terça-feira, 21 de junho de 2011

Mas é que eu tenho que manter a minha fama de... Visionário!

No domingo, tive que sair no meio do almoço com uns amigos do Martins pra ficar com a Marjorie. Ela me ligou com uma vozinha tão triste, que preferi ir a campo ver o que estava acontecendo:

Adalberto: Por que você tá com essa cara? Posso saber?

Marjorie: Por causa do Naldiney.

Adalberto: Ah, fala sério. Aquele cara é um imbecil, idiota e otário. Ou seja, ele não te merece.

Marjorie: Adal, você veio aqui só pra estragar o meu momento?

Adalberto: Que momento? Momento de sofrimento?

Marjorie: É.

Adalberto: Ah, vai procurar uma louça pra lavar.

Marjorie: Não quero. Deixa eu ter o meu momento Bridget Jones com dignidade e sofrer ouvindo “All by myself”, pelamordedeus.

Adalberto: Tudo bem. Mas eu vou ficar aqui com você.

Marjorie: Mas eu quero arrastar as costas contra a porta até agachar no chão e me debulhar em lágrimas.

Adalberto: Para de ser infantil. Nem parece a mulher inteligente forte que eu conheço.

Marjorie: Primo, me abraça.

Eu queria bater na cara dela por estar sofrendo por um cara, que não vale a merda que caga, mas quando alguém me pede um abraço, tenho que confessar: eu me comovo.

Adalberto: Jojô, não fica assim.

Marjorie: Diz pra mim que ele vai voltar, Adal. Por favor.

Isso nem cremado!

Adalberto: Digamos que o melhor vai acontecer na sua vida, ainda que disfarçado de pior.

Marjorie: Ai, não vem com essa conversinha, Adal.

Adalberto: Ué, e você quer que eu diga o quê?

Marjorie: Que ele vai voltar, ué.

Cruzei os dedos sem que ela visse, respirei fundo e disse:

Adalberto: Ele vai voltar. Pronto. Não era isso que você queria ouvir?

Marjorie: Ai, brigada, primo. Agora, eu tô bem.

Porra, que maravilha!

Adalberto: Sério?

Marjorie: Sério. Eu confio muito no que você fala, primo. Pra mim, você é o maior entendedor da vida que eu conheço. Um visionário. E, se você falou, é porque é.

Porra, que merda! Não quero perder essa fama.

Adalberto: Jojô, mas tem coisas na vida que eu até posso prever, mas isso não quer dizer que elas vão acontecer de fato.

Marjorie: Ah, primo, para de modéstia. O que você fala é lei.

Tadinha...

Adalberto: Olha... Sei lá, estava pensando em tomar um chope, então, pra comemorar?

Marjorie: Claro. Comemorar a volta do meu amor.

Adalberto: É...

Marjorie: Só se for agora, primo!

Embebedei a Marjorie no bar. Tomei cerveja sem vontade, só pra deixá-la na mão do palhaço. Foram muitas garrafas. MUITAS. E o melhor de tudo: ela tem amnésia alcoólica. Ontem, pela manhã, quando nos falamos, ela não lembrava de porra nenhuma. Tinha muita ressaca com que se preocupar. E eu não perdi a minha fama de visionário.

Marjorie: Jura que eu beijei um cara no bar, Adal?

Adalberto: Juro.

Nem precisei cruzar os dedos, porque quem jura mente mesmo...

Marjorie: Ai, que vergonha, primo. Agora, sou eu que não quero mais ficar com o Naldiney. Você sabe que eu não aprovo infidelidade.

Adalberto: Claro. Por isso, que, quando eu saí da sua casa pra vir pro trabalho, e vi que ele estava plantado na porta do teu prédio com um buquê de rosas, disse pra ele partir pra outra. Eu te conheço bem e sei que você jamais iria mais conseguir ficar com ele, depois de ter beijado outro cara.

Marjorie: Verdade. Mas me conta, Adal. E ele? Tô com uma pena...

Adalberto: Não fica. Ele entendeu. E foi embora.

Marjorie: Sem questionar?

Adalberto: Sem questionar.

Cruzei os dedos, claro.

Marjorie: Então, hoje, quando você sair do trabalho, vem direto aqui pra casa, pra gente beber mais. Vamos celebrar um novo começo na minha vida.

E, assim, o sofrimento pelo Naldiney foi enterrado. Fácil, né? Tudo bem que a insignificância dele facilitou o processo. Mas a fábrica de bolsas da Marjorie teve a sorte de fechar um contrato incrível com uma grife nova. Isso também ajudou.

Mas o melhor de tudo isso é que eu não perdi a minha fama de visionário.

Ufa!

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