quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Marjorie, às vezes, é uma chata por ser muito legal

Outro dia, eu estava dormindo no sofá da sala da minha casa, com a televisão ligada, sonhando com a morte da bezerra, quando fui acordado por um extraterrestre.

Marjorie: Primo.

Adalberto: Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhh!

Marjorie: Calma, primo, sou eu, Marjorie!

Adalberto: Que susto! Por que você tá assim, toda descabelada?

Marjorie: Acabei de tomar porrada.

Adalberto: Como assim? O que é que aconteceu?

Marjorie: Sabe o Valdicleverson?

Adalberto: Claro. O carinha que a Lu te apresentou.

Marjorie: Ele tem namorada, tá?

Adalberto: Mentira. E como é que você descobriu?

Marjorie: No chopinho de aniversário da Karen, aquela modelo amiga minha, lá na Praça São Salvador.

Adalberto: Mas como é que foi? Ele foi com você, e ela apareceu por coincidência lá?

Marjorie: Não, ele não foi comigo. Ele disse que precisava cuidar da vozinha, que estava doente, aí, eu falei "beleza, eu vou mesmo assim, qualquer coisa, me liga". E você me ligou? Não. Nem ele. Mas esse mundo é uma bolinha de pingue-pongue, e a namorada dele é filha da babá, que cuida da Karen até hoje.

Adalberto: E aí? Você viu ele chegando com a mocreia?

Marjorie: Não. Quando eu o vi, ela não estava por perto. Aí, eu fui falar com ele super na boa, perguntei pela avó dele, ele disse que ela ainda estava mal e que só tinha ido ali, porque soube que eu estava lá e queria ver se eu estava me comportando bem, mas que já estava de saída.

Adalberto: Que cínico.

Marjorie: Pois é, achei ridícula e machista essa atitude dele, mas eu não queria discutir sobre isso ali, no meio da Praça São Salvador. Dei um beijo nele de despedida e, no mesmo segundo, a namorada dele surgiu e quase arrancou todos os meus fios de cabelo. Que força que tinha aquela menina! Precisou de uma três pessoas pra separar.

Adalberto: E ele?

Marjorie: Não fez nada. Ficou parado, olhando a confusão.

Adalberto: Você bateu nela, pelo menos?

Marjorie: Eu, não. Eu não sei bater. Só gritava "socorro". Mesmo assim, teve uma hora que ela tentou me enforcar, que eu fiquei sufocada, sem voz.

Adalberto: Meu Deus, tadinha da minha prima. Quero matar essa garota, que te bateu.

Marjorie: Menino, na hora, eu também só pensava nisso, mas, na boa, quem não vale nada é o Valdicleverson. Ok, ela errou por ter me batido, mas ela ali estava sendo traída, né? Eu até entendo um pouco.

Adalberto: Como assim entende? Você não tem que entender essa agressora. Você deu parte na polícia?

Marjorie: Não, primo, nem precisei. Quando finalmente conseguiram desgrudar ela de mim, ela arremessou uma garrafa de cerveja na minha direção, que acertou em cheio um PM.

Adalberto: Bem feito!

Marjorie: Aí, levaram ela para a delegacia.

Adalberto: Mas você não teve que ir para falar sobre a origem da briga?

Marjorie: Nada. Você acredita que os policiais nem viram a gente brigando? Pra eles, só aconteceu o arremesso de garrafa. E eu não quis colocar mais lenha na fogueira, sabe?

Adalberto: Coitada da minha bebê. Quer tomar um banho?

Marjorie: Não, primo. Só vou prender o cabelo. Eu esqueci que tinha uma reunião agora cedo aqui no Recreio. Por isso que passei aqui. Vim te mostrar o meu estado.

Adalberto: Você vai pra uma reunião virada?

Marjorie: Vou. Mas é com um estilista amigo. Não tem problema se eu chegar com essa cara de derrota. Ele já chegou bêbado.

Adalberto: Vai ter mais gente?

Marjorie: Não, só nós dois mesmo. Vai ser só uma conversa sobre o conceito da coleção nova dele. Eu vou fazer as bolsas.

Adalberto: Tá bom. Qualquer coisa, estou por aqui, tá?

Marjorie: Pois é, primo, queria te pedir um favor.

Adalberto: Você não pede, você manda.

Marjorie: Então, depois da confusão, eu achei um celular no chão. Aí, fui ligar pra pessoa "amor" e o Valdicleverson. Ou seja, esse aparelho é da namorada dele. Como eu não quero arrumar mais confusão, queria te pedir pra entregar pra ela lá na Tijuca. O Valdicleverson me passou o endereço. Quer anotar?

Adalberto: Claro que não! Tá maluca? Marjorie, você é boba assim, é? Eu só vou lá se for pra fazer ela engolir esse aparelho. Você quer que eu faça isso?

Marjorie: Não, deixa pra lá. Eu dou o meu jeito.

Adalberto: Não, eu não vou deixar você se expor dessa maneira. Já que você é boba e quer mesmo entregar essa porcaria pra garota que te agrediu, deixa que eu cuido disso. Eu mando pelos Correios, sei lá.

Marjorie: Pois é, eu ia fazer isso. Mas como você passa pela Tijuca pra ir pro trabalho, pensei que você podia deixar na portaria da menina. Fora que eu queria vir aqui te contar o bafão.

Adalberto: Tudo bem. Eu faço essa caridade.

Marjorie: Faz mesmo?

Nunca!

Adalberto: Claro. Preciso conquistar meu espacinho no céu. Vai lá pra sua reunião, anda.

Marjorie: Tá bom, brigada, meu lindo.

Adalberto: Imagina, prima. Beijo.

Só esperei ela sair pra pegar o meu martelo. Aquele celular ia sentir a dor que a namorada do Valdicleverson merecia.

E quando eu me preparava pra dar a primeira martelada, a porta se abriu. Me atrapalhei e acabei martelando a minha mão.

Adalberto: Aaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiii!

Marjorie: Minha intuição foi certeira. Não posso confiar mesmo em você, hein! Que maldade.

Foi assim que a minha prima falou comigo. Detalhe: tomou o celular da minha mão, sem pedir, e saiu batendo porta.

Que burra! É uma linda de coração. Mas é burra...

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