sábado, 11 de agosto de 2012

Nina, de Avenida Brasil, influencia vingança das primas ou Uma periguete jamais fura o olho de uma amiga

Na quinta-feira, a Lu me ligou para me contar um podre do seu novo namoradinho.

Lu: Eu mexi no celular do Roanilson. Ele manda mensagem de texto para tudo o que é mulher. Tem até uma conhecida nossa.

Adalberto: Mentira! Quem?

Lu: A Ane. Eles estão saindo.

Adalberto: Sério? 

Lu: Sério.

Adalberto: E o que você vai fazer com eles?

Lu: Com ela nada. Ela não tem culpa. Nem sabia que eu estava ficando com o Roanilson.

Adalberto: Ah, tá. que susto. Achei que ela estivesse furando o teu olho.

Lu: Não. Uma periguete jamais fura o olho de uma amiga. Ainda mais sendo prima. Essa é a nossa lei.

Que bom que existe essa lei!

Adalberto: Mas e aí? Você vai terminar com ele?

Lu: Não. Mas eu combinei com a Ane um jantar na sua casa. Com a desculpa de que eu quero apresentar a minha família para ele, vou colocar esse safado frente a frente com a Ane. Quero ver a cara desse safado.

Adalberto: E eu tenho que aceitar isso na minha própria casa?

Lu: Não precisa, primo. A gente obriga você a isso.

Eu, claro, cedi à armação das minhas primas. 

Quando o Roanilson chegou a minha casa e deu de cara com a Ane, começou a sua copiosamente. De nervoso, claro. 

Lu: O que foi, amor? Que cara é essa? Parece que viu bicho...

Roanilson: Eu não estou muito bem. Acho melhor a gente ir para casa.

Ane: De jeito nenhum. Vai fazer desfeita? Eu cozinhei especialmente para você. Estava ansiosa para conhecer o meu mais novo priminho. O que você está sentindo primo?

Roanilson: Enjôo.

Ane: Vamos lá no quarto do Adal. Vou pegar um Plasil para você.

Lu: Vê lá o que você vai fazer com o meu namorado no quarto, hein.

Ane: Fica tranquila, prima. Eu não esqueço da nossa lei.

Lu: Acho bom mesmo.

No quarto, a Ane tentou seduzir o Roanilson.

Roanilson: O que você está fazendo, sua maluca?

Ane: Tirando a roupa, ué.

Roanilson: Está doida? Coloca isso!

Ane: Só se você me der um beijo.

Roanilson: Que beijo? Comeu merda?

Ane: Eu, não. Me beija, senão eu tiro a roupa e grito. Digo que foi você que mandou.

Roanilson: Não. Eu não posso terminar com a Lu. Graças a ela, eu estou para fechar um contrato bom entre a minha empresa com a rede de salões, em que ela trabalha. E a minha comissão vai ser muito boa.

Ane: É mesmo?

Roanilson: Fora que, por causa disso, o meu chefe disse que vai me promover. Mas se Lu descobrir alguma merda minha, eu estou ferrado. Ela pode cancelar o negócio.

Ane: Então, me beija, anda! 

Roanilson: Então, vem cá, sua vagabunda. Anda logo.

E, enquanto o beijo rolava, a Ane, com uma das mãos fotografou a infração do Roanilson com o celular. 

Quem foi que disse que o celular veio para facilitar a vida das pessoas?

Roanilson: Pronto, está bom assim?

Ane: Não.

Roanilson: Quer mais um beijo?

Ane: Não. Chega de beijo. Eu quero brincar de "o mestre mandou".

Roanilson: Como assim? Que palhaçada é essa?

Ane: Eu fotografei a gente se beijando pelo celular. Olha aqui. E nem adianta tomar o telefone da minha mão e deletar a foto. Eu já enviei para o meu e-mail. Portanto, você vai fazer tudo o que eu mandar ou eu mostro para a Lu, que você é um safado.

Roanilson: Mas ela vai ver que você também é uma safada, se você mostrar essa foto para ela.

Ane: E se eu mostrar essa foto, mais as milhões de mensagens que você me enviou, de quando você já estava ficando com ela e eu nem sabia? Hein?

Roanilson: Está bem. O que você quer que eu faça?

Ane: Por ora, você não pode dar um beijo sequer na Lu

Roanilson: Mas ela é minha namorada. 

Ane: Problema é seu. Eu não sou obrigada a ver essa cena. Ou ela também verá você me beijando. Escolhe.

Roanilson: Tudo bem.

O clima do jantar foi fúnebre. Eu estava tão nervoso quanto o Roanilson.

Lu: Ai, vocês estão tão sérios. Conta uma piada, amor. O Roanilson é ótimo para piadas.

Roanilson: Eu ainda estou meio mal. Vamos deixar a piada para depois, está bem?

Ane: Ah, não, Roanilson. Eu quero rir. Conta uma piada... Deixa eu ver... Sobre traição.

Depois de uns quinze segundos de silêncio, que pareceram durar toda uma vida, ele se pronunciou.

Roanilson: O Joãozinho entrou no quarto dos pais e pegou eles se beijando. Aí, ele disse: pai, vou contar para a empregada, que você está beijando a mamãe.

Ane: Ah, muito boa. Adorei. Ainda bem que foi com a empregada, né? Imagina se fosse com a prima?

Eu calado estava. calado fiquei. Enquanto isso, por debaixo da mesa, a Ane, esfregava a sua perna na do Roanilson.

Lu: Amor, me dá um beijo.

Roanilson: Lu, eu estou comendo. Isso é não é higiênico.

Lu: Nossa, você não é assim. Não tem nojo de nada.

Roanilson: Não é questão de nojo. 

Adalberto: Estou com sede. Vou pegar um refrigerante.

Ane: Não. Deixa que o Roanilson pega. Querido, pega o guaraná para a gente na geladeira, por favor?

Roanilson: Está bem.

Lu: O que é isso? O meu namorado é seu escravo agora?

Ane: Não. É meu priminho fazendo favor para mim.

Lu: Sei... Parece que você já se conhecem de antes.

Ane: Não, prima. Nunca vi o Roanilson mais gordo. Até porque ele  de gordo não tem nada.

O clima estava tenso e eu estava me sentindo em Avenida Brasil. Não na via perigosíssima do Rio, mas na novela do João Emanuel Carneiro.

Ane: Lindão, agora me serve. Não adiantar trazer o guaraná e deixar em cima da mesa.

Roanilson: Ah, desculpa. Mais alguma coisa?

Ane: Sim. Agacha no chão e cacareja.

Roanilson: O quê?

O Roanilson olhou para a Lu tentando algum apoio, mas ela estava impassível.

Ane: Agacha no chã e cacareja, seu galinha safado.

Adalberto: Gente, por favor, isso é sério?

Ane: Cala a boca, Adal. Não se mete.

Lu: Você vai fazer o que ela está te mandando?

Roanilson: Eu? O que agachar no chão e cacarejar? Isso aqui, olha...

E ele agachou no chão e cacarejou para o meu maior espanto!

Roanilson: Isso, eu não faço de jeito nenhum... Na casa de estranhos!

Ane: Ai, Roanilson, você é muito espirituoso. E espirituoso deriva de espírita e os espíritas recebem santo. Recebe aí um santo para eu ver, anda.

Roanilson: Mas eu não sei.

Ane: Finge, anta.

Roanilson: Eu não sei, olha só...

E não é que o cara fingiu que estava recebendo santo?

Lu: Amor, eu sabia que você era engraçado, mas não superengraçado. Me dá um beijo aqui.

Roanilson: Depois.

Lu: Mas você já acabou de comer. Me beija.

Roanilson: Não, amor, isso é falta de educação. Na frente dos outros.

Lu: Ué, você me beijou na frente da sua família.

Roanilson: Mas era minha família. Eles já estão acostumados comigo.

Lu: E a minha família já está acostumada comigo, ué. Me dá um beijo.

A campainha tocou.

Adalberto: Ué, quem será?

Ane: Deve ser a farmácia. Eu pedi Plasil para o Roanilson. Não tinha no seu quarto.

Lu: Eu abro a porta.

Ane: Não. Deixa que o Roanilson abre. É para el o remédio. Ele recebe o carinha da farmácia, aproveita e paga. Ah, eu pedi uns xampus, uns condicionadores e uns cremes. São meus. Paga pra amim, que depois eu te dou.

Roansilson: Tudo bem.

Essa Ane é uma Nina mesmo.

E enquanto o Roanilson recebia o carinha da farmácia, a confabulação rolava a solta na mesa.

Lu: Você está se saindo muito bem, hein, sua cachorrinha.

Ane: Eu pedi tudo em dobro para você também, prima. Não vamos gastar dinheiro com xampu, condicionador, creme e hidratante tão cedo. Fiz uma boa compra, prima.

Lu: Obrigada, Nina.

A nossa risada despertou a atenção do menino da farmácia.

Ane: Olha só como ele é gatinho.

Lu: Pois é, eu gostei. E ele está me olhando.

Ane: Sério? Quer dar um beijo nele?

Adalberto: Ah, não, gente. Isso é muita maldade.

Lu: Ah, eu quero.

Meu Deus!

Ane: Roanilson, já pagou?

Roanilson: Acabei de passar o cartão. Prontinho! Tudo pago.

Ane: Agora, chama o menino da farmácia, por favor.

O rapaz entrou cheio de si, como se estivesse em casa.

Ane: E aí, bonitão. Eu reparei que você ficou olhando para a minha prima lá de fora. Está a fim de dar um beijo nela.

E o garoto nem respondeu. Lançou um olhar 43 para a Lu e tascou-lhe um beijo. A Ane, óbvio, fez uma foto de beijo com o Roanilson, ao fundo, olhando tudo com cara de babaca.

Ane: Obrigado, querido. Pode ir. E leva esse corno sabido com você. Vai lá, Roanilson.

Roanilson: Eu? Mas...

Lu: Não ouviu o que a sua mestra falou? Vai embora, corno sabido! Eu não quero mais você.

Ane: E se você aprontar alguma coisa contra ela, eu mostro os vídeos que eu fiz de você recebendo santo e agachado cacarejando na sua vizinhança, naquela pobreza de lugar que você mora.

Lu: Tchau, amor. E não me aparece lá no salão. O contrato com a sua empresa já foi cancelado. Ou seja, eu não precisa olhar nessa sua cara safada nunca mais.

Ane: Tchau, bem. Deixa as minhas encomendas aí nessa poltrona e mete o pé.

E quando ele ia tirando o plasil do saco plástico...

Ane: Ah, o Plasil também. A gente sabe muito bem que o seu enjôo não era de verdade. Você é um péssimo ator. Deixa o remédio aí, que eu vou dar para o Adal de presente. O meu priminho querido também merece ganhar alguma coisa de você, né, otário? Agora, rala!

E ele saiu batendo a porta.

Lu: Toca aqui prima. Você arrasou.

Ane: Nós arrasamos.

Adalberto: Meninas, vocês são muito más. Vocês não vão fazer nada com essas fotos e vídeos do Roanilson, né? Chega de atazanar a vida do coitado.

Lu: Não sei. Vamos pensar sobre esse assunto depois.

Ane: É... Por enquanto, eu estou gostando de brincar de ser atriz de Avenida Brasil.

Lu: Eu também.

Eu prefiro assistir pela televisão. Mas até que me diverti com a atuação das minhas primas...

Nenhum comentário:

Postar um comentário