sábado, 21 de julho de 2012

Espírito aventureiro até a página dois

Hoje, eu acordei com espírito aventureiro. Mas precisava de uma sugestão e uma companhia. Liguei para a Marjorie.

Marjorie: Oi, primo.

Adalberto: Jojô, queria fazer uma coisa radical hoje. Fujir da rotina de fim de semana.

Marjorie: Então, você ligou para a pessoa certa.

Adalberto: Como assim?

Marjorie: Eu estou esperando um amigo me buscar aqui em casa. A gente vai para a Região dos Lagos fazer rally nas dunas.

Caraca. Não sei se o nível do meu espírito aventureiro eliminava o meu cagaço para essa atividade.

Adalberto: Rally nas dunas? É isso mesmo que eu ouvi?

Marjorie: É, Adal. Vamos?

Adalberto: Rally nas dunas eu estou cansado de fazer.

Marjorie: Você? Mentira! Nunca me falou nada.

Adalberto: Eu achava que você não gostasse. Foi há muito tempo atrás.

E antes que eu me enrolasse com muita explicação falsa, cortei logo o assunto.

Adalberto: Amoreca, estão me interfonando. Deve ser o porteiro para dizer que eu esqueci o farol do carro aceso. Eu sempre faço isso. Depois, a gente se fala. Beijo. Ah, divirta-se.

Eu queria alguma coisa menos radical. E a Ane podia ter uma boa ideia.

Ane: Que surpresa boa você me ligando logo pela manhã de um sábado.

Adalberto: Pois é, acordei com uma vontade de fazer alguma coisa muio diferente. Tipo radical. Mas não muito.

Ane: Então, você ligou para a pessoa certa.

Medo.

Adalberto: É? O que você sugere?

Ane: Sugiro, não. Eu vou acompanhar um carinha que eu estou ficando numa escalada na Pedra da Gávea. Vamos?

E se eu cair naquelas pedras? De jeito nenhum!

Adalberto: Ah, fala sério. Escalada na Pedra da Gávea. Isso, para mim, já perdeu a graça.

Ane: Desde quando você já escalou a Pedra da Gávea, senhor Adalberto?

Adalberto: Ah, Ane, faça-me o favor, né? Isso tem tempo. Agora, deixa eu desligar, porque estão me interfonando. Deve ser o porteiro para dizer que eu esqueci o farol do carro aceso. Eu sempre faço isso. Depois, a gente se fala. Beijo. Ah, divirta-se.

Cruz credo! Eu ir fazer escalada na Pedra da Gávea? Só se for sob anestesia geral. A Lu devia ter uma sugestão mais pé no chão.

Lu: Oi, meu amor. Ligou na hora certa.

Adalberto: Jura? Por quê?

Lu: Tenho uma proposta para te fazer.

Adalberto: Então, faz. Hoje, eu estou realmente aceitando propostas. Se for radical, então, é comigo mesmo.

Lu: Cara, um amigo do carinha que eu estou pegando furou com a gente, e tem uma vaga para saltar de paraquedas. Partiu?

Putz! Não mesmo! E se o treco lá não abrir? Não, de jeito nenhum! Eu não sou louco de fazer uma coisa dessas comigo! O meu espírito aventureiro, definitivamente, vai só até a página dois.

Adalberto: Ah, Lu, saltar de paraquedas, para mim, perdeu a graça. Na época do colégio, a gente pulava direto, até que um amigo morreu. O paraquedas dele não abriu. Aí, eu fiquei meio impressionado com a essa cena. E, desde então, não consegui mais saltar. Eu lembro do meu amigo e fico travado.

E, assim, eu a convenci de que saltar de paraquedas não era a minha praia, apelando para a emoção.

Lu: Ai, Adal, que chato. Fiquei até com medo agora.

Caraca, também não era para melar o programa da garota. Tive que mandar aquele papo do "nosso destino já está traçado" para reencorajar a prima.

Adalberto: Lu, quando chega a nossa hora, a gente pode estar sentado no sofá vendo novela, que não tem jeito. O nosso destino já está traçado. Vai lá se divertir. Não perde essa oportunidade.

Lu: É verdade, primo. Eu vou, sim. Beijo!

A Sara não ia me decepcionar. Ela tem medo de tudo. Uma caminhada na orla, para ela, já é mais do que uma grande aventura.

Sara: Oi, Adal. Fala rápido que eu estou me arrumando para sair.

Adalberto: Ah, que pena. Ia te chamar para um programa radical.

Sara: É? Qual?

Adalberto: Não sei ainda. Ia te pedir uma sugestão. Hoje, eu acordei meio que querendo fazer alguma coisa diferente. Mas não muito diferente, sabe?

Sara: Sei. Que tal fazer uma trilha de cinco quilômetros em Petrópolis?

Jamais! Tenho pavor de trilha. Morro de medo daqueles bichos que a gente nunca viu na vida e, sobretudo, de cobra.

Adalberto: Ah, seria uma boa, hein, Sarita. Pena que você vai sair.

Sara: Adal, você não está entendendo. Eu estou me arrumando exatamente para uma trilha de cinco quilômetros em Petrópolis. A gente deve sair em uma hora daqui de casa. Tem vaga no carro. Vamos?

Adalberto: Como assim você vai fazer uma trilha de cinco quilômetros em Petrópolis? E os trigêmeos?

Sara: Vão ficar com a babá, ué.

Adalberto: E você vai se arriscar no meio das cobras? O Oswaldo está sabendo dessa sua loucura?

Sara: Claro. Foi ele que me chamou. Isso foi ideia de um amigo dele. Estamos todos indo, primo.

Adalberto: E você não está com medo?

Sara: Olha, Adal, se eu te falar que não estou com medo, eu vou estar mentindo. Mas você sabe, né? Quem não dá assistência perde para a concorrência. Eu não posso deixar o Oswaldo muito solto no fim de semana, não. Senão, já viu, né? De mais a mais, o nosso destino já está traçado. Quando chega a nosso hora, a gente pode estar sentando no sofá vendo novela, que não tem jeito.

Adalberto: É...

Sara: Então, Vamos?

Adalberto: Não. Quer dizer, lembrei que eu esqueci de lembrar de comprar um tênis de corrida. Não vai dar.

Nunca formulei uma oração tão ruim como essa.

Sara: O Oswaldo, de repente, tem um para te emprestar.

Adalberto: Deixa para lá. Não é para ser. Eu não esqueci de comprar o tênis à toa. Deve ser coisa do destino. Ih, Sarita, deixa eu desligar. Estão me interfonando. E, dessa vez, é sério mesmo.

Sara: Como assim é sério? Aconteceu alguma coisa?

Adalberto: Não, fica tranquila. Deve ser o porteiro para dizer que eu esqueci o farol do carro aceso. Eu sempre faço isso. Depois, a gente se fala. Beijo.


O que poderia ser?

Adalberto: Pronto.

Deucleciano: Seu Adalberto, aqui é da portaria.

Adalberto: Já sei: esqueci o farol do carro aceso.

Deucleciano: Não. O Ruy e a Marta, do 303, pediram para eu interfonar para o senhor, para convidar o senhor para um churrasquinho que eles estão fazendo aqui embaixo.

Adalberto: Ah, legal. Obrigado,  Deucleciano. Já estou descendo.

E esse churrasquinho foi a minha aventura mais radical do sábado.

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