Hoje fez um sol incrível, eu estava em folga do trabalho, mas não pude ir à praia.
Marjorie: Por que você não pode ir ao churrasco da Aninha comigo, Adal?
Adalberto: Jojô, se eu pudesse, eu iria à praia, mas estou na Casa de Saúde São José, no Humaitá com a minha mãe. Não posso falar muito. Vou desligar.
Marjorie: Aconteceu alguma coisa com a tia Neide?
Adalberto: Não. Foi com o padre Leôncio.
Marjorie: Como assim?
Adalberto: Eu fui buscar a minha mãe numa vigília da igreja. Só ela aguentou até o final.
Marjorie: A tia Neide adora rezar. Nunca vi...
Adalberto: Pois é, até o padre Leôncio estava morto de cansaço. Foi levar a minha mãe até a porta da igreja bêbado de sono, tropeçou num galho de árvore e bateu feio com a cabeça no chão. Aí, sobrou para mim, né? Agora, eu estou aqui num hospital com o ar-condicionado bombando, com bermuda de tactel e camiseta, morrendo de frio. Surreal, né?
Marjorie: Putz, Adal, que droga.
Adalberto: E eu já tinha marcado praia com umas amigas do Martins.
Marjorie: Então, é bem feito. Não mandei marcar nada com essas garotas chatas.
Adalberto: Ah, que ciúme bobo. Já era para você estar acostumada com as minhas amizades. Aliás, você a Lu, a Ane e a Sara. Que coisa mais infantil esse ciúme de vocês.
Marjorie: Olha só, eu estou indo à praia, mas você vai me salvar.
Adalberto: Eu não tenho como sair daqui, enquanto o padre Leôncio não tiver alta.
Marjorie: Eu sei, garoto. O favor que você vai me fazer é aí mesmo. Pega o resultado de uns exames meus aí na recepção.
Adalberto: Exames de quê?
Marjorie: Adal, coisa de mulher.
Adalberto: Ah, está bem, desculpa.
Fui à recepção, mas me informaram que só a pessoa que fez os exames é que poderia retirá-los.
Marjorie: Ah, sério? Não acredito. Vou fazer o retorno aqui, então, é passo aí rapidinho.
Adalberto: Não pode deixar para pegar durante a semana?
Marjorie: Não tenho tempo. Eu já estou a cinco semanas para buscar esses exames.
Adalberto: Ah, então, se era alguma coisa importante, grave, não se preocupe. Eu te dou o meu lado médico: você está ótima. Segue para o teu churrasco e divirta-se.
Marjorie: Não garoto, eu vou aí buscar esses exames rapidinho.
No corredor do hospital, voltando para o quarto onde estava a minha mãe e o padre Leôncio, me deparei com a Lu em trajes sumários.
Adalberto: Lu, o que você está fazendo aqui com esses trajes?
Lu: O que VOCÊ está fazendo aqui com ESSES trajes?
Adalberto: Eu estava indo à praia. Foi um acidente. Um erro de percurso.
Lu: Bateu com o carro, Adal?
Adalberto: Não garota. Vim trazer o padre Leôncio. Ele caiu e eu me ferrei. Vamos lá no quarto falar com a minha mãe.
Lu: Ah, a tia Neide está aí?
Adalberto: Está. Ela é praticamente a culpada pelo estabaco que o padre Leôncio tomou.
Lu: Mentira! Me conta.
Adalberto: Conto. Mas me fala primeiro porque você está desfilando de Miss Periguete da Casa Saúde São José. Surtou de vez?
Lu: Surtei. Uma enfermeira da Emergência anda se engraçando para o lado do Eliseu.
Adalberto: O médico que você está saindo trabalha aqui?
Lu: Lógico, né? O que eu ia estar fazendo num sábado de manhã, num hospital, cheia de saúde para dar, se não fosse por homem?
Adalberto: Ai, Lu... Isso vale a pena.
Lu: Vale. O cara manda muito bem na cama, primo.
Adalberto: Não, eu não estou falando disso. queria saber se vale a pena você se matar por uma coisa que você nem sabe se vai dar futuro.
Lu: Ai, me pergunta a raiz quadrada de 7.829, que deve ser mais fácil de responder.
Adalberto: Ih, a Marjorie está me ligando. Ela está vindo aqui buscar uns exames. Minha mãe está nesse quarto. Vai entrando, que eu vou atender o celular.
Quem me conhece sabe que eu falo ao telefone andando de um lado para o outro. E foi percorrendo o corredor do hospital, enquanto tentava convencer a Marjorie a subir um minutinho para falar com a minha mãe, que reconheci uma família dentro de um quarto.
Marjorie: Adal, eu não vou aí em cima, com o macacão todo florido, estilo nada ver com hospital.
Adalberto: Eu estou estilo nada a ver com hospital. Olha, se você não vier, eu nunca mais falo contigo. Vou desligar. Beijo.
E abri a porta de um quarto impetuosamente
Adalberto: Sara!
O Oswaldo era o doente em questão.
Sara: Adal?
Adalberto: O que houve com o Oswaldo?
Sara: Intoxicação alimentar. Foi um susto, mas agora está bem. Detalhe: na pressa, eu coloquei esse sobretudo por cima do pijama e vim assim mesmo. O Oswaldo e os trigêmeos também estão de pijama.
Só vai terminar de tomar esse frasco de soro e vamos embora. E você?
Adalberto: Eu estou com a minha mãe ali no outro quarto. Viemos trazer o padre Leôncio aqui. Ele caiu. A Lu está lá com a gente e a Marjorie está subindo.
Sara: Então só faltava a Ane aqui para quarteto estar completo: as primas do Adalberto.
Isso me deu uma idea.
Adalberto: Quanto tempo você acha que o Oswaldo leva para terminar esse soro. Ah, mais uns vinte minutos.
Adalberto: Beleza. Já volto aqui.
Sara: Mas Adal...
Deixei ela falando sozinha, encontrei com a Marjorie perdida no corredor, levei ela para o quarto onde estava o padre Leôncio, a minha mãe e a Lu, disse que ia pegar uma surpresa para elas no meu carro e voei para a casa da Ane, que fica a três quadras da Casa de Saúde São José. Voltei com ela no colo enrolado num cobertor.
Neide: O que é isso, meu filho? Essa era a surpresa que você tinha para a gente?
Adalberto: Não. A surpresa está a caminho. Só vim deixar a Ane aqui. O senhor já está melhor, padre Leôncio?
Padre Leôncio: Estou me sentindo bem, sim. Só um pouco de tonteira ainda, mas já estou bem melhor.
Coloquei a Ane no colo da minha mãe e fui para o quarto onde a Sara estava com o Oswaldo e os trigêmeos.
Adalberto: Com licença. Sara, o médico perguntou se o Oswaldo não pode terminar de tomar o soro num outra quarto, porque esse vai ser higienizado. Ou seja, se o quarto tem que ser higienizado, é porque está sem higiene. Pode fazer mal aos trigêmeos. Melhor a gente ir para o outro, então, né?
Sara: Mas ele falou qual é?
Adalberto: Sim.
Sara: Então, vamos.
O bom de mentir para a Sara é que ela não questiona. Posso falar o maior absurdo do mundo, que ela não duvida de mim.
Quando chegamos no quarto, todos ficaram surpresos.
Marjorie: Essa é a surpresa?
Adalberto: É. A família Banana de Pijama.
Neide: Meu Deus, está todo mundo de pijama! Eles vieram de casa?
Adalberto: Não, mãe. O Oswaldo ainda está tomando soro na veia. Não está vendo?
Neide: Não, cadê?
Oswaldo: Aqui, tia.
Neide: Meu Deus... Garoto, você é maluco. Teu pai está chegando aqui para me buscar, não vai entender nada.
Adalberto: Ué, por que o meu pai veio te buscar? Você não ia comigo?
Neide: Ia, mas você é doido. Quando saiu dizendo que ia trazer uma surpresa para a gente, achei que não ia mais voltar e liguei para o teu pai. Aí, você me aparece com a Ane tremendo em febre. Agora sai de novo e volta com a Sara e a família toda...
Adalberto: É bom que, depois do batismo, a Ane aproveita e fica se tratando aqui no hospital.
Sara: Que batismo?
Adalberto: O dos trigêmeos, ué.
Lu: Meu Deus, que loucura.
Marjorie: Esse garoto não bate bem da cabeça mesmo.
Adalberto: Gente, se a gente não aproveitar essa oportunidade, essa batismo nunca vai sair. Já tentamos três vezes e nada. Vamos fazer logo isso? Você se incomoda de celebrar o batismo aqui, nesse quarto de hospital, padre Leôncio?
Padre Leôncio: Não. Por mim, tudo bem. Mas onde nós vamos lavar a cabeça das crianças.
Adalberto: Lu, pede para o seu peguete trazer uma comadre hospitalar, anda. Usa o teu poder de primeira dama da Emergência. Ele aproveita e tirar as fotos.
Sara: Meus filhos vão molhar a cabeça, onde as pessoas fazem xixi?
Adalberto: Sara, esquece isso. De mais a mais, ele vai trazer uma comadre limpa.
Meu pai chegou, viu a Lu com roupa de periguete, eu de bermuda de tactel e camiseta, a Marjorie de macacão florido e a família Banana de Pijama e não entendeu nada.
Adalberto (pai): O que é isso aqui? Eu tinha que vir fantasiado?
Adalberto: Não, pai. Não é nada disso que você está pensando.
Eu adoro falar "não é nada disso que vocês está pensando", mesmo quando a coisa que a pessoa está pensando não é nada demais.
Sara: Tio, o senhor pode consagrar os trigêmeos com a tia Neide? Não vai dar tempo de chamar as pessoas que a gente tinha escolhido.
Lu: Ah, gente, claro que pode. Não faz diferença nenhuma. Padrinho de consagração não tem importância nenhuma.
Neide: Não fala isso na frente do padre Leôncio. Consagrar uma criança à Nossa Senhora é muito importante, sim.
Adalberto (pai): Por mim, tudo bem.
Neide: Claro que eu aceito. E fico tão feliz e lisonjeda, como os padrinhos de batismo.
E, assim, batizamos e consagramos os trigêmeos.
Não foi numa igreja, não estávamos com roupas adequadas e o padre não lavou a cabeça dos trigêmeos numa pia batismal. Mas eliminamos uma pendência.
Agora, eu sou padrinho do Gero com a Marjorie, da Lina com a Lu e da Liana com a Ane. E os meus pais consagraram juntos os três.
Isso que é família unida!
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