sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Concurso Perna Carioca 2012 acaba em perseguição de filme... Classe B


A Lu me ligou anteontem esbaforida. Fiquei preocupado. Achei que alguma coisa de muito grave tinha acontecido.

Adalberto: Você está bem?

Lu: Mais ou menos. Só você pode me ajudar, primo.

Medo.

Adalberto: Fala, amore.

Lu: O meu relacionamento não vai nada bem.

Adalberto: Ué, você está namorando alguém? Não sabia.

Lu: O Edineido, Adal. Eu te apresentei.

Adalberto: Mas você disse que usava bermuda larga, deixando o cofrinho à mostra, andava gingando e te chamava de “mermão”. Isso não está mais te incomodando?

Lu: Claro que está.

Adalberto: Então! Já vai em boa hora.

Lu: Adal, o Edineido é o que eu tenho para hoje... Para amanhã, para sexta-feira, para sábado... Até eu arrumar alguém melhor.

Adalberto: E o que você quer de mim?

Lu: A Simone vai participar do Concurso Perna Carioca 2012.

Adalberto: Ih, bem lembrado. Ela me falou que ia, sim. É amanhã, né?

Lu: Pois é, Adal. Esse ano o concurso vai premiar a 1º lugar com uma viagem para Porto de Galinhas. Eu tenho certeza que ela não vai. Ela sempre dá para alguém da família.

Adalberto: E esse ano, se ela ganhar, ela vai dar para mim.

Lu: Na, na, ni, na, não! Quer dizer, você vai mesmo querer ir? Eu soube que lá nem está tão legal assim...

Adalberto: Em Porto de Galinhas? Está de sacanagem com a minha cara, né? Porto de Galinhas é incrível o ano todo, meu bem.

Lu: Adal, mas eu preciso salvar o meu relacionamento. Eu deixei a página de um site de relacionamento aberta lá em casa e o Edineido viu.

Adalberto: Esse cara, além de te chamar de “mermão”, está mexendo nas suas coisas sem a sua autorização?

Lu: Não. Eu autorizei. Ele queria ver o e-mail dele e eu deixei. Só me esqueci que o computador estava ligado e com a página do site aberta.

Adalberto: E aí?

Lu: Ele viu tudo. Me chamou de vagabunda para baixo.

Adalberto: Jura?

Lu: Pô! Se eu te contar...

Adalberto: Melhor não.

Lu: Adal, me ajuda. Para salvar a minha relação, eu disse que já tinha comprado uma viagem para nós dois.

Adalberto: O como é que você já conta com o ovo na rabo da galinha? Sabe se a Simone vai ganhar?

Lu: Ela ganha todo ano.

Adalberto: E se ela não me der o prêmio? Desistir, mudar de ideia, hein?

Lu: Até parece. Se ela te prometeu, ela vai te dar. Aliás, ela te deve isso há muito tempo. Você sempre elogiou as pernas dela.

Adalberto: Viu como eu não estava enganado? Ela vive ganhando o 1º lugar do Perna de Carioca.

Lu: Adal, eu preciso ir no teu lugar.

Adalberto: Pô, Lu, eu precisava relaxar.

Lu: Vai para um spa, tira uns dias de folga e fica na casa da tia Neide, medita, sei lá, tem tanta coisa para você fazer...

Adalberto: E você? Não pode arcar com o que você disse?

Lu: Não. Esse mês eu estou dura. Ser madrinha da filha da Sara foi uma das piores coisas que aconteceu na minha vida. Já comecei a pagar a primeira prestação do empréstimo que eu fiz para ajudar na festa.

Adalberto: Eu também peguei empréstimo para ajudar na festa, esqueceu?

Lu: Não. Mas eu estou com o meu relacionamento por um fio, eu fico um saco quando fico sem homem e você é o que mais sofre com isso.

Realmente, a Lu, quando não tem um homem para regar a sua plantinha, fica insuportável. E eu sou um dos que mais sofre com as variações de humor dela. Ela me liga de cinco em cinco minutos para chorar pitangas.

Cedi. Mas fiz uma condição. Nada nessa vida pode ser tão fácil.

Adalberto: Olha, eu vou te dar. Mas, em troca, quero um saco de Serenata de Amor.

Lu: Te entrego amanhã. Você vai no concurso, né?

Adalberto: Claro. Vou prestigiar minha prima.

Lu: Hum, bobalhão! Se eu não tivesse interesse na vitória dela, ia torcer para ela cair no chão e ficar com a perna toda roxa.

Adalberto: Para com esse ciúme bobo! Aliás, você, Ane, Sara e Marjorie têm que entender que eu tenho outras primas também.

Lu: Mas nós somos as favoritas. E, do grupo, eu sou a que tem destaque no teu coração.

Adalberto: Ah, eu não sabia...

Lu: Cachorro!

Cheguei com uma hora de antecedência ao concurso. Não aguentava mais a ansiedade da Lu... A minha prima Simone estava linda. Foi aplaudida de pé. Ela era de longe a dona das pernas mais bonitas do concurso. Os anos passam e ela continua parecendo que está de meia-calça.

Para a minha triste surpresa e ira da Lu, a minha prima ficou em segundo lugar no concurso. E ganhou duas fantasias para desfilar no carnaval do ano que vem pela Beija-Flor. A menina, que ficou em terceiro lugar, ganhou um ursão daqueles que só têm a função de ocupar espaço em cima de uma cama.

Lu: Caraca, e agora?

Adalberto: Como é que pode a minha prima perdeu para aquela garota da perna arcada?

Lu: Adal, me ajuda! O que eu faço com o Edineido?

Adalberto: Diz que você ficou menstruada e não vai poder viajar. E em troca, sugere de desfilar no carnaval.

Lu: Adal, isso não é o samba do crioulo doido, não. É a minha relação que está em jogo. De mais a mais, eu ia agendar a minha viagem para amanhã. E ele sabe que eu não estou mais menstruada. Eu estava na semana passada.

Adalberto: Lu, eu te falei para não contar com o ovo...

Lu: Adalberto, cala a boca!

Adalberto: Com certeza. Porque se eu falar mais alguma coisa, vou te mandar para um lugar que você não vai gostar. Bom, vou ali dar parabéns para a minha prima.

Lu: Parabéns? Ele merece levar um tapa na cara bem dado.

Ignorei esse comentário dela, peguei o meu saco de Serenata de Amor e deixei a Lu sozinha.

Minha prima estava recebendo os cumprimentos de vários amigos, parentes e fãs indignados com o 2º lugar.

Adalberto: Ficou chateada?

Simone: Claro que não. Com a minha idade, esse segundo lugar vale muito. Eu já não sou mais uma menina. Não tenho mais vinte e poucos. Nem trinta e poucos. Eu tenho quarenta e...

Adalberto: Abafa.

 Simone: Só não gostei de você ficar sem a sua viagem.

Sem a viagem eu já iria ficar mesmo...

Adalberto: Mas vou desfilar no carnaval do ano que vem pela Beija-Flor!

Simone: Ah, vai mesmo! São suas as fantasias. Leva quem você quiser.

Adalberto: Obrigado.

Simone: O pessoal está a fim de comer alguma coisa na Cobal do Humaitá. Vamos dar um pulinho lá?

Adalberto: Claro. Só vou pegar o meu carro, que eu deixei a quilômetros daqui para evitar de pagar o estacionamento caro, e encontro e vocês lá.

Simone: Combinado.

Quando eu estava entrando no meu carro, vi que a dona da perna arcada desceu de um táxi na esquina em que eu estava e, logo em seguida, um carro chegou ao local para buscá-la. Era o Gilmar Barreto. O dono do Concurso Perna Carioca!

Fui atrás do filho da mãe. E acho que ele desconfiou de mim. Ou não. De repente, pensou que era tentativa de assalto. Eu sei é que, quando ele percebeu que o meu carro o seguia, ele disparou. E eu fui atrás. Parecia perseguição de filme policial. Eu estava me sentindo o cara. Costurando no trânsito como ninguém, dando altos cavalinhos-de-pau, tirando a maior onda... Até que eu bati num poste e lembrei que o seguro do meu carro estava vencido. Aí foi que eu me enfureci. E incorporei o “tira da pesada”. Fiz sinal para um táxi, dei um soco na cara do motorista, que ficou desacordado, tomei a condução do veículo e voltei a protagonizar o meu filme de ação.

Foram várias as manobras mirabolantes e as cantadas de pneu.Tudo para não ter que aturar a carência insuportável da Lu quando fica solteira.

De repente e sem nenhum por que, o carro do Gilmar parou. Nós estávamos numa pista livre, não tinha ninguém na nossa frente. Concluí que ele estava se rendendo, com medo de mim. E me achei o cara mais incrível do mundo, o pica das galáxias. Fui até ele.

Adalberto: Desistiu de fugir?

Gilmar: Não. A gasolina acabou.

Mesmo assim, continuei me achando o cara.

Adalberto: Agora entendi por que ela ganhou o Perna Carioca 2012...

Gilmar: Cala a boca!

Adalberto: Você sabe que eu posso contar para todo mundo da relação de vocês dois?

Gilmar: O que você quer?

Adalberto: A viagem para Porto de Galinhas e o conserto do meu carro. E eu fico de bico fechado.

Gilmar: Só isso?

Adalberto: Ué, não é muito?

Ele riu e eu fiquei sem graça.

Ele me entregou um envelope, as passagens e a reserva do hotel, que a perna arcada tinha ganhado e me deu um cheque bem gordo para eu consertar o meu carro. Ia sobrar dinheiro para eu ir para Porto de Galinhas com a Lu e o Edineido. Saí no lucro! Yes! Minha história já podia acabar ali.

Gilmar: Se precisar de mais dinheiro, me apresenta a nota fiscal do serviço que eu te reembolso.

Ele falou isso, porque sabia que não ia faltar.

Adalberto: Está bem. Obrigadão, Gilmar.

Por pouco, não mandei um “te amo” para ele.

Voltei para o táxi feliz da vida, me achando o todo poderoso do filme policial que eu criei. Mas, a essa altura, o taxista já tinha acordado e estava furioso. Ele me enfiou a porrada e levou com ele o prêmio da perna arcada, o cheque que o Gilmar me deu e o meu saco de Serenata de Amor.

Eu queria me matar. Mas não passava nenhum carro àquela hora para eu me jogar na frente. Resolvi voltar para casa, depois de quase ficar desidratado de tanto chorar.

Agora, tenho que pagar o conserto do carro e aturar a carência da Lu. Saí no prejuízo.

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