sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Lu vai presa a tempo de abocanhar título de miss

Eu e alguns colegas de trabalho fomos, na semana passada, convidados pela gerente de Marketing de uma churrascaria recém-inaugurada para jantar no local, no esquema 0800.

Tive a brilhante ideia de levar a Lu, que, enquanto se deliciava entre um pedaço de carne ou outro, teve a brilhante ideia contar tudo o que eu pensava sobre a gerente de Marketing... Para a gerente de Marketing!

É claro que ela nem imaginava, que estava falando com a própria. Eu sentei longe dela na mesa, porque, quando chegamos, não havia dois lugares próximos. Portanto, só fui saber do teor dos altos papos que ela levava com a gerente de Marketing, quando já era tarde.

Lu: Só uma pessoa com problema de cabeça para arrumar esse jabá para o Adal. Ele não jantou ontem, não tomou café nem almoço hoje, você acredita?

Gerente de Marketing: Mentira!

Lu: Garota, esse menino passa fome para ir a uma churrascaria rodízio. Nunca vi igual.

Gerente de Marketing: Mas por que isso?

Lu: Não sei. Eu achava que era para fazer valer a pena o dinheiro gasto. Esse garoto é pão-duro! Mas aqui ele não vai pagar nada...

A gerente de Marketing deu uma risadinha para mim que, de longe, respondi com um aceno.

Lu: O meu primo é doido. Ele disse que a menina que está oferecendo esse jantar é uma chata.

Gerente de Marketing: É?

Lu: Hum, ele falou que vai pegar todos os cheques promocionais que vai receber do restaurante e distribuir para os amigos dele.

Gerente de Marketing: Como assim? É para ele distribuir no trabalho.

Lu: Mas ele não vai fazer isso. Vai fazer média com os amigos.

Gerente de Marketing: Mas não pode!

Lu: Mas ele está cagando para a Palha de Aço.

Gerente de Marketing: Quem é a Palha de Aço?

Era ela. Mas,naquele dia, ela estava com o cabelo escovado.

Lu: É a gerente de Marketing daqui. Ele odeia ela. Diz que, às vezes, atravessa a rua para não ter que cumprimentá-la. Além de chata, ele acha que ela tem piolho. Eu até concordo com ele, porque a mulher, que hoje em dia, tem cabelo duro e ressecado com tanto tipo de escova definitiva e relaxamento é, no mínimo, uma pessoa que não deve ter o menor cuidado com o cabelo.

A gerente de Marketing levantou impetuosamente, sem proferir uma única palavra. No lugar dela, voltou um segurança muito educado, que me pediu, com muita cortesia, para que me retirasse da mesa com a minha acompanhante.

Eu acatei bem o que me foi dito, sem sequer imaginar o que poderia ter acontecido. Mas quis saber o motivo. Eu incorporei o espírito da galera do “deixa disso”, já que a galera que estava com a gente não tinha esse espírito.

Adalberto: Lu, o segurança me disse que essa é uma ordem da gerente de Marketing. Vamos lá dentro falar com ela, procurar saber o motivo.

Lu: Ela é a Palha de Aço?

MEDO!

Adalberto: Lu.

Lu: Adal.

E assim começou o quebra-pau. Eu queria matar a Lu, que queria matar a gerente de Marketing, que queria me matar. Os seguranças da churrascaria também queriam me matar. E os meus colegas de trabalho queriam matar os seguranças. Mas não para me defender, mas para ver o circo pegar fogo mesmo.

Eu não daria conta de todos aqueles seguranças.

Era o fim da churrascaria recém-inaugurada.

Fomos parar na delegacia. Meu pai e minha mãe se recusaram a pagar fiança para eu e a Lu sermos soltos. Eu fui transferido para o Presídio Bangu I. E ela, para a Penitenciária Talavera Bruce, onde chegou a tempo de participar do concurso de miss do presídio e saiu vencedora.

Três dias depois, já estávamos em liberdade. Foram os meus pais que nos buscaram. O silêncio dentro do carro gritava. Até que foi quebrado.

Lu: Gente, eu preciso comemorar o meu título de Miss Talavera Bruce. Isso não é para qualquer uma.

Neide: Realmente, não. Para isso, você precisou fazer vergonha numa churrascaria.

Lu: Ai, tia! Passou. Esquece isso. Aposto que o tio Beto já esqueceu.

O meu pai tem uma coisa de bom. Ele muda do sentimento de raiva/decepção para carinho/afeto num átimo. Ele nos fez uma proposta que sugeriu que ele, realmente, tinha esquecido o fato ocorrido e nos perdoado.

Adalberto (pai): Vamos comemorar, então, o seu título de miss e a liberdade de vocês numa churrascaria?

Eu, que estava há três dias comendo uma gororoba, que prefiro nem comentar, acatei a sugestão na hora.

Adalberto: Eu topo.

Lu: Eu também.

Minha mãe fez uma cara de que estava achando tudo muito incoerente, mas não fez maiores restrições.

De fato, era incoerente comemorar a nossa liberdade num lugar, que nos remetia ao motivo que pôs fim a nossa liberdade. Isso até me deixava um pouco mal.

Mas era super coerente comemorar o título de miss de presídio da Lu naquele lugar. Afinal, foi graças a uma churrascaria que ela pôde viver a experiência de dar tchauzinho com a mão em concha, em câmera lenta.

Mais coerente seria comemorar na churrascaria que a levou ao título. Mas ela já não existia mais. Uma pena.

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