sábado, 14 de maio de 2011

Morte de galo contraventor põe fim às viagens de Marjorie a Guapimirim

A Marjorie me ligou na segunda-feira de manhã fula da vida:

Adalberto: Bom dia, lindona.

Marjorie: Bom dia, por quê?!

Adalberto: Ih...

Marjorie: Vou terminar com o Eliseldo.

Adalberto: Por quê?

Marjorie: Porque ele nunca pode vir aqui em casa e eu não quero mais ter que viajar pra Guapimirim pra vê-lo.

Adalberto: Que viagem é essa? Guapi é aqui do lado.

Marjorie: Aqui do lado pra você, que não gasta tempo, dinheiro de combustível e de pedágio pra ir pra lá três vezes por semana.

Adalberto: Ah, Jojô, isso não vai te deixar mais pobre.

Marjorie: Mas não é só isso, Adal.

Adalberto: Ah, tá. Ele é casado?

Marjorie: Não. Pior do que isso. Ele é vizinho de um galo, que berra todo dia às cinco da manhã.

Adalberto: Eu ia adorar esse despertador natural.

Marjorie: Mas você dorme com as galinhas. Eu já gosto de dormir tarde.

Adalberto: Ah, Jojô, não acredito que um galo vai acabar com o seu relacionamento.

Marjorie: Nem eu. Mas vai. E eu vou lá hoje pra terminar com ele.

Adalberto: Posso ir com você?

Marjorie: Pra terminar com ele?

Claro que não. Eu fui pra matar o galo, mas não podia falar isso pra ela. Eu gosto muito do Eliseldo, sabe? Depois dele, a Marjorie parou com os surtos e os ataques histéricos. Comigo, inclusive.

Adalberto: Não. Sei lá. Eu precisava resolver um negócio por aquelas bandas.

Marjorie: Você?

Adalberto: Um amigo comprou um terreno por lá. Só que ele é de fora. Aí, me pediu pra evr se tá tudo bem.

Marjorie: Você nunca me falou isso.

Adalberto: Não? Sei lá por quê.

Marjorie: Primo, tenho que desligar. Vou passar lá na fábrica pra resolver umas coisas e te ligo, quando sair de lá pra te pegar.

Que bom. Eu não tenho eficiência pra mentir e, se ela apertasse um pouco, eu iria revelar minha missão assassina. Quando ela chegou lá em casa, eu já estava devidamente portando uma boa quantidade de chumbinho de rato pra matar o galo da discórdia:

Marjorie: Bora.

Adalberto: Partiu Guapimirim City!

Chegamos lá no fim da tarde. O Eliseldo tinha acabado de chegar do trabalho. Eu, sorrateiramente, fui cumprir minha tarefa. E pareceu muito fácil Tinha uma senhorinha debiloide na varanda da casa, onde o galo mora, mas ela mal sabia falar.

Fui, enfim, para a casa do Eliseldo, como se nada tivesse acontecido:

Adalberto: Oi.

Eliseldo: Fala, rapaz. Veio comemorar o fim do meu namoro.

Marjorie: Não fala assim, que eu me fico mal.

Eliseldo: Ué, mas não é?

Adalberto: Não, eu vim comemorar a morte do galo aqui do lado.

A Marjorie me deu uma olhada, onde foi possível ler: ADAL, VOCÊ DISFARÇA MUITO MAL!

Marjorie: Ah, então, o galo morreu?

Adalberto: Morreu.

Eliseldo: De quê?

Adalberto: Olha, gente, não sei. Só vi uma galera feliz lá na rua, comemorando e fui perguntar o que era. Aí, descobri que todo mundo detestava esse galo e estavam felizes com a morte dele.

Pra minha coincidência, tinha uma galera do lado de fora da casa do Eliseldo aos berros. Deviam estar comemorando mesmo. Putz, mandei muito bem!

Marjorie: Que fuzuê é esse lá fora?

Adalberto: Tá ouvindo? Viu? É o povo comemorando a morte do galináceo contraventor.

Eliseldo: Por que contraventor?

Adalberto: Porque acordar a minha prima, quer dizer, as pessoas daqui da rua às cinco da manhã é uma contravenção daquelas.

Eliseldo: Mas, aqui, todo mundo amava o Topetão.

Caralho, o galo tinha até um apelido carinhoso. MEDO!

Quando apareci na varando da casa do Eliseldo, fui recebido por tomates, laranjas e outras alimentos perecíveis que não consegui identificar ao som de “Morte ao assassino, morte ao assassino!”. Porra, será que alguém, além daquela velha debiloide viu que eu dei veneno de rato por Topetão?

Eliseldo: Gente, o que é isso aqui, posso saber?

Jordélia: Esse assassino matou o me Topetão.

Era a velhinha debiloide totalmente sóbria. Que milagre Deus operou na vida dela pa ter deixado ela tão lúcida?

Eliseldo: Mas ele nem mora aqui, dona Jordélia. Esse aqui é o primo da Marjorie. Não conhece nada aqui.

Jordélia: Mas foi ele, que eu vi. Eu estava no meio da minha meditação javanesa.

Porra, a debiloide não era debiloide... Caralho... Ela só esatva meditando. Merda!

Adalberto: Caramba, que legal! Eu também faço meditação javanesa.

Jordélia: Mentira, seu salafrário. Eu vou te matar.

E o coro do “morte ao assassino” recomeçou. A farra dos alimentos perecíveis também. Não lembro exatamente como fui parar na casa da Marjorie. Eu fiquei desacordado, quando acertaram uma jaca na minha cabeça.

No dia seguinte, quando finalmente acordei, acho que a vontade dela era de arremessar outra jaca em mim.

Adalberto: O que foi?

Marjorie: Eu não ia terminar com o Eliseldo, né, Adal?

Adalberto: Ah, não?

Marjorie: Não. Era só um drama. Coisa de mulherzinha.

Adalberto: Tá de sacanagem. Você é a única das minhas primas, que não faz o gênero mulherzinha.

Marjorie: Mas eu estava gostando do Eliseldo de verdade. Com ele valia a pena fazer um drama pra tentar melhorar a relação.

Adalberto: E por que você não falou isso pra mim?

Marjorie: Porque eu não estava a fim.

Adalberto: E eu posso fazer alguma coisa pra te ajudar?

Marjorie: Pode.

Adalberto: Como?

Marjorie: Morrendo. Ele disse que só volta comigo, depois que te ver debaixo da terra.

Adalberto: Ah, tá. Da licencinha...

Pra todos os efeitos, eu tô sem atender as ligações da Jojô e, até o presente momento, não sem previsão de volta.

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