A Marjorie me ligou ontem, dizendo que precisava de uma ajuda minha urgentemente. Eu estava fazendo uma caminhada na Praia de Ipanema com a Ane.
Marjorie: É um caso de vida ou morte, Adal.
Adalberto: Como assim?
Achei estranho. A Marjorie não é de fazer tempestade em copo d´água nem dilúvio em tampinha de xarope, como diz a Lu.
Marjorie: Adal, vem aqui pelamordedeus! Eu estou cheia de coisa para fazer na fábrica e não posso sair de casa. Você está com a chave daqui de casa?
Adalberto: Estou. Mas o que é que está acontecendo?
E ela bateu o telefone na minha cara. Ou a ligação teria caído por outro motivo? Isso me deixou muito preocupado.
Adalberto: Vamos correr. Aconteceu alguma coisa com a Marjorie.
Ane: Aconteceu? O quê?
Adalberto: Não, vamos pegar um táxi.
Ane: Ah, não, Adal. Vamos correr.
Adalberto: Ane, é coisa séria.
Ane: Adal, daqui de Ipanema para o Leblon é um pulo.
Adalberto: Ela disse que era um caso de vida ou morte.
Ane: Eu tenho menos de um mês para voltar a caber no longo preto, que eu comprei para ir no casamento da Paty.
Adalberto: Qual Paty?
Ane: A tua amiga do Martins.
Adalberto: Ela te convidou?
Ane: Convidou.
Adalberto: E você vai?
Ane: Vou.
Adalberto: Mas você não gosta dela.
Ane: E daí?
Adalberto: Táxi!
A viagem custou sete reais. Eu estava tão louco, que dei cinquenta e não pedi troco.
Quando chegamos ao prédio da Marjorie, decidimos subir de escada, porque o elevador não estava no térreo e, sobretudo, porque tinha uma carinha com um perfume da Uruguaiana esperando para subir.
A Ane teve uma motivação mais nobre para subir de escada.
Ane: Assim, a gente compensa o tempo que ficou sem caminhar na praia.
Não mandei ela ir à merda, porque não tinha fôlego para subir os quatro andares da Marjorie de escada e falar ao mesmo tempo.
Quando finalmente chegamos, vimos que o carinha do perfume da Uruguaiana estava tocando a campainha da casa da Marjorie.
Adalberto: Querido, é muito urgente?
Carinha do perfume da Uruguaiana: Por quê?
Eu não estava com saco de explicar para o carinha do perfume da Uruguaiana o porquê. Fora que eu estava quase desmaiando, por causa do cheiro forte do perfume da Uruguaiana.
Abri a porta e uma barata voadora foi direto para o nariz do dele. Desesperado, assustado e com medo, ele caiu no chão. Bateu feio com a cabeça. E a barata continuou lá, amarradona em cima do nariz do pobre coitado.
Deliberadamente, a Ane pisou no nariz do carinha do perfume da Uruguaiana e esmagou a barata, cheia daquele líquido marrom xexelento, na cara do infeliz.
Fui correndo para ver o que tinha acontecido com a Marjorie.
Adalberto: Prima!
Marjorie: Adal, eu estou aqui no quarto.
Adalberto: Abre a porta!
Marjorie: Só depois que você matar uma barata nojenta, que voou da casa da vizinha para cá.
Adalberto: Ah, então a barata da vizinha era o caso de vida ou morte, que eu tinha para resolver?
Marjorie: Era, Adal. Desculpa, mas para mim, isso é um caso de vida ou morte.
Adalberto: Tudo bem. Mas saiba você que nesse caso, o caso foi de desmaio e morte.
E quase que automaticamente a porta se abriu.
Marjorie: Como assim?
Adalberto: Vai lá fora ver. A Ane está lá.
Marjorie: Ela se assustou com a barata?
Adalberto: Ela, não.
Mas o carinha do perfume da Uruguaiana, que a Marjorie estava esperando para sair, sim. A
Marjorie: Gente, eu não acredito no que estou vendo.
Adalberto: E eu não acredito que você mentiu para mim, dizendo que estava cheia de trabalho na fábrica, só para eu vir aqui te salvar de uma barata.
Marjorie: Adal...
Adalberto: Está desculpada pela mentira. Mas não por sair com um carinha que fede a perfume da Uruguaiana.
Marjorie: Ele fede a perfume da Uruguaiana?
Adalberto: Porra!
Ane: Vamos levar ele para o quarto?
Marjorie: Não! Com essa barata espatifada na cara dele, não. Aliás, nem sem ela. Eu não quero mais ficar com ele.
Adalberto: Só por causa da barata? Lavou está limpo, prima.
Ane: Também acho.
Marjorie: Comigo, não. Eu faço a correlação. Não vou conseguir encostar no rosto dele, sabendo que uma barata já passou por ali.
Ane: Antes uma barata do que outra mulher.
Marjorie: Eu preferia outra mulher. Não, gente! Não dá. Fora que ele ainda fede a perfume da Uruguaiana.
Adalberto: Isso, realmente, é uma falha grave.
Ane: Então, o que a gente faz com ele?
Marjorie: Leva ele embora daqui. E quando ele acordar, vocês podem dizer para ele esquecer que eu existo, por favor?
Adoro as frases prontas de novela, que as minhas primas usam!
Ane: Deixa comigo, Jojô. Eu e o Adal levamos ele. Vamos, primo.
Quando o carinha do perfume da Uruguaiana acordou, ele estava deitado na cama da Ane, limpinho. E nem foi preciso ela dizer para ele esquecer que a Marjorie existia...
quinta-feira, 19 de abril de 2012
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