A Lu chegou ontem na minha casa no momento mais sagrado do dia.
Lu: Adal!
Adalberto: Ah, não, Lu, o que foi? Já falei pra vocês não me incomodarem na hora da novela das oito. Que saco! Vou acabar tomando essa chave de vocês.
Lu: Duvido você fazer isso com a Marjorie, a sua queridinha.
Adalberto: Para com esse negócio de queridinha. Isso não existe. Eu gosto das quatro por igual.
Lu: Eu não vou te atrapalhar. Só vim buscar aquela minha calcinha vermelha de renda, que eu deixei aqui.
Adalberto: A Ane dormiu aqui de ontem pra hoje, mas não tinha nada de roupa. Pegou umas coisas minhas, que obviamente ficaram largas nela e a sua calcinha.
Lu: Cara, eu vou matar a Ane! Essa garota acha que pode sair mexendo, assim, nas minhas coisas? Que ódio!
Adalberto: Calma. Pra que você precisa tanto daquela calcinha?
Lu: Porque nela está bordado o nome do Ariedson.
Adalberto: Você bordou?
Lu: Não. A Vera. Por isso que eu deixei aqui.
Adalberto: Gente, para de ficar explorando a Vera, com favores pessoais. Já falei com a Dona Ane pra parar com isso também. A mulher é minha diarista!
Lu: Eu deixei dez reais pra ela fazer isso pra mim. Não foi de graça, não.
Adalberto: Não foi. Mas o tempo que ela perdeu bordando Ariedson na sua calcinha, ela podia ter usado pra lavar uma louça.
Lu: E agora, primo? O que eu faço?
Adalberto: Eu que vou saber? Pra onde você tá indo?
Lu: Encontrar com ele no baile charme do Viaduto de Madureira. Mas eu prometi que ia com essa calcinha. Aliás, eu disse que já estava com a calcinha.
Adalberto: Por que você fez isso?
Lu: Porque, no fim de semana passado, ele teve crise de ciúmes lá no Cacique de Ramos, só porque o Astolfo veio falar comigo.
Adalberto: Astolfo filho da tia Benzenita?
Lu: Isso. Expliquei pro Ariedson que o Astolfo foi meu vizinho no Méier, que conheço ele desde molequinho, mas a tromba não baixou.
Adalberto: E onde a calcinha entra?
Lu: Sem graça! Você sabe onde ela entra. E entra cravada pra me deixar bem sexy.
Adalberto: Não, sério Mas o que a calcinha tem a ver com isso?
Lu: O Ariedson queria terminar comigo, por causa do Astolfo. E eu joguei essa caô, de que tinha mandado bordar uma calcinha com o nome dele. Aí, sabe como é que é homem, né? Ficou todo cheio de si e me perdoou.
Adalberto: Mas perdoou de que, se você não fez nada? Ou você estava mesmo dando mole pro Astolfo?
Lu: Claro que não, né? Bebeu?
Adalberto: Então! Você não fez nada de errado.
Lu: Eu sei, mas vai falar isso pro Ariedson. Ele é um poço de ignorância, meu bem.
Adalberto: E por que você tá pagando tanto pau pra esse cara?
Lu: Quer mesmo saber?
Adalberto: Não, brigado.
Lu: Ai, será que se eu ligar pra vaca da Ane ela passa aqui pra devolver a minha calcinha?
Adalberto: Ué, liga.
E foi o que ela fez.
Lu: Ane, sua cachorra, cadê a minha calcinha? O quê? No lixo. Eu vou acabar com a tua raça, sua desgraçada. Quem mandou você meter o nariz onde não foi chamada? Bem feito. Pra você aprender...
Adalberto: O que foi que aconteceu?
Lu: Ela foi encontrar com um carinha, que ela estava saindo, e ele ficou uma arara, quando foi tirar a calcinha dela e viu o nome do Ariedson. Rasgou a minha calcinha e jogou fora. Disse que, por pouco, não bateu na cara dela.
Adalberto: Se ele batesse, ele ia pra delegacia! Eu, hein! Esses homens que você e Ane têm saído ultimamente são muito intolerantes, sabia?
Lu: É mas eu gosto. Homem, pra mim, tem que ser assim mesmo. O ruim é quando a gente dá uma bola fora. E agora, que eu falei pro cara que estava com a calcinha com o nome dele? Se eu for me encontrar com ele com qualquer outra calcinha, ele vai pensar mil coisas. Vai achar que já saí com outro cara e tive que trocar de calcinha. Vai achar que era mentira minha pra segurar a relação... Ai, o que eu faço, primo?
Adalberto: Vai sem calcinha.
Lu: Nossa, ele me mata. Quer que eu morra?
Adalberto: Gente, ele é desse nível?
Lu: Tô te falando que o Ariedson é um bicho escroto, quando tá com raiva. O cara é um espírito de porco. Ai, primo, tô ficando nervosa.
Adalberto: Calma, já sei. A Vera hoje tá trabalhando aqui numa vizinha. Acho que tem uma calcinha da Marjorie aqui, que também é vermelha. Vou interfonar pra ela vir aqui bordar isso rapidinho.
Lu: Jura? Ai, Senhor, brigada! Brigada meu Pai!
Adalberto: Só um segundinho.
Lu ficou na sala me esperando, para variar, batendo seu salto agulha no chão intermitentemente. Só não roeu as unhas porque ela é vaidosa que só. Mas vontade ele teve.
Adalberto: Pronto. Ele vai vir pra cá. Disse que, em cinco minutos, acaba tudo o que tem pra fazer lá e vem.
Lu: Ai, que bom! Nem acredito, primo. te amo.
Adalberto: Viu como para tudo tem um jeito? Agora, bebe esse água aqui. Você estava muito nervosa. Botei um pouco de açúcar.
Lu: Ah, mas açúcar engorda!
Tive que enfiar o copo dentro da boca da Lu.
Adalberto: Bebe!
Lu: Ai, chega! Pronto, foi meio copo. Não posso ingerir mais nenhuma caloria por hoje, primo. O Ariedson não gosta de mulher banhuda, fora de forma.
Adalberto: Esse Ariedson é uma mala, hein...
Lu: Não fala assim do meu bebê. Ele vai ficar todo feliz, quando me vir com a calcinha com o nome dele.
E essas foram as últimas palavras proferidas pela Lu, antes de de apagar completamente. Nada como um bom sonífero para livrar uma prima minha de um idiota.
Ela passou o noite toda morgada no meu sofá, enquanto o Ariedson não parava de ligar. Depois que cancelei a trigésima chamada, ele mandou uma mensagem, chamando a Lu de vagabunda pra baixo e que era pra ela atravessar a rua, se um dia voltasse a cruzar com ele.
Ela acordou hoje, sem lembrar de nada. Ficou arrasada com a mensagem do Ariedson, mas respeitou a decisão do imbecil.
Melhor assim.
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