segunda-feira, 27 de julho de 2015

Sogro de Marjorie, reencarnado num coelho, morre no aeroporto e me salva do final do filme 'Magic Mike XXL'

No sábado, fui ao cinema com Ane e Lu, mas parecia que eu estava na feira. Elas não paravam de falar.

Lu: A bundinha do Mike é deliciosa, hein.

Ane: Nem fala, prima. Tô ovulando aqui.

Adalberto: Gente, será que vocês podem falar mais baixo? Daqui a pouco, vou expulsar a gente daqui. Já não basta eu ser o único homem vendo "Magic Mike XXL"? Tenho que passar mais vergonha com vocês mesmo?

Nisso, o meu celular toca, a mulherada toda reclama, e eu saio da sala, fazendo cara de "vou ali tirar minha mãe da forca rapidinho e já volto". Ane e Lu cagaram solenemente para mim. Estavam tão envolvidas com as cenas de strip-tease do filme, que nem repararam na minha saída.

Era a Marjorie no telefone.

Adalberto: Fala, Jojô.

Marjorie: Adal, você precisa me salvar agora.

Adalberto: O que aconteceu?

Marjorie: A mãe do Fredismarlon teve problema com o marido dela no Galeão.

Adalberto: Eles brigaram? Ela passou mal? Morreu?

Marjorie: Não. Ele é um coelho.

Adalberto: Para de sacanagem, Marjorie. Eu acabei de sair do meio da sessão do filme "Magic Mike XXL". Por hoje, chega, né?

Marjorie: É sério, primo. A minha sogra acha que o marido, que morreu há séculos, reencarnou num coelho. Só  porque o bichinho tem um olho azul e o outro verde, como o meu sogro tinha. Ele trouxe ele de Portugal pra cá.

Adalberto: E você quer que eu faça o que, além de rir disso?

Marjorie: Que você fale com aquela sua amiga do Pio XI pra ela liberar a entrada dele no país. Ele tá preso no aeroporto.

Adalberto: Você quer que eu fale com a Michaelle? Que você sacaneou a vida inteira? Tá maluca?

Marjorie: Nossa, mas era coisa de adolescente. Tem mais de 20 anos que não a vejo. A mágoa dela nunca expira?

Adalberto: Não sei. Vou ligar pra ele e já te falo.

Marjorie: Implora pra essa raquítica, pelamordedeus!

Adalberto: Marjorie!

Marjorie: Desculpa! Adal tenho que desligar, beijo.

E quando eu achava que estava ligando pra minha amiga do tempo do primeiro grau...

Sara: Fala, primo.

Adalberto: Sara? Eu te liguei?

Sara: Não. Eu te liguei.

Adalberto: Sarita, eu preciso deligar. Tenho que resolver um problema pra Marjorie.

Sara: Você tá onde?

Adalberto: Aqui no cinema do Shopping Metropolitano.

Sara: Ah, foi providência de Deus isso, primo, que bom! Olha, só, eu preciso que você passe na farmácia e compre um remédio para Joelma, aquela minha amiga do Méier. A bolsa dela estourou antes do tempo, e ela acabou de parir na Perinatal. Detalhe: o marido dela tá viajando, a mãe tá cuidando do neném do outro filho, e eu tô aqui com os trigêmeos gripados, sem poder sair de casa.

E a trolha sobrou pra mim. Contei até mil em dois segundos e respondi:

Adalberto: Tá bom. Qual remédio?

Sara: Sabia que podia contar com você.

Por uma coincidência absurda, encontrei com a Michaelle na maternidade.

Michaelle: Garoto, quanto tempo! Tá fazendo o que aqui?

Adalberto: Oi! Mika, eu preciso falar com você. Sério, eu ia te ligar agora.

Michaelle: Mentira.

Adalberto: Realmente, é mentira. Mas eu ia te ligar há uma hora atrás. Preciso que você me ajude a resolver um problema.

Michaelle: Sabia que era pra pedir alguma coisa.

Adalberto: Não fala assim. Nem é pra mim. Você ainda tá trabalhando com aquele negócio de liberar entrada de animal no país?

Michaelle: Tô.

Adalberto: Então, o coelho da sogra da Marjorie tá preso no Galeão.

Michaelle: Marjorie é aquela sua prima que me chamava de raquítica, desnutrida, morta de fome e Olívia Palito?

É, pelo visto, quem sofre bullying nunca esquece.

Adalberto: Você não superou?

Michaelle: Eu fiz psicólogo por causa dela.

Adalberto: Mas não tem como quebrar essa por mim?

Michaelle: Só se ela se ajoelhasse aos meus pés.

Adalberto: Eu vou ligar pra ela. Acho que rola. Só preciso ir ali entregar um remédio pra uma amiga de uma outra prima, que teve filho, e o marido tá viajando?

Michaelle: A Joelma? Meu marido também é amigo dela e me ligou pra trazer esse remédio. Quando cheguei aqui, ela já tinha 15 caixas do remédio. Parece que eles divulgaram num grupinho de WhatsApp.

Adalberto: Não acredito! Bom, pelo menos, eu te encontrei aqui. Vamos tomar um chope em algum bar? De lá, eu ligo pra minha prima.

Michaelle: Eu tenho que ficar aqui. Meu marido me monitora pelo celular. Se ele vir que eu tô num bar, ele me mata.

Adalberto: Sério?

Michaelle: Estava difícil de arrumar homem pra casar.

Adalberto: Bom, vou ligar pro Marjorie e pedir pra ela vir pra cá.

Meia-hora depois, chegam Marjorie, a sogra, Ane e Lu.

Lu: Tu saiu do cinema e nem falou com a gente, seu retardado?

Adalberto: Ah, resolveu sentir a minha falta?

Marjorie: Tudo bem, Michaelle? O Adal falou comigo que você pode ajudar. quanto que eu tenho que te pagar?

Michaelle: Você não falou com ela, Adalba?

Adalberto: Eu falei que tinha um preço. Jojô, você tem que beijar os pés dela.

Michaelle: Ha-ha-ha, surtou, né?

Adalberto: Não, é sério.

Michaelle: Aproveita que eu nem tô com chulé hoje.

Marjorie: Sua vagabunda raquítica, eu vou te arrebentar a cara.

Sogra da Marjorie: Não vai arrebentar a cara de ninguém! Olha só, se você não beijar o pé dela pra liberar o meu marido, eu vou fazer macumba pra você terminar com o meu filho!

Nessa, a Marjorie se ferrou. E eu cheguei a conclusão de que as mulheres estão fazendo tudo pra conservar os seus machos. Aceitam ser monitoradas pelo celular, beijam os pés das inimigas...

E depois de se humilhar, beijando o pé da minha amiga, a ligação que a Marjorie recebeu foi de cortar os pulsos.

Lu: O que aconteceu, Marjorie? Que cara é essa?

Ane: Fala, prima!

Marjorie: Meu sogro morreu. Parece que ficou muito estressado, a pressão subiu e ele não resistiu. A menina que me ligou disse que ele foi atendido na emergência do aeroporto, mas como não tem veterinário lá, não souberam bem como proceder.

Sogra da Marjorie: Não! Meu marido!

Lu: Ué, mas foi veterinário mesmo que eu ouvi?

Adalberto: O sogro da Marjorie era um coelho. Não ri.

Ane: Como assim?

Adalberto: Ele reencarnou num coelho.

Enquanto a viúva estava aos prantos e era consolada pela Marjorie, Ane, Lu e Michaelle se mijavam de rir. Eu consegui segurar.

Sogra da Marjorie: Preciso ver meu marido.

Marjorie: Claro. Eu vou com a senhora. Só preciso dar um beijo na Joelma e ver o bebê. Vamos comigo rapidinho?

Lu: Primo, vamos tomar um chope?

Adalberto: Vamos! Jojô, eu vou embora com a Lu e a Ane.

Marjorie: Tá bom.

Conseguimos cumprimentar a sogra da Marjorie segurando a vontade de rir.

Adalberto: Tchau, Mika.

Michaelle: Tchau, amigo. Da próxima vez que precisar, é só dar beijo no pé, que eu resolvo o problema.

Marjorie: Sua vaca. Me aguarde!

No bar, o assunto era o coelho. A gente ficou relembrando a história mil vezes e, em todas elas, ríamos histericamente. O pessoal da mesa ao lado não conseguia conversar, estava irritado com a gente já.

Quando o garçom veio trazer uma porção de croquete, ele aproveitou pra avisar que o meu celular não parava de tocar. Era a Marjorie.

Adalberto: Fala, Jojô.

Lu: Manda ela vir pra cá.

Ane: Agora! A gente precisa dela aqui.

Adalberto: Peraí, gente, deixa eu ouvir.

E era inacreditável o que eu estava ouvindo.

Adalberto: Vocês não sabem da maior. A sogra da Marjorie sequestrou o filho da Joelma., e elas foram levadas pra 16ª DP.

Ane: Como assim?

Adalberto: Parece que a bebê nasceu com um olho azul e o outro verde, como era marido dela e o coelho tinham, e a louca, mais uma vez, achou que era o morto tinha reencarnado.

Lu: Mas o que a Marjorie tem a ver com o sequestro?

Adalberto: Pelo que eu entendi, nada. Mas a doida é sogra dela, né? Deve ter botado a nossa primo no meio da história.

Lu: Uma sogra como essa é pior do que macumba.

Ane: Exconjura essa mulher, meu pai! Que encosto!

A Marjorie tinha mesmo que se benzer. E foi o que fizemos depois que saímos da delegacia. Fomos eu, ela, Ane e Lu para um centro espírita. Tomamos passe e, depois, claro, fomos pra outro bar, tomar mais cerveja pra comemorar o fim do relacionamento da Marjorie com o Fredismarlon.

Não dá pra namorar o filho de uma maluca com um coelho, né?

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