No sábado, fui ao cinema com Ane e Lu, mas parecia que eu estava na feira. Elas não paravam de falar.
Lu: A bundinha do Mike é deliciosa, hein.
Ane: Nem fala, prima. Tô ovulando aqui.
Adalberto: Gente, será que vocês podem falar mais baixo? Daqui a pouco, vou expulsar a gente daqui. Já não basta eu ser o único homem vendo "Magic Mike XXL"? Tenho que passar mais vergonha com vocês mesmo?
Nisso, o meu celular toca, a mulherada toda reclama, e eu saio da sala, fazendo cara de "vou ali tirar minha mãe da forca rapidinho e já volto". Ane e Lu cagaram solenemente para mim. Estavam tão envolvidas com as cenas de strip-tease do filme, que nem repararam na minha saída.
Era a Marjorie no telefone.
Adalberto: Fala, Jojô.
Marjorie: Adal, você precisa me salvar agora.
Adalberto: O que aconteceu?
Marjorie: A mãe do Fredismarlon teve problema com o marido dela no Galeão.
Adalberto: Eles brigaram? Ela passou mal? Morreu?
Marjorie: Não. Ele é um coelho.
Adalberto: Para de sacanagem, Marjorie. Eu acabei de sair do meio da sessão do filme "Magic Mike XXL". Por hoje, chega, né?
Marjorie: É sério, primo. A minha sogra acha que o marido, que morreu há séculos, reencarnou num coelho. Só porque o bichinho tem um olho azul e o outro verde, como o meu sogro tinha. Ele trouxe ele de Portugal pra cá.
Adalberto: E você quer que eu faça o que, além de rir disso?
Marjorie: Que você fale com aquela sua amiga do Pio XI pra ela liberar a entrada dele no país. Ele tá preso no aeroporto.
Adalberto: Você quer que eu fale com a Michaelle? Que você sacaneou a vida inteira? Tá maluca?
Marjorie: Nossa, mas era coisa de adolescente. Tem mais de 20 anos que não a vejo. A mágoa dela nunca expira?
Adalberto: Não sei. Vou ligar pra ele e já te falo.
Marjorie: Implora pra essa raquítica, pelamordedeus!
Adalberto: Marjorie!
Marjorie: Desculpa! Adal tenho que desligar, beijo.
E quando eu achava que estava ligando pra minha amiga do tempo do primeiro grau...
Sara: Fala, primo.
Adalberto: Sara? Eu te liguei?
Sara: Não. Eu te liguei.
Adalberto: Sarita, eu preciso deligar. Tenho que resolver um problema pra Marjorie.
Sara: Você tá onde?
Adalberto: Aqui no cinema do Shopping Metropolitano.
Sara: Ah, foi providência de Deus isso, primo, que bom! Olha, só, eu preciso que você passe na farmácia e compre um remédio para Joelma, aquela minha amiga do Méier. A bolsa dela estourou antes do tempo, e ela acabou de parir na Perinatal. Detalhe: o marido dela tá viajando, a mãe tá cuidando do neném do outro filho, e eu tô aqui com os trigêmeos gripados, sem poder sair de casa.
E a trolha sobrou pra mim. Contei até mil em dois segundos e respondi:
Adalberto: Tá bom. Qual remédio?
Sara: Sabia que podia contar com você.
Por uma coincidência absurda, encontrei com a Michaelle na maternidade.
Michaelle: Garoto, quanto tempo! Tá fazendo o que aqui?
Adalberto: Oi! Mika, eu preciso falar com você. Sério, eu ia te ligar agora.
Michaelle: Mentira.
Adalberto: Realmente, é mentira. Mas eu ia te ligar há uma hora atrás. Preciso que você me ajude a resolver um problema.
Michaelle: Sabia que era pra pedir alguma coisa.
Adalberto: Não fala assim. Nem é pra mim. Você ainda tá trabalhando com aquele negócio de liberar entrada de animal no país?
Michaelle: Tô.
Adalberto: Então, o coelho da sogra da Marjorie tá preso no Galeão.
Michaelle: Marjorie é aquela sua prima que me chamava de raquítica, desnutrida, morta de fome e Olívia Palito?
É, pelo visto, quem sofre bullying nunca esquece.
Adalberto: Você não superou?
Michaelle: Eu fiz psicólogo por causa dela.
Adalberto: Mas não tem como quebrar essa por mim?
Michaelle: Só se ela se ajoelhasse aos meus pés.
Adalberto: Eu vou ligar pra ela. Acho que rola. Só preciso ir ali entregar um remédio pra uma amiga de uma outra prima, que teve filho, e o marido tá viajando?
Michaelle: A Joelma? Meu marido também é amigo dela e me ligou pra trazer esse remédio. Quando cheguei aqui, ela já tinha 15 caixas do remédio. Parece que eles divulgaram num grupinho de WhatsApp.
Adalberto: Não acredito! Bom, pelo menos, eu te encontrei aqui. Vamos tomar um chope em algum bar? De lá, eu ligo pra minha prima.
Michaelle: Eu tenho que ficar aqui. Meu marido me monitora pelo celular. Se ele vir que eu tô num bar, ele me mata.
Adalberto: Sério?
Michaelle: Estava difícil de arrumar homem pra casar.
Adalberto: Bom, vou ligar pro Marjorie e pedir pra ela vir pra cá.
Meia-hora depois, chegam Marjorie, a sogra, Ane e Lu.
Lu: Tu saiu do cinema e nem falou com a gente, seu retardado?
Adalberto: Ah, resolveu sentir a minha falta?
Marjorie: Tudo bem, Michaelle? O Adal falou comigo que você pode ajudar. quanto que eu tenho que te pagar?
Michaelle: Você não falou com ela, Adalba?
Adalberto: Eu falei que tinha um preço. Jojô, você tem que beijar os pés dela.
Michaelle: Ha-ha-ha, surtou, né?
Adalberto: Não, é sério.
Michaelle: Aproveita que eu nem tô com chulé hoje.
Marjorie: Sua vagabunda raquítica, eu vou te arrebentar a cara.
Sogra da Marjorie: Não vai arrebentar a cara de ninguém! Olha só, se você não beijar o pé dela pra liberar o meu marido, eu vou fazer macumba pra você terminar com o meu filho!
Nessa, a Marjorie se ferrou. E eu cheguei a conclusão de que as mulheres estão fazendo tudo pra conservar os seus machos. Aceitam ser monitoradas pelo celular, beijam os pés das inimigas...
E depois de se humilhar, beijando o pé da minha amiga, a ligação que a Marjorie recebeu foi de cortar os pulsos.
Lu: O que aconteceu, Marjorie? Que cara é essa?
Ane: Fala, prima!
Marjorie: Meu sogro morreu. Parece que ficou muito estressado, a pressão subiu e ele não resistiu. A menina que me ligou disse que ele foi atendido na emergência do aeroporto, mas como não tem veterinário lá, não souberam bem como proceder.
Sogra da Marjorie: Não! Meu marido!
Lu: Ué, mas foi veterinário mesmo que eu ouvi?
Adalberto: O sogro da Marjorie era um coelho. Não ri.
Ane: Como assim?
Adalberto: Ele reencarnou num coelho.
Enquanto a viúva estava aos prantos e era consolada pela Marjorie, Ane, Lu e Michaelle se mijavam de rir. Eu consegui segurar.
Sogra da Marjorie: Preciso ver meu marido.
Marjorie: Claro. Eu vou com a senhora. Só preciso dar um beijo na Joelma e ver o bebê. Vamos comigo rapidinho?
Lu: Primo, vamos tomar um chope?
Adalberto: Vamos! Jojô, eu vou embora com a Lu e a Ane.
Marjorie: Tá bom.
Conseguimos cumprimentar a sogra da Marjorie segurando a vontade de rir.
Adalberto: Tchau, Mika.
Michaelle: Tchau, amigo. Da próxima vez que precisar, é só dar beijo no pé, que eu resolvo o problema.
Marjorie: Sua vaca. Me aguarde!
No bar, o assunto era o coelho. A gente ficou relembrando a história mil vezes e, em todas elas, ríamos histericamente. O pessoal da mesa ao lado não conseguia conversar, estava irritado com a gente já.
Quando o garçom veio trazer uma porção de croquete, ele aproveitou pra avisar que o meu celular não parava de tocar. Era a Marjorie.
Adalberto: Fala, Jojô.
Lu: Manda ela vir pra cá.
Ane: Agora! A gente precisa dela aqui.
Adalberto: Peraí, gente, deixa eu ouvir.
E era inacreditável o que eu estava ouvindo.
Adalberto: Vocês não sabem da maior. A sogra da Marjorie sequestrou o filho da Joelma., e elas foram levadas pra 16ª DP.
Ane: Como assim?
Adalberto: Parece que a bebê nasceu com um olho azul e o outro verde, como era marido dela e o coelho tinham, e a louca, mais uma vez, achou que era o morto tinha reencarnado.
Lu: Mas o que a Marjorie tem a ver com o sequestro?
Adalberto: Pelo que eu entendi, nada. Mas a doida é sogra dela, né? Deve ter botado a nossa primo no meio da história.
Lu: Uma sogra como essa é pior do que macumba.
Ane: Exconjura essa mulher, meu pai! Que encosto!
A Marjorie tinha mesmo que se benzer. E foi o que fizemos depois que saímos da delegacia. Fomos eu, ela, Ane e Lu para um centro espírita. Tomamos passe e, depois, claro, fomos pra outro bar, tomar mais cerveja pra comemorar o fim do relacionamento da Marjorie com o Fredismarlon.
Não dá pra namorar o filho de uma maluca com um coelho, né?
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