segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Marjorie é nota dez no improviso

Ontem, quando me preparava pra tirar aquele cochilo de depois do almoço, a Marjorie chegou na minha casa.

Marjorie: Adal.

Adalberto: Não tá, não. Volta mais tarde.

Marjorie: Garoto, para de palhaçada, vim aqui pra te contar a última. Tô arrasada.

Adalberto: O que foi agora?

Marjorie: Não tô mais namorando o Alfredézio.

Adalberto: Por quê? Ele é tão legal.

Marjorie: Aí é que tá. Ele não é tão legal. O personagem que ele interpreta é tão legal. Ele é um imbecil.

Adalberto: Jura? Então, ele atua muito bem. Eu votava nele pra presidente do Brasil.

Marjorie: Ele é mentiroso compulsivo, primo.

Adalberto: Como você descobriu isso?

Marjorie: No sábado passado, ele estava doente e não pôde me encontrar, lembra?

Adalberto: Lembro, claro. Você acabou vindo pra cá, ficar comigo.

Marjorie: Pois é, mas, hoje, quando um amigo dele ligou, ele disse que tinha ido viajar e que tinha trazido um presente pra ele.

Adalberto: E aí?

Marjorie: Aí, eu quis entender. Perguntei se isso era verdade.

Adalberto: E ele?

Marjorie: Disse com muita naturalidade, que tinha mentido pro amigo, porque não queria ficar dando satisfação da sua vida.

Adalberto: Ué, que amigo é esse, que ele não confia?

Marjorie: Pois é, não entendi nada. Eu sei que, depois disso, ele foi me levar na Uruguaiana pra comprar uma lembrancinha pra esse amigo. Pra fingir que era do lugar pra onde ele tinha viajado.

Adalberto: Ai, que história confusa.

Marjorie: Calma, que você ainda não sabe da metade. Na hora de tirar o dinheiro, caiu uma identidade com uma foto dele e outro nome.

Adalberto: Mentira!

Marjorie: No nome de Argilelson. Morri de medo, mas não falei nada.

Adalberto: Não falou?

Marjorie: Não ali. Mas no carro, eu perguntei. E ele disse que era de um irmão gêmeo dele. E que eles têm o hábito de um sair com a cópia dos documentos do outro pra provar que existem duas pessoas com o mesmo rosto.

Adalberto: Provar pra quê? Se todos os irmãos gêmeos fizessem isso...

Marjorie: Pois é, mentira, primo! Ele nem irmão tem. Pelo menos, era o que ele tinha me dito, que era filho único.

Adalberto: E aí?

Marjorie: Aí, eu disse que queria ir embora, porque tinha me dado uma dor de barriga repentina muito forte. Só que ele não acreditou e disse que era pra eu cagar no banheiro do restaurante. Assim, com essas palavras mesmo.

Adalberto: E você?

Marjorie: Eu disse que só conseguia fazer cocô na minha casa. Mas ele lembrou que eu já fiz cocô num boteco pé-sujo no dia que a gente se conheceu e ameaçou me bater, porque eu estava mentindo.

Adalberto: Jesus! E como você saiu dessa?

Marjorie: Eu disse que, na verdade, eu era um policial do Core, disfarçado de mulher, tentando descobrir de qual máfia ele faz parte.

Adalberto: Mas vocês não tinham transado? Ele sabe que você é mulher!

Marjorie: Nada. Na hora agá, ele sempre inventava uma desculpa.

Adalberto: Gente! E o que ele fez, depois que você disse que era um policial?

Marjorie: Desligou o carro e saiu correndo.

Adalberto: E ficou por isso mesmo?

Marjorie: Não. Ele foi atingido por uma bala perdida, e uns trombadinhas que passavam pela rua, arrancaram a roupa dele, que era falsificada da Calvin Klein, mas eles, provavelmente, não sabiam.

Adalberto: Meus Deus! Tudo nesse homem é uma farsa! Ele morreu?

Marjorie: Ele, não. Mas ela, sim. No IML, me perguntaram qual o meu parentesco com o defunto. Eu disse que era namorada. Aí, eles disseram que só poderiam me liberar o corpo, depois da autorização de alguém da família da Aracízia Florentina Piedade. E que eu só teria esse poder, se fosse casada com ela.

Adalberto: O Alfredézio era Aracízia?

Marjorie: Sim. Eu estava há quase um mês saindo com uma mulher e não sabia.

Adalberto: Cara, se não fosse você me contando essa história, eu juro que não ia acreditar. Parece coisa inventada, que só passa em filme. Surreal.

Marjorie: Mas é tudo mentira, primo. Terminei como Alfredézio, porque ele não tem nada a ver comigo. Mas tô ótima.

Adalberto: Mentira que era tudo mentira!

Marjorie: Verdade!

Adalberto: Verdade o quê? É verdade essa história, né?

Marjorie: Não, primo. É mentira! O Alfredézio é homem mesmo, careta, fofo até dizer chega, chato, bobo, mimado e, por tudo isso, e terminei com ele.

Adalberto: Sua cachorra! E de onde você tirou essa história louca, de que o cara é mentiroso, não é homem, que fugiu quando você disse que era do Core?

Marjorie: Da minha cabeça. Quis testar o meu poder de improviso. Vamos tomar um chopinho lá fora?

Adalberto: Não, tô com enxaqueca.

Marjorie: Mentira! Você já me falou que enxaqueca é doença de madame e que não tem essas frescuras. Bora logo, levanta!

Pior é que nem era mentira. Eu estava com enxaqueca mesmo. Mas não ia dar o braço a torcer.

Não convenço nem falando a verdade...

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