No domingo, tive que sair no meio do almoço com uns amigos do Martins pra ficar com a Marjorie. Ela me ligou com uma vozinha tão triste, que preferi ir a campo ver o que estava acontecendo:
Adalberto: Por que você tá com essa cara? Posso saber?
Marjorie: Por causa do Naldiney.
Adalberto: Ah, fala sério. Aquele cara é um imbecil, idiota e otário. Ou seja, ele não te merece.
Marjorie: Adal, você veio aqui só pra estragar o meu momento?
Adalberto: Que momento? Momento de sofrimento?
Marjorie: É.
Adalberto: Ah, vai procurar uma louça pra lavar.
Marjorie: Não quero. Deixa eu ter o meu momento Bridget Jones com dignidade e sofrer ouvindo “All by myself”, pelamordedeus.
Adalberto: Tudo bem. Mas eu vou ficar aqui com você.
Marjorie: Mas eu quero arrastar as costas contra a porta até agachar no chão e me debulhar em lágrimas.
Adalberto: Para de ser infantil. Nem parece a mulher inteligente forte que eu conheço.
Marjorie: Primo, me abraça.
Eu queria bater na cara dela por estar sofrendo por um cara, que não vale a merda que caga, mas quando alguém me pede um abraço, tenho que confessar: eu me comovo.
Adalberto: Jojô, não fica assim.
Marjorie: Diz pra mim que ele vai voltar, Adal. Por favor.
Isso nem cremado!
Adalberto: Digamos que o melhor vai acontecer na sua vida, ainda que disfarçado de pior.
Marjorie: Ai, não vem com essa conversinha, Adal.
Adalberto: Ué, e você quer que eu diga o quê?
Marjorie: Que ele vai voltar, ué.
Cruzei os dedos sem que ela visse, respirei fundo e disse:
Adalberto: Ele vai voltar. Pronto. Não era isso que você queria ouvir?
Marjorie: Ai, brigada, primo. Agora, eu tô bem.
Porra, que maravilha!
Adalberto: Sério?
Marjorie: Sério. Eu confio muito no que você fala, primo. Pra mim, você é o maior entendedor da vida que eu conheço. Um visionário. E, se você falou, é porque é.
Porra, que merda! Não quero perder essa fama.
Adalberto: Jojô, mas tem coisas na vida que eu até posso prever, mas isso não quer dizer que elas vão acontecer de fato.
Marjorie: Ah, primo, para de modéstia. O que você fala é lei.
Tadinha...
Adalberto: Olha... Sei lá, estava pensando em tomar um chope, então, pra comemorar?
Marjorie: Claro. Comemorar a volta do meu amor.
Adalberto: É...
Marjorie: Só se for agora, primo!
Embebedei a Marjorie no bar. Tomei cerveja sem vontade, só pra deixá-la na mão do palhaço. Foram muitas garrafas. MUITAS. E o melhor de tudo: ela tem amnésia alcoólica. Ontem, pela manhã, quando nos falamos, ela não lembrava de porra nenhuma. Tinha muita ressaca com que se preocupar. E eu não perdi a minha fama de visionário.
Marjorie: Jura que eu beijei um cara no bar, Adal?
Adalberto: Juro.
Nem precisei cruzar os dedos, porque quem jura mente mesmo...
Marjorie: Ai, que vergonha, primo. Agora, sou eu que não quero mais ficar com o Naldiney. Você sabe que eu não aprovo infidelidade.
Adalberto: Claro. Por isso, que, quando eu saí da sua casa pra vir pro trabalho, e vi que ele estava plantado na porta do teu prédio com um buquê de rosas, disse pra ele partir pra outra. Eu te conheço bem e sei que você jamais iria mais conseguir ficar com ele, depois de ter beijado outro cara.
Marjorie: Verdade. Mas me conta, Adal. E ele? Tô com uma pena...
Adalberto: Não fica. Ele entendeu. E foi embora.
Marjorie: Sem questionar?
Adalberto: Sem questionar.
Cruzei os dedos, claro.
Marjorie: Então, hoje, quando você sair do trabalho, vem direto aqui pra casa, pra gente beber mais. Vamos celebrar um novo começo na minha vida.
E, assim, o sofrimento pelo Naldiney foi enterrado. Fácil, né? Tudo bem que a insignificância dele facilitou o processo. Mas a fábrica de bolsas da Marjorie teve a sorte de fechar um contrato incrível com uma grife nova. Isso também ajudou.
Mas o melhor de tudo isso é que eu não perdi a minha fama de visionário.
Ufa!
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