terça-feira, 17 de maio de 2011

Lu se vinga de boyzinho num dia de altíssimos decibeis

Fui a um salão no BarraShopping com a Lu no sábado. Ela queria ficar linda para uma festa na casa de um boyzinho que estuda e mora próximo à Rural, em Seropédica.

Lu: Para de chamar o Ronildson de boyzinho.

Adalberto: Mas ele só tem 19 anos.

Lu: E daí? Ele tem mais cabeça do que muitos homens, que eu conheci por aí.

Adalberto: Mas você nem conhece ele.

Lu: Adal, a gente se fala pelo Facebook todo dia, tá? Isso já tem duas semanas.

Adalberto: Ah, tá.

Lu: Fora que ela tá sempre online nas horas que a gente me combina. Se fosse mulherengo e tivesse me traindo, não agiria assim.

Adalberto: Como assim te traindo? Vocês estão namorando?

Lu: Lógico. Você acha que eu ia gastar uma grana pra fazer o cabelo e me maquiar se não rolasse nada? O Ronildson me pediu em namoro no segundo dia, que a gente se falou...

Adalberto: Pelo Facebook.

Lu: Isso.

Adalberto: E você nem me contou nada...

Lu: Contei, sim, Adal. Até brinquei com você, que, agora, eu to em um relacionamento sério com Ronildson Bezerra. Esqueceu, garoto? Olha, essa tua perda de memória recente tá cada vez pior, hein.

Adalberto: É que, além dela não estar muito boa, ela é seletiva.

Lu: Ah, cala a boca.

Fiz o que me foi mandado. Até porque tínhamos acabado de chegar ao salão e era impossível falar num tom, que não fosse aos berros, naquele lugar onde os secadores de cabelo gritavam. Tudo o que eu mais queria era um protetor auricular. Na verdade, isso era um sonho.

Quando terminaram de fazer o cabelo e a maquiagem da Lu, ela era só alegria:

Lu: Gente, quem é essa mulher maravilhosa, que aparece na minha frente toda hora que eu tento me olhar no espelho?

Adalberto: É você com Photoshop.

Lu: Sem graça. Sou eu bem tratada. E vai ser assim de agora em diante.

Adalberto: Nossa, o boyzinho tá fazendo milagre, hein...

Lu: Para de chamar ele de boyzinho. Já te pedi.

Adalberto: Desculpa, lindona. Agora, só vou chamar o seu boyzinho de Ronildson. É mais feio, mas já que você prefere assim...

Lu: Olha quem fala. Se você quiser, senhor Adalberto, eu posso te chamar de boyzinho.

Sabe que essa não foi uma má ideia. Ser chamado de boyzinho, além do meu nome de velho, esconderia algo mais urgente: A MINHA IDADE AVANÇADA!

Adalberto: Eu quero, Lu.

Lu: Então, vambora, boyzinho. Eu já to atrasada.

Adalberto: Ué, mas você não disse que tinha que chegar lá daqui a uma hora?

Lu: É que a minha pontualidade já inclui duas horas de atraso. A figura principal da noite tem chegar causando. Depois de todos os convidados.

Adalberto: Ah, você é a figura principal da noite?

Lu: Pro Ronildson, sim. E, como ele é tudo pra mim, é isso o que importa.

Adalberto: Ah, tá.

Quando chegamos em frente à porta da casa do Ronildson, de onde se ouvia um batidão pesado em altísimos decibeis, tive um déjà vu: me senti com 14 anos, tentando entrar num baile funk, na favela, com carteira de identidade falsificada.

O que me fez voltar à realidade foi a música da Valesca Popozuda. Quando eu tinha 14 anos, ela devia ter muito menos glúteo do que atualmente e, talvez, nem imaginasse que isso iria alçá-la ao título de celebridade do funk.

Adalberto: É aqui mesmo, Luluzita?

Lu: É. Que estranho.

Adalberto: Estranho, não. Surreal.

Tocamos, sem o mínimo exagero, umas vinte vezes a campainha da casa do Ronildson. Logo concluímos que seria impossível alguém ouvir a campainha, com aquele som alto e resolvemos quebrar o protocolo e sair entrando no baile funk privé.

O lugar parecia ter sofrido um tsunami. Tudo estava revirado. Inclusive, as pessoas. Estavam todos deitados uns sobre os outros. Alguns, inclusive, se aproveitando muito da situação. MUITO mesmo.

Adalberto: Lu, o que é que é isso?

Lu: Não sei. Tô assustada.

Adalberto: Não sei se uma sem-vergonhice pura ou se daqui a pouco vai surgir a Kylie Minogue cantando “All the Lovers”.

Lu: É falta de vergonha na cara. Cadê o Ronildson? Ele não deve estar sabendo disso aqui.

A Lu desligou o som e começou a esbravejar:

Lu: Vamos parar com essa sem-vergonhice agora! Se vocês não tem respeito na casa dos outros, vou cagar a casa de outro.

E começou a remover um por um... Até que ela encontrou o Ronildson no meio aos outros figurantes do clipe da Kylie.

Lu: O que é que você tá fazendo aí debaixo dessa galinha d’angola?

O Ronildson estava completamente trêbado, sem a menor condição de estabelecer um diálogo coerente:

Ronildson: É que eu queria fazer uma canja. Não tem mais nada pra comer aqu em casa. Acabaram com tudo.

A piada fora de hora teve efeito. Não sei se foi por que estavam me irritando profundamente, mas as gargalhadas pareciam ter superado os secadores e o funk alto no quesito volume.

Lu: É assim que você diz que eu sou Pituquita?

Ronildson: Lu?

Lu: Não. Cu!

Ronildson: Ai, amor, desculpa. É que você tá realmente com uma cara de cu. Nem te reconheci. O que é que você fez?

Lu: Eu? Como assim?

Ronildson: A tua pele tá estranha. O cabelo. Sei lá.

Caraca. A produção da Lu não produziu o efeito desejado.

Lu: Então, eu gasto horas e rios de dinheiro pra ficar bonita e você diz que eu to estranha?

Ronildson: Amor, você tá bem melhor na álbum “Eu sou assim”, lá no Facebook.

Lu: Você nunca viu o álbum “Primas”? Tem uma foto minha na formatura da Marjorie com esse mesmo cabelo e maquiagem. E umas quinze pessoas curtiram, tá?

Ronildson: Caraca, se eu vi, devo ter pensado que era outra pessoa. Tá muito feio. Vai tirar isso. Quer um pouco de álcool? Tem lá na maquina de lavar.

Adalberto: Álcool na máquina de lavar?

Ronildson: É. A gente comprou várias garrafas de vodka e misturou tudo com uma salada de frutas lá na máquina de lavar. Pelo tempo que já tá batendo, o negócio já deve estar bom.

Bom, com certeza, aquilo nunca ia ficar. Onde já se viu fazer caipivodka no lugar que se lava cueca suja? Que gente mais porca!

Lu: Adal, me leva embora daqui agora.

Adalberto: Tem certeza?

Estranhei o fato dela não querer se vingar terrivelmente.

Lu: Tenho. Eu quero esquecer que esse idiota existe. Quero ir pra casa chorar.

Adalberto: Tá bom.

E saímos sem falar com ninguém. No caminho, a Lu pediu para parar numa delegacia.

Adalberto: Pra quê?

Lu: Perdi meu celular. Quero fazer boletim de ocorrência.

Adalberto: Agora, Lu. Faz no Rio. Eu vou com você.

Lu: Adal, eu quero fazer isso agora.

O tom de voz deixou escapar que, o que ela ia fazer, nada tinha a ver com boletim de ocorrência.

Quando ela saiu da delegacia, constatei o que já sabia:

Lu: Pronto. Daqui a pouco a polícia vai bater lá.

Adalberto: Por quê? Fazer caipifruta na máquina de lavar é crime?

Lu: Não. Me trair é crime.

Adalberto: Ah, tá. E a Polícia vai acabar com aquele baile funk, só porque o Ronildson te traiu?

Lu: Não a Polícia propriamente. Mas o delegado Maciel.

Meu Deus!

Adalberto: Lu, o que é que você fez com o delegado?

Lu: Adal, não se mete. Eu vi um cara portando drogas lá na casa do Ronildson. É por isso que a polícia vai lá.

Adalberto: Arrã.

No dia seguinte, quando entrei no meu Facebook, vi que a Lu já estava em um relacionamento sério com um tal de Jeremias Maciel.

Isso explicou tudo.

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