Lu: Eu sou a mais novo primeira-dama do funk, meu bem. Estou namorando o Mr. Catra.
Adalberto: Lu, isso são horas de me contar uma bomba dessas?
Lu: Bomba, eu vou ser rica, não vou mais precisar de trabalhar, Adal. Quer coisa melhor do que isso?
Adalberto: Quero ver você conseguir um solteiro da MPB.
Lu: Ai, Adal, você é preso a esses modelos que a sociedade cria, né? Casamento, fidelidade...
Adalberto: Não. Eu sou prático. Você não assistiu ao Profissão Repórter de terça-feira, não?
Lu: Não.
Adalberto: Lindona, o Mr. Catra é casado com quatro mulheres e tem mais de vinte filhos. Já pensou como deve ser difícil administrar isso tudo com os zilhares de shows que ele faz por ano? Para para pensar.
E depois de três segundos eternos de silêncio...
Lu: As mulheres podem fazer o mesmo com ele?
Adalberto: O mesmo o quê? Ter outros maridos? Nem pensar. Ele exige fidelidade.
Lu: É...
Adalberto: É o quê?
Lu: Estava pensando numa coisa.
Medo.
Adalberto: Que coisa?
Lu: Eu vou pagar com a mesma moeda para esse cachorro. Ele vai ver como é bom para tosse o que ele faz.
Adalberto: Sua maluca, comeu banana? Não me faça uma coisa dessas. Está cansada de viver?
Lu: Como assim? Ele vai me matar por fazer a mesma coisa que ele faz?
Adalberto: Lu, não é isso. Essas coisas a gente não fala por telefone. Tem como você vir aqui em casa?
Lu: Agora?
Adalberto: Não. Vamos esperar o sol nascer, toma o teu café tranquila, depois, vem.
Lu: Ai, Adal, agora fiquei ansiosa. Eu vou fazer o seguinte. Eu vou aí agora. Mas espero você acordar. Eu não vou conseguir dormir.
Adalberto: Está bem. Você tem chave, entra sem fazer barulho e fica me esperando no quarto de hóspedes, na sala, onde você quiser. Só não me acorda, por favor.
Lu: Prometo.
Quando ela chegou, a primeira coisa que ela fez foi me acordar.
Adalberto: Porra, não falei que não era para me acordar?
Lu: Adal, eu vou morrer de ansiedade. Eu estou prestes a roer as minhas unhas. Eu não quero ficar com cotoco de unha. Por isso, preferi te acordar.
Adalberto: Não acredito nisso. E quem vai reparar nas suas unhas?
Lu: Todas as mulheres do mundo. E vão falar horrores de mim. "Como é que ela tem coragem de sair com aquelas unhas? Nem para colocar unha postiça...".
Adalberto: E por que você não coloca unha postiça?
Lu: Alergia.
Adalberto: Ai, meu Deus, vamos lá na sala para eu te mostrar uma coisa.
Eu gravo toda a programação noturna para assistir quando não estou em casa. Coloquei o Profissão Repórter para a Lu assistir.
Adalberto: Assiste do início ao fim. E não desvia a tua atenção para nada.
Quando ela viu um punhado de futuras enteadas rebolando até o chão, ela chegou a uma brilhante conclusão.
Lu: Sabe, Adal, eu acho que eu vou pular fora desse barco.
Adalberto: É?
Lu: É... Eu curto baile funk, mas isso foi uma decisão minha. Não sei se quero uma filha rebolando igual a uma cachorra desde pequena. Eu acho que a pessoa tem que ter o direito ao livre arbítrio
Adalberto: O que você está querendo dizer? Que ser cachorra tem que ser uma escolha e não a ordem natural da vida?
Lu: Claro, Adal! Para ser cachorra é preciso ser adulta.
Filosofou!
Adalberto: Você está certíssima. Que bom que mudou de opinião e não vai ser mais aspirante à vaga de quinta mulher do Mr. Catra.
Lu: Vamos fazer alguma coisa hoje?
Adalberto: Podemos. O que você sugere?
Lu: Um show de MPB. Mas de um cantor solteiro, hétero e sem filhos.
Saquei o que ela quer...
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