eu ia te ligar há uma hora atrás. Preciso que você me ajude a resolver um problema.

Michaelle: Sabia que era pra pedir alguma coisa.

Adalberto: Não fala assim. Nem é pra mim. Você ainda tá trabalhando com aquele negócio de liberar entrada de animal no país?

Michaelle: Tô.

Adalberto: Então, o coelho da sogra da Marjorie tá preso no Galeão.

Michaelle: Marjorie é aquela sua prima que me chamava de raquítica, desnutrida, morta de fome e Olívia Palito?

É, pelo visto, quem sofre bullying nunca esquece.

Adalberto: Você não superou?

Michaelle: Eu fiz psicólogo por causa dela.

Adalberto: Mas não tem como quebrar essa por mim?

Michaelle: Só se ela se ajoelhasse aos meus pés.

Adalberto: Eu vou ligar pra ela. Acho que rola. Só preciso ir ali entregar um remédio pra uma amiga de uma outra prima, que teve filho, e o marido tá viajando?

Michaelle: A Joelma? Meu marido também é amigo dela e me ligou pra trazer esse remédio. Quando cheguei aqui, ela já tinha 15 caixas do remédio. Parece que eles divulgaram num grupinho de WhatsApp.

Adalberto: Não acredito! Bom, pelo menos, eu te encontrei aqui. Vamos tomar um chope em algum bar? De lá, eu ligo pra minha prima.

Michaelle: Eu tenho que ficar aqui. Meu marido me monitora pelo celular. Se ele vir que eu tô num bar, ele me mata.

Adalberto: Sério?

Michaelle: Estava difícil de arrumar homem pra casar.

Adalberto: Bom, vou ligar pro Marjorie e pedir pra ela vir pra cá.

Meia-hora depois, chegam Marjorie, a sogra, Ane e Lu.

Lu: Tu saiu do cinema e nem falou com a gente, seu retardado?

Adalberto: Ah, resolveu sentir a minha falta?

Marjorie: Tudo bem, Michaelle? O Adal falou comigo que você pode ajudar. quanto que eu tenho que te pagar?

Michaelle: Você não falou com ela, Adalba?

Adalberto: Eu falei que tinha um preço. Jojô, você tem que beijar os pés dela.

Michaelle: Ha-ha-ha, surtou, né?

Adalberto: Não, é sério.

Michaelle: Aproveita que eu nem tô com chulé hoje.

Marjorie: Sua vagabunda raquítica, eu vou te arrebentar a cara.

Sogra da Marjorie: Não vai arrebentar a cara de ninguém! Olha só, se você não beijar o pé dela pra liberar o meu marido, eu vou fazer macumba pra você terminar com o meu filho!

Nessa, a Marjorie se ferrou. E eu cheguei a conclusão de que as mulheres estão fazendo tudo pra conservar os seus machos. Aceitam ser monitoradas pelo celular, beijam os pés das inimigas...

E depois de se humilhar, beijando o pé da minha amiga, a ligação que a Marjorie recebeu foi de cortar os pulsos.

Lu: O que aconteceu, Marjorie? Que cara é essa?

Ane: Fala, prima!

Marjorie: Meu sogro morreu. Parece que ficou muito estressado, a pressão subiu e ele não resistiu. A menina que me ligou disse que ele foi atendido na emergência do aeroporto, mas como não tem veterinário lá, não souberam bem como proceder.

Sogra da Marjorie: Não! Meu marido!

Lu: Ué, mas foi veterinário mesmo que eu ouvi?

Adalberto: O sogro da Marjorie era um coelho. Não ri.

Ane: Como assim?

Adalberto: Ele reencarnou num coelho.

Enquanto a viúva estava aos prantos e era consolada pela Marjorie, Ane, Lu e Michaelle se mijavam de rir. Eu consegui segurar.

Sogra da Marjorie: Preciso ver meu marido.

Marjorie: Claro. Eu vou com a senhora. Só preciso dar um beijo na Joelma e ver o bebê. Vamos comigo rapidinho?

Lu: Primo, vamos tomar um chope?

Adalberto: Vamos! Jojô, eu vou embora com a Lu e a Ane.

Marjorie: Tá bom.

Conseguimos cumprimentar a sogra da Marjorie segurando a vontade de rir.

Adalberto: Tchau, Mika.

Michaelle: Tchau, amigo. Da próxima vez que precisar, é só dar beijo no pé, que eu resolvo o problema.

Marjorie: Sua vaca. Me aguarde!

No bar, o assunto era o coelho. A gente ficou relembrando a história mil vezes e, em todas elas, ríamos histericamente. O pessoal da mesa ao lado não conseguia conversar, estava irritado com a gente já.

Quando o garçom veio trazer uma porção de croquete, ele aproveitou pra avisar que o meu celular não parava de tocar. Era a Marjorie.

Adalberto: Fala, Jojô.

Lu: Manda ela vir pra cá.

Ane: Agora! A gente precisa dela aqui.

Adalberto: Peraí, gente, deixa eu ouvir.

E era inacreditável o que eu estava ouvindo.

Adalberto: Vocês não sabem da maior. A sogra da Marjorie sequestrou o filho da Joelma., e elas foram levadas pra 16ª DP.

Ane: Como assim?

Adalberto: Parece que a bebê nasceu com um olho azul e o outro verde, como era marido dela e o coelho tinham, e a louca, mais uma vez, achou que era o morto tinha reencarnado.

Lu: Mas o que a Marjorie tem a ver com o sequestro?

Adalberto: Pelo que eu entendi, nada. Mas a doida é sogra dela, né? Deve ter botado a nossa primo no meio da história.

Lu: Uma sogra como essa é pior do que macumba.

Ane: Exconjura essa mulher, meu pai! Que encosto!

A Marjorie tinha mesmo que se benzer. E foi o que fizemos depois que saímos da delegacia. Fomos eu, ela, Ane e Lu para um centro espírita. Tomamos passe e, depois, claro, fomos pra outro bar, tomar mais cerveja pra comemorar o fim do relacionamento da Marjorie com o Fredismarlon.

Não dá pra namorar o filho de uma maluca com um coelho, né?

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Minha experiência com a Arnold Classic: três semanas internado num hospital

Acabei de entrar em casa. E essa é uma das sensações mais felizes da minha vida. Nunca imaginei que, entrar dentro da minha própria casa, fosse me provocar tamanha emoção. Mas, depois de três semanas internado no Barra D'Or, o sentimento não poderia ser outro.

Se eu tivesse como voltar no tempo e mudar o rumo dessa história, eu não tentaria curar uma dor de cotovelo da Marjorie, quando fui buscá-la no aeroporto, no dia que ela terminou com o Felicianderson:

Adalberto: Não chora, Jojô.

Marjorie: Eu acreditei quando ele disse que me amava.

Adalberto: Mas ele podia estar falando a verdade. O problema foi ele ter se apaixonado pelo personal trainer. Mas eu acho que, se esse cara não aparecesse na vida dele agora, o teu sofrimento só ia ser adiado pra daqui a, no máximo, uns 15 anos, quando você vai estar velha, pelancuda e com um monte de filho.

Marjorie: Por que, primo?

Adalberto: Porque ele é gay e não sabia. Uma hora, ele ia descobrir.

Marjorie: Mas podia ser antes de eu enjoar dele, né?

Adalberto: Ah, então, você não amava o Felicianderson também.

Marjorie: Ah, mas estava curtindo.

Adalberto: Engole o choro agora!

Encostei o carro em frente ao primeiro bar que vi na minha frente e dei uma ordem a ela:

Adalberto: Compra uma garrafa de 51. Vou te ajudar a sair dessa.

E enquanto eu ia com a farinha, ela vinha com o bolo. Ou melhor, com um fortão de mais ou menos uns dois metros de altura.

Marjorie: Adal, ele não deixou eu comprar a 51.

Adalberto: Como assim? Quem é ele?

Flavíssimo: Prazer, Flavíssimo.

E essa era a primeira pessoa, que conheci na minha vida, que tem o nome no superlativo.

Adalberto: Prazer, Adalberto.

O aperto de mão dele foi apertadíssimo. Tudo o que o Flavíssimo fazia era no superlativo.

Marjorie: Adal, ele vai com a gente... Pra sua casa.

Adalberto: Oi?

Marjorie: Ele é fisiculturista, veio competir no Arnold Classic. Estava perdido, pedindo informação no bar. O amigo que ia dividir hotel com ele deixou ele na pista, tá com o telefone desligado, é mole?

Adalberto: E eu com isso?

Bem, eu tive que entubar essa. E, no meio do caminho, quando um carro me deu uma cortada, ele colocou quase o corpo inteiro pra fora da janela e mostrou a que veio.

Flavíssimo: Ô, mermão, tá a fim de morrer?

Marjorie: Flavíssimo, cuidado!

Adalberto: Deixa pra lá, querido. Trânsito aqui no Rio é assim mesmo.

Flavíssimo: É assim porque vocês são um bando de conformados! Se não der porrada num cara desses, ele nunca vai aprender.

Eu e Marjorie ficamos calados.

Flavíssimo: Foi mal, gente. Essas coisas já me irritam, e eu ainda tô numa dieta frenética. Aí, já viu, né? Dá vontade de quebrar tudo.

Marjorie: Te entendo.

Flavíssimo: Então, me dá um beijo. Anda, quer apanhar? Tô brincando, eu não sou um cara violento, não.

Quando cheguei na porta do meu prédio, fui parado pelo segurança.

Segurança: O senhor tá sem o tag do estacionamento.

Adalberto: Putz, esqueci no carro da minha irmã. O meu carro estava consertando, e eu usei o carro dela. Pego mais tarde, pode ser?

Segurança: Infelizmente, não posso deixar o senhor entrar.

Flavíssimo: Como é que é?

Segurança: Eu não vou poder deixar ele entrar sem o tag do estacionamento. Foi isso que eu disse.

Adalberto: Flavíssimo, por favor. Tá tudo bem, eu vou estacionar aqui fora mesmo.

Flavíssimo: Tudo bem? Eu vou mostrar pra ele como é que fica tudo bem.

E com aqueles braços do tamanho das minha coxas, ele quebrou a cancela do meu prédio, pegou o segurança pelo colarinho e me obrigou a entrar com o carro.

Adalberto: Marjorie, esse homem não vai ficar na minha casa.

Marjorie: Calma, Adal. Entra com o carro. Lá dentro eu vou resolver isso.

Adalberto: Ele vai pagar o conserto da cancela.

Marjorie: Você vai ter coragem de falar isso pra ele.

Adalberto: Putz, tem isso ainda... Deixa que eu pago, tá muito cedo pra morrer.

Marjorie: Eu pago, primo.

Dentro da minha própria casa, eu agia pisando em ovos:

Adalberto: Flavíssimo, você quer tentar ligar pro teu amigo do meu celular? Quem sabe não é o teu aparelho que não tá funcionando direito aqui no Rio...

Flavíssimo: Tá maluco? Comprei esse aparelho tem menos de um mês.

Adalberto: É, não deve ser isso, me perdoa.

Marjorie: Você não quer tomar banho?

Flavíssimo: Tô fedendo, por acaso?

Marjorie: Não, mas você veio do Rio Grande do Sul de ônibus! Foram horas de viagem.

Flavíssimo: E daí? O ônibus tem ar-condicionado. Tá me chamando de porco? Tá? Responde!

Adalberto: Flavíssimo, não liga, não. A Marjorie tem essa mania de limpeza. Ela também vive me mandando tomar banho.

Flavíssimo: Tem o que pra comer?

Adalberto: Então, uma outra prima nossa tá trazendo uma lasanha de quatro queijos.

Flavíssimo: Tá maluco? Ninguém aqui vai comer lasanha na minha frente! Eu tô de dieta, vou competir amanhã! Ou manda ela trazer batata doce com frango grelhado ou manda ela voltar pra casa e ficar uma baleia sozinha.

Olhei pra Marjorie com cara de cu.

Marjorie: Eu ligo pra ela, Adal.

Nessa hora, a campainha tocou. Era a Lu com a lasanha.

Adalberto: Lu, é melhor você voltar.

Lu: Como assim?

Adalberto: Você não vai poder entrar aqui em casa com essa lasanha.

Lu: Tá maluco? Eu não vim de Del Castilho, de ônibus, carregando esse peso, pra ter que voltar. Não sou palhaça!

Flávíssimo: Nem eu!

Lu: Quem é idiota?

Flavíssimo: Você vai ver quem é o idiota, sua vagabunda!

Quando ele voou pra cima da Lu, consegui me meter na frente. E livrei a minha prima do maior espancamento que ela poderia ter tomado na vida. Em compensação, fui parar na emergência do Barra D'Or.

O bom de ter voltado pra casa, depois de três semanas internado, foi os mimos que recebi das primas:

Ane: Trouxe um saco de Serenata de Amor pra você!

Adalberto: Oba!

Sara: Eu fiz o Oswaldo ir tarde da noite comprar morango. Fiz com creme de leite.

Adalberto: Hummm...

Marjorie: Eu trouxe o dinheiro da cancela. E um cartão. Desculpa, primo!

Adalberto: Você não tem que me pedir desculpa. Ah, tem, sim! Não vou fazer média com você.

Lu: E eu trouxe lasanha aos quatro queijos!

Sara: E pelo cheiro, tá saborosíssima.

Adalberto: Saborosíssima? Assim, no superlativo? Quero não...

Olhei pra cara da Marjorie e nunca mais paramos de rir.

sábado, 4 de abril de 2015

Branco e dourado ou azul e preto? ou O mundo entra em guerra, por causa do vestido da Sara

No domingo passado, tudo o que eu queria era dormir até segunda. Mas a Sara arruinou o meu projeto logo pela manhã, quando começou a ligar incessantemente para o meu celular. Só atendi na vigésima quinta vez que ela me ligou, porque fiquei preocupado. Pensei logo em besteira.

Sara: Adal, eu quero matar o Oswaldo.

Adalberto: Você me ligou só pra falar isso?

Sara: Primo, é sério. Você precisa vir aqui em casa agora pra me salvar.

Adalberto: Ah, eu? Pede pro Oswaldo. Ele casou com você só pros bons momentos? Não! Eu estava na igreja, e ouvi ele dizendo que era na alegria e na tristeza. Cobra dele aí.

Sara: Eu não estou disposta a olhar na cara do Oswaldo.

Adalberto: E eu não estou disposto a levantar da minha cama. Simples, né?

Sara: Adal, é sério, eu tenho um batismo pra ir em duas horas. Vou ser madrinha. Já quebrei a casa inteira no Oswaldo, não quero olhar na cara dele. Preciso que você passe naquela lojinha perto da casa da Ane, que a Marjorie adora, e compre um vestido branco com dourado.

Adalberto: É sério isso?

Sara: Muito! E urgente também. O Oswaldo fez o favor de comprar um azul e preto, e eu, inocente, só fui dar conta disso hoje, quando tirei o vestido da caixa. O pior é ver o Oswaldo com aquela cara de safado, rindo de mim, dizendo que o vestido é branco e dourado. Ai, que ódio! Varei tudo que vi pela frente em cima dele.

Adalberto: E os trigêmeos?

Sara: Estão de castigo.

Adalberto: Por quê?

Sara: Porque são uns mal educados. Vão fazer quatro anos, mas já ficam de deboche. Os três ficaram da palhaçada com o pai, falando que o meu vestido é, sim, branco e dourado. Botei de castigo! falei com eles: "ah,é branco e dourado? Então, vocês só saem do quarto quando ele ficar azul e preto". Acabei logo com a graça deles. Estão chorando os três lá no quarto. Acho que se assustaram com a quebradeira aqui em casa.

Adalberto: Sua maluca! Tou indo aí agora ficar com os meus afilhados.

Sara: Mas passa na loja antes e compra o meu vestido. Senão, você nem entra.

Comprei o cafona vestido branco e dourado com ódio mortal da Sara. Minha vontade era voar na jugular dela. Como é que pode deixar três crianças apavoradas dentro de um quarto, enquanto ela quebrava a casa inteira em cima do marido? Muita irresponsabilidade!

Cheguei na casa dela cuspindo fogo.

Adalberto: Toma essa porcaria e vai te embora pra esse batismo. Vou levar meus afilhados pra sair.

Sara: Desculpa, primo. Eu ando meio assim, porque acho que o Oswaldo anda fazendo essas coisas pra me desestabilizar, pra eu terminar com ele. Ele não deve ter coragem de pedir o divórcio e tá fazendo tudo pra eu tomar essa decisão.

Adalberto: Sara, desde o primeiro diz que vocês começaram a namorar, você acha que o Oswaldo não quer nada com você. E vocês ficaram noivos, casaram, tiveram três filhos e ele continua não te querendo? Como é que você aguenta viver com essa dúvida desde sempre?

Sara: Agora é diferente, primo. Olha aqui esse vestido.

Adalberto: Branco e dourado. Igual ao que eu comprei.

Sara: Como assim, Adal, até você vai ficar de palhaçada?

Adalberto: Não, tou falando sério. Gero, Lina e Liana, podem sair do castigo! A mãe de vocês tá maluca! É claro que isso aí é branco e dourado, Sara! Você tá daltônica?

Sara: Gente, não pode ser. Será? De qualquer forma, deixa eu passar o vestido que você comprou. Não precisava pedir pra embrulhar, primo.

E quando ela desembrulhou o vestido, eu tomei um susto.

Adalberto: Gente, mas esse vestido era branco e dourado.

Sara: Ué, mas ele é branco e dourado.

Adalberto: Óbvio que não! Azul e preto, tá cega?

Sara: Para de bobeira, Adal!

Adalberto: Eu tou falando sério. Crianças, Oswaldo, vêm aqui rapidinho, por favor!

E pra ira da Sara, todos estava enxergando vestido da mesma cor que eu.

Sara: O que é que foi? Que circo é esse que vocês estão armando?

Adalberto: Ninguém tá armando circo nenhum. A vendedora deve ter se enganado e, na hora de embrulhar, pegou o vestido de outra cliente. O fato é que esse vestido é azul e preto e o outro, sim, é branco... Não! É azul e preto também! Meu Deus, tem fantasma nessa casa. O vestido branco e dourado ficou azul e preto.

Oswaldo: Não, ele continua branco e dourado. O que você comprou, que era azul e preto é que também virou branco e dourado.

Sara: Para, gente! Agora, eu também tou vendo tudo azul e preto.

Adalberto: Gente, o vestido que eu comprei voltou a ser azul e preto. Crianças, voltem pro quarto de vocês agora!

Sara: Adal, o que tá acontecendo com a gente?

Oswaldo: Será que eu tou ficando maluco.

Adalberto: Vamos rezar! A gente precisa pedir pra esses espíritos do mal se afastarem daqui.

Sara: Adal, eu tenho um batizado agora. É do filho de uma amigona da época do Martins.

Adalberto: Esquece isso por ora.

Sara: Tá maluco? Eu preciso ir.

Oswaldo: Eu também vou. Você fica com as crianças?

Adalberto: Não! Ninguém sai!

A Sara ligou pra amiga, dizendo que estava com muita dor de barriga e sugerir de transferir o batismo pra outro dia. O problema é que o padrinho tinha vindo de Manaus só pra batizar o bebê e não ia poder retornar ao Rio até o fim do ano.

Foram todos pra casa da Sara e o batismo aconteceu na sala dela. Os convidados também se dividiram entre os que acharam que o vestido da Sara era branco e dourado e os que tinham a certeza que era azul e preto. O pior é que depois, como aconteceu comigo, eles mudavam de opinião e começava uma discussão. Teve gente que terminou casamento de anos, mãe deu na cara de filho, avó botou neto de castigo... Tudo porque ninguém chegava a um denominador comum. A cor certa, no caso...

Depois de batizar o bebê da amiga da Sara, o padre, que também já estava com a paciência esgotada, por causa do vestido da Sara e ao mesmo tempo bolado,  passou incenso na casa inteira pra afastar aquele encosto que estava de palhaçada com a nossa cara.

Mas o vestido continuava mudando de cor. Era só eu ir ao banheiro e voltar, que ele já estava diferente.

Resolvi tirar uma foto da Sara - obviamente, tive o cuidado de cortar o pescoço dela pra evitar expor minha prima - e publiquei no meu Facebook com a pergunta: "É branco e dourado ou azul e preto?".

E o mundo entrou em guerra por causa disso.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Eike loucura! ou O real motivo que fez o juiz Flávio Roberto de Souza tirar onda pelas ruas do Rio, com o Porsche do pai de Thor, Olin e Baldur Batista

No domingo passado, resolvi fazer uma visitinha surpresa à Ane. E não imaginava que seria o pontapé inicial pra eu realizar um dos maiores sonhos da minha vida.

Ane: Adal?!

Adalberto: Tô atrapalhando alguma coisa?

Ane: Não. Só um instantinho. Eu tô no telefone. 

Adalberto: Ah, tá, foi mal.

Ane: Fala moco-moco, é o meu plimo que veio aqui me ver. Mas o que eu estava falando mesmo, bebusungo? Ah, lemblei! É que tô com muita saudadinha de vochê. Muita, muita, tá, meu cochincocho?

Cara, uma das coisas que mais me irrita nessa vida é ver gente velha falando que nem bebê.

Adalberto: Ane, você ficou retardada? Desliga essa maldição agora!

Ane: Cala a boca, Adal!

Tomei o celular da mão da Ane e bati com o telefone na cara do imbecil, que estava falando com ela.

Ane: Tem noção do que você fez?

Adalberto: Tenho! Tô te salvando do ridículo, sua idiota! Que palhaçada é essa de ficar falando que nem bebê com homem, Ane? Não lembra daquela pesquisa, que saiu na Marie Claire, que dizia que casais que falam como bebê têm instinto assassino? Esse cara vai acabar te matando!

Ane: Esse cara se chama Flávio Roberto de Souza. Meu futuro marido.

Adalberto: Tá maluca? Isola! Você não vai casar com homem, que alimenta a tua imbecilidade. Eu não vou deixar!

Ane: Vem cá, você ligou o nome à pessoa? Sabe que é o juiz Flávio Roberto de Souza? Titular da 3ª Vara Criminal e responsável pelo processo contra o empresário Eike Barista? Tá bom pra você?

Adalberto: O quê? Garota, você tem que engravidar desse homem agora. Cadê ele? Liga pra ele, pede desculpas por eu ter batido o telefone na cara dele. Implora o perdão desse homem, se rasteja por ele. Anda!

Ane: Calma, Adal. Quando você tomou o telefone de mim, ele tinha dito que precisava desligar mesmo. Ele estava no meio de uma audiência e tinha inventado de ir ao banheiro, só pra dizer me amava. Mas já estava muito tempo fora. Ele não é lindo?

Adalberto: Ele é. Lindo, fofo, maravilhoso, incrível, tudo.

Ane: Mas ele é casado.

Adalberto: Ah, não acredito! Ah, quer saber, vamo parar de caretice? Não vejo problema nenhum nisso.

Ane: Você é um interesseiro!

Adalberto: Não sou.

Ane: É, sim!

Adalberto: Tá bom, eu quero andar de Porsche. Pronto, falei!

Ane: Como assim?

Adalberto: Ele apreendeu o Porsche do Eike Batista, e eu sou louco por esse carro, prima. Realiza o meu sonho?

Ane: Claro que não, tá maluco?

Adalberto: Tô, tô maluco, sim! E se você não conseguir isso pra mim, eu vou botar a boca no trombone. Vou falar pra a imprensa falada, escrita, televisiva, virtual e mais o que existir que você é amante do juiz que tá ferrando com a vida do Eike

Ane: Você não vai fazer isso, né, Adal

Eu bem que ia.

Adalberto: Claro que não, sua boba. Você acha que eu vou fazer isso com você? Tá maluca? Anita, olha só, meu amorzinho, vou falar que nem bebê com vochê pla vê chi vochê me entende melhor.

Ane: Não, para de palhaçada! Acho isso ridículo. O Flá meio que me obriga a falar assim com ele. Mas eu acho um saco.

Adalberto: Então, meu bem, já percebeu que só você tá cedendo pra ele? Você fala como bebê, porque ele gosta... Que mais? Ah, não importa. Eu acho que você tem que testar o amor desse cara por você. Vai que ele só tá te usando? Já pensou nisso? 

Ane: Não.

Adalberto: Aí, é burra! Depois, ele te deixa e você vai ficar toda apaixonadinha, sem eira nem beira, com uma mão na frente e outra atrás.

Ane: Mas eu não tô com ele só por causa de dinheiro, primo. É amor sincero.

Adalberto: Eu acredito em você.

Óbvio que não.

Adalberto: Mas você sabe o que se passa do outro lado? Se ele, realmente, te ama?

Ane: Não.

Adalberto: Então, eu vou te deixar com essa pulguinha atrás da orelha. Passar bem.

E saí de maneira cênica, batendo porta. Foi a melhor coisa que fiz. No dia seguinte, ela já estava chantageando emocionalmente o bebezinho dela. Quando me ligou pra dar a notícia, senti até vontade de chorar.

Ane: Primo, tá tudo certo! Ele vai levar o carro pra casa hoje! E, amanhã, vai trazer aqui pra casa, pra gente dirigir!

Adalberto: Urru! Ganhei na mega-sena! Prima, brigado, tá? Te amo.

Mas pra minha falta de sorte, durante o trajeto pra casa da Ane, o juiz Flávio Roberto de Souza foi flagrado por um infeliz e virou notícia em todos os sites de jornais do país, por estar dirigindo o Porsche do empresário Eike Batista, que ele mesmo havia mandado apreender.

Meu celular tocou um segundo depois de eu ler o título da matéria. Era a Ane. E eu não atendi.

Ela ligou mais 87 vezes. E eu continuei sem atender. 

No fim do dia, após receber vários mensagens desaforadas dela por torpedo, e-mail, WhatsApp e até pombo-correio, resolvi ir num centro de macumba pedir pra fazerem um trabalho forte pra ficar tudo bem com o juiz e, principalmente, entre ele e a minha prima.

Pra minha triste surpresa, a Ane tinha ido lá fazer a mesma coisa. Quando ela me viu, foi um tal de atirar galinha preta, milho, búzios, terra e tudo o que tivesse ao alcance dela em cima de mim, que já estavam achando que eu era um bandido. Teve gente que chamou a polícia e tudo pra me prender. 

O bom foi que os policiais chegaram na hora que a Ane arremessou a imagem de um Exu, que estilhaçou na minha cabeça. Foram eles que me levaram pra emergência do hospital mais próximo.

Parecia que tinham aberto uma bica de sangue na minha cabeça. O pior é que eu desmaio quando vejo sangue. E desmaiei, claro. 

Acordei lindo e belo, com a cabeça toda enfaixada e com a Ane me pedindo desculpas.

Ane: Eu achei que você fosse morrer.

Adalberto: Eu merecia, né?

Ane: Não fala assim. Homem nenhum é digno disso. E eu nem estava curtindo o Flávio tanto assim. Estava achando um porre aquele negócio de ficar falando que nem bebê.

Adalberto: Mas o que estava em jogo não era o Flávio, mas o Porsche, né? Era a minha única chance de dirigir um Porsche nessa vida... Vamos beber pra esquecer? A médica vai me dar alta daqui a pouco.

Ane: Você pode beber?

Adalberto: Não. Mas não tem problema. Se eu não morri com o Exu que você tacou na minha cabeça, não vai ser uma cervejinha que vai me matar.

A gente foi pra uma boate, e eu bebi 30 cervejinhas. E elas quase me mataram. Mas ainda bem que eu não morri. A Ane ficou com o Thor Batista, sem saber quem ele era, eles têm saído direto juntos e, com isso, eu ainda corro o risco de conseguir dirigir um Porsche nessa vida.

Eike coisa boa!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Lu é deportada dos Estados Unidos na Quarta-Feira de Cinzas, a tempo de curtir a rebarba do carnaval

Fiquei o carnaval inteiro em casa assistindo a filmes no Netflix. Na Quarta-Feira de Cinzas, quando eu deveria voltar ao trabalho (depois do meio-dia), liguei pro meu chefe, disse que estava com dor de barriga, ele não acreditou, mas se fingiu de bobo e mandou eu ficar em casa. E eu fui pra um bloco com a Pocahontas, a Fiona e a Rapunzel, digo Ane, Marjorie e Sara. Eu era um lindo Corcunda de Notre Dame. Só que não.

Marjorie: Não conseguiu falar com a Lu, Adal?

Adalberto: Não. Aquela vaca encheu a minha paciência pra comprar tecido branco pra cortina da fantasia dela de bunda da Paolla Oliveira e, agora, some. Que ódio.

Ane: Gente, a Lu é maluca. Deve estar se atracando com o primeiro cara vestido de Minnie que viu pela frente.

Sara: Ah, ela não ia furar com a gente, por causa de homem.

Ane: Oi?

Marjorie: Ela vive fazendo isso.

Adalberto: Gente, que medo, estão me ligando de um número gigantesco.

Marjorie: Não atende. Deve ser aquela gente chata de telemarketing.

Ane: Ah, ninguém merece isso hoje.

Sara: Atende. Vai que é alguma coisa importante. Qualquer coisa finge que tá ruim de área e desliga.

A Sara anda tão espertinha, né?

Adalberto: Alô.

Lu: Adal, sou eu, Lu. Me salva!

Adalberto: Gente, é a Lu. Onde é que você tá, sua maluca.

Lu: Na Disney.

Adalberto: Disney? Gente, a Lu tá na Disney! Para tudo.

Marjorie: Me dá esse telefone aqui. Lu, o que é que você tá fazendo na Disney, pode me falar?

Lu: O Francislúcio vai ter uma convenção do trabalho dele aqui e me chamou pra vir com ele. O cara pagou TUDO, prima!

Marjorie: Então, tá tudo bem com você, né? Ligou só pra botar inveja na gente, é isso mesmo?

Lu: Não, garota, eu tô foragida!

Marjorie: Como assim foragida?

Lu: Eu fui numa loja ver umas calças pra comprar e acabei ficando atolada dentro de uma skinny de stretch. Fui parar no hospital pra tirar essa bosta.

Marjorie: Lu, você é maluca? Como é que vocês experimenta uma calça nos Estados Unidos? Americana não tem coxa. E você tem um saco de boxe em cada perna. Claro que isso não ia prestar.

Adalberto: Me dá esse telefone aqui!

Lu: Eu fui levada de ambulância pra uma emergência.

Adalberto: Sério?

Lu: Arrã. Agora, eles querem me cobrar por uma cirurgia. Só porque usaram bisturi pra cortar a bendita da calça, é mole?

Adalberto: Eu só não consigo entender por que você foi parar na Disney.

Lu: Garoto, a conta da cirurgia foi de 40 mil dólares. Eu não tenho como pagar isso. Saí vestida de enfermeira pela porta dos fundos do hospital e peguei carona num caminhão, que distribui bebida na Disney.

Adalberto: Por que você não pediu pro motorista te deixar no hotel que vocês tá hospedada?

Lu: Porque, da Disney, ele ia pra Miami. Não ia passar perto do hotel.

Adalberto: E agora? Quer que a gente ligue pro teu peguete?

Lu: Não é peguete. Era amor verdadeiro, tá?

Preguiça.

Adalberto: Ai, tá bom. Quer que a gente ligue pra ele, sua mala?

Lu: Não! Já ligaram pra esse cachorro do hospital. Eu ouvi uma assistente social falando com ele, quando eu fui pro quarto. O safado disse que não me conhecia.

Adalberto: Ah, era pra ele o seu amor eterno mesmo? Porque você não tomou o telefone dela e deu esculacho nesse mané?

Lu: Porque eu estava ainda meio grogue, sob o efeito da anestesia, Adal! Tinha acabado de sair de uma cirurgia, esqueceu?

Adalberto: Oi? Eles só cortaram uma calça de você. Pra que te deram anestesia?

Lu: Não sei. Aqui nos Estados Unidos é tudo assim. Povo exagerado... Agora, eu tô sendo procurada pela polícia, acredita? Já apareceu foto minha na televisão e tudo.

Adalberto: Amoreca, a gente não tem muito o que fazer por você, então. Faz o seguinte: se entrega pra polícia e vem linda, deportada pro Brasil de enfermeira. É bom que já vai estar com fantasia pra ir com a gente pra outro bloco amanhã. Já sai direto do aeroporto e pega um táxi pra Laranjeiras. A boa vai lá. Vou até inventar outra dor de barriga pra faltar o trabalho de novo...vai

Lu: Sério que você acha que eu devo me entregar pra polícia, primo?

Adalberto: Lógico! Nem pensa, vai na fé! Ó, em homenagem a você, a gente vai fazer uma selfie. Parece coincidência, mas a gente veio de personagem da Disney, aqui, pro bloco. Vou te mandar por WhatsApp. Tem Wi-Fi aí, né? Que pergunta! Claro que tem Wi-Fi na Disney, dããããããã! Agora, deixa eu ir lá, porque, senão, vou ficar pra trás. As meninas já devem ter bebido umas dez cervejas, enquanto a gente tá aqui conversando, e eu de bico seco. Vou desligar. Beijo. Te amo. Vem com Deus, tá?

Lu: Tá.

E, no dia seguinte, fui para o bloco vestido de médico e as meninas, de enfermeiras. A Lu, quando viu a gente, chorou de emoção. Achou linda a surpresa. A farra no bloco foi maravilhosa. Ela bebeu todas, pegou todos, enfim, foi tudo. Era a deportada mais feliz, que eu já vi na minha vida.

domingo, 30 de novembro de 2014

Lu vira mendigata, Ane apanha e o dia acaba com uma festa de aniversário surpresa

Na última quinta, 27 de novembro, foi meu aniversário. E o dia já começou pra mim com fortes emoções, com a primeira ligação.

Adalberto: Alô, você vai ser a primeira pessoa a me dar parabéns, é?

Marjorie: Vou. E você vai ser o último a saber que a Lu virou mendiga em Niterói?

Adalberto: Oi?

Marjorie: Na verdade, não é bem mendiga. É mendigata, que é a uma nova linhagem de subcelebridade. Uma espécie de mulher-fruta das ruas.

Adalberto: É muita informação a uma hora dessas. Acabei de acordar. Eu tenho que fazer alguma coisa ou você só quis me escandalizar com essa notícia?

Marjorie: A gente precisa tirar ela de lá, primo. Ela pegou o ponto de uma ex-mendigata, que ganhou um dia de princesa num desses programas vespertinos de fofoca, mas, depois dos 15 minutos de fama, voltou pras ruas e deu de cara com a Lu no lugar que ela morava. Parece que tá a maior confusão lá.

Adalberto: Tá. Vou passar aí pra te buscar, e a gente vai lá encontrar com essa maluca.

Eu tinha certeza que essa era mais uma surpresa de aniversário, como elas fazem pra mim todo ano. Essa história estava muito mirabolante. Mas, no caminho, a atuação da Marjorie me confundia.

Marjorie: O que todos os meus amigos vão dizer, se descobrirem que uma prima minha virou mendigata. É capaz até de eu perder cliente, sabia?

Adalberto: Como é que você descobriu que ela virou mendiga?

Marjorie: Mendigata.

Adalberto: Marjorie, eu me nego a usar essa palavra.

Marjorie: Por quê?

Adalberto: Porque eu acho mais digno ser mendiga, do que essa palhaçada.

Marjorie: Ela ligou pra Ane pra contar.

Adalberto: E cadê a Ane?

Marjorie: Estava numa DR com um peguete em Japeri e vai pra lá direto.

Adalberto: A Sara já sabe?

Marjorie: Sabe. A casa dela é perto de onde a Lu tá. Pelo tempo, ela já tá lá com os trigêmeos.

Adalberto: Por que ela levou as crianças pra essa baixaria?

Marjorie: Pra fazer chantagem emocional na Lu.

Quando chegamos, e vimos os trigêmeos da Sara brincando com Lu num colchão, no meio de uma calçada, tive certeza que se tratava de uma surpresa pra mim. A Ane, provavelmente, ia chegar com o bolo, e a festa ia ser no meio da rua. Elas sabem que eu sempre desconfio das surpresas, e, a cada ano, tentam ser mais originais.

Fui correndo falar com as crianças.

Adalberto: Meus amores! O dindo anda tão em falta com vocês.

Sara: Anda mesmo.

Lu: Se veio me tirar daqui, pode tirando o seu cavalinho da chuva.

Adalberto: Por mim, você morre de frio aqui nessa rua.

Não falei nada do meu aniversário, porque sabia que era uma surpresa pra mim. Queria ver até onde ia essa palhaçada.

De repente, da esquina, um monte de gente mal encarada veio na nossa direção.

Sara: Jesus, Maria, José, ela tá vindo com uma gangue te tirar daqui. Bem que ela falou. Vambora agora.

Marjorie: Aquela é a ex-mendigata, primo.

Lu: Quero ver alguém tocar um dedo em mim.

Sara: Eu vou levar os meus filhos daqui agora. Táxi!

Quando a Sara correu pra dentro do táxi, eu me apavorei.

Adalberto: Gente, isso aqui não é uma surpresa de aniversário?

Marjorie: Não.Vambora daqui agora, Lu.

Lu: Me larga. Eu não saio daqui, antes de gravar um programa de televisão. Ela teve a chance dela e não soube aproveitar. Eu quero ter a minha oportunidade. Isso aqui não é dela. Tá escrito o nome dela aqui, em algum lugar?

Peguei a Lu à força no meu colo.

Adalberto: Vambora, sua retardada. Na rua, a lei é do mais forte.

Lu: Me larga!

Adalberto: Segurar os braços dessa maluca, Marjorie. Ela tá me enforcando.

E corremos pro meu carro, com uma doente mental aos berros no meu colo.

Marjorie: Coisa mais feia, hein, dona Lu.

Lu: Por quê? Só porque eu tou correndo atrás de um sonho?

Marjorie: E isso sonho?

Lu: É, ué. Qual o problema?

Adalberto: O problema é que ninguém sonha em ser mendiga.

Lu: Mas eu quero ser mendigata!

Adalberto: Piorou.

Lu: Pra onde vocês vão me levar?

Adalberto: Pra minha casa. Eu mereço ter um aniversário digno.

Mas a Ane estragou os meus planos.

Marjorie: Alô. Oi, Ane. Ai, não acredito. Tá indo pra delegacia? Tá bom, a gente te encontra lá. A Ane chegou lá e não viu a gente, foi perguntar pela Lu e levou uns tapas da ex-mendigata, que acabou de retomar o ponto. Vamos pra delegacia daqui do bairro.

Adalberto: Não tou acreditando nisso.

A Ane estava toda descabelada, prestando queixa. E eu só queria explodir pra ver aquilo tudo acabar da pior maneira. Que desgaste psicológico!

A mendigata foi presa pela agressão. Mas como uma rede de televisão chegou lá poucos minutos depois, se propondo a pagar a fiança, só pra explorar ainda mais a imagem da pobre coitada, ela foi solta e voltou pras ruas.

E eu voltei pra casa. Irado!

Adalberto: Não vou levar ninguém em casa. Se vocês quiserem, dormem lá no meu apartamento ou peguem um táxi até a casa de vocês.

Ane: Eu vou ficar por lá hoje mesmo.

Lu: Eu também.

Marjorie: Vou decidir ainda.

E quando abri a porta de casa, estavam os meus pais, minha irmã, meu cunhado, meu sobrinho, a Sara, o marido e os trigêmeos, catando parabéns pra mim.

Marjorie: Gostou da surpresa?

Adalberto: Adorei.

Respondi sem saber o que foi surpresa de fato. Mas não queria falar das coisas que vivemos até ali na frente dos meus pais. Ele siam ficar preocupados à toa. Mas a curiosidade tomou conta de mim até o terceiro copo de cerveja. Do quarto em diante, eu só queria que aquele dia nunca mais acabasse, já que eu estava com as pessoas que eu mais amo nesse mundo.