quinta-feira, 21 de junho de 2012

Reunião com as primas acaba em pizza e cheiro de bosta



Ontem, depois de um tempinho tentando, consegui reunir as quatro primas lá em casa. Para variar, não tinha nada na dispensa além de sal nem na geladeira além de água. Tivemos, então, a brilhante ideia de pedir uma pizza.

Lu: Ai, tomara que não demore. Eu estou morrendo de fome.

Sara: E eu estou com uma sede danada.

Adalberto: Ué, tem água na geladeira.

Sara: Mas é sede de CocaAdal.

Marjorie: Esse negócio de sede de Coca é muito engraçado. E o pior é que supernormal. Outro dia, um funcionário lá fábrica disse que estava morrendo de sede de Coca, aí eu perguntei para ele: e quando não existia Coca, como as pessoas faziam?

Ane: É mesmo. Imagina o mundo sem Coca, gente. Como é que devia ser?

Sara: Não consigo imaginar. Eu ia morrer

Adalberto: Não ia, não, Sarita. Sabe quando a gente sente uma vontade de comer alguma coisa que não sabe o que é? Deve ser de alguma coisa que não existe.

Lu: Cara, aquela tua amiga jornalista, a Flávia Monteiro, é mestre em falar isso. Outro dia, fui para a Lapa com ela, para um showzinho desses alternativos, que por sinal foi uma bosta. Aí, no fim de noite, mortas de fome, passamos numa loja de conveniência. Você acredita que dentre milhões de coisas para comer ela não quis nada? Disse que estava com fome de alguma coisa diferente.

Marjorie: Gente, isso acontece recorrentemente comigo.

Ane: Comigo também.

Adalberto: Com a minha mãe também.

Sara: Será que um dia essas coisas gostosas vão existir, assim como a Coca-Cola?

Adalberto: Ah, não dá para saber.

Marjorie: Muita coisa ainda vem por aí. Enquanto a gente viver, vai ter coisa nova surgindo.

Lu: Ai, eu queria pelo menos viver até lançarem no mercado um negócio gostoso, que eu comi num sonho que tive, mas não sei o que é exatamente.

Sara: Mas era parecido com o quê?

Lu: Não sei. Mas eu quero repetir. Era muito bom.

Ane: Ai, gente, é horrível ficar com vontade de alguma coisa que não existe. É como o homem perfeito.

Adalberto: Como assim, o homem perfeito não existe? E eu?

Ane: Ah, Adal, você não conta. Você já é primo.

Marjorie: E se fosse para ser de uma, ia ter confusão.

Adalberto: Por isso, que eu sou de todas.

Marjorie: Melhor assim.

Ane: Sabe o que eu acho disso tudo?

Adalberto: Disso tudo o quê?

A campainha tocou e eu fiquei morrendo de curiosidade em saber o que a Ane ia falar. Será que era de mim? Do homem perfeito? Da Coca-Cola? Ou das coisas que a gente sente vontade de comer mas não existem?

Lu: Deixa que eu abro.

MarjorieAdal, eu vou pegar prato e talher na cozinha.

Ane: Eu te ajudo.

Sara: Eu vou lavar minhas mãos.

Em frações de segundo, uma avalanche levou todas as primas embora. A Lu se afeiçoou até demais pelo entregador de pizza e foi com ele para algum lugar que a minha imaginação até alcança, mas prefere se isentar.

Lu: Primo, não fica chateada comigo. Já que de homem perfeito só existe você, o entregador de pizza vai quebrar um galho para mim.

Marjorie veio correndo da cozinha e a Sara do banheiro. Aliás, não sei como eles não deram um encontrão, de tão pequeno que é o meu apartamento.

MarjorieAdal, ficou faltando um material para as meninas terminarem umas bolsas lá na fábrica. Tenho que ir em casa agora buscar, porque marquei com a cliente amanhã cedinho.

Sara: E o Oswaldo acabou de me ligar. Os trigêmeos resolveram chorar ao mesmo tempo e ele precisa dormir.

Adalberto: Ele falou se é alguma coisa séria?

Sara: Nada. Não sabe como é homem, quando vê criança chorando? Fica desesperado. Adal, você precisa dar umas aulinhas de como ser o homem perfeito para o Oswaldo.

Adalberto: E como você vai embora?

Sara: Eu pego um táxi. Não se incomoda comigo.

Ane: Não. Eu te levo. Aproveito e pego aquela blusinha que eu deixei para você diminuir a manga.

AdalbertoAneAne! O que você queria falar naquela hora?

Ane: Que hora, garoto?

Adalberto: Naquela hora que você ia dizer o que acha disso tudo.

Ane: Disso tudo o quê, gente?

Adalberto: Daquilo tudo o que a gente estava falando... De Coca-Cola, de vontade de comer coisa que não existe, de homem perfeito... Quando o entregador de pizza chegou e interrompeu seu raciocínio.

Ane: Ai, Adal, sei lá. Eu tenho a Síndrome do Raciocínio Interrompido. Uma vez meu raciocínio interrompido, ele nunca mais se conclui.

Adalberto: Palhaça!

Ane: Devia ser alguma bobagem.

Adalberto: Tenta lembrar.

Sara: Não dá, primo. A não ser que ela não vá mais me levar. Eu estou com pressa.

Ane: Não, eu vou. Adal, eu tento lembrar no caminho e, qualquer coisa, te ligo.

Adalberto: Está bem.

E quando dei por mim, estava sozinho, com uma pizza tamanho família, sem ninguém para me acompanhar naquele desastre gastronômico.

Meia-hora depois, eu estava internado no banheiro com uma dor de barriga daquelas. Quando consegui me libertar do vaso, a minha amiga jornalista, da qual a Lu falou, chegou inesperadamente.


Adalberto: Flavinha! Que surpresa boa!


Flávia: Pois é, estava aqui perto tomar um chope com uma colega de trabalho e, agora, na hora de ir embora, decidi vir aqui te dar um beijinho,


Adalberto: Entra um pouquinho.

Flávia: Está bem. Mas só dois segundinhos, Adal. Estou morta de cansaço..


E quando eu mal havia fechado a porta, ela já queria ir embora.


Adalberto: Como assim, já quer ir embora?

Flávia: Eu falei que eram dois segundinhos, ué.

Na hora, não entendi nada.

Adalberto: Eu te levo até lá fora, então, sua maluquinha.

Flávia: Beleza.

Quando entrei em casa, entendi o porquê da minha amiga ter levado tão ao pé-da-letra os dois segundinhos. O ambiente estava empesteado de um cheiro de bosta, e eu só percebi isso porque fui para fora e voltei.

Coitada da Flávia. Ela descobriu da pior maneira que eu não sou o homem perfeito.

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