No ano passado, fui com a Lu e um carinha que ela estava pegando, o Dório, a um campeonato de fisiculturismo. A gente chegou com uma hora de antecedência e o negócio ainda atrasou mais duas horas. Ou seja, minha bunda já não aguentava ficar sentada numa cadeira desconfortável, quando o evento começou de fato. O pior é que, quando isso aconteceu, eu constatei que eu tinha me metido numa furada daquelas:
Dório: E aí, Adalba, tá gostando?
Adalberto: Oi? Tá maneiro. Maneirão, né?
Dório: Cara, me amarro nisso. Meu sonho é ficar igual aquele cara ali.
O cara que ele queria ficar igual era horroroso. As veias pareciam que iam pular do corpo dele. Que nervoso!
Lu: Que cara é essa, Adal?
Adalberto: Oi? Não, nada. quer dizer, achei maneirão.
O negócio parecia que nunca ia acabar. Uma trezentas categorias. Até 55 quilos, até 65 quilos, até 75 quilos, até 85 quilos, até 95 quilos, até 105 quilos... Caralho, onde é que isso vai parar?!
Dório: Acabou. Vou lá dar parabéns pro Genilson.
Lu: Tá, meu amor.
A essa altura, eu já estava com o meu fone do ouvido, tentando me distrair.
Lu: Adal. Adal. Adal!
Adalberto: Ai, que susto!
Lu: Garoto, tu estava de olho fechado?
Adalberto: Não. Já acabou?
Dório: Figura esse teu primo, Lu. Não gostou, não, Adalba?
Adalberto: Gostei, gostei.
Dório: Vou ali falar com um amigo e já volto.
Adalberto: Mas não acabou?
Dório: Acabou.
Adalberto: Então, vambora, né, Lu?
Dório: Acabou o masculino. Daqui a umas meia-hora, começa o feminino. Já volto.
Adalberto: Tá.
Não sei o que era pior: não ser surdo e ouvir "daqui a umas meia-hora" ou não ser surdo e ouvir que ainda tinha mais campeonato de gente com o corpo, que me dá vontade de vomitar.
Lu: Tá gostando, Adal?
Adalberto: Claro que não, né?
Lu: Eu também, não mas abafa. Tenho que fazer de tudo pra agradar esse homem.
Adalberto: Mas ver essa gente nojenta é masoquismo. Eu não aguento.
Lu: O pior é que esse amigo do Dório que competiu, influencia ele a ficar desse jeito pra competir.
Adalberto: E você vai conseguir encostar nele com um corpo desses?
Lu: Não. Mas ele não vai ficar assim.
Adalberto: Por que não?
Lu: Ai, Adal, parece até que você não me conhece!
Pior que, às vezes, eu não conheço mesmo. Depois desse dia, a Lu passou a encher o Dório com as comidas mais engordativas que alguém poderia fazer. Eu não sei como é que o cara, que era tão vaidoso e tinha como meta ficar com o corpo nojento de fisiculturista, se rendeu às gorduras, frituras e altíssimas calorias que a Lu preparava pra ele diariamente. No meio disso tudo, deve ter rolado um chá de calcinha. Com certeza!
Outro dia, fui visitá-la, sem saber que ele estava lá e tomei um baita susto, aundo ele abriu a porta:
Dório: Que cara é essa, Adalbinha?
Adalberto: Você tá diferente.
Dório: Um pouquinho.
Um pouquinho, não. Ele estava muito diferente. Imensamente gordo.
Lu: E aí, cachorrinho?
Adalberto: Tudo bem, lindona?
Lu: Adal, eu me esqueci que eu marquei com você de comprar o presente da Magali.
Adalberto: Oi?
A Lu fez um olhar fatal pra mim, e eu entendi que essa história de comprar presente pra Magali era puro teatro:
Adalberto: Então, tá pronta?
Lu: Tô. Só vou passar um batonzinho e uma basezinha. Não tô a fim de me maquiar hoje, não.
Batom e base, definitivamnete, não são considerados maquiagem pelas mulheres. Não entendo isso.
Dório: Eu vou com vocês?
Adalberto: Claro.
Lu: Tá maluco, garoto? Você não veio com o seu Smart?
Que porra é essa?
Lu: Amor, o Adal é maluco. Vem com um carro de dois lugares e quer enfiar três pessoas.
O carro ainda era parte do teatro da Lu.
Dório: Qual é, Adalba. Tá me excluindo?
Adalberto: Não, cara. Foi mal. Eu comprei esse carro ontem e proveitei a ocasião pra mostrar pra Lu. Foi malzão.
Dório: Tranquilo. Vou aproveitar pra encontrar com o Genilson, que eu já não vejo ele há um tempão.
Adalberto: Quem é Genilson.
Dório: É aquele meu amigo fisiculturista. Lembra, não?
Adalberto: Lembro.
Dório: Amor, vou nessa, então.
Lu: Tá bom, meu lindo. Beijo!
Dório: Tchau, Adalbinha.
Adalberto: Tchau.
Eu não sabia que aquela era uma última despedida. Bom, mas também, se soubesse, nada ia mudar. Achava o Dório um saco. Ele forçava uma intimidade comigo, que eu não dava pra ele.
A Lu foi passar um tempo na minha casa. Ela não agunetava mais transar com o Dório. O peso dele já estava fazendo mal à saúde dela. A coluna dela estava indo pro saco.
O abandono fez efeito. Depois de duas semanas, ligando pro celular da Lu incessantemente, o cara desistiu. Ela ainda ficou lá em casa por mais duas semanas, só por segurança.
No dia que ela foi embora, a surpresa:
Adalberto: Você não quer mesmo que eu te leve?
Lu: Não, Adal, brigado. Pode ir trabalhar tranquilo.
Adalberto: Tá bom. Você vai descer agora?
Lu: Em cinco minutinhos.
Adalberto: Não posso esperar. Vou nessa. Beijo.
Lu: Tchau, amor. Bom trabalho.
É claro que eu não fui embora. Esperei cinco mnutinhos lá na garagem, de butuca ligada. Quando a Lu saiu, eu entendi o porquê dela não querer que eu a levasse:
Genilson: Demorou.
Lu: Estava esperando o meu primo ir embora. Ele não ia gostar se te visse comigo.
Não ia mesmo, não. O Dório poderia ser o que fosse, que não merece esse tipo de traição. Mas que é engraçado, isso é...
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Não conhecia o blog. Essas histórias são verdadeiras? Adorei! Parabéns!
ResponderExcluiré tudo coisa da minha cabeça, Áurea. brigado!
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