quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ane é pega pra Cristo na palestra do peguete sem noção

Fui com a Ane buscar um carinha no aeroporto, que ela achava que ia ser o homem da sua vida:

Ane: Adal, ele não é um carinha. É o Crisóstomo.

Adalberto: Ah, tá. Você fala como se conhecesse ele.

Ane: Mas eu conheço.

Adalberto: Ane, você ligou pro serviço de telemarketing do seu cartão de crédito e ligação caiu por engano no escritório desse cara.

Ane: A gente conversou durante uma hora.

Adalberto: E só por isso você acha que conhece ele bem?

Ane: Claro. Ele me contou a vida dele toda.

Adalberto: Jura?

Ane: Sabe quando você sente que encontrou o cara da sua vida?

Adalberto: Não.

Ane: Sei lá, parece que foi um encontro de outras vidas.

Adalberto: Sei...

Ane: Então, é isso.

É... Durante todo o trajeto de ida ao aeroporto eu não parava de me perguntar como eu fui capaz de perder o meu tempo, indo buscar um cara que a Ane só tinha falado por telefone e que eu sequer conhecia.

No aeroporto, tivemos que passar pela situação constrangedora de levantar uma plaquinha com o nome do Crisóstomo. Sempre senti vergonha alheia pelas pessoas que faziam isso nos aeroportos. E, naquele momento, viver esse experiência, pra mim, foi algo no mínimo MUITO humilhante.

Fomos surpreendidos com um susto:

Crisóstomo: Rá! Sou eu o Crisóstomo. Tudo bem, linda-fofa?

Ane: Tudo, fofo-lindo.

Que ridículo! Eles já atinham até uma maneira própria de se chamar.

Crisóstomo: Você é o Adal?

Adalberto: Adalberto.

Crisóstomo: Já ouvi muito sobre você.

Despois dessa, não parei de me perguntar que diabos a Ane falou com o Crisóstomo, durante a única hora que eles se falaram em toda a vida. Será que foi só de mim?

Ane: Fofo-lindo, você tá com fome? Quer comer alguma coisa?

Crisóstomo: Não, linda-fofa, a palestra vai ser daqui a pouco eu ainda tenho que arrumar um uniforme pra vocês...

Fingi que não ouvi.

Crisóstomo: : Mas dá tempo de tomar um café. Rá! Tô brincando, Adal. Eu sei que você não odeia café.

Nem odeio. Apenas, não gosto. Inclusive, nos dias de estresse no trabalho, eu costumo tomar café. Não achei a menor graça nesse Crisóstomo: ...

Crisóstomo: : Tô brincando. Quer um suco de melancia? Eu sei que você adora melancia.

Realmente, melancia é a fruta que eu mais gosto. Mas eu desprezo, solenemente, um suco dessa fruta.

Adalberto: Tem como a gente ir embora daqui? Eu to com um pouco de pressa.

Crisóstomo: Embora? A Ane me disse que você tirou folga no trabalho, só pra vir me buscar com ela.

Dessa vez, a resposta dele estava 100% correta. Eu é que sou o erro!

Ane: Fofo-lindo, não vai tomar nada?

Crisóstomo: Não, fofa-linda, brigado. Lá, perto do auditório, a gente toma alguma coisa.

Paramos numa loja de uniformes. Lá, eu descobri que eu e a Ane íamos trabalhar na recepção do evento.

Adalberto: Como assim?

Ane: Adal, pelamordedeus, você não pode fazer isso comigo.

Adalberto: Quem ele pensa que é? O meu chefe? E você? Tá pretendendo ocupar a vaga de namorada ou de empregadinha dele?

Ane: Adal, ele vai pagar a gente pelo serviço. É só ficar parado lá, recebendo as pessoas.

Adalberto: Não quero.

Ane: Eu conversei com ele. Ele me falou que, além da diária, te dá um saco de Serenata de Amor.

Adalberto: Tá bom. Diz pra vendedora que o número da minha calça é 38.

No auditório, recebi muitas outras responsabilidades, além de só ter que ficar parado, recebendo as pessoas.

Crisóstomo: Cadê o pessoal com o lanche coffee brake?

Adalberto: Estão atrasados.

Crisóstomo: Como assim atrasados? Isso é resposta? Liga pra lá agora e reclama da falta de profissionalismo e respeito deles. Mas grita com essa gente. Nada de perguntar com educação. Essa gente não merece educação. Ouviu?

Adalberto: Sim, senhor.

Pois é, quando dei por mim, estava de cabeça baixa e respondendo “sim, senhor” ao imbecil do Crisóstomo.

Crisóstomo: Então, liga agora! Tá esperando o quê?

Adalberto: Tá. Eu vou ali fora ligar.

Crisóstomo: De jeito nenhum! Liga aqui na minha frente. Quero ver você esbravejando com essa gente irresponsável.

Adalberto: Tá.

E, enquanto eu discava o número do serviço de buffet no meu celular (isso mesmo, eu tive que ligar do meu celular), tive a sorte do aparelho dele tocar.

Crisóstomo: Crisóstomo Fradvawsky Consultoria e Treinamentos em Segurança do Trabalho.

E essa foi a maneira mais bizarra, que eu já vi alguém atender o seu celular pessoal. Uma tia, por muito menos, me irritava. Ela atendia dizendo “eu”. Isso é maneira de atender telefone? Bom, agora eu vejo que pode não ser a mais adequada, mas é bem melhor do que Crisóstomo Fradvawsky Consultoria e Treinamentos em Segurança do Trabalho.

Crisóstomo: Fala Sueli. O quê? E isso é resposta? Não tem? Então, se vira! Eu não posso fazer o seu trabalho. Liga pra todos os meus contatos agora e tenta conseguir isso com a influência do meu nome. E só me retorna quando estiver com tudo certo.

Enquanto eu falava com o pessoal do buffet com a maior educação, escondido do Crisóstomo, a Ane corria na minha direção.

Adalberto: Onde você estava?

Ane: No térreo, falando com o pessoal da brigada de incêdio.

Adalberto: Como assim? Tá pegando fogo aqui?

Ane: Não, garoto. É só pro caso de uma emergência.

Adalberto: Mas por que você tá assim, ofegante, desesperada?

Ane: Porque todos os extintores de incêndio estão vencidos. Tô com medo de falar isso pro Crisóstomo. Fala com ele pra mim, Adal.

Adalberto: Eu? Tá louca? Já tomei o meu megaesporro do dia. Eu não tô preparado emocionalmente pra aturar outra crise do Crisóstomo. Agora, é a sua vez, babe.

E, do nada, fomos surpreendidos pelo nosso ditador:

Crisóstomo: O que foi que vocês estão falando aí, hein?

Adalberto: Oi? Você estava aí?

Crisóstomo: Já ligou pro serviço de buffet?

Adalberto: Já. Dei mó esporrão neles.

Crisóstomo: E aí?

Adalberto: Estão a caminho.

Mentira. O rapaz, que me atendeu, informou que ia o carro da entrega ia sair em 15 minutos e me pediu mil desculpas pelo atraso. Eu disse que não tinha problema nenhum. E ainda fui megaeducado com ele, claro.

Crisóstomo: E o pessoal da brigada de incêncio?

Ane: Ah, tá tudo certo. Eles já voa trazer os extintores de incêndio.

Crisóstomo: Tá tudo no prazo de validade?

Ane: Tudinho.

Putz...

Crisóstomo: Eu vou ao vestiário trocar de roupa. Adalberto, tem umas pétalas de rosa, que caíram de uns arranjos. Dá mais uma varridinha lá. Ane, não esquece que os brindes com a caixa verde são para as mulheres e os que vêm a caixa azul são para os homens. Não quero ninguém sem brinde. Adalberto, não esquece de ligar a iluminação debaixo mesa e de acender a luz da platéia, sempre que eu receber aplausos. Isso acontece o tempo inteiro. Fica atento. E não deixa de colocar a câmera no tripé. Não preciso te dizer pra apertar o botão "on" na hora da apresentação, preciso?

Adalberto: Não, senhor.

Crisóstomo: Ane, linda-fofa, eu esqueci de assinar os certificados de participação. Toma aqui a minha carteira de identidade e copia minha assinatura . São só trezentos certificados. Adal, ajuda ela nisso.

Porra, Lei Áurea pra quê, né?

Na hora da apresentação, por mais incrível que isso possa parecer, TUDO estava dentro dos conformes. Só a minha coluna que não.

Depois que todos os participantes entraram, saímos da recepção às pressas para ocupar os nossos postos de serviço dentro do auditório. A Ane foi cuidar de passar os slides e eu fiquei responsável por controlar a iluminação espetaculosa e da filmagem da palestra do Crióstomo.

Lá dentro, o que eu vi foi uma baboseira sem limite.

Crisóstomo: Então, como eu disse pra vocês, eu venci graças ao meu suor, competência, dedicação, esforço, empenho, trabalho justo, inteligência, humildade...

Blá, blá, blá, blá, blá, blá... Se a intenção dele era de motivar, a mim, ele conseguiu IRRITAR PROFUNDAMENTE. Que babaca narcisista!

Enquanto isso, a Ane não parava de atender as ligações pro Crisóstomo. Eu contabilizei pelo menos umas 15 vezes, que ele interrompeu a apresentação para mandar a pobre coitada atender ao celular.

A última ligação foi, sem o menor exagero, EXTREMAMENTE HUMILHANTE.

Ane: Oi, ele tá ocupado agora, dando palestra.

Crisóstomo: Vê quem é. Se for o Dissógenes eu atendo.

Ane: Quem tá falando? É o Benzalieu. Ele tá dizendo que o seu voo pra Minas foi cancelado . Quer saber se você pode ir na parte da noite?

Crisóstomo: Pergunta pra ele se eu sou alguma negas dele.

Ane: Oi?

Crisóstomo: É isso mesmo que você ou viu. Anda! Pergunta se eu sou alguma das negas que ele se esfrega por aí. Anda! Vou esperar você falar, anda!

Ane: É, senhor Benzalieu, é que o Crisóstomo...

Crisóstomo: Doutor Crisóstomo!

Ane: É... o doutor Crisóstomo gostaria de saber se ele é alguma das senhoras afrodescendentes, com as quais o senhor se relaciona.

Que lindo a Ane tentando ser politicamente correta...

Crisóstomo: Fala direito com essa ameba. Pergunta pra ele do jeito que eu te falei, sua anta! Anda!

Ah, não! Xingar a minha prima, assim, na frente dos outros?

Confesso que fiquei impressionado com a rapidez do meu instinto maldoso. Eu sei é que, quando dei por mim, estava tacando fogo no carpete do auditório. Na hora, eu não pensei no risco em que coloquei aquelas 300 pessoas. Só queria acabar com a raça do Crisóstomo.

Apesar de não termos podido contar com um único extintor de incêndio, por sorte, ninguém ficou ferido. O auditório inteiro pegou fogo e o Crisóstomo foi responsabilizado por essa displicência. Os diplomas todos foram queimados. E, com eles, a única prova do crime que eu e a Ane cometemos.

O caso, segundo me informei depois, tomou uma certa repercussão no mercado em que o infeliz atua, e a Crisóstomo Fradvawsky Consultoria e Treinamentos em Segurança do Trabalho perdeu todos os contratos que já tinha fechado. Bem feito!

O lance do extintor de incêndio vencido era mais sério do que podia imaginar. Ainda mais, porque o Crisóstomo era palestrante de Segurança no Trabalho. Ou seja, mó micão.

Ah, outra coisa que também foi embora com o incêndio foi a relação meteórica da Ane com esse babaca. Diga-se de passagem, sem sexo e com pouquíssimo beijo na boca.

E, pela primeira vez na vida, posso dizer que, literalmente, eu QUEIMEI o filme de alguém.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Lu se vinga de boyzinho num dia de altíssimos decibeis

Fui a um salão no BarraShopping com a Lu no sábado. Ela queria ficar linda para uma festa na casa de um boyzinho que estuda e mora próximo à Rural, em Seropédica.

Lu: Para de chamar o Ronildson de boyzinho.

Adalberto: Mas ele só tem 19 anos.

Lu: E daí? Ele tem mais cabeça do que muitos homens, que eu conheci por aí.

Adalberto: Mas você nem conhece ele.

Lu: Adal, a gente se fala pelo Facebook todo dia, tá? Isso já tem duas semanas.

Adalberto: Ah, tá.

Lu: Fora que ela tá sempre online nas horas que a gente me combina. Se fosse mulherengo e tivesse me traindo, não agiria assim.

Adalberto: Como assim te traindo? Vocês estão namorando?

Lu: Lógico. Você acha que eu ia gastar uma grana pra fazer o cabelo e me maquiar se não rolasse nada? O Ronildson me pediu em namoro no segundo dia, que a gente se falou...

Adalberto: Pelo Facebook.

Lu: Isso.

Adalberto: E você nem me contou nada...

Lu: Contei, sim, Adal. Até brinquei com você, que, agora, eu to em um relacionamento sério com Ronildson Bezerra. Esqueceu, garoto? Olha, essa tua perda de memória recente tá cada vez pior, hein.

Adalberto: É que, além dela não estar muito boa, ela é seletiva.

Lu: Ah, cala a boca.

Fiz o que me foi mandado. Até porque tínhamos acabado de chegar ao salão e era impossível falar num tom, que não fosse aos berros, naquele lugar onde os secadores de cabelo gritavam. Tudo o que eu mais queria era um protetor auricular. Na verdade, isso era um sonho.

Quando terminaram de fazer o cabelo e a maquiagem da Lu, ela era só alegria:

Lu: Gente, quem é essa mulher maravilhosa, que aparece na minha frente toda hora que eu tento me olhar no espelho?

Adalberto: É você com Photoshop.

Lu: Sem graça. Sou eu bem tratada. E vai ser assim de agora em diante.

Adalberto: Nossa, o boyzinho tá fazendo milagre, hein...

Lu: Para de chamar ele de boyzinho. Já te pedi.

Adalberto: Desculpa, lindona. Agora, só vou chamar o seu boyzinho de Ronildson. É mais feio, mas já que você prefere assim...

Lu: Olha quem fala. Se você quiser, senhor Adalberto, eu posso te chamar de boyzinho.

Sabe que essa não foi uma má ideia. Ser chamado de boyzinho, além do meu nome de velho, esconderia algo mais urgente: A MINHA IDADE AVANÇADA!

Adalberto: Eu quero, Lu.

Lu: Então, vambora, boyzinho. Eu já to atrasada.

Adalberto: Ué, mas você não disse que tinha que chegar lá daqui a uma hora?

Lu: É que a minha pontualidade já inclui duas horas de atraso. A figura principal da noite tem chegar causando. Depois de todos os convidados.

Adalberto: Ah, você é a figura principal da noite?

Lu: Pro Ronildson, sim. E, como ele é tudo pra mim, é isso o que importa.

Adalberto: Ah, tá.

Quando chegamos em frente à porta da casa do Ronildson, de onde se ouvia um batidão pesado em altísimos decibeis, tive um déjà vu: me senti com 14 anos, tentando entrar num baile funk, na favela, com carteira de identidade falsificada.

O que me fez voltar à realidade foi a música da Valesca Popozuda. Quando eu tinha 14 anos, ela devia ter muito menos glúteo do que atualmente e, talvez, nem imaginasse que isso iria alçá-la ao título de celebridade do funk.

Adalberto: É aqui mesmo, Luluzita?

Lu: É. Que estranho.

Adalberto: Estranho, não. Surreal.

Tocamos, sem o mínimo exagero, umas vinte vezes a campainha da casa do Ronildson. Logo concluímos que seria impossível alguém ouvir a campainha, com aquele som alto e resolvemos quebrar o protocolo e sair entrando no baile funk privé.

O lugar parecia ter sofrido um tsunami. Tudo estava revirado. Inclusive, as pessoas. Estavam todos deitados uns sobre os outros. Alguns, inclusive, se aproveitando muito da situação. MUITO mesmo.

Adalberto: Lu, o que é que é isso?

Lu: Não sei. Tô assustada.

Adalberto: Não sei se uma sem-vergonhice pura ou se daqui a pouco vai surgir a Kylie Minogue cantando “All the Lovers”.

Lu: É falta de vergonha na cara. Cadê o Ronildson? Ele não deve estar sabendo disso aqui.

A Lu desligou o som e começou a esbravejar:

Lu: Vamos parar com essa sem-vergonhice agora! Se vocês não tem respeito na casa dos outros, vou cagar a casa de outro.

E começou a remover um por um... Até que ela encontrou o Ronildson no meio aos outros figurantes do clipe da Kylie.

Lu: O que é que você tá fazendo aí debaixo dessa galinha d’angola?

O Ronildson estava completamente trêbado, sem a menor condição de estabelecer um diálogo coerente:

Ronildson: É que eu queria fazer uma canja. Não tem mais nada pra comer aqu em casa. Acabaram com tudo.

A piada fora de hora teve efeito. Não sei se foi por que estavam me irritando profundamente, mas as gargalhadas pareciam ter superado os secadores e o funk alto no quesito volume.

Lu: É assim que você diz que eu sou Pituquita?

Ronildson: Lu?

Lu: Não. Cu!

Ronildson: Ai, amor, desculpa. É que você tá realmente com uma cara de cu. Nem te reconheci. O que é que você fez?

Lu: Eu? Como assim?

Ronildson: A tua pele tá estranha. O cabelo. Sei lá.

Caraca. A produção da Lu não produziu o efeito desejado.

Lu: Então, eu gasto horas e rios de dinheiro pra ficar bonita e você diz que eu to estranha?

Ronildson: Amor, você tá bem melhor na álbum “Eu sou assim”, lá no Facebook.

Lu: Você nunca viu o álbum “Primas”? Tem uma foto minha na formatura da Marjorie com esse mesmo cabelo e maquiagem. E umas quinze pessoas curtiram, tá?

Ronildson: Caraca, se eu vi, devo ter pensado que era outra pessoa. Tá muito feio. Vai tirar isso. Quer um pouco de álcool? Tem lá na maquina de lavar.

Adalberto: Álcool na máquina de lavar?

Ronildson: É. A gente comprou várias garrafas de vodka e misturou tudo com uma salada de frutas lá na máquina de lavar. Pelo tempo que já tá batendo, o negócio já deve estar bom.

Bom, com certeza, aquilo nunca ia ficar. Onde já se viu fazer caipivodka no lugar que se lava cueca suja? Que gente mais porca!

Lu: Adal, me leva embora daqui agora.

Adalberto: Tem certeza?

Estranhei o fato dela não querer se vingar terrivelmente.

Lu: Tenho. Eu quero esquecer que esse idiota existe. Quero ir pra casa chorar.

Adalberto: Tá bom.

E saímos sem falar com ninguém. No caminho, a Lu pediu para parar numa delegacia.

Adalberto: Pra quê?

Lu: Perdi meu celular. Quero fazer boletim de ocorrência.

Adalberto: Agora, Lu. Faz no Rio. Eu vou com você.

Lu: Adal, eu quero fazer isso agora.

O tom de voz deixou escapar que, o que ela ia fazer, nada tinha a ver com boletim de ocorrência.

Quando ela saiu da delegacia, constatei o que já sabia:

Lu: Pronto. Daqui a pouco a polícia vai bater lá.

Adalberto: Por quê? Fazer caipifruta na máquina de lavar é crime?

Lu: Não. Me trair é crime.

Adalberto: Ah, tá. E a Polícia vai acabar com aquele baile funk, só porque o Ronildson te traiu?

Lu: Não a Polícia propriamente. Mas o delegado Maciel.

Meu Deus!

Adalberto: Lu, o que é que você fez com o delegado?

Lu: Adal, não se mete. Eu vi um cara portando drogas lá na casa do Ronildson. É por isso que a polícia vai lá.

Adalberto: Arrã.

No dia seguinte, quando entrei no meu Facebook, vi que a Lu já estava em um relacionamento sério com um tal de Jeremias Maciel.

Isso explicou tudo.

sábado, 14 de maio de 2011

Morte de galo contraventor põe fim às viagens de Marjorie a Guapimirim

A Marjorie me ligou na segunda-feira de manhã fula da vida:

Adalberto: Bom dia, lindona.

Marjorie: Bom dia, por quê?!

Adalberto: Ih...

Marjorie: Vou terminar com o Eliseldo.

Adalberto: Por quê?

Marjorie: Porque ele nunca pode vir aqui em casa e eu não quero mais ter que viajar pra Guapimirim pra vê-lo.

Adalberto: Que viagem é essa? Guapi é aqui do lado.

Marjorie: Aqui do lado pra você, que não gasta tempo, dinheiro de combustível e de pedágio pra ir pra lá três vezes por semana.

Adalberto: Ah, Jojô, isso não vai te deixar mais pobre.

Marjorie: Mas não é só isso, Adal.

Adalberto: Ah, tá. Ele é casado?

Marjorie: Não. Pior do que isso. Ele é vizinho de um galo, que berra todo dia às cinco da manhã.

Adalberto: Eu ia adorar esse despertador natural.

Marjorie: Mas você dorme com as galinhas. Eu já gosto de dormir tarde.

Adalberto: Ah, Jojô, não acredito que um galo vai acabar com o seu relacionamento.

Marjorie: Nem eu. Mas vai. E eu vou lá hoje pra terminar com ele.

Adalberto: Posso ir com você?

Marjorie: Pra terminar com ele?

Claro que não. Eu fui pra matar o galo, mas não podia falar isso pra ela. Eu gosto muito do Eliseldo, sabe? Depois dele, a Marjorie parou com os surtos e os ataques histéricos. Comigo, inclusive.

Adalberto: Não. Sei lá. Eu precisava resolver um negócio por aquelas bandas.

Marjorie: Você?

Adalberto: Um amigo comprou um terreno por lá. Só que ele é de fora. Aí, me pediu pra evr se tá tudo bem.

Marjorie: Você nunca me falou isso.

Adalberto: Não? Sei lá por quê.

Marjorie: Primo, tenho que desligar. Vou passar lá na fábrica pra resolver umas coisas e te ligo, quando sair de lá pra te pegar.

Que bom. Eu não tenho eficiência pra mentir e, se ela apertasse um pouco, eu iria revelar minha missão assassina. Quando ela chegou lá em casa, eu já estava devidamente portando uma boa quantidade de chumbinho de rato pra matar o galo da discórdia:

Marjorie: Bora.

Adalberto: Partiu Guapimirim City!

Chegamos lá no fim da tarde. O Eliseldo tinha acabado de chegar do trabalho. Eu, sorrateiramente, fui cumprir minha tarefa. E pareceu muito fácil Tinha uma senhorinha debiloide na varanda da casa, onde o galo mora, mas ela mal sabia falar.

Fui, enfim, para a casa do Eliseldo, como se nada tivesse acontecido:

Adalberto: Oi.

Eliseldo: Fala, rapaz. Veio comemorar o fim do meu namoro.

Marjorie: Não fala assim, que eu me fico mal.

Eliseldo: Ué, mas não é?

Adalberto: Não, eu vim comemorar a morte do galo aqui do lado.

A Marjorie me deu uma olhada, onde foi possível ler: ADAL, VOCÊ DISFARÇA MUITO MAL!

Marjorie: Ah, então, o galo morreu?

Adalberto: Morreu.

Eliseldo: De quê?

Adalberto: Olha, gente, não sei. Só vi uma galera feliz lá na rua, comemorando e fui perguntar o que era. Aí, descobri que todo mundo detestava esse galo e estavam felizes com a morte dele.

Pra minha coincidência, tinha uma galera do lado de fora da casa do Eliseldo aos berros. Deviam estar comemorando mesmo. Putz, mandei muito bem!

Marjorie: Que fuzuê é esse lá fora?

Adalberto: Tá ouvindo? Viu? É o povo comemorando a morte do galináceo contraventor.

Eliseldo: Por que contraventor?

Adalberto: Porque acordar a minha prima, quer dizer, as pessoas daqui da rua às cinco da manhã é uma contravenção daquelas.

Eliseldo: Mas, aqui, todo mundo amava o Topetão.

Caralho, o galo tinha até um apelido carinhoso. MEDO!

Quando apareci na varando da casa do Eliseldo, fui recebido por tomates, laranjas e outras alimentos perecíveis que não consegui identificar ao som de “Morte ao assassino, morte ao assassino!”. Porra, será que alguém, além daquela velha debiloide viu que eu dei veneno de rato por Topetão?

Eliseldo: Gente, o que é isso aqui, posso saber?

Jordélia: Esse assassino matou o me Topetão.

Era a velhinha debiloide totalmente sóbria. Que milagre Deus operou na vida dela pa ter deixado ela tão lúcida?

Eliseldo: Mas ele nem mora aqui, dona Jordélia. Esse aqui é o primo da Marjorie. Não conhece nada aqui.

Jordélia: Mas foi ele, que eu vi. Eu estava no meio da minha meditação javanesa.

Porra, a debiloide não era debiloide... Caralho... Ela só esatva meditando. Merda!

Adalberto: Caramba, que legal! Eu também faço meditação javanesa.

Jordélia: Mentira, seu salafrário. Eu vou te matar.

E o coro do “morte ao assassino” recomeçou. A farra dos alimentos perecíveis também. Não lembro exatamente como fui parar na casa da Marjorie. Eu fiquei desacordado, quando acertaram uma jaca na minha cabeça.

No dia seguinte, quando finalmente acordei, acho que a vontade dela era de arremessar outra jaca em mim.

Adalberto: O que foi?

Marjorie: Eu não ia terminar com o Eliseldo, né, Adal?

Adalberto: Ah, não?

Marjorie: Não. Era só um drama. Coisa de mulherzinha.

Adalberto: Tá de sacanagem. Você é a única das minhas primas, que não faz o gênero mulherzinha.

Marjorie: Mas eu estava gostando do Eliseldo de verdade. Com ele valia a pena fazer um drama pra tentar melhorar a relação.

Adalberto: E por que você não falou isso pra mim?

Marjorie: Porque eu não estava a fim.

Adalberto: E eu posso fazer alguma coisa pra te ajudar?

Marjorie: Pode.

Adalberto: Como?

Marjorie: Morrendo. Ele disse que só volta comigo, depois que te ver debaixo da terra.

Adalberto: Ah, tá. Da licencinha...

Pra todos os efeitos, eu tô sem atender as ligações da Jojô e, até o presente momento, não sem previsão de volta.

domingo, 8 de maio de 2011

Lu é vítima da "Fúria de Titãs"

Não fui trabalhar na última quinta-feira. Estava muito estressado, então, liguei pro meu chefe e disse que acordei com suspeita de dor de barriga. Queria ficar em casa o dia inteiro de bobeira, sem fazer nada mesmo. Mas a minha tranquilidade foi interropida na parte da tarde da pior maneira. Todo mundo sabe que as minhas primas têm as chaves da minha casa. Eu fiz as cópias, pra elas, pros casos de emergência. Mas a Lu, de vez em quando, abusa. Eu estava na minha sala, vendo "Fúria de Titãs", quando ela me entra com um marombado:

Lu: Pode entrar. Fica à vontade.

Desidério: Bonito o apartamento.

Lu: Ah, que nada. Foi o que o meu dinheiro pôde comprar.

Desidério: Você tá de parabéns.

Lu: Brigada.

Eis que ela me viu esparramado no MEU sofá:

Adalberto: Oi.

Lu: O que é que você está fazendo aí?

Adalberto: Nada. Aliás, tô vendo "Fúria de Titãs".

Lu: Que empregado mais abusado! Já pra cozinha, anda!

Adalberto: Lu, você tá maluca? Que teatro é esse?

Lu: Teatro? Teatro eu vou fazer quando chegar o dia do seu pagamento. Anda, vem!

Porra, ela me puxou pelo braço com tanta agressividade, que chegou a fazer uma mancha roxa na minha pele. O cara ficou olhando pra tudo aquilo com cara de babaca. Fui desovado na cozinha:

Adalberto: Lu, que palhaçada é essa?

Lu: Adal, pelamordedeus, esse Deus grego que tá lá na sala é o Desidério, lembra?

Adalberto: Não.

Lu: O italiano que estudou comigo no Segundo Grau.

Adalberto: Tá, e daí? O que eu tenho a ver com isso?

Lu: É que ele me perguntou se eu, finalmente, tinha saído de Del Castilho. E eu disse que sim.

Adalberto: Ah, tá. Aí você tá fingindo que a minha casa é a sua casa?

Lu: Isso.

Adalberto: Mas de jeito nenhum. Eu vou lá na sala agora botar esse marombeiro pra fora. Ele e você, sua loroteira delcastilhiana!

Lu: Adal, não! Eu te dou um saco de Serenata de Amor.

Eu sou um trouxa mesmo. Vendo minha própria casa por Serenata de Amor.

Adalberto: Tá bom. Mas eu quero esse saco hoje, hein!

Lu: Tá, Adalzinho. Fica aqui, escondidinho, tá?

Ainda bem que a minha casa estava completamente desarrumada e que o meu quarto tinha uma cesta de roupa suja transbordando de cuecas para lavar. Isso repeliu a Lu. Ufa! Não sei pra onde ela foi com o Desidério. Mas, antes de bater a porta com toda força do mundo, me passou numa ordem:

Lu: Fungêncio, eu vou dar uma saidinha e volto em meia-hora. Quero o meu quarto arrumado, hein!

Fungêncio é o caralho. Eu já me chamo Adalberto, que não é lá essas coisas, e essa louca me xinga desse jeito. Deixa comigo...

Meia-hora depois, ela chegou, eu fiz questão de deixar a casa uma bagunça. Espalhei os porta-retratos pelo chão, revirei o tapete, joguei resto biscoito na cama só de sacanagem. Biaxou a "Fúria de Titãs" em mim.

Lu: Adal, que bagunça é essa?

Adalberto: Que bagunça é essa? É a bagunça que eu fiz na MINHA casa. Cadê o o Desidério pra ver a bagunça que o Fungêncio fez?

Lu: Foi embora.

Não acredito. Fiz aquilo tudo pra aparecer, mas não tinha mais plateia.

Adalberto: Como assim?

Lu: A gente brigou.

Adalberto: Mas tão rápido? Por quê? O que é que aconteceu?

Lu: Porque ele disse que queria casar comigo.

Adalberto: Ué, mas não é isso que você sempre quis?

Lu: É. Mas ele queria morar aqui. Disse que a casa é grande e tem ar-condicionado.

Adalberto: Nossa, só por isso?

Lu: Não. Porque ele já é casado na Itália.

Adalberto: Ah, tá. Assim, sim.

Lu: Tô muito triste, Adal. Posso ficar aqui hoje?

Adalberto: Pode. Mas, antes, cadê meu saco de Serenata de Amor?

Lu: Adal, eu não tô com cabeça pra isso.

Adalberto: Tá bom. Eu troco o Serenata de Amor por uma faxina na casa.

Lu: Poxa.

Adalberto: Ué, trato é trato. E você não cumpriu o seu. Essa é a multa.

Lu: Tá. Mas você me ajuda.

Adalberto: Não. Vou dar uma saidinha e volto em umas três horas ou quatro horas. quero tudo arrumado, hein, Fungência! Tchau!

Passei num mercado, comprei um saco de Serenata de Amor e fui ver um filme que me deixasse mais tranquilo. A "Fúria de Titãs" me deixou muito mau e vingativo. Se bem que, de vez em quando, eu posso voltar a ver esse filme. E ai de quem pisar no meu calo!