quarta-feira, 16 de julho de 2014

Bermuda jeans e camisa bege foram as responsáveis pela derrota do Brasil para a Alemanha na Copa do Mundo

No dia que o Brasil foi humilhado pela Alemanha na  Copa do Mundo, eu pretendia ver o jogo com as minhas. Até então, tínhamos visto todos os jogos juntos, na casa da Ane, com a mesma roupa sem lavar e sentados no mesmo lugar.

Pra esse jogo, não tinha a menor condição de eu ir com a mesma roupa sem lavar. E eu só me dei conta no dia. O cheiro de cecê estava absurdo. Ninguém ia aguentar ficar do meu lado. Fui com uma bermuda jeans e uma camisa bege.

Ane: Adal, como assim?

Adalberto: A minha roupa estava impraticável, prima. Vocês não iam aguentar.

Ane: Não interessa, era o nosso pacto, a nossa roupa-amuleto.

Adalberto: Ah, gente, que besteira. Não vai ser por causa de uma roupa, que o Brasil vai perder.

Marjorie: Claro que vai. Vai pra casa agora trocar de roupa e volta devidamente vestido!

Adalberto: De jeito nenhum! Eu não vou sair do Humaitá pra ir pro recreio pra, depois, voltar pra cá. Gente, o litro da gasolina tá três reais, não pra dá jogar dinheiro fora.

Lu: Nossa, caro, né? Se agora tá assim, imagina na Copa!

Ane: Lu, a questão é que a gente já tá na Copa. E se ele não for trocar de roupa agora, imagina o que vai ser do jogo de hoje.

Adalberto: Gente, é sério que vocês não vão me deixar entrar? É isso mesmo?

Sara: Primo, eu não acho uma boa ideia você ficar aqui com essa camisa bege.

Ane: Gente, claro que não! Quando abri a porta e vi essa garoto de bege, eu fiquei bege!

Lu: Adal, vai-te embora!

Adalberto: Eu tô sendo expulso?

Marjorie: Lógico!

Adalberto: Não acredito nisso. Ane, a casa é sua, você decide. Posso ficar?

Ane: Claro que não. Tchau!

E bateu a porta na minha cara.

Adalberto: Olha só, isso não vai ficar assim! Eu não vou esquecer NUNCA essa falta de respeito de vocês.

E quando já ia pegar o elevador pra ir embora pra casa...

Adalberto: Ah, e tomara que esse jogo seja um fiasco, que o Brasil perca de lavada. Que tome uns sete gols e que vocês sofram muito com essa derrota. Que fiquem desidratadas de tanto chorar! E morram!

Fui assistir ao jogo em casa sozinho. Até o terceiro gol, não parei de andar de um lado pro outro da sala. A partir do quarto, comecei a chorar copiosamente. No sétimo, me caguei todo! Eu não podia ter esse poder! Não podia!

Quando o juiz apitou o fim do jogo, eu já estava com a faca na mão criando coragem pra me matar. Eu sabia que eu não iria fazer isso, mas eu precisava contar pras minhas primas que tinha tentado, pelo menos. Até que resolvi lembrar, que tinha desejado que elas se desidratassem de tanto chorar e morressem em seguida.

Liguei imediatamente pra casa da Ane. Ninguém atendia. Liguei de novo. Nada. Outra vez. nenhuma resposta.

Fui até à casa dela. Eu até tenho a chave da casa de todas as minhas primas, mas saí com tanta pressa que esqueci de levar. Perguntei pro porteiro se tinha alguém em casa, mas ele não sabia. Tinha acabado de render o outro porteiro. Subi correndo pelas escadas, mesmo sabendo que, se esperasse o elevador descer e, depois, subisse até o oitavo andar, seria mais rápido. No quinto andar, estava completamente esbaforido. Decidi parar e pegar o elevador. Quando ele chegou, estava cheio de gente. Não cabia nem metade do meu corpo. Esperei mais três vezes, e ele continuava subindo cheio. Voltei pro térreo pra pegar o elevador vazio e voltar a subir (pra descer, todo santo ajuda!). Deu certo!

Finalmente, no andar da casa da Ane, bati à porta mil vezes. E nada! Perdi todas as forças do corpo. Mal conseguia chorar. Não tinha nem fôlego pra arrombar a porta. Bem que queria. Mas achava que pra botar aquela porta pra baixo, só se fosse o Hulk. Nesse momento, corrigi o meu próprio pensamento e resolvi que pra botar aquela porta no chão, só mesmo o Podolski, o Klose, o Khedira. Ou qualquer outro jogador da Alemanha. Menos o Hulk!

As minhas primas estavam mortas! E eu era o responsável por isso! Chorei, chorei, chorei. Até que já não tinha mais lágrimas. Acho que já estava começando a ficar desidratado, quando desmaiei.

Acordei num quarto de hospital, com as minhas quatro primas em volta da minha maca.

Adalberto: O que você estão fazendo aqui? Onde eu tô? Quem sou eu?

Lu: Gente, ele não sabe nem mais quem é ele!

Adalberto: Não, quem sou eu, eu sei, sim. Estava brincando. Mas onde eu tô e o que vocês estão fazendo aqui eu, realmente, não sei.

Marjorie: Você tá num hospital, recebendo soro na veia, porque estava desidratado.

Ane: O médico disse que, se você perdesse mais água do corpo, poderia até morrer, primo.

Sara: Tadinho do meu Adalzinho!

Reparei que elas estavam com as camisas do Brasil e lembrei do jogo, do fiasco, da minha responsabilidade.

Adalberto: Vocês não estão com raiva de mim?

Lu: Claro.

Ane: Só um pouco.

Sara: Mas vai passar.

Marjorie: Fica bom logo, primo. Quando você sair, a gente te mata.

Adalberto: Brigado.

Era tudo o que eu podia dizer naquele momento.

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