terça-feira, 12 de novembro de 2013

Sonho de consumo decepciona Lu

Ontem, a Lu foi a minha casa pra tentar conter a própria ansiedade.

Adalberto: Lu, são sete horas da manhã. Eu tenho que ir trabalhar.

Lu: Ah, mas você não vai mesmo. Eu não dormi a noite toda. Preciso de uma companhia, primo. Senão, eu não vou aguentar esperar até a noite.

Adalberto: Esse encontro com o Wendelano á tão importante assim?

Lu: Cara, o Wendelano já foi um dos meus sonhos de consumo da minha adolescência. Agora que ele se separou e tá voltando a morar no Rio, essa é a minha grande chance.

Adalberto: Um dos? Foram muitos?

Lu: Não sei. Uns 15, sei lá. Adal, isso não importa mais. Até porque eu não consigo mais ter olhos nem cabeça pra nenhum outro homem, além do Wendelano. Por quê?

Adalberto: Nada. Só curiosidade mesmo. Olha só, eu vou ter que ir pro trabalho mesmo, tá? Tem água na geladeira, miojo na dispensa e a televisão da sala não tá funcionando, porque eu ainda não paguei, mas no quarto você pode assistir TV aberta.

Lu: Adal, você não vai trabalhar.

Adalberto: Vou, sim.

Lu: Se você for, eu vou atrás e faço um escândalo na porta da tua firma.

O pior é que ela é capaz disso mesmo.

Adalberto: Que saco! Que inferno ter primas como vc, Ane, Marjorie e Sara, que acham que mandam em mim!

Lu: Mas a gente manda em você.

Adalberto: Não, vocês me manipulam. É diferente. Eu fico. Mas você vai ter que fazer um almoço bem gostoso pra mim.

Lu: Fechado.

Enquanto a Lu foi ao mercado comprar os ingredientes para o estrogonofe de camarão, eu liguei pro meu trabalho pra dizer que não iria, por causa de mais uma dor de barriga e, depois, voltei a dormir.

À tarde, depois de repetir três vezes a comida, tivemos uma conversa séria sobre a família do Wendelano.

Lu: Por que você tá me perguntando essas coisas?

Adalberto: Não foi você que disse que todo mundo na casa dele é louco?

Lu: Eles não são loucos.

Adalberto: Então, me explica por que a irmã dele se chama Rosemary, mas se apresenta pra todo mundo por Deise?

Lu: Eu já te expliquei que o nome dela sempre foi Deise. Só na hora de registrar, o pai do Wendelano estava bêbado e colocou o nome da amante na filha. Mas a mulher dele sabia da existência dessa amante e nunca deixou que ninguém chamasse a filha de Rosemary. Só de Deise.

Adalberto: E isso justifica ela ter colocado o nome de Maicolino e chamar de Rodrigo?

Lu: Ela é problemática, quis se vingar da vida mirando no próprio filho, coisa de gente que tem crise de identidade. Nunca foi Rosemary nem Deise...

Adalberto: Pra mim, ela é doida.

Lu: Motivos pra ser doido tem a irmã do Wendelano, que foi criada numa jaula. Mas ela deu motivos.

Adalberto: Como assim? Qual motivo?

Lu: Ela perdeu a virgindade com 12 anos. Isso é idade?

Adalberto: Lu, você não pode julgar a menina, mas a criação que ela teve. Você tem certeza que é nessa família que você vai se enfiar?

Lu: Eu nunca tive tanta certeza na minha vida. A gente vem se falando há dias por telefone. Ele quer mesmo uma coisa séria comigo. Tá me cheirando amor pra vida toda, Adal.

Adalberto: É sério isso?

Lu: É. Mas deixa eu me arrumar, porque eu tenho que sair em quatro horas.

Adalberto: Vai lá.

E não é que ela ainda saiu atrasada? Não entendo por que as mulheres demoram tanto pra botar uma roupa, pentear cabelo e passar maquiagem, se elas fazem isso há tanto tempo.

Lu: Tchau, primo.

Adalberto: Beijo.

E duas horas depois, ela me volta decepcionadíssima.

Lu: Quero me matar. Me joga da sua janela, por favor?

Adalberto: Depende. Por quê?

Lu: O Wendelano quis transar comigo vestido de mulher. Foi por isso que a mulher dele não quis mais ficar com ele.

Adalberto: É um fetiche estranho, né?

Lu: Muito. Ele diz que não consegue mais fazer sexo se não for assim. E eu gosto de homem, primo!

Adalberto: E agora?

Lu: Agora? Eu quero me matar, ué. Já te falei. A vida perdeu sentido pra mim.

Adalberto: Ah, Lu, para de show e vamos tomar uma chope lá na rua. Eu já imaginava que não tinha um que prestava nessa família.

Lu: Vamos. E eu vou dar mole pro primeiro garçom que aparecer na minha frente. Tô necessitada, subindo pelas paredes. Quero homem!

A Lu não tem mesmo papas na língua...

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