sábado, 25 de maio de 2013

Ane vive fortes emoções em reality show, até a chegada dos personagens da Disney

Finalmente, depois de uma semana inteira com o tempo ruim, o sábado amanheceu com sol. Eu não tinha plano nenhum, além de passar o sábado inteiro fritando no sol.

E enquanto eu abria a porta da minha casa para sair, a Ane, simultaneamente, estava do outro lado, abrindo-a para entrar. Tomamos um susto, quando demos de cara um com o outro.

Adalberto e Ane: Aaaaaahhhhhhhhh! 

Ane: Que susto, garoto! O que você está fazendo aqui?

Adalberto: Eu é que pergunto: o que VOCÊ está fazendo aqui? Tudo bem que você e as outras primas tenham a chave da minha casa, mas eu gostaria que vocês passassem a avisar quando viessem. Acho que não é pedir muito. 

Ane: Eu vim passar o dia com você.

Adalberto: Ótimo. Bota um biquíni e vamos para a praia. Não posso perder o sol maravilhoso, que está fazendo lá fora.

Ane: Ah, não, primo. Vamos ficar em casa, conversando.

Adalberto: Como assim ficar em casa conversando? Vai conversar na cadeia! Vamos conversar na praia, ué.

Ane: Adal, por favor, você não está entendendo. Deixa eu entrar para falar com você. Não quero ficar plantada aqui na porta.

Que saco!

Adalberto: Fala. O que é que está acontecendo.

Ane: Não faz cara de sério. Fica me olhando, rindo, como se você estivesse feliz. 

Comecei a ficar com medo e fiz o que ela mandou.

Ane: Eu estou com uma câmera escondida aqui no meu boné.

Eu não parava de demonstrar que estava rindo, mas por dentro, já estava me cagando de medo.

Adalberto: Alguém está ouvindo o que você está falando?

Ane: Não. Essa não tem áudio. Mas eu tenho mais três aqui na minha bolsa para instalar na sua casa. Essas têm áudio. Então, muito cuidado com o que você fala.

Adalberto: Mas para que isso, meu Deus. Você foi traficada?

Meu olho já estava enchendo d´água.

Ane: Não, Adal! É coisa do Doroanderson!

Adalberto: Doroanderson é aquele senhor, que você começou a namorar na terça-feira?

Ane: Isso. Ele é muito ciumento. Não deixa eu sair de perto dele, se não for desse jeito.

Que doença!

Adalberto: Não é melhor ficar perto dele, então?

Ane: Ah, eu já estou de saco cheio. O Doroanderson só me dá atenção, depois que termina de jogar xadrez com o melhor amigo dele. O problema é que uma partida deles demora, no mínimo, cinco horas. 

Adalberto: Sério?

Ane: Estou te falando! Eu fico lá, parada, sem poder falar um "ai" para não tirar a concentração deles. Aí, sabe o que acontece? Eu não paro de comer. Fico comendo o dia inteiro. Como doce, como salgado, e outro doce, outro salgado... Assim, o dia in-tei-ro! Você acredita?

Adalberto: Acredito. Vindo de você, da Marjorie, da Lu e da Sara, eu acredito. E já falei para as quatro que não me meto mais na vida de vocês, que vocês têm que se estrepar sozinhas para aprender. Mas, também, não contem comigo para ficar batendo palma para maluco. Estou indo à praia. Você vai comigo?

Ane: Está maluco? Se eu for à praia, o Doroanderson me mata. Ele morre de ciúme, não te falei.

Adalberto: Ué, mas você está com uma câmera, ele vai ficar te vendo. O que ele quer mais?

Ane: Eu não posso usar biquíni.

Adalberto: Vai de maiô.

Ane: Eu não posso ir à praia.

Adalberto: Por quê?

Ane: Ele acha que algum cara pode me agarrar.

Adalberto: Ah, e ele pensa que a praia é o quê? Uma micareta? É mais fácil você, que é sem noção, agarrar alguém na praia.

Ane: Eu não sou nada sem noção.

Adalberto: Ah, não? Uma pessoa que se submete ao que você está se submetendo não é sem noção? É o que, então? Ah, já sei: LOUCA. Eu vou sozinho. Me dá licença.

Ane: Primo.

Adalberto: Fala.

Ane: Me ajuda só a colocar as câmeras aqui na sala, então, por favor.

Que raiva que eu fico de mim, quando eu não consigo dizer não, para as coisas absurdas, que as minhas primas me pedem!

Adalberto: Tudo bem. Mas é para ser rápido, hein. Onde você quer colocar?

E depois de todas as câmeras a postos, começou o reality show.

Doroanderson: Oi, Adalberto, a Ane me fala muito de você.

Adalberto: Muito prazer. Eu também ouvi muito de você hoje aqui.

Doroanderson: Ah, é? Bem ou mal.

Adalberto: Bem. Ela fala muito bem de você.

Doroanderson: Ah, que coisa boa. Essa menina é uma joia que apareceu na minha vida.

Adalberto: Que bom, né?

Doroanderson: É muito legal quando a gente encontra o amor da nossa vida, depois dos sessenta anos, né?

Como é que eu vou saber? Ainda falta muito para eu chegar aos sessenta! Esse cara está me chamando de velho?

Doroanderson: Você não acha?

Adalberto: Acho , sim, claro.

Doroanderson: Coisa boa, né? Ô...

Sabe quando o assunto já acabou e a pessoa fica te olhando, com um sorriso amarelo no rosto, sem saber o que falar? Estava assim a minha conversa com o Doroanderson.

Adalberto: É...

Doroanderson: Legal, né?

Adalberto: Muito:

Doroanderson: Que bom, então.

Adalberto: Pois é...

Doroanderson: Está certo, então.

Adalberto: Ô! Sempre!

Doroanderson: Isso aí...

Cansei!

Adalberto: Doroanderson, eu vou deixar você jogar o seu xadrezinho em paz. Não quero atrapalhar.

Doroanderson: Você não atrapalha, não, meu filho. Aliás, até atrapalha, mas eu prefiro que você fique em casa, dando atenção a sua prima.

Adalberto: Mas eu ia à praia...

Doroanderson: Nada de praia! Praia para quê? Fica aí com ela, menino. Que primo é esse, que abandona a prima em casa?

Como assim? Ela não podia estar falando sério. Como é que eu ia abandonar alguém, dentro da minha própria casa? 

E, quando dei por mim, estava implorando a um cara, que não é nada meu, para ir à praia 

Adalberto: Por favor, deixa eu ir. É rapidinho. Eu prometo que não vou demorar nada.

Doroanderson: Se não vai demorar nada, então, para que ir?

A Ane, esparramada no sofá, sem falar nada, já estava me irritando.

Adalberto: Ane, você não vai falar nada?

Ane: Melhor, não, primo.

Doroanderson: Ai dela, se me contrariar! Ela sabe o que eu faço com ela.

De repente, o medo voltou.

Adalberto: Está bem, eu fico.

Doroanderson: Agora, você falou a minha língua.

Língua de porco!

Doroanderson: Você falou alguma coisa?

Adalberto: Não, só estava espirrando.

Doroanderson: Ah, tudo bem. Se quiser falar alguma coisa, é só em chamar aqui. Vou voltar pro meu joguinho.

E depois de um tempo, assistindo a um filme com jovens num acampamento de verão, e eu morrendo de inveja deles, a Ane se manifestou.

Ane: Adal, pega água para mim?

Adalberto: Ane, você está em casa. Vai lá e pega.

Doroanderson: Isso mesmo, Adalberto! Não dá mole, não.

Adalberto: Ai, que susto. Esqueci que você estava aí.

Doroanderson: Não tem problema. Faz o seguinte: manda ela ir buscar a água dela, e você vai atrás com uma câmera. Não quero mulher minha mal acostumada, preguiçosa. Mulher minha tem que me servir. E não ser servida. Vai lá, pega a câmera e vai atrás dela. Só não perde o foco, hein. Se não você também vai ser penalizado.

Fiz o que ele mandou, morrendo de ódio. E medo.

A Ane não falava nada. Vai ver era medo de abrir a boca e falar alguma besteira. Besteira, não. Mas algo que desagradasse ao nosso poderoso chefão.

Depois disso, ela foi lanchar e eu fui atrás com a câmera. Foi comer um doce e eu fui atrás. Foi tomar mais água e eu estava lá filmando. Foi tomar sorvete e eu lá...

Ane: Adal, agora, quero ir ao banheiro.

Adalberto: E eu tenho que ir atrás?

Doroanderson: Claro que tem.

Adalberto: Beleza.

Ane: Mas eu vou fazer número dois.

Adalberto: Ah, mas eu não vou mesmo.

Doroanderson: O quê? Eu ouvi isso?

Ele passou dos limites. E o meu medo foi embora, com medo da minha valentia.

Adalberto: Ouviu! Eu não vou ficar num lugar fedendo, sem ter obrigação.

Doroanderson: Mas você tem obrigação.

Adalberto: O quê? Pirou? Eu não tenho obrigação de fazer nada por você, seu doente! Mal resolvido! Olha só o que eu faço...

Ane: Adal, não!

E varei o controle remoto numa das câmeras, que se estraçalhou.

Doroanderson: Você vai me pagar!

Adalberto: Eu? Pagar? Quer mais? Olha isso...

E quando eu ia jogar um porta-retrato numa outra câmera, a campainha tocou. Era o porteiro. por sorte, quem estava de plantão era o Adenildson, que é um paraibano com o corpo todo definido.

Adenildson: Senhor Adalberto, a vizinha do andar debaixo pediu para verificar com o senhor, se está tendo vazamento no seu apartamento. É que está vazando água na cozinha dela.

Adalberto: Tira a roupa, Adenildson.

Adenildson: O quê? O senhor está bem?

Adalberto: Faz o que eu estou mandando. Tira a roupa e fica só de cueca.

Adorei dar ordem. Agora, até entendo um pouco porque o Doroanderson é mandão. É bom ser mandão.

Adenildson: Mas...

Adalberto: Nem mais nem menos. Ou você prefere que eu invente uma história cabeluda para a síndica te demitir.

Que horror! O olho do Adenildson encheu d´água. E eu lembrei de mim, com medo do Doroanderson. Não quero mais ser assim, não.

A Ane estava chorando, dando mil explicações para o Doroanderson na sala, enquanto passava o meu plano para o Adenildson, que já estava apenas com a sua cueca com os personagens da Disney.

Adalberto: É o seguinte: você vai agarrar aquela maluca, que está na minha sala chorando, e tascar um beijo nela. Mesmo que ela não queira, te bata, relute, eu quero você beijando ela. Entendeu?

Adenildson: Sim, senhor.

Coitado. Parecia eu com o Doroanderson.

Adalberto: Eu vou te pagar bem por isso.

E ele fez direitinho o que eu mandei. A Ane, no começo, ficou de debatendo. Mas não resistiu por muito tempo e se entregou para o meu porteiro. Foi quando eu entrei em cena.

Adalberto: Está vendo, Doroanderson. Olha bem. Quem muito quer, meu amigo. NADA tem! Tchau para você. 

E quebrei todas as outras câmeras que restavam. O Doroanderson ficou estatelado. Esses caras machões se assustam, quando encontram alguém que encare eles.

Adalberto: Pronto. Agora, vocês dois podem parar com a pouca vergonha aí, no sofá. O reality show acabou. Chega, desgruda!

Ane: Ah, não, primo. Agora, que está ficando bom. Vai para a sua praia, vai...

Adenildson: É senhor Adalberto, pode ir. E não precisa me pagar por esse trabalho, não. Fiz com o maior prazer para o senhor.

Ane: Vamos lá para o quarto, Adenildson.

Adenildson: Sim, senhora.

Ane: Tchau, primo.

Adalberto: Tchau.

Quando voltei da praia, soube pelo pessoal do meu prédio, que o Adenildson tinha pedido demissão. 

Subi para o meu apartamento, mas não tinha ninguém em casa. A Ane não respondia o celular. Fiquei com medo de o Doroanderson ter feito alguma coisa com eles. Fui correndo para a casa dele. Mas de carro, claro.

E para a minha surpresa, quando entrei no prédio da Ane, o Adenildson estava na portaria.

Adalberto: O que você está fazendo aqui, Adenildson?

Adenildson: Eu estou trabalhando aqui agora, senhor Adalberto. Tinha uma vaguinha aqui em aberto e a dona Ane conseguiu me colocar. 

Fiquei de cara com isso. A Ane é rápida no gatilho mesmo. Já não devia nem mais saber quem era Doroanderson.

Adalberto: Entendi.

Adenildson: Olha, senhor Adalberto, a dona Ane esqueceu o celular dela comigo. Eu até vi que o senhor ligou, mas eu fiquei assim de atender. Ela pode não gostar e ficar brava comigo.

Adalberto: Tudo bem.

Adenildson: O senhor pode entregar para ela, para mim, por favor?

Adalberto: Lógico. Levo, sim.

Adenildson: Muto obrigado, senhor Adalberto.

Adalberto: De nada.

Adenildson: Ah, diz para ela que, quando eu largar daqui, eu vou para subir. Que é para ela me esperar daquele jeito!

Adalberto: Daquele jeito como?

Adenildson: Ah, senhor Adalberto, o senhor não quer que eu fale, né?

Claro que não! Eu estava tão embasbacado com a rapidez das coisas, que não concatenava mais as ideias.

Adalberto: Não, obrigado. Vou subir. Até já. Quando você chegar, pode ficar tranquilo, que eu saio.

Terminei parecendo eu mesmo com o Doroanderson, mas agora, com o Adenildson.

Acho que nasci para ser mandado. Mas até certo ponto!

Nenhum comentário:

Postar um comentário