domingo, 3 de março de 2013

Primas dão bolo no aniversário do Rio

Na sexta-feira, o Rio de Janeiro fez 448 anos e eu resolvi celebrar a data em grande estilo com as primas. Decidimos juntos que invetaríamos uma história triste para faltar ao trabalho e iríamos curtir o dia. O roteiro era o seguinte: café da manhã no Parque Laje, pedalada nas Paineiras com direito a banho de cachoeira para refrescar, fritar na praia até o sol se por (claro!) com muitos aplausos e barzinho na Lapa para fechar o dia com chave de ouro.

Mas nada disso aconteceu.

A primeira a dar desculpas foi a Ane.

Ane: Primo, eu torci o pé ontem e estou usando botinha ortopédica. Nem vai rolar.

Adalberto: E se eu não te ligasse, eu jamais saberia disso?

Ane: Eu sabia que você ia ligar. Você ia passar aqui em casa para me buscar.

Fiquei calado para não dar uma resposta daquelas, que entrega o nosso nível. Baixo, no caso.

Ane: Te amo.

A Lu também não tinha condições de ir, mas o motivo não era nenhuma novidade.

Lu: O Regisvaldo dormiu aqui.

Adalberto: E isso quer dizer que você passou a noite toda em claro e, agora, não vai ter condições de honrar um compromisso, que você havia tratado há uma semana.

Lu: A culpa não foi minha. Eu imaginei que seria uma rapidinha.

Adalberto: Lu, eu vou desligar, porque o que eu teria para te falar também não seria nada rapidinho. Mas não vale a pena. Você não tem jeito. Nunca vai aprender.

A Sara, além de também ter seu motivo para não sair de casa, colaborou com uma informação nova.

Sara: Eu estou com uma irritação na pele. E de mais a mais, o tempo está fechado. Vai dar chuva. Você não viu?

O meu apartamento é, praticamente, uma caverna. Todas as janelas ficam fechadas o dia todo e eu, para ver as condições climáticas, acabo apelando para o celular. Dá menos trabalho.

Adalberto: Eu estou com o celular carregando na cozinha e não acessei o aplicativo da meteorologia até agora.

Sara: Ih, está começando a chover aqui.

Adalberto: Aqui também. Estou ouvindo um barulhinho de chuva. Que bosta. Vou ligar para a Marjorie, para desmarcar o nosso programa.

Mas ela também não iria poder me acompanhar.

Marjorie: Garoto, eu até cheguei a me arrumar, mas eu acordei com a ligação de uma cliente e vou ter que ir para São Paulo. Quer ir comigo, Adal?

Adalberto: No dia do aniversário do Rio de Janeiro ir para São Paulo é um pouco demais, não?

Marjorie: Pior é ficar aqui com essa chuva. É o mesmo que estar em São Paulo.

Verdade.

Adalberto: Eu vou com você.

Marjorie: Oba! Depois da reunião, a gente vai para um coquetel de outro cliente meu, em homenagem ao aniversário do Rio. Ele é carioca mas mora em Sampa há uns dez anos. De uma forma ou de outra, a gente vai comemorar a data.

Gastei todas as minhas milhares de milhas, que eu guardava para fazer uma viagem internacional, por uma ida ali em São Paulo.

Marjorie: Não adianta fazer essa cara. Comprar passagem em cima da hora é assim mesmo.

Adalberto: Um absurdo, né?

Mas o programa de índio não parou por aí. Quando o avião já havia decolado e eu achava que aquele era um caminho sem volta, tivemos que retornar. Uma ave infeliz foi atingida pela turbina do avião e acabou com a nossa incrível viagem para São Paulo.

Marjorie: Que falta de sorte a nossa.

Adalberto: Falta de sorte, não. É um aviso. A gente não tem que ir para São Paulo no dia do aniversário do Rio. É contra-sensual.

Marjorie: E só agora você acha isso?

Adalberto: Depois dessa, né? Quer arriscar ir no próximo voo? Eu não vou. Eu amo a minha vida.

Ela também não foi.

No táxi para casa a Lu me ligou.

Lu: Cadê você?

Adalberto: Saindo do Santos Dumont.

Lu: Ai, primo, passa aqui no Largo da Carioca para me buscar. Eu tenho uma surpresinha para você. É das boas, hein...

Falou em surpresa, eu já imagino um carro zero importado, uma cobertura de frente para o mar, um jatinho ou qualquer outra coisa nessa linha. Eu sei que, vindo da Lu, eu não poderia esperar nada disso. Mas, sei lá, eu me encho de esperança e pago para ver.

Adalberto: Jojô, vou pedir para o taxista desviar o caminho para a gente pegar a Lu ali no Largo da Carioca. Tudo bem?

Marjorie: Tranquilo.

Adalberto: Moço, Largo da Carioca, por favor.

Taxista: Está cheio lá.

Minha imaginação viajou... E eu não conseguia esconder a felicidade. A Lu iria me presentear com a casa que ela ganhou numa dessas milhares promoções, que ela participa. Já estava até vendo a minha prima em cima de um palco, recebendo as chaves e dizendo que daria o imóvel de presente para mim.

Marjorie: Ouviu, Adal? Ele disse que está cheio lá.

Adalberto: Ouvi. Não tem problema. Toca para lá, por favor.

E quando chegamos, realmente, estava muito cheio. No começo, eu estava com um sorriso no rosto, que eu não conseguia segurar. Mas, quando fomos chegando perto, e vi que se tratava da distribuição de um bolo gigante para os cariocas, a decepção tomou o meu ser.

A Lu estava em cima de um hidrante acenando para mim, com uma bolsa de mercado cheia de bolo dentro. Eu quero ela em cima do palco, recebendo as chaves da minha casa. Como na minha imaginação...

Lu: Ai, que bom que vocês vieram me pegar. Hoje, os motoristas de ônibus entraram em greve. Foi o maior perrengue vir para cá. Os poucos ônibus, que estão circulando, passam lotados. Eu não queria amassar o meu bolo agora na volta.

Fomos para a minha casa e, depois de tantos bolos que eu tomei ao longo do dia, acabei comendo o bolo do aniversário do Rio de Janeiro.

Pelo menos, a data não passou em branco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário