quinta-feira, 19 de abril de 2012

Barata da vizinha é um caso de vida ou morte

A Marjorie me ligou ontem, dizendo que precisava de uma ajuda minha urgentemente. Eu estava fazendo uma caminhada na Praia de Ipanema com a Ane.

Marjorie: É um caso de vida ou morte, Adal.

Adalberto: Como assim?

Achei estranho. A Marjorie não é de fazer tempestade em copo d´água nem dilúvio em tampinha de xarope, como diz a Lu.

Marjorie: Adal, vem aqui pelamordedeus! Eu estou cheia de coisa para fazer na fábrica e não posso sair de casa. Você está com a chave daqui de casa?

Adalberto: Estou. Mas o que é que está acontecendo?

E ela bateu o telefone na minha cara. Ou a ligação teria caído por outro motivo? Isso me deixou muito preocupado.

Adalberto: Vamos correr. Aconteceu alguma coisa com a Marjorie.

Ane: Aconteceu? O quê?

Adalberto: Não, vamos pegar um táxi.

Ane: Ah, não, Adal. Vamos correr.

Adalberto: Ane, é coisa séria.

Ane: Adal, daqui de Ipanema para o Leblon é um pulo.

Adalberto: Ela disse que era um caso de vida ou morte.

Ane: Eu tenho menos de um mês para voltar a caber no longo preto, que eu comprei para ir no casamento da Paty.

Adalberto: Qual Paty?

Ane: A tua amiga do Martins.

Adalberto: Ela te convidou?

Ane: Convidou.

Adalberto: E você vai?

Ane: Vou.

Adalberto: Mas você não gosta dela.

Ane: E daí?

Adalberto: Táxi!

A viagem custou sete reais. Eu estava tão louco, que dei cinquenta e não pedi troco.

Quando chegamos ao prédio da Marjorie, decidimos subir de escada, porque o elevador não estava no térreo e, sobretudo, porque tinha uma carinha com um perfume da Uruguaiana esperando para subir.

A Ane teve uma motivação mais nobre para subir de escada.

Ane: Assim, a gente compensa o tempo que ficou sem caminhar na praia.

Não mandei ela ir à merda, porque não tinha fôlego para subir os quatro andares da Marjorie de escada e falar ao mesmo tempo.

Quando finalmente chegamos, vimos que o carinha do perfume da Uruguaiana estava tocando a campainha da casa da Marjorie.

Adalberto: Querido, é muito urgente?

Carinha do perfume da Uruguaiana: Por quê?

Eu não estava com saco de explicar para o carinha do perfume da Uruguaiana o porquê. Fora que eu estava quase desmaiando, por causa do cheiro forte do perfume da Uruguaiana.

Abri a porta e uma barata voadora foi direto para o nariz do dele. Desesperado, assustado e com medo, ele caiu no chão. Bateu feio com a cabeça. E a barata continuou lá, amarradona em cima do nariz do pobre coitado.

Deliberadamente, a Ane pisou no nariz do carinha do perfume da Uruguaiana e esmagou a barata, cheia daquele líquido marrom xexelento, na cara do infeliz.

Fui correndo para ver o que tinha acontecido com a Marjorie.

Adalberto: Prima!

Marjorie: Adal, eu estou aqui no quarto.

Adalberto: Abre a porta!

Marjorie: Só depois que você matar uma barata nojenta, que voou da casa da vizinha para cá.

Adalberto: Ah, então a barata da vizinha era o caso de vida ou morte, que eu tinha para resolver?

Marjorie: Era, Adal. Desculpa, mas para mim, isso é um caso de vida ou morte.

Adalberto: Tudo bem. Mas saiba você que nesse caso, o caso foi de desmaio e morte.

E quase que automaticamente a porta se abriu.

Marjorie: Como assim?

Adalberto: Vai lá fora ver. A Ane está lá.

Marjorie: Ela se assustou com a barata?

Adalberto: Ela, não.

Mas o carinha do perfume da Uruguaiana, que a Marjorie estava esperando para sair, sim. A

Marjorie: Gente, eu não acredito no que estou vendo.

Adalberto: E eu não acredito que você mentiu para mim, dizendo que estava cheia de trabalho na fábrica, só para eu vir aqui te salvar de uma barata.

Marjorie: Adal...

Adalberto: Está desculpada pela mentira. Mas não por sair com um carinha que fede a perfume da Uruguaiana.

Marjorie: Ele fede a perfume da Uruguaiana?

Adalberto: Porra!

Ane: Vamos levar ele para o quarto?

Marjorie: Não! Com essa barata espatifada na cara dele, não. Aliás, nem sem ela. Eu não quero mais ficar com ele.

Adalberto: Só por causa da barata? Lavou está limpo, prima.

Ane: Também acho.

Marjorie: Comigo, não. Eu faço a correlação. Não vou conseguir encostar no rosto dele, sabendo que uma barata já passou por ali.

Ane: Antes uma barata do que outra mulher.

Marjorie: Eu preferia outra mulher. Não, gente! Não dá. Fora que ele ainda fede a perfume da Uruguaiana.

Adalberto: Isso, realmente, é uma falha grave.

Ane: Então, o que a gente faz com ele?

Marjorie: Leva ele embora daqui. E quando ele acordar, vocês podem dizer para ele esquecer que eu existo, por favor?

Adoro as frases prontas de novela, que as minhas primas usam!

Ane: Deixa comigo, Jojô. Eu e o Adal levamos ele. Vamos, primo.

Quando o carinha do perfume da Uruguaiana acordou, ele estava deitado na cama da Ane, limpinho. E nem foi preciso ela dizer para ele esquecer que a Marjorie existia...

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