terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Lu é deportada dos Estados Unidos na Quarta-Feira de Cinzas, a tempo de curtir a rebarba do carnaval

Fiquei o carnaval inteiro em casa assistindo a filmes no Netflix. Na Quarta-Feira de Cinzas, quando eu deveria voltar ao trabalho (depois do meio-dia), liguei pro meu chefe, disse que estava com dor de barriga, ele não acreditou, mas se fingiu de bobo e mandou eu ficar em casa. E eu fui pra um bloco com a Pocahontas, a Fiona e a Rapunzel, digo Ane, Marjorie e Sara. Eu era um lindo Corcunda de Notre Dame. Só que não.

Marjorie: Não conseguiu falar com a Lu, Adal?

Adalberto: Não. Aquela vaca encheu a minha paciência pra comprar tecido branco pra cortina da fantasia dela de bunda da Paolla Oliveira e, agora, some. Que ódio.

Ane: Gente, a Lu é maluca. Deve estar se atracando com o primeiro cara vestido de Minnie que viu pela frente.

Sara: Ah, ela não ia furar com a gente, por causa de homem.

Ane: Oi?

Marjorie: Ela vive fazendo isso.

Adalberto: Gente, que medo, estão me ligando de um número gigantesco.

Marjorie: Não atende. Deve ser aquela gente chata de telemarketing.

Ane: Ah, ninguém merece isso hoje.

Sara: Atende. Vai que é alguma coisa importante. Qualquer coisa finge que tá ruim de área e desliga.

A Sara anda tão espertinha, né?

Adalberto: Alô.

Lu: Adal, sou eu, Lu. Me salva!

Adalberto: Gente, é a Lu. Onde é que você tá, sua maluca.

Lu: Na Disney.

Adalberto: Disney? Gente, a Lu tá na Disney! Para tudo.

Marjorie: Me dá esse telefone aqui. Lu, o que é que você tá fazendo na Disney, pode me falar?

Lu: O Francislúcio vai ter uma convenção do trabalho dele aqui e me chamou pra vir com ele. O cara pagou TUDO, prima!

Marjorie: Então, tá tudo bem com você, né? Ligou só pra botar inveja na gente, é isso mesmo?

Lu: Não, garota, eu tô foragida!

Marjorie: Como assim foragida?

Lu: Eu fui numa loja ver umas calças pra comprar e acabei ficando atolada dentro de uma skinny de stretch. Fui parar no hospital pra tirar essa bosta.

Marjorie: Lu, você é maluca? Como é que vocês experimenta uma calça nos Estados Unidos? Americana não tem coxa. E você tem um saco de boxe em cada perna. Claro que isso não ia prestar.

Adalberto: Me dá esse telefone aqui!

Lu: Eu fui levada de ambulância pra uma emergência.

Adalberto: Sério?

Lu: Arrã. Agora, eles querem me cobrar por uma cirurgia. Só porque usaram bisturi pra cortar a bendita da calça, é mole?

Adalberto: Eu só não consigo entender por que você foi parar na Disney.

Lu: Garoto, a conta da cirurgia foi de 40 mil dólares. Eu não tenho como pagar isso. Saí vestida de enfermeira pela porta dos fundos do hospital e peguei carona num caminhão, que distribui bebida na Disney.

Adalberto: Por que você não pediu pro motorista te deixar no hotel que vocês tá hospedada?

Lu: Porque, da Disney, ele ia pra Miami. Não ia passar perto do hotel.

Adalberto: E agora? Quer que a gente ligue pro teu peguete?

Lu: Não é peguete. Era amor verdadeiro, tá?

Preguiça.

Adalberto: Ai, tá bom. Quer que a gente ligue pra ele, sua mala?

Lu: Não! Já ligaram pra esse cachorro do hospital. Eu ouvi uma assistente social falando com ele, quando eu fui pro quarto. O safado disse que não me conhecia.

Adalberto: Ah, era pra ele o seu amor eterno mesmo? Porque você não tomou o telefone dela e deu esculacho nesse mané?

Lu: Porque eu estava ainda meio grogue, sob o efeito da anestesia, Adal! Tinha acabado de sair de uma cirurgia, esqueceu?

Adalberto: Oi? Eles só cortaram uma calça de você. Pra que te deram anestesia?

Lu: Não sei. Aqui nos Estados Unidos é tudo assim. Povo exagerado... Agora, eu tô sendo procurada pela polícia, acredita? Já apareceu foto minha na televisão e tudo.

Adalberto: Amoreca, a gente não tem muito o que fazer por você, então. Faz o seguinte: se entrega pra polícia e vem linda, deportada pro Brasil de enfermeira. É bom que já vai estar com fantasia pra ir com a gente pra outro bloco amanhã. Já sai direto do aeroporto e pega um táxi pra Laranjeiras. A boa vai lá. Vou até inventar outra dor de barriga pra faltar o trabalho de novo...vai

Lu: Sério que você acha que eu devo me entregar pra polícia, primo?

Adalberto: Lógico! Nem pensa, vai na fé! Ó, em homenagem a você, a gente vai fazer uma selfie. Parece coincidência, mas a gente veio de personagem da Disney, aqui, pro bloco. Vou te mandar por WhatsApp. Tem Wi-Fi aí, né? Que pergunta! Claro que tem Wi-Fi na Disney, dããããããã! Agora, deixa eu ir lá, porque, senão, vou ficar pra trás. As meninas já devem ter bebido umas dez cervejas, enquanto a gente tá aqui conversando, e eu de bico seco. Vou desligar. Beijo. Te amo. Vem com Deus, tá?

Lu: Tá.

E, no dia seguinte, fui para o bloco vestido de médico e as meninas, de enfermeiras. A Lu, quando viu a gente, chorou de emoção. Achou linda a surpresa. A farra no bloco foi maravilhosa. Ela bebeu todas, pegou todos, enfim, foi tudo. Era a deportada mais feliz, que eu já vi na minha vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário