sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Marjorie sofre sequestro de não dar inveja

Meu cunhado foi trabalhar na Citroen. Isso faz eu me lembrar do dia que eu e a Marjorie fomos fazer um test drive no C3. Ela estava cismada com esse carro. Durante o trajeto, que inicialmente, seria em volta do quarteirão, fortes emoções nos eperavam:

Marjorie: Ele é muito gostoso de dirigir, Adal.

Adalberto: É mesmo?

Mattos: É muito bom esse carro.

Marjorie: Me fala mais, então, dele, Mattos.

Mattos: Meu amor, esse carro dispensa palavras. Olha que maravilha. Vamo voltar agora lá pra loja pra preencher a documentação e, no mais tardar em dois dias, ele vai ser completamente seu.

Marjorie: Oba! Quer dirigir um pouquinho, Adal?

Adalberto: Ai, não, obrigado.

Marjorie: Por que "ai, não, obrigado" e não apenas "não, obrigado"? Não gostou?

Adalberto: Não. Quer dizer, não isso. Gostei. Gostei muito.

Marjorie: Então, eu vou parar aqui no acostamento e você vai levar o carro, sim.

Adalberto: Ai, meu Deus...

Mattos: É bom que se você gostar, já leva um também.

Não sei por quê, mas eu estava com mau pressentimento. Tanto que mal consegui passar a marcha:

Marjorie: Isso é câmbio automático, garoto. Já quer destruir o carro, que eu ainda nem comprei?

Adalberto: Prima, na boa, você sabe que eu não curto muito dirigir. Toma aqui a chave...

Nisso, um cara mega mal encarado se materializa do meu lado:

Ladrão: É um assalto. Me dá isso aqui.

Mattos: Moço, por favor, faz qualquer coisa com a gente, mas não destrói esse carro. Ele ainda nem foi vendido.

Aí, acabou toda a simpatia da Jojô com o vendedor.

Marjorie: Como assim faz qualquer coisa com a gente? Destrói essa porra desse carro, mas me deixa viva. Eu e o meu primo. Com esse aí, você faz o que quiser.

Ladrão: E eu quero saber de homem? Sai todo mundo do carro. Você fica, gatinha.

Adalberto: Moço, por favor, deixa a minha prima...

Ladrão: Quer morrer? Sai!

Adalberto: Ah, tá.

Fui à delegacia com o Mattos, fazer denúncia do roubo e do sequestro. Estávamos desesperados.

No caminho, lembrei que durante um tempo na minha vida, eu eu queria muito ser sequestrado. Tive um amigo do catecismo, da Igreja Católica, o Yanny, que foi sequestrado e, quando a família pagopu o resgate e ele voltou pra casa, parecia que ele era uma celebridade. Na igreja, fizeram até festa pra ele. Eu queria aquilo pra mim também. E pedia muito a Deus pra que também fosse sequestrado. Da mesma maneira que o Yanny. Igualzinho. Mas isso jamais me aconteceu.

No dia seguinte, estávamos eu, Ane, Lu e Sara, entre uma Ave-Maria ou Pai-Nosso -- não lembro exatamente -- quando recebemos a tão esperado ligação do bandido da Marjorie. Ele ligou pro celular da Lu. Medo!

Lu: Quanto? 50 mil? E o cu? Vai querer raspado?

Nisso, a Lu teve um acesso de riso, que deixou a gente meio que nervoso. Eu, particularmente, não sabia se aquilo era muito bom ou muito ruim. Não tinha como existir meio termo.

Depois de horas rindo -- não chegou nem a um minutos, mas meu nervosismo interpretou como horas --, descobrimos que quem tem uma Lu na família não morre pagão:

Lu: Tu é um viadinho mesmo, hein. Tinha que roubar logo a carro com os meus primos dentro?

A Lu é amiga do bandido!

Lu: Passa o telefone pra essa cagona. Vai continuar dizendo que eu tenho que rever as minhas amizades? Te livrei de uma, sua cachorra. Vem aqui pra casa da Ane. Tá todo mundo aqui. Não. O tio Beto foi levar a tia Neide no hospital. A pressão dela foi a mil, quando soube que você foi sequestrada. Hã? Ai, vem logo pra cá, garota. Pega o dinheiro do táxi com o Suvaco. Eu estudei com ele. Ai, vem pra cá, que eu te conto tudo. Beijo.

Adalberto: Eu não estou acreditando nisso.

Sara: Nem eu.

Ane: Muita sorte, né?

Adalberto: É? É... Até que é, sim.

Lu: Claro que é. O Suvaco é apaixonado por mim. Se eu contar pra você o que esse homem já fez por mim, vocês caem pra trás. Eu estudei no prezinho, a tia Neide conhece a mãe dele, Adal. Já teve até Linha Direta com ele. Ele casou com uma piranha lá de Engenho de Dentro, mas me ama até hoje. Aquele cordão bonito que eu tenho de ouro com uma pedrinha vermelha foi ele que me deu. Sabe no dia da festa do Dia das Bruxas do ano passado, quando faltou luz? Aquilo foi tudo coisa dele. Vocês acreditam que ele foi capaz de...

A Lu não parou mais de falar. A minha mãe chegou do hospital com o meu pai, o Oswaldo chegou do trabalho, minha irmã, o Eduardo e o Diego também foram pra lá ver a Marjorie, mas a falação da Lu, sobre as suas aventuras com o Suvaco, foi tanta que conseguiu ofuscar o retorno da Marjorie. A gente estava tão entretido nas histórias, que mal cumprimentamos ela. Esse sequestro não foi tão legal como o do Yanny. Assim, eu não quero.

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